lundi 22 décembre 2014

GEORGES BATAILLE

A PALAVRA DO PRAZER ERÓTICO COMO NEGAÇÃO DA TRANSGRESSÃO
Prof. Dr. Jorge PINHEIRO dos Santos 

INTRODUÇÃO
Até que ponto o comportamento humano é tão diferente do comportamento dos animais? Logicamente, responder a esta pergunta nos leva a discutir se de fato há liberdade e responsabilidade no comportamento humano. Se voltarmos, por exemplo, a Baruch Spinoza o comportamento humano deve ser descrito em termos de causas mecanicistas, como os demais fenômenos da natureza . E bom passa a ser apenas uma palavra para descrever coisas que nos dão prazer e mau coisas que nos causam dor. 
Talvez seja necessário partir daí, da experiência marcada pelo prazer. O prazer de viver. Tal leitura procura superar a acentuação de uma teologia do pecado, com a conseqüente culpa infindável, que perpassa a tradição cristã, no mínimo, pós-agostiniana. Aliás, a tradição cristã traduz este tropeço, uma vez que em sua metanarrativa fundante pesa a sombra de um instrumento de tortura, a cruz. Mas sem negar a dor e o mal, talvez seja possível, mesmo no cristianismo, recuperar o prazer de viver. Ou, como disse Gonzaguinha, "viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz. Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será. Mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita". O que é o que é, Gonzaguinha.
Assim, prazer, do latim placere, traduz a idéia de emoção agradável que resulta da atividade satisfeita, inclusive de gozo sensual, mas por oposição nos lembra dor e aflição. Nesse sentido, costumamos chamar aquele prazer que envolve a sexualidade de erotismo, já que aí está implícita a idéia de amor sensual. Por isso, erotismo pode ser considerado a indução ou tentativa de indução de sentimentos, mediante sugestão, simbólica ou alusiva, da questão sexual, o que nos leva ao prazer erótico. 
Georges Bataille, 1897-1962, nasceu em Billon, Puy-de-Dôme, França. Filósofo e escritor francês, ficou conhecido como o metafísico do mal. Sua obra está marcada por três experiências centrais: a experiência cristã de sua formação católica e jesuítica, a experiência estética no âmbito do surrealismo e a experiência política de esquerda. Escreveu sobre sexo, morte, degradação e as potencialidades do prazer. 
Considerava que o objetivo de todo intelectual, artista e teólogo, deveria ser a aniquilação da racionalidade em um ato violento, transcendental de comunhão. Bataille cursou teologia, com a intenção de ser padre, participou do movimento surrealista, mas acabou por se dedicar à sociologia, religião e literatura. Fundou e editou jornais. Foi o primeiro a publicar pensadores como Barthes, Foucault e Derrida. Casou-se duas vezes. Primeiro com Sylvia, que depois de divorciar-se de Bataille casou-se com o psicanalista Jacques Lacan. Em 1946, Bataille casa-se com a princesa Diane Kotchoubey de Beauharnais, filha do príncipe Eugene Kotchoubey de Beauharnais e Helen Pearce. Georges e Diane tiveram uma filha, Julie Bataile, que nasceu em 1949.
Uma de suas obras mais polêmicas é a Histoire de l´oeil (1928), que foi filmada, e que influenciou, entre outros, a filmografia do diretor japonês Nagisa Oshima (Império dos Sentidos) e a produção do cantor pop islandês Björk Guödmundsdóttir. Outras obras importantes são Le bleu du ciel (1945), L´abbé (1950). No campo da religião produziu um clássico chamado O Erotismo. Sua bibliografia é muito vasta e influenciou alguns dos principais pensadores modernos, que não lhe poupam elogios, como Jürgen Habermas, Barthes, Foucault e Derrida. Um ano antes de sua morte, em 1961, Pablo Picasso, Max Ernst e Juan Miró organizaram um leilão de pinturas para ajudar Bataille a superar suas dificuldades financeiras. Bataille morreu em Paris no dia 8 de julho de 1962. 
Em O Erotismo, Bataille apresenta uma chave de análise dos aspectos fundamentais da natureza humana, o ponto limite entre o natural e o social, o humano e o inumano. Bataille vê a experiência do prazer como aquela que permite ir além de si mesmo, superar a descontinuidade que condena o ser humano. E a partir dessa constatação, se propõe tratar da questão sob três perspectivas, o prazer dos corpos, o prazer dos corações e o prazer sagrado, já que o desafio é substituir o isolamento do ser, a sua descontinuidade, por um sentimento de continuidade profunda. 
I. AS DUAS HERANÇAS
1.1. A herança monástica
Quando, devido à secura das vidas, os ascetas monásticos sentiam que o seu maior inimigo, a sensualidade, os abandonava, eles inventavam outro inimigo. Desta forma, mantinham à frente daqueles que não eram santos a imagem de seres especiais, em luta contra o mal. E, assim, tudo que era natural, as sensações de prazer, a sensualidade era apresentada como má, pecaminosa, fazendo com que as pessoas vivessem num mundo de medo, inseguras e desconfiadas ao lidar com as emoções. Por isso, para Nietzsche, até nos sonhos revelava-se a consciência atormentada dos santos. Essa associação do natural com o pecado, equívoco dos ascetas, dos sacerdotes e dos metafísicos, levou a um resultado pior do que o pretendido. Ao acreditar que o ser homem era mau e pecador por natureza, ao invés de melhorá-lo, considerava Nietzsche, a herança monástica tornava o humano pior.
Tal mal-estar, oriundo das culpas imaginárias, acumulava impressões pesarosas, fazia com que se acreditasse que o pecado era tamanho que somente uma força sobrenatural poderia arrancá-lo daquele sofrimento, da sensação de sentir-se perdido. Essa vida, que na verdade era morte, criou o clima para que os herdeiros do monasticismo saíssem em busca da salvação, já que induzidos pelo engano, acreditavam estar irremediavelmente extraviada. Por isso, Nietzsche vai constatar que o que provoca a angústia nos cristãos, assim como a redenção pretendida de modo algum "corresponde em absoluto a uma pecaminosidade real, e sim a uma falta imaginária". Os cristãos, considerava Nietzsche, lutam o tempo inteiro contra os fantasmas criados pelos ascetas, pelos sacerdotes e pelos metafísicos. Espectros que ficavam pairando ao redor deles como se fossem assombrações das quais eles jamais conseguiam se livrar. E esses fantasmas assombraram o jovem jesuíta Georges Bataille. 
“Se alguém se confessa angustiado, é preciso mostrar o vazio das suas razões. Ele imagina a solução para seus tormentos: se tivesse mais dinheiro, uma mulher, uma outra vida... a frivolidade da angústia é infinita. Ao invés de ir até a profundeza de sua angústia, o ansioso tagarela, degrada-se e foge. E, no entanto, a angústia era a oportunidade: ele foi escolhido na medida dos seus pressentimentos. Mas que desperdício, se ele se esquiva: sofre da mesma maneira, humilha-se, torna-se estúpido, falso, superficial. A angústia evitada faz de um homem um jesuíta agitado, mas em vão. (...) o homem não é contemplação (ele só possui a paz, fugindo), ele é súplica, guerra, angústia, loucura”. 
1.2. A herança libertária
Mas se o monasticismo e a cultura do corpo mau eram herança presente, devemos nos remeter também ao pensamento libertário herdado por Georges Bataille. E vamos fazê-lo a partir do Marquês de Sade (Donatien Alphonse François de Sade, 1740-1814) e de Friedrich Nietzsche.
