samedi 15 mars 2025

O espírito volte a Hashem

עָפָר יָשׁוּב לָעָפָר וְהָרוּחַ תָּשׁוּב לַה' שֶׁנְּתָנָהּ


A afirmação "o pó volte ao pó e o espírito volte a HaShem que o deu" remete a uma reflexão sobre a transitoriedade da vida e a dualidade entre matéria e espírito. Essa frase tem raízes bíblicas e está registrada em Eclesiastes 12:7: "E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu."


O versículo sugere que a existência física é finita, enquanto o espírito, eterno, retorna à sua origem divina. A afirmação evidencia a inevitabilidade da morte como parte do ciclo natural da vida. O corpo, material, retorna à terra, enquanto o espírito, que transcende o físico, retorna a HaShem. Isso inspira uma reflexão sobre a aceitação da finitude e a valorização do tempo que temos de vida. Essa concepção reforça a dualidade entre corpo e espírito. Enquanto o corpo, perecível, está sujeito às leis da natureza, o espírito, imaterial, está conectado ao divino. Isso leva à reflexão sobre como equilibrar as necessidades materiais e espirituais da vida.


A noção de que o espírito volta a HaShem sugere que há um propósito além da existência terrena. É um chamado a viver os valores eternos, buscando significado e conexão com o transcendente.


A existência de Deus e a transcendência


Ora, se Deus é espírito, como afirma a Bíblia, então Ele está fora do espaço-tempo. Isso nos leva a um questionamento: podemos dizer que Deus "existe"?


Essa questão remete à tradição judaico-cristã, especialmente à afirmação de Jesus em João 4:24: "Deus é espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade."


Aqui, espírito não significa algo etéreo, mas uma realidade que transcende a matéria e as limitações do espaço físico. A hipótese de que Deus está fora do espaço-tempo está presente na teologia clássica. Pensadores cristãos e judeus, como Tomás de Aquino e Maimônides, sustentaram que HaShem não está sujeito ao tempo e ao espaço porque é a causa primeira de todas as coisas. Isso significa que Deus não existe da mesma maneira que os seres existem dentro do universo — Ele é o Ser puro, absoluto, e não um ente entre outros.


A afirmação de que Deus não está sugere um caminho radical inspirado na teologia negativa (apofática), que defende que qualquer descrição de HaShem é inadequada. Nesse sentido, dizer HaShem não está significa que Ele não pode ser reduzido às categorias humanas de ser ou de existência.


Se tomarmos existir no sentido comum do termo — isto é, ser um ente dentro do espaço-tempo —, então HaShem realmente não existe da mesma maneira que plantas, animais ou seres humanos existem. No entanto, essa negação não implica necessariamente ateísmo, pois HaShem é a própria base do ser, e não um ser entre outros.


Essa linha de raciocínio pode ser encontrada, por exemplo, em Paul Tillich, que afirma: "Deus não é um ser supremo, mas o fundamento do ser". (Tillich, A coragem de ser, Paz e Terra, 2001)


Assim, quando se diz que "HaShem não existe", isso significa que Ele transcende a noção de existência no sentido em que normalmente a compreendemos. Se entendermos a frase de forma literal e materialista, chegamos ao ateísmo. Mas, se a compreendermos como uma afirmação de que HaShem transcende a existência tal como a conhecemos, entramos no terreno da teologia mística.


O sentido da vida e da morte


A afirmação de Eclesiastes 12:7 nos remete à humildade diante da grandiosidade de HaShem. Isso deve levar a um senso de desapego em relação aos bens materiais e a uma maior atenção ao caminho da espiritualidade.


A passagem também pode ser interpretada de forma simbólica, sugerindo que tudo na natureza segue um ciclo de transformação. O corpo que volta ao pó é parte de um processo de reintegração ao ecossistema, reforçando a ideia de que somos parte da criação divina.


A afirmação que abriu o texto é um chamado a viver de maneira consciente e alinhada com valores transcendentais, pois o corpo retorna ao pó, e o espírito retorna a HaShem. Assim, no tempo que temos entre o nascimento e a morte, somos chamados a buscar o que realmente importa.


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