vendredi 16 mai 2014

O espectro do vermelho

Uma leitura teológica do socialismo no Partido dos Trabalhadores, a partir de Paul Tillich e Enrique Dussel 

[Apresentação da tese de doutoramento defendida em janeiro de 2006 por Jorge Pinheiro dos Santos].

Desde a primeira República com a chegada dos imigrantes europeus, em especial espanhóis e italianos, surgiram tentativas de construção de um partido operário que tivesse condições de ação político-eleitoral. Mas todas essas tentativas fracassaram. Até mesmo o Partido Comunista, fundado em 1922, por seu posicionamento ambíguo em relação à democracia e por traduzir, durante a longa presença de Josef Stálin na liderança da União Soviética, uma política ditada por interesses externos, mais precisamente do Cominter, não conseguiu ser este partido. Com o final do Estado Novo surgiu o Partido Trabalhista Brasileiro como organização populista, que combinava uma liderança burguesa e pelego-sindical com base eleitoral popular e de trabalhadores urbanos. Mas também não foi o partido operário sonhado pelos militantes socialistas da primeira República. Outra experiência que vale a pena ressaltar foi a do Partido Socialista Brasileiro, fundado por intelectuais e políticos socialistas-democráticos em 1947. Tendo que enfrentar, à esquerda, o Partido Comunista Brasileiro, marxista-leninista, e à direita, o Partido Trabalhista Brasileiro, burguês, o Partido Socialista Brasileiro também não conseguiu construir o sonhado partido operário de massas, com inserção sindical e expressão político-eleitoral.

Por esses motivos, quando no final dos anos 1970 surgiu o Partido dos Trabalhadores, que nucleou amplos setores sindicais e de trabalhadores fabris em todo o país, a esquerda brasileira, com raras exceções, começou a olhar tal fenômeno como algo novo na história brasileira. O sonho tornava-se realidade. Passados 25 anos da fundação do PT, algumas questões são levantadas, todas girando ao redor da pergunta: que partido é esse? É marxista-leninista? É social-democrata? E se é socialista, que socialismo é esse? 

Por isso, as dissertações de mestrado e as teses de doutorado produzidas nos últimos anos sobre o Partido dos Trabalhadores traduziram a preocupação de analisá-lo a partir de leituras sociológicas e históricas. Aqui tivemos outro tipo de preocupação. Todas as dissertações e teses se perguntaram se com o PT estávamos diante de um socialismo de novo tipo. Discutiram o que acontecia no interior mesmo do socialismo, comparando tendências e correntes, ou analisando a importância do sindicalismo na formação desse novo partido. Dessa maneira, nos últimos anos, a academia brasileira produziu excelentes estudos sobre o Partido dos Trabalhadores e suas relações com a esquerda brasileira e o socialismo. Estes trabalhos efetuaram análise qualitativa do papel desempenhado pelos diferentes agrupamentos políticos da esquerda na formação do Partido dos Trabalhadores, abrindo caminho para a compreensão do socialismo e da formação do PT para a história das idéias socialistas no Brasil. 

Mas no conjunto dos estudos acadêmicos ainda são poucas as dissertações ou teses que trabalham a análise do Partido dos Trabalhadores a partir da Teologia. Tal carência na pesquisa acadêmica chamou nossa atenção, pois é fato notório que a Teologia da Libertação e as Comunidades Eclesiais de Base estiveram presentes na formação do PT, quer fornecendo reflexão teórica, quer participando com militantes e ativistas. Era de se perguntar, então, porque tão pouco esforço nesse sentido. E por extensão se era possível compreender o pensamento e a história do PT sem correlacionar suas propostas sociais com a religião e o cristianismo. Por isso fizemos a pergunta se havia uma correlação entre cristianismo e socialismo, onde estariam presentes esses elementos religiosos no socialismo petista e em que sentido dariam um caráter especial ao socialismo proposto? Cremos que a tese ora defendida respondeu tais questões, confirmando esta presença cristã no PT, mas também analisando como influenciou o conjunto da esquerda não-comunista no Brasil. 

Fez parte dos objetivos do trabalho, a partir da história da formação do Partido dos Trabalhadores mostrar como ele surgiu de amálgama de socialismos, soldados ao redor de uma corrente sindical, com apoio de um setor da Igreja católica, em especial das Comunidades Eclesiais de Base. E também foi objetivo da pesquisa analisar como depois da queda do muro de Berlim e da crise do comunismo no bloco soviético, o Partido dos Trabalhadores procurou definir um socialismo petista com cara brasileira. E que nesse trânsito entre socialismo como mito fundante, socialismo real e cristianismo social, o Partido dos Trabalhadores acabou por afirmar a democracia enquanto projeto político central. E assim constatamos que tais mudanças, que levaram à democracia enquanto realpolitik, acabaram por afastar o PT de sua utopia original e, inclusive, da revolução democrática. Assim, a tese ora apresentada procurou preencher a lacuna existente na pesquisa acadêmica referente à construção do pensamento socialista e democrático no Partido dos Trabalhadores.

A justificativa da pesquisa confirmou-se através da utilização de uma documentação oficial que incluiu as resoluções de onze encontros nacionais, dois encontros nacionais extraordinários e dois congressos nacionais. Partimos, então, dessa documentação oficial e da revista trimestral “Teoria e Debate”, que cobrem a história e a produção teórica do partido. A pesquisa explorou também a bibliografia existente em livros, teses, artigos de jornais e revistas, e memórias, enquanto informações e testemunhos que confrontamos com a documentação oficial analisada. Utilizamos, dessa maneira, um farto material para a compreensão do pensamento e ideário do PT como um todo e do pensamento socialista em particular. O desvelamento teológico do ideário do Partido dos Trabalhadores através da leitura dessa literatura nos permitiu uma nova visão acerca do passado, possibilitando entender melhor os envolvimentos presentes. 

Mas além da justificativa científica, foi importante constatar a importância do Partido dos Trabalhadores para a sociedade brasileira, assim como para a política nacional. Em termos sociais, o PT surgiu enquanto organização ligada às classes trabalhadoras da cidade e do campo, polarizando, inevitavelmente, a política nacional. A importância social da tese mostrou tal relevância, ao analisar o papel da religião no próprio crescimento eleitoral do PT.

Um exemplo disso, que na tese foi analisado, é o fato de que o PT atuou sobre o conjunto da sociedade brasileira modificando padrões sociais anteriormente estabelecidos, como, por exemplo, sua inserção nos grotões, através da presença cristã, o que modificou o perfil do voto conservador e de direita dessas áreas. Ora, essa importância social nos direcionou à questão política. Sem mistificar os limites da presença do PT no cenário nacional, vimos que construiu lideranças e desenvolveu nova maneira de fazer política: de diálogo com os setores excluídos e marginalizados da sociedade, em parte esquecida desde os governos de Getúlio Vargas e João Goulart.

A pesquisa qualitativa possibilitou, também, o equacionamento de uma das questões que levantamos: a presença de uma religiosidade cristã invisível que se fez presente no processo de construção do pensamento socialista do Partido dos Trabalhadores e que foi encontrada nos textos oficiais e nos pronunciamentos dos líderes petistas, não enquanto discurso cristão propriamente, mas enquanto consciência religiosa. Tais constatações da pesquisa confirmaram as hipóteses de que o socialismo do Partido dos Trabalhadores tem profundas imbricações com a religião. Ou seja, o desenvolvimento do pensamento socialista dentro do Partido dos Trabalhadores, sem dúvida, pode e deve ter uma leitura teológica. 