Sade foi um precursor da moral que ganhou espaço no mundo contemporâneo depois do Maio francês de 1968, ou seja, foi precursor da revolução sexual, incluindo nessa leitura a homossexualidade. Em Os 120 Dias de Sodoma satiriza o domínio do pensamento heterossexual e a condenação à morte de pessoas acusadas de comportamentos desviantes. É interessante, que este romance, onde nobres abusam de crianças raptadas e fechadas num castelo, num clima de violência, com coprofagia, mutilações e assassinatos, foi produzido durante sua prisão, manuscrito em letras miúdas num rolo de papéis colados, e teve sugestões dadas por sua mulher, Renné. Ela, aliás, passou parte da vida a defender o marido nos tribunais e só se separou dele quando o marquês foi libertado da cadeia, por breve intervalo de vida livre depois da Revolução Francesa.
Clássico maldito, o surrealismo e a psicanálise encamparam a visão da relação prazer e dor que a obra de Sade expõe. Vemos sua influência nos filmes de Luis Buñuel, quando em A Idade do Ouro, retrata a saída de Cristo e dos libertinos do castelo das orgias de Os 120 Dias de Sodoma. De igual modo nas imagens em que a navalha cega o olho da mulher em O Cão Andaluz. Também vemos referências em A Bela da Tarde e em Via Láctea, na cena em que Sade converte uma menina ao ateísmo. A influência de Sade pode ser notada também na obra de Jean Genet, dramaturgo, homossexual, ladrão e presidiário, que retomou muitos dos temas do marquês (O balcão, Os negros e Os biombos). Mas, sem dúvida, a obra que melhor retratou em toda sua crueza o paradoxo do prazer e da dor, ou seja, do erótico em Sade foi Saló ou Os 120 Dias de Sodoma, de Píer Paolo Pasolini. O filme situa-se na Itália fascista, durante a Segunda Guerra Mundial, e apresenta cenas de tortura e degradação de um grupo de adolescentes.
Bataille, admirador de Sade, entendeu a linguagem erótica como liberdade que viabiliza a negação da transgressão que gera a proibição. Ao realizar tais explorações, como possibilidade de vida, Sade e Bataille fazem a crítica explícita da tradição cristã e expõem os princípios que negam o humano. Eles se impõem à tarefa de ouvir a voz humana dos algozes, considerando o que para a sociedade são as suas não-razões, de forma a construir uma cumplicidade no conhecimento do mal. Nesse sentido, Bataille tem uma explicita admiração por Sade. Em A literatura e o mal, o chama de gênio:
"À primeira vista, a Revolução marca na literatura francesa uma época pobre. Propõe-se uma importante exceção, mas ela diz respeito a um desconhecido (que teve uma reputação durante a vida, mas deplorável). Se bem que o caso excepcional de Sade não infrinja de modo algum uma opinião que ele logo iria confirmar. É preciso dizer em primeiro lugar que o reconhecimento do gênio, do valor significativo e da beleza literária das obras de Sade é recente: os escritos de Lean Paulhan, de Pierre Klossowski e de Maurice Blanchot o consagraram; é certo que uma manifestação clara, sem insistência, evidente não foi dada antes de uma opinião tão vasta, que suscitou homenagens ruidosas e que se impôs lenta, mas seguramente". Georges Bataille, A literatura e o mal, RS, L&PM Editores, 1989. La Litterature et le Mal, trad. fr. Suely Bastos.
E o peso libertário de Nietzsche não foi menor, mas nessa abordagem queremos partir de uma mulher: Lou Andréas-Salomé (1861-1937). Feminista, no sentido revolucionário da expressão, e psicanalista freudiana, em seu ensaio Reflexões Sobre o Problema do Amor, de 1900, analisou como a feminilidade e o sentimento amoroso encontram eco em nossas experiências contemporâneas. Nesse sentido, a palavra vida, no sentido apaixonante do termo, o de usufruir com vontade e ardor a existência, é central no pensamento de Lou. E no correr dessa vida apaixonada/ apaixonante, ela encantou e foi encantada por personagens exuberantes como os filósofos Paul Rée, Friedrich Nietzsche e o poeta Rainer Maria-Rilke. E o que nos interessa aqui, é que para essa pensadora, nascida em uma abastada família russa como Ljolia von Salomé, na São Petersburgo de 1861, amor era sinônimo de libertação.
Nietzsche foi o homem que ousou apaixonar-se por Lou e que, depois de um período de amizade, de onde resultaram livros capitais de ambos, teve seu amor recusado. Através das cartas trocadas entre Nietzsche e o objeto de sua paixão, podemos acompanhar o processo de enlouquecimento de um homem que, roído de dor e ciúme, acompanha os desvarios da irmã Elisabeth, que organiza uma campanha de difamação pública contra Lou ao ver o irmão mergulhado num caminho sem volta. 
Lou, Rée e Nietzsche, logo no início dessa criativa amizade, quase viveram juntos, sob o mesmo teto, à maneira de uma santíssima trindade. Não podemos nos esquecer que Paul Rée, também apaixonado por Lou, pôs fim à vida, atormentado pela ausência de Lou. 
Lou casou-se com um homem quinze anos mais velho, Carl Andreas, seu companheiro durante mais de quatro décadas, fidelidade que talvez seja explicada pelo fato de nunca ter imposto a ela as obrigações de esposa no contexto do século 19, e que aparentemente fechou os olhos aos admiradores que Lou colecionou no correr da vida.
A única paixão de Lou começou em 1897, quando já com 36 anos, casada com Carl, conheceu o poeta René-Marie Rilke, de 22 anos. Foi uma relação fecunda para ambos: Rilke cresceu como poeta e Lou escreveu A humanidade da mulher e Reflexões sobre o problema do amor (1899 e 1900), sob o impacto da intensa experiência vivida. Até a morte de Rilke, em 1928, e muitos anos depois, até a sua própria morte, em fevereiro de 1937, aos 73 anos, Lou faria do poeta a razão de sua existência e afeto.
Em 1910, Lou escreveu o ensaio O Erotismo, que encontrou ressonância no pensamento Georges Bataille. No ensaio, propõe aos leitores a necessidade de correlacionar experiência e o conhecimento. Lou Andréas-Salomé colocou-se assim como interlocutora de Nietzsche e, por extensão, de Bataille. 
II. A SANTIDADE DO PRAZER
A religiosidade primitiva, para Bataille, extraiu das proibições o espírito da transgressão, enquanto, a religiosidade cristã se opôs ao espírito de transgressão. A visão de bom e mau, prazer e pecado, nos limites do cristianismo está ligada a esta relativa oposição. 
Há no cristianismo um movimento duplo. Nos seus fundamentos o cristianismo quis abrir-se às possibilidades dum amor que era princípio e fim. Quis encontrar em Deus a continuidade perdida, in¬vocar os delírios rituais para além das violências reguladas, o amor to¬tal e sem cálculo dos fiéis. Os homens, transfigurados pela continui¬dade divina, eram chamados, em Deus, a amarem-se uns aos outros. 
Assim, o cristianismo jamais abandonou a esperança de levar este mundo de descontinuidade ao reino da continuidade, abraça¬do pelo amor. O movimento inicial da transgressão derivou no cristianismo na visão duma superação da violência, que foi. transmutada no seu próprio contrário. Há neste sonho algo de subli¬me e trágico.
A trans¬gressão é a desordem organizada, ao introduzir num mundo organizado algo que o ultrapassa. Mas essa organi¬zação, fundada no trabalho, tem por base a des¬continuidade do ser. O mundo organizado do trabalho e o mundo da descontinuidade são o mesmo mundo. Se os utensílios e pro¬dutos do trabalho são coisas descontínuas, aquele que se serve do utensílio e fabrica produtos é também um ser descontínuo e a cons¬ciência da sua descontinuidade aprofunda-se na utilização e criação de objetos descontínuos. E é no mundo descontínuo do trabalho que a morte se revela: já que para quem trabalha a des¬continuidade se faz presente, com poder, através da morte. Ela é tragédia elementar que evidencia a ina¬nidade do ser descontinuo. 