Assim, vimos que a Teologia, enquanto hermenêutica dos universos simbólicos, permite uma abordagem do problema do poder, principalmente quando partimos de duas perspectivas fundamentais nessa leitura teológica: a antropológica política, que percebe o simbólico como fundante da vida social, e a ética que, ao dar ênfase às instituições, pensa a relação entre instituições e estruturas políticas. 

Vimos que para Paul Tillich, a distância que separa o ser e a consciência é necessária para que o ser se eleve à consciência. Por isso, consciência supõe não somente uma ligação ao ser, mas também um distanciamento que permita reflexão. Assim, aquele que é confrontado em sua ligação original com um grupo ou com uma classe é chamado a dar consciência a outra classe que não é a sua. E toma como exemplo Marx, que não era proletário, mas rompeu com sua classe de origem e se colocou a serviço de outra. Marx mostrou que a relação entre a situação social e o pensamento político deve se elevar da esfera biográfica para aquela das relações funcionais. Tal realidade leva a palavra princípio a caracterizar de maneira global os grupos políticos, pois deixa de lado a esfera biográfica e permite ao pensamento extrair a multiplicidade de fenômenos que constitui a característica comum a todos os indivíduos.

Normalmente, esta tarefa se cumpre com ajuda do conceito de essência, pois a relação entre essência e fenômeno domina a teoria do conhecimento. Porém a lógica da essência não é suficiente para explicar as realidades históricas. A essência de um fenômeno histórico, como constata Tillich, é uma abstração vazia, de onde se expulsou a força viva da história. Isso leva Tillich a buscar a essência do socialismo na própria história e nos mitos que lhe deram origem, afirmando que o socialismo é um movimento de oposição, um movimento de oposição à sociedade burguesa, mas enquanto mediação uniu-se à sociedade burguesa na oposição às formas feudais e patriarcais de sociedade. Entender esta raiz do socialismo ajudaria a entender as raízes do pensamento político que lhe deu origem. Tillich parte de uma teologia política onde seu referencial primeiro é o ser. Mas para ele, não se pode entender o socialismo caso não se experimente a exigência de sua justiça como uma necessidade incondicional, pois quem não é desafiado pelo socialismo não pode falar do socialismo, a não de forma superficial. Não pode falar dele porque é contrário àquilo que ele defende. É por isso que a leitura teológica de Tillich sobre política e socialismo rompe as bases preconceituosas sobre tal debate e nos possibilitou abordar o assunto, a partir da correlação, sem estigmatizar grupos e movimentos. Logicamente, por olhar a realidade a partir de um momento específico da história, que se dá na Europa, entre as duas guerras mundiais, faltaria nesta abordagem teológica de Paul Tillich o olhar latino-americano que, mesmo reconhecendo as estruturas comuns à história do pensamento político, indicassem novos aspectos e movimentos, entre os quais a presença cristã institucional e invisível na sociedade brasileira. 

Enrique Dussel complementa Paul Tillich através de uma teologia latino-americana que é um pensar sobre Deus, mas um Deus que se revela na história, que se revela através do Outro, que é o mistério incompreensível de nossa liberdade. Para Dussel, crer na revelação de Deus é compreender o sentido da história, que ele nos apresenta através do Outro. Tal compreensão da teologia permite a Dussel analisar como cristianismo e socialismo se relacionaram na história recente da América Latina e do Brasil. Para ele, a relação cristianismo-socialismo começou a ser colocada nos grupos estudantis cristãos, principalmente a partir de 1959 pela revolução cubana, e que o antecedente mais distante aconteceu no Brasil, na época da Juventude Universitária Católica. Segundo Dussel, o pensamento do padre Cardonnel e principalmente de Henrique de Lima Vaz foram adotados como ‘compromisso político’ pela Ação Popular, cujo Documento de Base admitiu a ação revolucionária. Assim, em junho de 1968, o Congresso Nacional da Juventude Operária Católica e da Ação Católica Operária condenou o capitalismo e defendeu a luta de classes, admitindo a análise marxista da realidade social. A partir desse momento, dezenas de grupos cristãos na América Latina aceitaram a estratégia revolucionária dos focos de Che Guevara, como a guerrilha de Teoponte de Nestor Paz Samora, em 1970, na Bolívia. Mas o caso mais conhecido foi o do padre Camilo Torres, morto em 15 de fevereiro de 1966. Com o fracasso da teoria dos focos, a Unidade Popular chilena constituiu-se em novo modelo de transição ao socialismo. E, assim, o cristianismo social ocupou um espaço político até então inédito na história latino-americana e brasileira. 

Os estudos desenvolvidos por Paul Tillich, assim como por Enrique Dussel, nos deram instrumentos para uma compreensão teológica da realidade política brasileira, quer a partir da leitura das raízes antropológicas, no caso de Paul Tillich, quer ética, no caso de Enrique Dussel. E foi a partir das justificativas expostas, e definido o campo motivacional dos autores, que nos armamos de razões instrumentais e referenciais para desenvolver o trabalho ora apresentado. E mais do que isso, levamos em conta a riqueza do momento histórico, tanto em relação à consolidação democrática, quanto em relação às perspectivas de construção do futuro, apesar de ser este um momento de crise ética, que ameaça, sobretudo, a esperança.

A metodologia da tese teve por base uma extensa pesquisa bibliográfica do socialismo brasileiro no período do pós-guerra até a formação do Partido dos Trabalhadores, assim como das correntes socialistas que se fizeram presentes no partido. A metodologia procurou através da pesquisa bibliográfica trazer informações sobre a presença da ética cristã no PT, quer através das correntes católicas ligadas à Teologia da Libertação, quer de grupos evangélicos. Também foi nossa intenção compreender a relação que Tillich e Dussel construíram entre religião, cristianismo e socialismo, e como tais correlações se apresentaram na formação e construção do Partido dos Trabalhadores. Por isso, a metodologia teve por base os escritos socialistas de Tillich, amparados em conceitos que foram por ele construídos no correr de sua vida. A idéia-chave para o trabalho foi o argumento tillichiano de que o socialismo traduz a exigência incondicional de justiça e por isso não pode ser entendido quando separado da ética cristã que lhe deu origem. 

Da mesma maneira, a metodologia reportou a Dussel e seu conceito de religião enquanto infraestrutura, ou seja, enquanto estrutura crítica da totalidade do sistema que oprime, o que dá à religião função histórica essencial. E também ao conceito de analética, que é a afirmação da exterioridade, não somente como negação da negação do sistema desde a afirmação da totalidade, mas como superação da totalidade a partir da transcendentalidade interna ou da exterioridade daquele que nunca esteve dentro. A analética é crítica por isso, é a superação do método dialético negativo, mas não o nega, simplesmente o assume e completa. Para Dussel afirmar a exterioridade é realizar o impossível para o sistema, é descobrir aquilo que surge a partir da liberdade não condicionada, revolucionária e inovadora. Por isso, só através da analética é possível comprometer-se com o outro, a ponto de arriscar a vida na luta pela libertação desse outro, além do que possibilita a justiça do sistema.

Dessa maneira, a partir da metodologia descrita, analisamos a relação entre teologia e socialismo em Tillich e Dussel, focalizando questões como socialismo, democracia e justiça. Tal análise teológica proposta partiu, assim, do universo simbólico cristão e socialista como fundante do pensamento político e da vida militante dentro do Partido dos Trabalhadores, com abordagens do problema do poder em suas relações com estes universos simbólicos. Dessa maneira, a proposta da tese cumpriu seu objetivo ao analisar a relação do cristianismo com a política brasileira através de seus conteúdos simbólicos. 