Ao reduzir o sagrado, o divino, à pessoa descontínua de um Deus criador, o cristianismo foi longe e transformou o outro mundo num local onde se prolongavam todas as almas descontínuas. Povoou céus e infernos de multidões condenadas à descontinuidade eterna de cada ser isolado. Eleitos e condenados, anjos e demônios, transforma¬ram-se em fragmentos, para sempre divididos, para sempre distintos uns dos outros, para sempre desli¬gados dessa totalidade do ser à qual era contudo necessário religá-los.
Assim, o dilema está colocado: como continuar religioso sem perder o prazer? Tal como a proibição criou, na violência organizada das transgressões, o prazer inicial, proibindo a transgressão organizada, o cristianismo aprofundou os graus da perturbação sensual. 
E o prazer se ligou à transgressão. Mas o mal não é a transgressão, é a transgressão condenada. O mal é o pecado. E o pecado de que fala Baudelaire . As narrativas dos sabbats, por exemplo, correspondem a uma procura do pecado. Sade negou o mal e o pecado . Mas teve que introduzir a idéia de irregularidade para transmitir o desencadeamento da crise voluptuosa. Teve de recorrer à blasfêmia. Sentiu que a profanação era inó¬cua, se o blasfemo negava o caráter sagrado do bem, que pretendia macular. A necessidade e a impotência das blasfêmias de Sade são significativas. A Igreja negou o caráter sagrado do prazer, encarado como transgressão. 
Por isso, filósofos e poetas negaram o que a Igreja considerava sagrado . Nessa negação, a Igreja perdeu em parte o poder religioso de evocar uma presença sagrada: perdeu-o quando o diabo deixou de estar na base duma perturbação fundamental. Ao mesmo tempo, os espíritos livres deixaram de acreditar no mal. Desse modo, encaminharam-se para um estado de coisas em que o prazer, deixando de ser um pecado, deixava de poder encontrar-se na certeza de fazer o mal, o que implica a destruição da sua própria possibilidade. Num mundo profano só haverá mecânica animal. A consciência do pecado pode manter-se, mas só se mantém ligada à consciência de um logro. 
Ultrapassar uma situação não pode significar regressos ao ponto de partida. Há na liberdade a impotência da liberdade, mas nem por isso a liberdade deixa de ser disposição de nós por nós próprios. As ações dos corpos podem, na lucidez, abrir-se, apesar dum empobreci¬mento, à recordação inconsciente duma metamorfose infindável, cu¬jos aspectos não deixarão de estar disponíveis . O prazer dos corações, o prazer mais ardente, ganhará aquilo que o prazer dos corpos tiver perdido, o que nos remete à fêmea do louva-a-deus como heroína sadiana. 
III. O PRAZER DA SANTIDADE 
O prazer nos deixa na solidão. Prazer é aquilo sobre que é difícil falar. Por razões que não são meramente convencionais, o prazer, principalmente o dos corpos, é definido pelo segredo. Não pode ser público. Tal experiência prazerosa situa-se fora da vida de todos os dias. No conjunto da nossa experiência, permanece separada da comunicação que faze¬mos das nossas emoções. Trata-se de tabu. Evidentemen¬te que nada é completamente tabu, há sempre transgressões. Mas o tabu intervém para que se possa dizer que o prazer, sendo intensa emoção, já que nossa existência está presente sob a forma de linguagem, existe como se não existisse.
Há em nossos dias uma atenuação deste tabu, mas, apesar de tudo, o prazer ficará sempre como algo de exterior, algo que só é possível sob uma condição: sair para mergulhar na solidão, numa separação do mundo em que estamos. Assim, a experiência prazerosa leva ao silêncio.
Não sucede a mesma coisa com a santidade. A emoção experimentada na expe¬riência da santidade pode ser expressa no discurso, pode ser objeto dum sermão. A experiência prazerosa, contudo, talvez seja vizinha da santidade. 
Isto não quer dizer que prazer e santidade tenham a mesma natureza. Mas que uma e outra experiência têm uma intensidade extrema. Quando se fala da santidade, fala-se da vida que determina a presença em nós de uma realidade sagrada, de uma realida¬de que pode nos perturbar completamente. A emoção da santidade e a emoção do prazer, quando traduzem uma intensidade ex¬trema, nos aproximam de outras pessoas e nos afastam delas, nos deixam na solidão.
A passagem do prazer à santidade tem senti¬do, afirma Bataille. É a passagem do que é maldito e rejeitado ao que é abençoado e bendito. O prazer é crime solitário, que não salva senão opondo-nos a todos os outros, que não salva senão na euforia de uma ilusão, uma vez que aquilo que no prazer leva ao extremo grau da intensidade atinge-nos ao mesmo tempo com a maldição da solidão. Já a santidade faz sair da solidão, com a condição de aceitar este paradoxo -- fe¬lix culpa! -- cujo próximo excesso resgata. 
Só um desvio per¬mite nestas condições regressar aos nossos semelhantes. Este desvio merece sem dúvida o nome de renúncia, uma vez que no cristianismo não podemos simultaneamente operar a transgressão e gozar dela, e só outros podem gozar dela na condenação da solidão. O acordo com os seus semelhantes só é encontrado pelo cristão sob condição de nun¬ca mais gozar daquilo que o liberta, daquilo que nunca é mais do que transgressão, violação das proibições sob as quais repousa a civilização.
Se seguirmos o caminho indicado pelo cristianismo, considera Bataille, podemos não apenas sair da solidão, mas aceder a uma espécie de equilíbrio, que escapa ao desequilíbrio primeiro e que nos impede de conciliar disciplina e trabalho com a experiência dos extremos. A santidade cristã abre-nos pelo menos a possibilidade de levar até ao fim a experiência desta convulsão final, a morte. Aquele que compreende a importância do prazer apercebe-se que esse valor é o valor da morte. Talvez seja um valor, mas a solidão abafa-o.
Por isso, para Bataille, o santo vive como se morresse, mas vive a fim de encontrar a vida que é a vida. A santidade é sem¬pre um projeto. Talvez não o seja em essência. A intenção da vida eterna liga-se à santidade como se liga ao seu contrário. Como se, na santidade, só um compromisso permitisse entregar o santo à multidão, entregar o santo a todos os outros: à multidão, ou seja, ao pensamento comum.
ALGUNS FINALMENTES
O mais estranho é que possa haver ligação entre a transgressão deliberada e a condição de não se falar dela. Este acordo é encontrado nas religiões arcaicas. O cristianismo inventou um caminho aberto à transgres¬são que permite se falar da transgressão. Reconhecemos assim que o pensamento, que no cristianismo vai além, tende a negar tudo o que se assemelha à transgressão, a negar tudo o que se assemelha à proibição. 
Na palavra do prazer erótico há uma recusa de viver o tempo que produz desprazer, que leva à angústia. Esse tempo é morto, sacrificado na linguagem do erótico, que substitui a angústia pelo tempo subjetivo: evita assim que a pessoa se torne refém das exigências externas ao se submeter ao desejo do outro. Mas, a morte do tempo que produz desprazer leva à ressurreição, leva a um novo tempo. Por isso, na linguagem do prazer erótico, como a vê Bataille, há libertação porque na seqüência gozo, angústia, desejo, o gozo não é mais atemporal, mas temporal. 
Assim, no plano do prazer, temos a palavra do prazer, que é negação da proibição, negação da transgressão que gera a proibição. Aqui, a linguagem do prazer é negação que define o humano em oposição ao animal.