Nossa hipótese central foi demonstrada: a religião e o cristianismo social foram componentes fundamentais na formação do pensamento socialista no Partido dos Trabalhadores. Essa hipótese -- que teve dois desdobramentos, ao perguntar: qual é o sentido teológico de um partido socialista que se forma desta maneira? E se é possível, teologicamente, demonstrar a importância disso? -- também foi respondida. Pois ficou evidente que um tipo de socialismo religioso teve presença marcante no conjunto do pensamento petista, ao levantar a bandeira da expansão da democracia de participação e a solução de problemas brasileiros historicamente pendentes, como a questão da terra, do trabalho e da liberdade cidadã. Assim, cremos que respondemos através da tese “O espectro do vermelho: uma leitura teológica do socialismo no Partido dos Trabalhadores, a partir de Paul Tillich e Enrique Dussel” aos questionamentos propostos.



O Caminho e o sentido da vida no judaísmo

O sentido da vida e neste sentido o conceito de caminho constitui um questionamento teológico acerca do significado da existência. E vamos fazer uma leitura a partir do pensamento judaico, que consiste na observância das leis divinas e na reverência perante Deus e sua vontade. Para isso apresentaremos um texto do rabino Haym Halevi Doni

Aunque se ha hecho un esfuerzo para resumir algunas de las ideas en las que los judíos siempre creyeron profundamente y que constituyen los principios básicos de fe que han caracterizado al judaísmo a través de las épocas, no me he empeñado en sondear profundamente en la teología judía o en explicar las consideraciones filosofico-religiosas sobre la naturaleza del hombre, de la vida, del bien y del mal, que emanan de las enseñanzas judías y que impregnan su concepción total del mundo. Haber hecho eso hubiera significado ir mas allá del alcance y del objetivo de este libro. Sin embargo, la razón principal por la cual evitare aquí ahondar profundamente en teología es la resumida perfectamente en las palabras de Samuel Belkin, Presidente de la Universidad Ieshivá:

"...Se han hecho muchos esfuerzos para formular un enfoque coherente y sistemático de la teología judía. Sin embargo, todos esos esfuerzos se han revelado infructuosos porque el judaísmo nunca se preocupo demasiado de doctrinas lógicas. Su deseo fue mas bien desarrollar un conjunto de practicas, un código de actos religiosos, que pudiera establecer un modo de vida religioso. Es verdad, que esos actos y practicas emanan de conceptos básicos teológicos y morales, pero tiene gran significado el hecho de que esas teorías teológicas y morales, pero tiene gran significado el hecho de que esas teorías teológicas del judaísmo permanezcan siempre invisibles, que puedan aprehenderse solamente por medio de las practicas religiosas a las que dan nacimiento. Grandes filósofos eruditos rabínicos encontraron de esa manera una mayor medida de acuerdo entre ellos en el minian hamitzvot, (clasificación de los 613 preceptos religiosos que la Torá impone del judío), que en su empeño de presentar el dogma básico judío en formas de artículos de fe... En el judaísmo los artículos de fe y las teorías religiosas no pueden divorciarse de las practicas particulares... La teología del judaísmo esta contenida en gran parte en la Halajá, el sistema jurídico judío que no se ocupa de la teoría sino principalmente de la práctica... (Si pudiera decirse que el judaísmo reposa sobre dos principios gemelos: la soberanía de D’s y el carácter sagrado del individuo... esta filosofía (así como todos sus fundamentos filosóficos) se refleja claramente en la Halajá...."

Halajá es el termino general para la ley judía; también se refiere a la decisión definitiva y autorizada sobre cualquier tema especifico. Esta basada primordial y fundamentalmente en las ordenanzas bíblicas y en los mandamientos de la Torá escrita y oral, como también en toda la legislación y disposiciones rabínicas, incluyendo las decisiones juridico-religiosas transmitidas a través de las épocas en formas de respuestas y comentarios de grandes e importantes sabios rabínicos. Todo este conjunto sirve de base autorizada y proporciona los antecedentes legales para el proceso interrumpido de la adopción de decisiones legales-religiosas hasta nuestros mismos días. La palabra Halajá en si, significa: "el camino por el cual uno marcha". La Halajá es practica, no teórica. La Halajá es legalista, no filosófica. Aunque la fe es la base a partir de la cual la Halajá se desarrolla, coloca su mayor énfasis en los actos. La Halajá se ocupa de la aplicación adecuada de los preceptos (mitzvot) en toda situación y circunstancia. (Los preceptos de origen bíblico no pueden ser modificados en esencia, aquellos de origen rabínico pueden ser modificados en ciertas circunstancias y condiciones por estudiosos competentes y autorizados). La Halajá exige un compromiso en la conducta. Ella trata con obligaciones éticas y deberes religiosos.

En su carácter de sistema jurídico judío, la Halajá cubre todos los aspectos y relaciones de vida del mismo, tanto entre el hombre y su semejante como entre el hombre y D’s. De esa manera, la Halajá se ocupa no solo de aquellas áreas consideradas generalmente como pertenecientes a la esfera del ritual y de la religión, sino también de aquellas que, generalmente los sabios no judíos asignan a las esferas de la moral o de la ética o a la ley civil o criminal.

Así como la Halajá lo abarca todo, puede afirmarse también que la religión judía lo abarca todo. No existe ningún área en la esfera de la conducta humana de la cual no trate o no ofrezca guía. Si se da por entendido que cada aspecto de la vida es considerado sujeto a las directivas establecidas por la Halajá, no puede considerarse entonces, que la religión judía –cuando sea observada correctamente- llene solo alguno de los múltiples aspectos de la vida, o que sea distinta y este separada de otras áreas de la misma existencia y preocupaciones del hombre. Los hábitos alimenticios de una persona, su vida sexual, su ética comercial, sus actividades sociales, sus diversiones, sus manifestaciones artísticas, todo esto se encuentra bajo la cobertura de la ley religiosa de los valores religiosos y de las directivas espirituales del judaísmo. La religión judía no se disocia de ningún aspecto de la vida y no limita su preocupación solamente a los actos rituales que tienen un significado místico en un mundo sobrenatural. Observada con plenitud y correctamente, la religión judía es en si la vida misma y provee de valores para guiar toda la existencia.

Esta es la naturaleza de la tradición religiosa transmitida al judío. Por eso es que los Profetas de Israel predicaron y lucharon con tanto fervor en pro de la justicia social y por la eliminación de la pobreza como por la santidad del Shabat y la abolición de la idolatría. Es verdad, todos los libros sobre el judaísmo enfatizan el hecho de que el judaísmo es una forma de vida; que es acción, no solamente un culto. Aunque no se minimiza el papel central que desempeña la doctrina, sin lugar a dudas, el énfasis es puesto sobre los actos. La esencia de la fe judía no se ha cultivado sobre hipótesis doctrinales o declaraciones dogmáticas, sino en la aplicación practica de la Torá, mitzvot maasiot (preceptos prácticos).

"...Las verdades conceptuales del judaísmo y sus valores significan muy poco si no se las traduce en una forma de vida. La Halajá es el medio por el cual los conceptos y los valores se aplican a la vida cotidiana. La Halajá señala los métodos para la concretización de la teoría, de los principios, del credo..."

La Halajá, enfocada en la ejecución y cumplimiento de los preceptos (mitzvot) sirve para concretizar lo que, de otra manera, yacería en la esfera de la abstracción, a la vez que sirve para santificar lo que de otra manera quedaría en la esfera de lo mundano.

Ernst Simon, de la Universidad Hebrea de Jerusalem, ofrece una explicación equilibrada del por que de la observancia de la Halajá por el judío moderno. Dice que:

"...Existe una relativa identidad entre la fe y el pueblo, y esta identidad relativa solo puede establecerse y mantenerse por medio de una forma de vida santificada. La Halajá es nuestro único medio para establecer y mantener esta forma de vida santificada...2

Sobre todo, dice Simon:

"... La Halajá puede tener una profunda pertinencia para el judío moderno porque formula y representa una actitud hacia la vida que enfatiza la necesidad de restituir el intelecto a una sociedad que es en parte anti-intelectual, de disciplinar a un mundo entregado en parte al libre albedrío, de orientar y dar un sentido de dirección a un caos de excesiva información y de una religión nacional frente a las incursiones del misticismo y el oscurantismo..."