BIBLIOGRAFIA

Georges Bataille e outros
Bataille, Georges, O Erotismo, Lisboa, Edições Antígona, 1988.
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_____________, Teoria da religião, São Paulo, Ática, 1993.
_____________, História do Olho (seguida de Madame Edwarda e O Morto), São Paulo, Editora Escrita,1981. 
Braaten, Carl E. e Jenson, Robert W., Dogmática Cristã, São Leopoldo, Sinodal, 1990, volume 1.
Chauí, Marilena, Spinoza, uma filosofia da liberdade, Coleção Logos, São Paulo, Editora Moderna, 1999.
Crespi, Franco, A experiência religiosa na pós-modernidade, Bauru, Editora da Universidade do Sagrado Coração, 1998.
Dussel, Enrique, Ética da libertação na idade da globalização e da exclusão, Petrópolis, Editora Vozes, 2000.
Eliade, Mircea, O sagrado e o profano, a essência das religiões, São Paulo, Martins Fontes, 2001.
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Mills, C. Wright, A nova classe média, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1976.
Monzani, Luiz Roberto, Desejo e prazer na idade moderna, Campinas, Ed. Da Unicamp, 1995.
Nietzsche, Friedrich, Além do bem e do mal, prelúdio a uma filosofia do futuro, São Paulo, Companhia das Letras, 2002.
Otto, Rudolf, O Sagrado, Lisboa, Edições 70, 1992.
Pinheiro, Jorge, Teologia e Política: Paul Tillich, Enrique Dussel e a Experiência Brasileira, São Paulo, Fonte Editorial, 2006.
Segundo, Juan Luís, Que mundo, que homem, que Deus? Aproximações entre ciência, filosofia e teologia, São Paulo, Paulinas, 1995.
Sobrino, Jon, Espiritualidade da libertação, São Paulo, Edições Loyola, 1992.
Spinoza, Baruch, Obras diversas, in Coleção Os Pensadores, São Paulo, Editora Abril Cultural, 1988.


samedi 20 décembre 2014

Simplesmente Jesus

Uma vida simples

João, ao ouvir na prisão o que Cristo estava fazendo, enviou seus discípulos para lhe perguntarem: És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar algum outro? Jesus respondeu: Voltem e anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos veem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas novas são pregadas aos pobres; e feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa. Enquanto saíam os discípulos de João, Jesus começou a falar à multidão a respeito de João: O que vocês foram ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Ou, o que foram ver? Um homem vestido de roupas finas? Ora, os que usam roupas finas estão nos palácios reais. Afinal, o que foram ver? Um profeta? Sim, eu lhes digo, e mais que profeta. Este é aquele a respeito de quem está escrito: Enviarei o meu mensageiro
à tua frente;
ele preparará o teu caminho diante de ti. Digo-lhes a verdade: Entre os nascidos de mulher não surgiu ninguém maior do que João Batista; todavia, o menor no Reino dos céus é maior do que ele. Mateus 11.2-11.

A teologia da lei e das obras

João Batista pregava no deserto, à beira do rio Jordão. A sua mensagem era de que o Reino de Deus e a sua justiça estavam a chegar. Era uma mensagem dura, a maneira do Antigo Testamento: tinha por base a Lei de Moisés e seguia o padrão do clamor profético.