Tal como lo afirma Louis Ginzberg:

"Solamente en la Halajá se encuentra expresada exacta y adecuadamente el pensamiento y el carácter del pueblo judío".

Seymour Siegal lo expresa muy bien:

"No seguimos siendo judíos solo porque seamos miembros de una sociedad filosófica con elevados principios (aunque es un motivo de orgullo y un reto, perpetuar y profundizar el legado de ideas y de conceptos que hemos heredado). Seguimos siendo judíos porque somos parte de la comunidad de Israel, que ha aceptado vivir su vida como una comunidad separada, por siempre, obedeciendo a D’s. Sin lugar a dudas algunas ideas derivan de esta premisa. Mas nuestra existencia esta definida por el hecho del Pacto (con su necesaria implicación de la Torá y la Halajá, o la Ley); noesta definida únicamente por ideas.

Algunos círculos expresan el temor de que la estricta adhesión a la Halajá, sin que este acompañada por una profunda fe y sentimientos espirituales, quede reducida a una forma de behaviorismo desprovista de toda dimensión y calidad espiritual. Sin embargo, ese temor no justifica que se disminuya la obligación de la Halajá ; por el contrario, enfatiza la necesidad de acentuar la calidad espiritual de todos los actos. Desde hace mucho tiempo los rabinos reconocieron el problema y trataron de solucionarlo cuando enseñaron, por ejemplo, que : "no hagas rutina de tus plegarias..." (Pirkei Avot 2 :18). El hecho de que un acto pueda culminar en un extremismo indeseable, no justifica la anulación del mismo. Debe controlarse el abuso sin eliminar la esencia del acto.

Incluso Abraham Joshua Heschel, un notable exponente del punto de vista que destaca el espíritu interior del hombre (al que él llama la esfera de la Agadá), se opone enérgicamente a todos aquellos que confinan al judaísmo exclusivamente a la Halajá, insistiendo en que :

De hecho, la forma mas segura para abandonar la Agada (fe, interiorización) es abolir la Halajá. Sin la Halajá, la Agada pierde su sustancia, su carácter, su fuente de inspiración, su defensa contra el peligro de la secularización. Por medio de la interiorización solamente no nos acercamos a D’s. Las mas puras intenciones, la devoción mas profunda, las mas nobles aspiraciones espirituales, son vanas cuando no se realizan en la acción.

Al igual que todos los sistemas legales basados en una "constitución" o en algún otro código de leyes, también la Halajá permite a menudo diferencias de opiniones y diferencia de comportamiento, particularmente en las áreas que no afectan la esfera de la Ley Divina de la Torá. Pero todos los diferentes dictámenes de carácter religioso adoptados por estudiosos competentes, deben ser susceptibles de justificarse y defenderse de acuerdo a las reglas de interpretación de la Halajá. Deben basarse en la mas pura enseñanza religiosa. De estas diferencias de opinión, dicen nuestras fuentes religiosas que "las unas y las otras son las palabras del D’s viviente", porque ambas emergen de la fe en ese D’s y del sincero deseo de cumplir la voluntad de ese D’s. Existe una gran diferencia entre el estar en desacuerdo sobre lo que la Torá y la tradición requieren de nosotros cuando se deben resolver problemas, y el franco abandono de la autoridad y la jurisdicción de la Torá y de la Halajá. Esta ultima actitud aleja a una persona de los limites legítimos del judaísmo.

La Halajá es el camino judío para asegurar y perpetuar la forma de vida judía. Si se abandona o se rechaza la Halajá, desaparece también lentamente esa forma de vida y con esa desaparición se desvanecen los valores característicos y apreciados por el judaísmo. Esto no ocurre de inmediato, toma de una a dos generaciones, pero ocurre. Es el proceso conocido como la asimilación. Comienza cuando los judíos rechazan el carácter obligatorio de la Halajá y finaliza con la desaparición del judaísmo. Esto no es especulación o polémica sino un hecho histórico que, por desgracia, se repitió una y otra vez en muchas condiciones y circunstancias diferentes. Donde las observancias distintivas del judaísmo desaparecían, solo una amenazante crisis de antisemitismo constituía el único factor que retardaba la total asimilación física del pueblo judío.

Rabbi Haym Halevi Donin

To Be A Jew: A Guide To Jewish Observance In Contemporary Life [Paperback].

jeudi 15 mai 2014

Pensar a partir de Paul Tillich

A partir do Iluminismo, o desenvolvimento das ciências, assim como a autonomia da filosofia em relação à teologia traduziu-se em desafio para o espírito religioso. Mas o ponto decisivo de todo o desenvolvimento moderno foi o reconhecimento de que uma estrutura viva não pode ser composta fora de suas partes, mas cresce a partir de uma origem. O crescimento da oposição à sociedade capitalista, nas primeiras décadas do século XX, levou às novas interpretações da história. E essas leituras, que, entre outras coisas, apresentaram a fé como desenvolvimento e a história como presença do eterno no tempo, romperam o círculo até então fechado da compreensão da existência.

Leituras até então inéditas, como a de que a tarefa imediata da arte não é esconder a essência, mas expressar significado, levaram à reflexão do caráter espiritual presente tanto na ciência, como na filosofia.

Em sua lógica interna, de origem, a sociedade capitalista deveria ser uma antítese ao princípio do nacionalismo. Mas esta sociedade carrega um paradoxo: a organização das pessoas no interesse da eficiência econômica destrói a estrutura orgânica das vocações e fomenta à divisão em classes. O que está em choque com o ideal planetário da organização econômica, que confronta a individualidade nacional e propõe a globalização não imperial das nações. Por isso, as éticas dos movimentos anticapitalistas, que se expressam como movimentos nacionalistas, permaneceram expectantes, inseguros, provisórios, e sempre retornaram à moralidade capitalista.

O ideal de humanidade, enquanto globalidade justa de direitos e possibilidades, não pode ser abandonado, pois quando negado torna-se medida de ego-transcendência, que nasce da realização das éticas auto-suficientes de finitude. E tal fenômeno de negação da globalidade justa de direitos e possibilidades leva ao misticismo em suas mais variadas facetas: a busca da razão da existência na manipulação de astros, espíritos e magias. Misticismos estes que rompem a compreensão da existência como construção que nasce da dialética entre imanência e transcendência. Para o espírito de finitude auto-suficiente não há de fato transcendência, mas maneiras de manipular astros, espíritos e forças a fim de obter este ou aquele resultado. Estes são, em última instância, meios e fins da real catástrofe de toda a finitude que se faz suficiente.


Cresceu no século XX a crença expressa nas profecias do fim dos tempos. Estas, subjetivamente, traduziram a compreensão que a auto-suficiência da finitude tinha um tempo limite, estava cronometrada existencialmente, pois não expressava a relação essencial entre tempo e eternidade. Era uma leitura capenga da realidade, pois partiu e permaneceu mergulhada no misticismo.

Por isso, entendemos que em toda esfera das ciências naturais diante de dogmas e rituais há um torneamento que procura distanciar-se do espírito de finitude auto-suficiente, do espírito da sociedade capitalista. Porém esta procura de distanciamento capitulou diante das aberrações, dificuldades e reações da sociedade capitalista e gerou novas convicções, aparentemente realistas, mas de fato alienadas, e nesse sentido também místicas, separadas do espírito científico e crítico. Esta é a realidade do tempo presente




vendredi 9 mai 2014

A doutrina da eleição

Calvinismo, Arminianismo e o Equilíbrio da Doutrina Batista
Pr. Jorge Pinheiro[1]
 
Algumas questões metodológicas
 
Em primeiro lugar devemos ver a relação entre teologia e doutrina. A teologia é uma construção racional, lógica, que parte de dois princípios: o princípio arquitetônico, que é a revelação, a palavra de Deus; e o princípio hermenêutico, instrumental, que fornece equipamento técnico para a análise do texto escriturístico.
 
A teologia serve assim, a partir desses dois princípios, um divino e outro humano, para contextualizar a palavra de Deus e responder aos desafios do tempo presente, armando e fortalecendo a igreja. Apesar desse importante serviço, a teologia é sempre passageira e precária. Não é revelação.
 
Já a doutrina é fundamento bíblico que norteia nossa fé e ordem. Não tem base nos arrazoados de grandes teólogos, mas na revelação. Nesse sentido, teologia e doutrina são diferentes. E nós devemos entender isso.
 
Em segundo lugar, devemos saber que quando o infinito cruza com o finito surgem questões impossíveis de serem respondidas a contento a partir de nossa perspectiva finita. Entre esses podemos citar a encarnação, a kenosis e a ressurreição de Cristo. Uma outra questão difícil, por implicar nesse cruzamento da infinitude da soberania de Deus e a liberdade de escolha da imago Dei, é a teologia da eleição.
 
Nesse sentido, há teologias, como a calvinista, que olham esta questão difícil da eleição a partir do infinito, de cima, exclusivamente. E há outras teologias, como a arminiana, que olham esta questão difícil da eleição apenas a partir do finito, de baixo.
 
Mas há uma outra maneira de olhar a questão da eleição, a partir da humildade do reconhecimento que estamos diante de um cruzamento do divino com o humano, do infinito com o finito, daquilo que está em cima com aquilo que está em baixo. E é exatamente esta perspectiva, humilde, bíblica e, por isso, doutrinária que orienta o pensamento batista nesta difícil questão.
 
A teologia da eleição segundo Lutero
 
Para entendermos a teologia da eleição no calvinismo e no arminianismo temos que começar a partir da visão de Lutero. A compreensão de Lutero tem por base a sua leitura da Carta de Paulo aos Romanos, e a partir daí de sua teologia da cruz. Segundo Walther von Loewenich, um especialista na vida e obra do reformador alemão, “a teologia da cruz é o princípio de toda a teologia de Lutero. Ela não pode ser limitada a um período particular de sua teologia.”[2] Nessa teologia, Deus vem até aqui embaixo e a expiação acontece quando Deus chega até o ser humano, que vive sob a ira da lei. Deus é satisfeito, aplacado, quando o movimento divino em direção ao humano resulta em fé. Ocorre, então, uma “alegre troca”: Jesus toma a natureza pecaminosa e entrega ao ser humano sua vida justa e imortal. E nessa teologia da cruz de Lutero está embutida a primeira compreensão que a Reforma fez da eleição de Deus.
 
Para Lutero, conforme expôs no Prefácio a Carta de Paulo aos Romanos, “você deve seguir o raciocínio desta carta na ordem em que é apresentada. Fixe sua atenção, primeiro que tudo no Evangelho de Cristo, de maneira que você possa reconhecer seu pecado e a Sua graça. Então lute contra o pecado, conforme os capítulos de um a oito tem lhe ensinado a fazer. Finalmente, quando você chegar ao capítulo 8, debaixo da sombra da cruz e do sofrimento, passe para os capítulos de 9 a 11 que lhe ensinarão sobre a providência e o conforto que ela é.”
 
Assim, para Lutero, a eleição era uma garantia, era esperança. Pois, nos momentos de sofrimento, de cruz e das angústias da morte, é a providência divina, através da eleição, que nos dá garantia da presença da graça em nossas vidas. É por isso que ele disse: “Há uma medida adequada, hora e idade para o entendimento de toda doutrina.”
 
Dessa maneira, para o reformador, o caminho cristão começa com o ato de ouvir o Evangelho, com o reconhecimento de nosso pecado, mas também da graça de Deus, em Cristo, derramado sobre nós. Continua no correr de nossa vida com a luta contra o pecado e, finalmente, quando debaixo da sombra da cruz e do sofrimento, é a providência de Deus, manifesta na eternidade, através da eleição, que garante a esperança e nos dá conforto.
 
A teologia da eleição segundo Calvino
 
Calvino partiu dos mesmos textos de Lutero, principalmente da Carta de Paulo aos Romanos, mas inverteu a maneira de ver de Lutero. Se para Lutero, o ser humano não tem como discutir e mergulhar na compreensão da soberania de Deus e teologizar sobre ela e, por isso, a eleição deve ser vista como garantia de nossa esperança, principalmente nos momentos de dificuldades e sofrimentos, para Calvino a base da vida cristã é a escolha eterna de Deus. Assim, na teologia, não seria fim, mas começo e centralidade.
 
Tanto em seu Comentário sobre a Carta aos Romanos, como nas Instituições da Igreja Cristã, Calvino constrói uma teologia da eleição que tem por base a soberania de Deus. E olha a eleição sempre do “ponto de vista” de Deus, de cima, descartando uma leitura a partir da imago Dei e a possibilidade de escolha humana.
 
Segundo o teólogo batista Timothy George,[3] a doutrina da predestinação em Calvino pode ser definida em três palavras: absoluta, particular e dupla. É absoluta já que não está condicionada a nenhuma contingência finita, é particular no sentido que pertence a indivíduos e não a grupos. E, por fim, é dupla: Deus, para o louvor de sua misericórdia, elegeu uns para a vida eterna, e, para o louvor de sua justiça, outros para a perdição eterna.
 
A posição de Calvino, quando relaciona eleição e salvação, pode ser traduzida no seguinte silogismo: (1) A certeza da salvação depende do decreto eterno de Deus; (2) aqueles que crêem foram escolhidos por Deus desde a eternidade; (3) se eu creio, logo serei salvo, porque fui escolhido.
 
A historiografia dos séculos 16 e 17 mostra que a doutrina da predestinação absoluta defendida por Calvino enfrentou séria oposição não somente nos meios teológicos, mas de pastores e crentes. Entre esses opositores podemos citar Erasmus,[4] o movimento anabatista e dois fundadores do pensamento batista na Inglaterra: John Smyth[5] e Guilherme Dell.[6] Mas, historicamente, seu opositor mais conhecido foi Jacobus Arminius.
 
Apesar da oposição que a leitura de Calvino produziu no mundo protestante, sua leitura da eleição, para seus defensores, deve ser entendida como uma garantia nos momentos de provação e uma confissão à graça de Deus.
 
A teologia da eleição segundo Arminius
 
Já a doutrina da predestinação defendida por Jacobus Arminius[7] (1560-1609) parte de uma perspectiva diferente: o papel da graça diante da depravação humana, a eleição condicional, a graça resistível, a expiação não limitada – Cristo morreu por todos – e a possibilidade de perda da salvação. Assim, para o arminianismo a eleição é condicionada pela fé.
 
Em sua Declaração de Sentimentos, apresentada à igreja holandesa em 30 de outubro de 1605, ele sintetizou a sua posição em cinco pontos:
 
1 - Capacidade humana e liberdade de escolha:
Todos os homens embora sejam pecadores, ainda são livres para aceitar ou recusar a salvação que Deus oferece;
 
2 - Eleição condicional:
Deus elegeu os homens que ele previu que teriam fé em Cristo;
 
3 - Expiação ilimitada:
Cristo morreu por todos os seres humanos, em todas as épocas e lugares;
 
4 - Graça resistível:
Os homens podem resistir à Graça de Deus para não serem salvos;
 
5 - Decair da Graça:
Homens salvos podem perder a salvação caso não perseverem na fé até o fim.
 