Quando viu que muitos fariseus e saduceus vinham para onde ele estava batizando, disse-lhes: Raça de víboras! Quem lhes deu a ideia de fugir da ira que se aproxima? Deem fruto que mostre o arrependimento! Não pensem que vocês podem dizer a si mesmos: Abraão é nosso pai. Pois eu lhes digo que destas pedras Deus pode fazer surgir filhos a Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo. Eu os batizo com água para arrependimento. Mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de levar as suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele traz a pá em sua mão e limpará sua eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga. Mateus 3.7-12.

A teologia da vida simples ou teologia da simplicidade voluntária é uma teologia cristã que nasce do milagre da graça derramada pelo sacrifício vicário de Jesus Cristo na cruz do Calvário.

A teologia da vida simples gera duas posturas: uma espiritual, de vida plena cheia de sentido; e outra material, na qual o cristão conscientemente escolhe minimizar a preocupação com o "quanto mais melhor", em termos de consumo e riqueza.

A dúvida de João Batista

João Batista conhecia Jesus. Era primo de Jesus. Tinha profetizado sobre Jesus: “Eu os batizo com água para arrependimento. Mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de levar as suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele traz a pá em sua mão e limpará sua eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga”. Mateus 3.11-12. Tinha batizado Jesus.

Mas agora estava preso. E uma questão martelava seu coração e mente. Jesus vai fazer justiça ou não? Será que Jesus é mesmo o Messias?

Os cristãos que vivem a teologia da simplicidade voluntária escolhem, porque reconhecem o papel da graça em suas vidas, privilegiar a qualidade de vida, a vida saudável, o tempo passado com a família e seus entes queridos, a redução do stress, a preservação do meio ambiente, a justiça social, o não-consumismo, enquanto aqueles que não entendem ou não aceitam a teologia da vida simples escolhem viver por preferências pessoais, por razões econômicas, embora a vida simples seja essencialmente uma escolha e nada tenha a ver com "pobreza forçada".

A pobreza é involuntária e debilitante, a simplicidade é voluntária e mobilizadora. A teologia da vida simples significa, a partir da graça, fazer um esforço consciente para descobrir o que realmente é importante e abrir mão do que é supérfluo, descobrindo assim que uma vida mais frugal exteriormente pode ser muito mais abundante e rica interiormente.

A teologia da graça

Diante da pergunta de João, através de seus discípulos, se ele Jesus era mesmo o Messias e se iria fazer descer fogo do céu, Jesus apresenta o evangelho da graça:

Jesus respondeu: “Voltem e anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos veem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas novas são pregadas aos pobres; e feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa. Mateus 11.4-6.

Jesus está a mostrar a João e a seus discípulos que se abriu um tempo de graça, onde a Lei de Moisés e as obras meritórias cedem lugar à boa notícia da salvação, em amor e misericórdia. Para isso veio o Messias.

Embora o ascetismo possa assemelhar-se à simplicidade voluntária, aqueles que aderem à vida simples nada têm de ascéticos.

A teologia da simplicidade voluntária leva os cristãos a agirem conscientemente para reduzir as suas necessidades de comprar serviços e bens e, por extensão, reduzirem também a necessidade de vender o seu tempo por dinheiro. Alguns usam suas horas livres para ajudar seus familiares ou a sociedade, se voluntariando para alguma atividade. Outros utilizam seu tempo para melhorar a própria qualidade de vida, desenvolvendo atividades criativas.

A graça é o fundamento da vida simples

E por isso Jesus disse: Digo-lhes a verdade: Entre os nascidos de mulher não surgiu ninguém maior do que João Batista; todavia, o menor no Reino dos céus é maior do que ele. Mateus 11.11.

João, o batista, como todos os profetas do Antigo Testamento, guiava-se pela Lei de Moisés e pelas obras meritórias. Mas agora Jesus diz que quem vive a graça através da fé é maior do que aqueles que viviam pela Lei e pelas boas obras.

Esse “menor no Reino dos Céus” é maior porque ninguém é salvo pela Lei e pelas obras, mas através da fé na graça redentora de Jesus, o Messias de Deus.

A teologia da vida simples nos leva a analisar e procurar os motivos de porque nós consumimos tantos recursos e compramos tantas coisas para ter, em última instância, uma qualidade de vida precária.

Quem vive a teologia da vida simples preocupa-se com o meio ambiente. O estilo de vida consumista impacta o mundo, por isso, é preciso estar atento, rever e refletir sobre a real necessidade das nossas compras e da quantidade de recursos que são utilizados para mantê-las. Optar por bens "amigos da natureza", e sempre que possível, procurar compartilhar bens com amigos e vizinhos, faz parte do caminho proposto pela graça plena de Jesus Cristo.

Simplesmente Jesus – uma vida simples é o tema de nossas vidas. Será no correr do novo ano o lembrar e viver a graça derramada pelo sacrifício de Jesus. Viver o fundamento da teologia da vida simples – cheia de graça --, que não repousa em obras!

Do amigo, Jorge Pinheiro.







mercredi 17 décembre 2014

Reflexões para o Chanukah

A passagem,
um pouco de Eternidade para mim e para você -- reflexões para o Chanukah

Ele transitou por aqui como um guerreiro. Um guerreiro e sua viagem. Durante o correr de seus dias no chão deste planeta, o que é muito tempo, lutou bravamente com החיים linda e forte. Os dois nus, suados, ele arfando, sob o olhar atento do soldado que lhe fizera aspirar o gás. Ele era um sobrevivente. Deveria ter ido com os outros, durante a epidemia, mas não, continuou vivo. No entanto, sabíamos, estava contaminado: era um transmissor. Não havia o que fazer: ele devia mudar de vagão.

É isso mesmo, para que não contaminasse a todos, devia mudar de vagão. E a passagem é isso: mudar de vagão para que a viagem continue. Então, foi definido que ele e החיים aspirassem naquele quarto o gás que haveria de possibilitar a passagem. E com com eles estava o soldado que os acompanhava na passagem.

Lá pela tarde, entrei no quarto e os vi nus, lutando. Ele disse alguma coisa, com sorriso, alegre, como só ele sabia ser. E eu sai triste, querendo também aspirar o gás. Chorava, me sentindo sozinho, querendo também mudar de vagão.


E foi ai que, sentado naquele corredor, a chorar, atinei que האלוהים הנצחי é infinito em suas percepções. Mas o infinito é uma abstração e dizer que a eternidade é infinita é tautológico, é dizer a mesma coisa pelo avesso. É explicar o que não se conhece usando o que nos é desconhecido.