Arminius defendeu uma posição sublapsariana, alertando para o fato de que Deus não predetermina ninguém para a perdição.
 
Segundo Arminius, Deus em seu decreto escolheu seu Filho como Salvador para mediar a favor daqueles pecadores que se arrependem e crêem em Cristo, e para administrar os meios eficientes e eficazes para a fé de cada um deles. Assim, para ele, Deus decreta a salvação e a perdição de pessoas em particular com base na onisciência divina da fé e perseverança de cada indivíduo.
 
Na verdade, a tensão da discussão entre predestinação absoluta ou predestinação condicional gira ao redor da compreensão de duas doutrinas: graça e eleição. Tomamos por base, a partir de Arminius, o arrazoado que o apóstolo Pedro faz em sua segunda epístola, explicando esta questão. Ele nos mostra que a expiação não tem limites:
 
“Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada, pelo contrário, ele é longânime para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.” 2Pe 3.19 e também 1Jo 2.2 e 2Co 5.19.
 
A graça e a expiação têm eficiência e eficácia ilimitadas, mas há uma chave para que a função graça e função expiação sejam plenamente exercidas. E essa chave está no final do versículo acima citado: “que todos cheguem ao arrependimento.”
 
O sacrifício pleno, eficiente e eficaz de Cristo (graça não limitada) deve ser somado ao arrependimento, produzindo então a salvação. Ou seja: expiação não limitada mais arrependimento = salvação.
 
O sacrifício pleno, eficiente e eficaz de Cristo (graça não limitada) sem o arrependimento produz justiça. Ou seja: expiação não limitada menos arrependimento = justiça.
 
A verdade, para Arminius, é que o valor da cruz não é limitado, mas sua aplicação sim. Para ele, todos estamos predestinados à salvação, mas a eleição depende do arrependimento. Por isso, para Arminius, que Deus decreta a salvação e a condenação de pessoas em particular com base no conhecimento divino da fé e perseverança de cada um em particular.
 
A partir desse pastor holandês, podemos dar uma explicação lógica e plausível para o texto de 2Pe 2.1: “Assim como no meio do povo surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão dissimuladamente heresias destruidoras, até a ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.”
 
A teologia de Jacobus Arminius ressalta a liberdade humana. Acreditava no pecado original, considerava que a vontade do homem natural caído está degenerada, incapacitada para produzir qualquer bem espiritual. Nesse sentido seu conceito de liberdade humana diferia da visão de Pelágio.
 
Jacobus Arminius influenciou profundamente a teologia de John Wesley, o metodismo e o protestantismo de missões. É interessante notar, também, que o pensamento de Arminius antecede os padrões de pensamento do Iluminismo.
 
Em resposta às críticas do arminianismo, a Igreja Reformada da Holanda se reuniu em concílio, e assim os presbiterianos produziram um documento que ficou conhecido como:
 
Os cinco pontos do Calvinismo
 
O termo calvinismo é dado ao sistema teológico exposto e defendido por João Calvino (1509-1564). Seu sistema de interpretação bíblica, no entanto, sofreu uma releitura ao ser resumido em cinco pontos, conhecidos como “os cinco pontos do Calvinismo” ou TULIP, em inglês.
 
De 13 de novembro de 1618 a 9 de maio de 1619 reuniu-se na cidade de Dort, na Holanda, um concílio presbiteriano para discutir a controvérsia entre arminianos e calvinistas. Arminius (1560-1609) já tinha morrido e, logicamente, Calvino também (1509-1564). O concílio analisou cinco questões: predestinação, expiação, fé, graça e perseverança dos santos. Ao final do Concílio de Dort, os presbiterianos aprovaram os “cinco pontos do calvinismo.”[8]
 
Eis a TULIP:
 
1 - Total Depravity (Depravação total)
 Todos os seres humanos nascem totalmente depravados, incapazes de se salvar ou de escolher o bem em questões espirituais;
 
2 - Unconditional Election (Eleição incondicional)
Deus escolheu dentre todos os seres humanos decaídos um grande número de pecadores por graça pura, sem levar em conta qualquer mérito, obra ou fé prevista neles;
 
3 - Limited Atonement (Expiação limitada)
Jesus Cristo morreu na cruz para pagar o preço do resgate somente dos eleitos;
 
4 - Irresistible Grace - (Graça Irresistível)
A Graça de Deus é irresistível para os eleitos, isto é, o Espírito Santo acaba convencendo e infundindo a fé salvadora neles;
 
5 - Perseverance of Saints (Perseverança dos Santos)
Todos os eleitos vão perseverar na fé até o fim e chegar ao céu. Nenhum perderá a salvação.
 
Essa leitura do calvinismo é chamada por alguns teólogos batistas de hipercalvinismo, e se caracteriza pela negação da idéia de que a chamada do Evangelho se destina àqueles que não são eleitos. É a negação da idéia de que a fé é o dever de cada um que ouve o Evangelho. Ou seja, é a crença de que Deus planejou o mundo de tal forma que causas secundárias, ou seja, nossas ações, não são necessárias de modo algum, pois, se Deus já escolheu quem vai ser salvo, não é necessário pregar o Evangelho. Esta visão não reflete o calvinismo histórico.
 
A doutrina batista sobre eleição
 
A partir do que vimos, podemos dizer que existem três tendências no pensamento teológico em relação à doutrina da eleição, em especial à tensão existente entre a soberania de Deus e a liberdade de consciência e ação e ao uso pleno da razão por parte do ser humano.
 
A tendência chamada minimalista, que olha a questão de cima, a partir da soberania de Deus, e nega toda a possibilidade da liberdade humana, de consciência livre e escolha. A tendência chamada maximalista, que olha a questão de baixo, a partir de nossa humanidade, e não vê limitação à possibilidade do ser humano responder de forma livre ao chamado de seu Criador.
 
Mas há uma superação dialética dessa contradição, que defende que o ser humano pode e deve apoiar sua resposta à eleição e ao chamado de Deus em sua liberdade de ação e consciência, assim como no uso da razão, embora tal processo deva ter como ponto de partida a revelação. Vamos analisar, então, o pensamento doutrinário batista:
 
“Eleição é a escolha feita por Deus, em Cristo, desde a eternidade, de pessoas para a vida eterna, não por qualquer mérito, mas segundo a riqueza da sua graça. Antes da criação do mundo, Deus, no exercício de sua soberania divina e à luz de sua presciência de todas as coisas, elegeu, chamou, predestinou, justificou e glorificou aqueles que, no correr dos tempos, aceitariam livremente o dom da salvação. Ainda que baseada na soberania de Deus, essa eleição está em perfeita consonância com o livre-arbítrio de cada um e de todos os seres humanos. A salvação do crente é eterna. Os salvos perseveram em Cristo e estão guardados pelo poder de Deus. Nenhuma força ou circunstância tem poder para separar o crente do amor de Deus em Cristo Jesus. O novo nascimento, o perdão, a justificação, a adoção como filhos de Deus, a eleição e o dom do Espírito Santo asseguram aos salvos a permanência na graça da salvação.”[9]
 
Reconhecemos que existe uma tensão entre infinito e finito, entre o que está em cima e o que está embaixo. Mas, para nós batistas, a doutrina da eleição é uma síntese, que equilibra a tensão. Dessa maneira, segundo Sua graça imerecida, Deus opera a salvação em e através de Cristo, de pessoas eleitas desde a eternidade, chamadas, predestinadas, justificadas e glorificadas à luz de Sua presciência e de acordo com o livre arbítrio de cada um e de todos. [Veja os seguintes textos: 1Pe 1.2; Rm 9.22-24; 1Ts 1.4; Rm 8.28-30; Ef 1.3-14].
 
E assim a doutrina batista apresenta seus quatro pontos:
 
1. Todos são eleitos.
2. Deus opera a salvação em e através de Cristo pelo favor imerecido de sua graça.
3. Deus é pré-ciente.
4. De acordo com o livre-arbítrio, desde a eternidade, Deus elege, chama, predestina, justifica e glorifica.
 
Nós batistas entendemos que salvação implica em regeneração, que é ato inicial em que Deus faz nascer de novo o pecador perdido. É obra do Espírito Santo, quando o pecador recebe o perdão, a justificação, a adoção de filho de Deus, a vida eterna e o dom do Espírito Santo. Neste ato de regeneração, o novo crente é batizado com o Espírito Santo e é por ele selado para o dia da redenção final, liberto do castigo eterno de seus pecados.
 
Há duas condições para o pecador ser regenerado: arrependimento e fé. O arrependimento implica em mudança radical do homem interior, que significa afastar-se do pecado e voltar-se para Deus. A fé é a confiança e aceitação de Jesus Cristo como Salvador e a total entrega da personalidade do pecador a Ele. Nessa experiência de conversão o ser humano perdido é reconciliado com Deus, que lhe concede perdão, justiça e paz.[10]
 
Assim, a partir da consistência ontológica do humano, somos levados à necessidade de uma análise antropológica para a teologia. Quando descartamos a reflexão sobre o ser humano a quem Deus fala, temos um discurso meramente ideológico, distanciado do homem e da mulher verdadeiros e da realidade em que vivem e transformam. Temos, então, um ser humano-mito, onde os fatos natural e histórico transformam-se em alegoria.
 
O pressuposto fundamental dessa reflexão antropológica para a teologia é a imago Dei, que traduz a verdade de que a compreensão de Deus, através de seu Cristo, leva à compreensão do ser humano e de sua razão de existir. Não se trata de conhecer o ser humano para conhecer a Deus, porque o homem não é Deus, mas o contrário. Nesse sentido, a antropologia correta parte da revelação. Não utilizamos o conceito do teólogo Tomás de Aquino de analogia em seus dois sentidos, como se fosse possível ao homem conhecer a Deus a partir de si próprio, mas acreditamos que as necessidades e anseios do espírito humano apontam para aquilo que ele perdeu.
 
Se a revelação é uma conversa entre Deus e o ser humano, em Cristo, é a partir desse diálogo que temos os elementos fundamentais para conhecer aquilo que Deus deseja que sejamos. Nesse sentido, por mais decaído que esteja o ser humano, ainda lhe resta a liberdade de consciência necessária para aceitar ou não esse diálogo proposto pelo Criador.
 
Por isso, nós batistas consideramos que a missão do povo de Deus é a evangelização do mundo, visando a reconciliação do ser humano com Deus. É dever de todo discípulo de Jesus Cristo e das igrejas proclamarem, pelo exemplo e pelas palavras, a realidade do evangelho, fazendo novos discípulos de Jesus Cristo em todas as nações. Cabe às igrejas batizá-los, ensinando-os a observar o que Jesus ordenou. A responsabilidade da evangelização estende-se até os confins da terra e, por isso, as igrejas devem promover a obra de missões, pedindo a Deus que envie obreiros para a sua seara.[11]

Notas
[1] Jorge Pinheiro, PhD, é pastor da Igreja Batista em Perdizes (SP/Capital) e professor de Teologia Sistemática na Faculdade Teológica Batista de São Paulo.
[2] Walther von Loewenich, A Teologia da Cruz de Lutero, São Leopoldo, Sinodal, 1988, pp. 11 e 12.
[3]Timothy George, Teologia dos Reformadores, São Paulo, Edições Vida Nova, 1994, p.232.
[4] Desidério Erasmus (1486-1536) teólogo e erudito, em 1524 escreveu, em polêmica com Lutero, Diatribe sobre o Livre Arbítrio. Carl Bangs, Arminius, A Study in the Dutch Reformation, NY, Abingdon Press, 1971, pp. 90 e 102.
[5] John Smyth (1610-1612), primeiro pastor batista na Inglaterra, levantou a bandeira da “liberdade de consciência absoluta”in Zaqueu Moreira de Oliveira, Liberdade e Exclusivismo: Ensaios sobre os Batistas Ingleses. Rio de Janeiro: Horizonal; Recife: STBNB Edições, 1997, p. 83.
[6] Pensador batista inglês, “Dell usou cada oportunidade que teve para defender a liberdade de consciência. Ele considerou o uso de coação uma invenção humana, algo deletério que não tinha lugar no reino de Cristo.” Zaqueu Moreira de Oliveira, op. cit., p. 104-106. Dell escreveu Uniformidade Examinada e apoiou a revolução inglesa (1642-1649), dirigida por Oliver Cromwell.
[7] Obras de Jacobus Arminius: Exame do Panfleto de Perkins, Declaração de Sentimentos, Controvérsias Públicas, Setenta e Nove Controvérsias Particulares in Carl Bangs, Arminius, A Study in the Dutch Reformation, NY, Abingdon Press, 1971, pp.206-221; 307-316; e Arminianismo e Jacobus Arminius, in Enciclopédia Histórico-Teológica, São Paulo, Edições Vida Nova, 1993, pp. 112-114.
[8]Júlio Andrade Ferreira (org.), Antologia Teológica, São Paulo, Novo Século, 2003, p. 698.
[9] Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, “Eleição”, in Rumo e Prumo, terceira edição, Ordem dos Pastores Batistas do Brasil, secção do Estado de São Paulo, dezembro de 2004, p. 26.
[10] “Salvação”, in Rumo e Prumo, terceira edição, Ordem dos Pastores Batistas do Brasil, secção do Estado de São Paulo, dezembro de 2004, p. 25.
[11] “Evangelização e Missões”, in Rumo e Prumo, op. cit., p. 28.

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lundi 28 avril 2014

A graça, a obediência e o amor

A Graça, a Obediência e o Amor

Jorge Pinheiro

Os anabatistas acreditavam na necessidade do arrependimento, mas criam também ser possível viver a vida cristã e obedecer aos mandamentos de Deus, através de uma obediência sincera. “Recebemos dele tudo o que pedimos porque obedecemos aos seus mandamentos e fazemos o que agrada a ele”. 1Jo 3.22.

Para eles existiria uma obediência legalista, servil, e uma obediência de filho, da pessoa que nasceu de novo. “Aquela água representava o batismo, que agora salva vocês. Esse batismo não é lavar a sujeira do corpo, mas é o compromisso feito com Deus, o qual vem de uma consciência limpa. Essa salvação vem por meio da ressurreição de Jesus Cristo”. 1Pe 3.21.

No lugar do conceito reformado magisterial, de pecado contínuo e de arrependimento contínuo, os anabatistas enfatizavam o poder de Deus que guarda, e a necessidade da pessoa nascida de novo entregar-se a Deus: confessar seus pecados e afastar-se deles quando errasse. Ao evitar o legalismo e o perfeccionismo que nasce do amor próprio, os anabatistas insistiram na obediência que nasce da fé.

“Samuel respondeu: O que é que o SENHOR Deus prefere? Obediência ou oferta de sacrifícios? É melhor obedecer a Deus do que oferecer-lhe em sacrifício as melhores ovelhas”. 1Sa 15.22.

O critério para avaliar a espiritualidade é a obediência voluntária. No anabatismo não se compreendia a fé sem obediência. A fé é salvadora quando nossa ação traduz aquilo em que se crê. Assim, a obediência é a evidência de um relacionamento íntegro com Deus. “Não é toda pessoa que me chama de ‘Senhor, Senhor’ que entrará no Reino do Céu, mas somente quem faz a vontade do meu Pai, que está no céu”. Mt 7.21.