Talvez pudéssemos dizer que este האלוהים הנצחי é o fundamento das leis e processos que regem os cosmos, personalidade sem forma presente em todas as dimensões do espaço e do tempo.

Uma das maneiras de se falar de האלוהים הנצחי é dizer que é espírito, essência que se faz presente em toda a vida, interfere na materialidade, embora não seja matéria. Centelha cujo clarão varia de acordo com o grau de sua depuração, o que inclui a linguagem da programação e as ferramentas da existência. Ou seja, implica em monitorar a execução do programa, pará-lo, reiniciá-lo, ativar pontos de parada, alterar áreas de memória e, em alguns casos, voltar no tempo.

Assim, podemos entender melhor a imagem e semelhança, de acordo com a presença e manifestações de האלוהים הנצחי. Aliás, no tocante a imagem e semelhança com האלוהים הנצחי presente e manifesto é preciso compreender que האלוהים הנצחי deve pressupor além do tempo e do espaço, único e infinito em suas percepções. Imagem e semelhança pressupõe ser-meio-eterno, transitório nesta temporalidade -- atraídos por האלוהים הנצחי, por estarmos parte e termos destino: sermos derramados em האלוהים הנצחי.

יפה אורן שם טוב

mercredi 3 décembre 2014

Le chemin du bonheur


Le CHEMIN du BONHEUR
Jorge Pinheiro

Matthieu 5:3-12.


Heureux ceux qui ont une âme de pauvre, car le Royaume des Cieux est à eux. Heureux les affligés, car ils seront consolés. Heureux les doux, car ils posséderont la terre. Heureux les affamés et assoiffés de la justice, car ils seront rassasiés. Heureux les miséricordieux, car ils obtiendront miséricorde. Heureux les cœurs purs, car ils verront Dieu. Heureux les artisans de paix, car ils seront appelés fils de Dieu. Heureux les persécutés pour la justice, car le Royaume des Cieux est à eux. Heureux êtes-vous quand on vous insultera, qu'on vous persécutera, et qu'on dira faussement contre vous toute sorte d'infamie à cause de moi. Soyez dans la joie et l'allégresse, car votre récompense sera grande dans les cieux : c'est bien ainsi qu'on a persécuté les prophètes, vos devanciers.

Introduction

Le sujet qui enrage voir est présent dans le “Sermon de la Montagne”. Tel sermon Jésus a été prononcé après avoir appelé leurs disciples pour être “pêcheurs d'hommes” ; ce que le rend encore davantage attrayant, donc à l’inverse d’enseigner d’eux “pêcher” matériellement, Jésus s’est proposé les enseigner à vivre conformément au Royaume de Dieu. 

Ainsi que Moisés ce a été au Sinai avec le peuple d’Israël pour donner la Loi de Dieu, Jésus a été au Montagne pour enseigner aux personnes l’Éthique du Royaume, leurs fondements. L’intention de Jésus était ce dont ce qui le suivaient démontraient les valeurs du Royaume dans leur caractère et ils ainsi essayaient la joie liée à cela, montraient la différence de la qualité de Son Royaume et proclamaient avec leurs exemples l’arrivée du Royaume. 

Le premier sujet qui saute aux yeux quand nous lisons le Sermon de la Montagne est des bonheurs. Jésus initie leur sermon par le sujet lequel sait être le tronc pour la vie humaine : le bonheur. Après tout, depuis que s’est éloigné de Dieu, à l’être contaminé par le péché, tout être humain inhale le bonheur. Il cherche quelque chose qui le satisfasse, que le complète, qu’il apporte réalisation complète. C’est intéressant de remarquer que le péché est apparu exactement parce que l’être humain, trompé par Satans a essayé de chercher “quelque chose en plus” dont il avait avec Dieu. En vérité il cherché être comme Dieu. Sa recherche par quelque chose en plus a été infructueuse, donc c’est impossible non seulement d’être égal à Dieu, mais être plus heureux loin de Dieu. Aujourd’hui sa recherche est infructueuse pour le même raison. Donc, dans le monde, le bonheur est considéré utopique ou temporaire. Néanmoins, la Bible est pleine de citations concernant le bonheur, comment d’atteindre d’elle, comment la maintenir, comment la partager. Jésus nous a présentés à elle dans la croix. Mais avant cela Lui que nous l’en parlera.

Le vrai bonheur ne dépend pas de quelque chose matériel 
Textes : Psaumes 4:6, 7 ; Jean 16:20 ; Galatians 5:22 ; Romains 14:17.

À introduction le sujet de l’éthique du Royaume, Jésus a indiqué pour la réalité de la recherche que l’être humain fait du bonheur. Donc a commencé par les bonheurs. Pour démontrer que le bonheur n’est pas quelque chose qui puisse l’être cherché dans les choses matérielles dans elles a parlé sur les attitudes qui produisent du bonheur. Celui-ci est un texte de la Bible qui doit être lue et être relue le courir de nos vies. Aujourd’hui nous verrons que cet enseignement ne consiste pas seulement du Sermon de la Montagne, mais le nous trouvons dans autres passages de la Bible. 

L’enseignement que ce monde et sa culture influencée par le péché dans les donnent est de que c’est nécessaire d’avoir quelques choses pour que se sentent heureux. Tel enseignement aujourd’hui est maximisé dans la réalité consumista dans laquelle nous vivons. Nous voulons avoir toujours plus et y a toujours quelque chose nouveau que nous avons besoin d’acquérir. Nous vivons de forme consumista en croyant que par l’obtention de quelque chose nous serons plus près du bonheur. Il a, de même, chaînes evangélicas qui enseignent que les bénédictions de Dieu sont démontrées dans les biens que nous acquérons. Ceci n’est aussi pas nouveau. À l’époque de Davi quelques-uns priaient ainsi : “Plusieurs disent: Qui nous fera voir le bonheur? Fais lever sur nous la lumière de ta face, ô Éternel! Tu mets dans mon coeur plus de joie qu`ils n`en ont Quand abondent leur froment et leur moût.” (Psaumes 4:6, 7). Dans le texte original Davi parle non seulement dans nourriture mais aussi dans boisson et donne une idée de fête à cause d’une récolte abondante.

Le monde dans eux donne une idée fausse de bonheur et rejette le vrai bonheur que seulement Jésus peut donner. Quand nous exprimons notre bonheur entre les épreuves et les privations qui se produisent dans nos vies, nous sommes considérés des fous. Le monde préfère le faux bonheur proportionné par le péché. 