A alienação tornou o humano num ser propenso ao distanciamento. Há uma tendência no ser humano a fazer esse caminho próprio. “Não deixem que ninguém engane vocês com conversas tolas, pois é por causa dessas coisas que o castigo de Deus cairá sobre os que não obedecem a ele”. Ef 5.6.

Ora, se a centralidade da alienação está no distanciamento, a centralidade da fé está na obediência. Como podemos nos considerar salvos se estamos distanciados da vontade de Deus? “Eu tenho prazer em fazer a tua vontade, ó meu Deus! Guardo a tua lei no meu coração”. Sl 40.8.

Há pessoas que confundem a salvação através da obediência à lei, denominada salvação pelas obras, com justificação pela graça através da obediência na fé. Ora, quando a fé nasce da graça derramada sobre nossas vidas, a Palavra de Deus é soberana, e o normal é obedecê-la. Se a fé é um absoluto na vida cristã, a obediência não pode ser condicional. A fé que salva é uma fé que leva à obediência habitual e voluntária. Essa obediência não são obras e atos do homem ou da mulher, mas unida à fé é dom de Deus, que capacita os salvos para uma vida de missão. “Guardam no coração a lei do seu Deus e nunca se afastam dela”. Sl 37.31.

Mas é só pela graça que o salvo pode obedecer a Deus. Não há qualquer possibilidade de uma obediência voluntária por aquele que se encontra escravizado às maldades da natureza humana, ao mundo e ao diabo. A humildade dos salvos à vontade de Deus também seria impossível sem a graça. Sabemos que a graça é instrumento capaz de dar humildade ao ser humano, arrogante na alienação, sem degradá-lo. É o meio capaz de engrandecê-lo, sem torná-lo presunçoso. Ou como disse Paulo: “pela graça de Deus sou o que sou, e a graça que ele me deu não ficou sem resultados. Pelo contrário, eu tenho trabalhado muito mais do que todos os outros apóstolos. No entanto não sou eu quem tem feito isso, e sim a graça de Deus que está comigo”. 1Co 15.10.

A obediência que nasce da graça é a obediência daquele que crê, e não de um escravo que se submete com medo. Não há servidão ao legalismo, mas submissão graciosa. E Jesus é o exemplo: “eu desci do céu para fazer a vontade daquele que me enviou e não para fazer a minha própria vontade”. Jo 6.38.

A obediência na fé não é mais uma possibilidade de vida. É prova de amor, de conversão radical. Quem obedece movido pelo medo não conhece o amor. Obediência e amor caminham juntos: um aponta para o outro. O amor e o medo existencial se repelem, pois o medo é resultado da incerteza do amor de Deus. Há pessoas que tentam obedecer porque têm medo de conseqüências imaginárias, da morte ou do inferno. Desconhecem o amor divino, mas, se o medo faz da obediência uma obrigação terrível, o amor torna a obediência um momento especial de encontro com o Salvador, porque “no amor não há medo. O amor que é totalmente verdadeiro afasta o medo. Portanto, aquele que sente medo não tem no seu coração o amor totalmente verdadeiro, porque o medo mostra que existe castigo”. 1Jo 4.18.

A obediência sem amor é imposição cruel: nada é mais terrível do que a obrigação destituída de amor. O amor não é passivo, opressivo, nem possessivo. Toda obediência de mero compromisso é constrangimento. Assim, “tudo o que vocês fizerem seja feito com amor”. 1Co 16.14.

O amor é a chave da obediência. A vida cristã não é comportamento formal. A conduta dos filhos é fruto da atitude humilde de um coração submisso à vontade do Pai. Obedecer de má vontade é, seguramente, uma coação, pois “damos graças a Deus porque vocês, que antes eram escravos do pecado, agora já obedecem de todo o coração às verdades que estão nos ensinamentos que receberam”. Rm 6.17.

Fonte
Arminianismo.com

jeudi 24 avril 2014

O dia da Sara -- Você e as crises

הִ֭תְרַפִּיתָ בְּיֹ֥ום צָרָ֗ה צַ֣ר כֹּחֶֽכָה׃
Si tu fai­blis au jour de la tsara, bien peu de tsar est ta force.
En cinq mots, vi­gou­reux ap­pel à l’éner­gie mo­rale. À l’­heure de l’é­preuve, il faut ré­agir. Si, dans ces mo­ments dé­ci­sifs, on ne montre au­cune force, c’est qu’on n’en a point. Il y a dans l’o­ri­gi­nal un jeu de mots : Si tu fai­blis au jour de la tsara, bien peu de tsar est ta force.

O DIA DA SARA -- Você e as crises
Jorge Pinheiro, PhD

Quem é fraco numa crise é realmente fraco”. Provérbios 24.10.

Quando falamos de crises lembramo-nos de problemas que nos cercam ou que são externos a nós. O que está fora é uma parte da questão, a outra é como nós enfrentamos os problemas. O provérbio acima não fala do que está acontecendo no mundo, mas analisa a nossa maneira de enfrentar ascrises.

Esse provérbio se divide em três momentos. Primeiro fala da pessoa que é fraca. A palavra hebraica que traduzimos por fraco, pode ser mais bem traduzida por frouxo. Não como expressão grosseira ou agressiva, mas como metáfora de algo que está solto, que não tem firmeza. Assim, quem se mostra frouxo, fica desalentado, deixa cair a bola, relaxa e afunda.

O segundo momento do provérbio é a expressão idiomática “dia da Sara”, que foi traduzida na versão em Linguagem de Hoje por crise. A expressão “dia da Sara” tem o sentido de “aquela que importuna” ou “de esposa rival”. Isto porque na tradição do judaísmo antigo, Sara, mulher de Abraão, era vista como brava e brigona, que maltratou Agar, a ponto dessa última fugir de casa.

Devemos nos lembrar que a família hebraica antiga era poligâmica e a esposa chamada de rival era aquela que em determinado momento entrava em choque com a outra, ou com as outras e desestabilizava o equilíbrio da família. Para o senhor, esse era um momento da crise. O homem era o senhor e regente dessa família de estrutura patriarcal, e caso se mostrasse frouxo, diz o ditado hebraico, perderia o controle da situação, entraria em depressão e afundaria.

O provérbio parte de uma realidade cultural, ilustrada na família patriarcal machista, onde as mulheres se chocam, e o marido não pode ser frouxo.

Apesar de não concordarmos com a estrutura poligâmica, patriarcal e machista dessa família, a lição do provérbio permanece válida. Assim, contextualizado, podemos dizer que a atitude que você deve tomar diante da crise não pode ser de alguém que se deixa desorientar e afundar.

A crise aí descrita fala de um momento onde há um elemento desestabilizador, que enlouquece um ambiente ou uma situação. Ser frouxo, ter uma atitude de “deixa estar que depois melhora” pode levar todos a afundarem juntos. Esse é o momento da liderança consciente, momento de encarar o problema com sabedoria e firmeza.

Como aconselhou o apóstolo Paulo, devemos estar alertas, ficar firmes na fé, ser corajosos e fortes (1ª. Carta aos coríntios 16.13). Que Deus lhe dê firmeza e sabedoria para enfrentar problemas e conquistar vitórias!




mardi 22 avril 2014

Humor paulistano



Pessoal, estar lá é de lei. Momento maior dos quadrinhos paulistanos. Uma obra de arte de Toninho Mendes, mas que não existiria sem os gênios que nas ultimas décadas revolucionaram a quadrinharia da Sampa desvairada! A eles o nosso reconhecimento e amplexos luxuruosos!