Nous vivons dans une société qui dans ne les comprend pas et laquelle juge le bonheur de ont été différents de nôtre. Jésus dans les a avertis sur ceci à dedire : ”En vérité, en vérité, je vous le dis, vous pleurerez et vous vous lamenterez, et le monde se réjouira: vous serez dans la tristesse, mais votre tristesse se changera en joie.” (Jean 16:20). 

Jésus maintenant fait de la référence à la tristesse des disciples, qui déplorent la perspective de Leur départ. Sera enlevée Sa présence physique, néanmoins Sa présence chant religieux serait réalisée dans les oeuvres de l'Esprit, commençant avec Pentecostes et en continuant pendant toute la vie de l'Église. Les disciples pensent que la référence l'"un peu" contredit Sa déclaration concernente Son allée pour le Père. Jésus perçoit cette confusion de pensée, sans dechercher corrigiz la. Il répond dans des termes positifs qui élucident Leur propre pensée. La tristesse aux onzex se convertira dans joie. Il compare si cette tristesse aux douleurs d'accouchement qui sont temporaires. Après née l'enfant la crainte est oubliée en étant substituée par la joie. La joie des disciples né de sa souffrance chant religieux Jésus tournera après Son décès et personne jamais pourrait les voler cette joie.

Le bonheur n’est pas produit de l’action humaine. C’est en résultant de la performance de l’Esprit qui produit dans nous Son fruit qui contient la vraie joie (Gálatas 5:22). Cette joie est fondement de la vie dans le Royaume comme dans leur dit l’apôtre Paul : “Car le royaume de Dieu, ce n`est pas le manger et le boire, mais la justice, la paix et la joie, par le Saint Esprit.”. (Romains 14:17).

Le vrais bonheur dépendent d'une approche à Dieu 
Textos : Psaumes 65:4 ; 16:11 ; 65:4 ; Sophonias 3:17 ; Matthieu 6:33.

La recherche du bonheur mondain est infructueuse parce que ne touche pas dans la nécessité suprême de l’être humain : le renouvellement de ses relations avec Dieu. Depuis qu’a été expulsé de l’Éden l’être humain se sent vide et cherche à se remplir de quelque chose. Ceci seulement est possible avec le renouvellement de ses relations avec Dieu. Comme c’était impossible à l’homme de le rattacher, Dieu a pris l’initiative et à travers Jésus Cristo s’est approché de nous et a donné nous l’occasion de eux de rapporter avec Lui. 

La Bible indique dans beaucoup de textes cette nécessité de l’être humain de se trouver avec Dieu pour être heureuse. Davi a dit :

“Heureux celui que tu choisis et que tu admets en ta présence, Pour qu`il habite dans tes parvis! Nous nous rassasierons du bonheur de ta maison, De la sainteté de ton temple”. (Psaumes 65:4). La présence de Dieu est transformatrice. Cette transformation se donne à travers la manifestation de son amour, de leurs bénédictions. Comme faux deuses infundem terreur à lalaquelle ils les adorent notre Dieu provoque du bonheur dans leurs adoradores.  Cela que l’être humain a besoin est trouvé en présence de Dieu, dans les relations avec Lui. Donc notre priorité doit être chercher toujours améliorer notre adoration et accomplir ce que Jésus dans les a enseignés : ” Cherchez premièrement le royaume et la justice de Dieu; et toutes ces choses vous seront données par-dessus.” (Matthieu 6:33).

Cherchez premièrement le royaume et la justice de Dieu... Voici une des phrases fondamentales de cette Évangile. Chercher le royaume de Dieu veut dire d'entrer dans lui personnellement et, alors, d'inviter autres. La justice de Dieu est la parfaite justice de Christ que Il impute la tout croyante. Toutes ces choses vous seront ajouté. Ces choses se rapportent principalement aux nécessités de la vie, mentionnées dans les versets 25 et 31, que facilement ils se rendent plus la plus grande préoccupation de l'être humain. Dieu garantit l'entretien matériel de leurs fils et, beaucoup de fois, pourvoir encore davantage. Donc, le Chrétien ne pas vivre dans stress combien à l'avenir.

Tant que beaucoup de plaisirs du monde rendent possible seulement un de faux et temporaires bonheurs la présence de Dieu provoque du bonheur éternel : “Tu me feras connaître le sentier de la vie; Il y a d`abondantes joies devant ta face, Des délices éternelles à ta droite.” (Psaumes 16:11).

Le vrai bonheur consiste à vivre conformément à la volonté de Dieu 
Textos Psaumes 1:1 ; 112:1 ; 128:1, 2 ; Proverbes 28:14 ; 29:18

Le bonheur de l’être humain est faire la volonté de Dieu, donc pour cela nous sommes créés. « Je vous exhorte donc, frères, par les compassions de Dieu, à offrir vos corps comme un sacrifice vivant, saint, agréable à Dieu, ce qui sera de votre part un culte raisonnable.” (Romains 12:1). 

Dieu demande un culte rationnel, ceci est cultivé chant religieux, ou offrande, en contraste avec le sacrifice d'animaux, d'une livraison morale à Dieu, et non cérémoniale. Cette consécration implique corps et esprit. 

Paul insiste avec les Chrétiens romains pour présenter leurs corps par la raison d'exister une tendance pour sous-estimer le corps et voir notre temple terrestre comme essentiellement mauvais. Le concept que le Chrétien fait du corps, comme sacré et je mange employé de l'âme, est seul entre les religions du monde. Une vie Saint est agréable à Dieu. Ce sacrifice vivant inclut aussi l'esprit qui doit être renouvelé pour être offert. C'est un miracle de transformation, un rajustement les réalités séculières et éternelles. Les idées qui ces termes présentent, de não-conformidade et de transformation, sont impressionnantes. Première a la racine schema, impliquant apparence externe; à autre dérive de morphe, signifiant similitude essentielle et radicale. La conséquence est la reconnaissance de la volonté de Dieu mange joute, appropriée et idéale.

La Bible dans les dit que le bonheur est vif par que ils ne font pas la volonté de ce monde, mais la volonté de Dieu (Psaume 1). Tel bonheur est démontré dans la vie de cette personne. Nous pouvons comprendre si quelqu’un est de costume heureux ou nous ne nous observons pas si la volonté de Dieu est par elle accomplie de forme réjouit. Les fruits de l’accomplissement de la volonté de Dieu sain fruits qui se produisent dans le temps exact en ne causant pas de préjudices, mais le bénéfice attendu. Le livre de Psaumes travaille suffisamment cette thématique. Le Psaume 112 développe encore davantage clairement la prospérité dont place son plaisir dans les commandements de Dieu : il bénit sa descendance ; c’est réussi ; c’est gentil, miséricordieux, honnête et généreux.
Considérations finales

La caractéristique dont le plus marquant sert Dieu est que son bonheur jamais n’est pas ébranlé parce que sa foi est forte. Donc nous pouvons dire : Bonheur commence avec foi !

Frères et soeurs ne s’oublie pas : le vrai bonheur ne dépend pas de quelque chose matériel, dépend d’être près de Dieu, de vivre conformément à la volonté de Dieu. 

Tu devez vivre ainsi pour être heureux !

mardi 2 décembre 2014

Jordi Savall

http://youtu.be/_OMh0u-ir9w

Traduzir -- trair ou recriar?

A existência a partir da tradução...
Prof. Dr. Jorge Pinheiro

Dedico ao meu amigo Vanderlei Gianastácio

... Ou, “há que ler o desejo: sem terra, sem pátria e sem objeto, ele vaga por um deserto, cujas trilhas conduzem o leitor à experiência limite mais-além do que aparece na imagem”. (Betty Fuks, Freud e a Judeidade, a vocação do exílio, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2000).

Να τι θέλω να πω, αδερφοί μου: Άνθρωποι από σάρκα και αίμα δεν μπορούν να πάρουν μέρος στη βασιλεία του Θεού, ούτε αυτό που είναι φθαρτό μπορεί να κληρονομήσει την αφθαρσία.

σε μια στιγμή, όσο θέλει το μάτι για ν’ ανοιγοκλείσει, όταν ηχήσει η σάλπιγγα των έσχατων καιρών. Θ’ ακουστεί ο ήχος της σάλπιγγας, κι αμέσως οι νεκροί θα επιστρέψουν στη ζωή άφθαρτοι, κι εμείς οι ζωντανοί θ’ αλλάξουμε το παλιό με ένα νέο σώμα. Πρέπει αυτό που είναι φθαρτό να μεταμορφωθεί σε άφθαρτο, κι αυτό που είναι θνητό να γίνει αθάνατο. Όταν αυτό το φθαρτό μεταμορφωθεί σε άφθαρτο και το θνητό μεταμορφωθεί σε αθάνατο, τότε θα πραγματοποιηθεί ο λόγος της Γραφής: Ο θάνατος αφανίστηκε· η νίκη είναι πλήρης! Θάνατε, πού είναι το κεντρί της δύναμής σου; Άδη, πού είναι η νίκη σου; Τη δύναμη να πληγώνει θανάσιμα την παίρνει ο θάνατος από την αμαρτία, κι η αμαρτία παίρνει τη δύναμή της από το νόμο. Ας ευχαριστήσουμε όμως το Θεό που μας χάρισε τη νίκη δια του Κυρίου μας Ιησού Χριστού. Λοιπόν, αγαπητοί μου αδερφοί, να γίνεστε όλο και πιο σταθεροί και αμετακίνητοι στην πίστη, και να έχετε πάντοτε όλο και περισσότερο ζήλο για την εκπλήρωση του έργου του Κυρίου, αφού ξέρετε ότι ο κόπος που καταβάλλετε για χάρη του Κυρίου δεν είναι μάταιος. (ΠΡΟΣ ΚΟΡΙΝΘΙΟΥΣ Α΄ 15:50, 52-58 TGV).

O fazer da existência vale a pena. A eternidade aprecia esse bem-fazer humano, que tem seu próprio tempo, que integra a existência de cada ser na história dos fazeres humanos. É por isso que Bereshit, o primeiro texto na Torá, apresenta um ponto zero. O tempo zero vai do entardecer à meia-noite. É quando o sol desilumina o nosso espaço de forma gradual. O tempo do não-ser não é uma fratura do tempo, é tempo da história. Qoh não contempla a passagem do tempo, mas a vinda do tempo. O tempo significa nada ou pouco para o eterno, mas há um sentido de tempo para o humano. A conclusão de Qoh é que temos de ser no tempo para dar valor à eternidade que brota do nada do não-ser. E a partir de Qoh vamos a Paulo de Tarso.

Pede-se ser levantado

“Você está falando de bens materiais, de coisa frágil. Se você tem certeza de que esses bens ficarão sempre com você, fique com eles sem partilhar com ninguém. Mas se você não é o senhor absoluto deles, se tudo que você tem depende mais da sorte do que de você mesmo, por que este apego a eles?”. 

Betty Fuks conta que Freud, um dia depois do sepultamento do pai, sonhou com um cartaz onde estava escrito: “Pede-se fechar os olhos”. Mais tarde, em carta a Fliess, o pai da psicanálise falou dos sentidos subjetivos da frase: “era parte da minha auto-análise, minha reação diante da morte de meu pai, vale dizer, diante da perda mais terrível na vida de um homem”. 

Não vou entrar nos detalhes das leituras que o próprio Freud fez da frase que apareceu em seu sonho. Diria ao leitor que vale a pena ler Freud e a Judeidade. Pretendo aqui levantar uma proposta de Fuks: “há que ler o desejo: sem terra, sem pátria e sem objeto, ele vaga por um deserto, cujas trilhas conduzem o leitor à experiência limite mais-além do que aparece na imagem”. É a partir dessa hermenêutica, que vamos ler trechos do final da primeira carta de Paulo aos Coríntios. 

“... Foi sepultado e foi despertado do sono no terceiro dia, de acordo com o escrito”. 

A frase acima, e a continuação do texto, é uma das mais importantes sobre a egeiro e anástasis, duas expressões gregas não substancialmente diferentes, que sintetizam a teologia da anástase dos cristãos do primeiro século. As traduções posteriores, e creio que dificilmente poderiam ser diferentes, criaram um padrão de imagem que dificultam a experiência do ir além. Por isso, fomos obrigados antes da tradução transversa fazer a desconstrução histórico-filosófica da anástase.
 
As leituras da anástasis e egeiró remontam a Homero e ao grego antigo e com seus sentidos correlatos axanástasis, anhistémi e anazaó, que podem ser traduzidas por “ficar de pé”, “ser levantado” e “voltar à vida”, foram fundamentais para a construção do conceito anástase, amplamente utilizado pelas ciências do espírito. Mas é com Platão, na literatura filosófica, que vamos encontrar um debate fundamental para a teologia da anástase, quando apresenta a alma enquanto semelhança do divino e o corpo enquanto semelhança do que é físico e temporário. 

Platão, em Fédon, num diálogo entre Sócrates e seus amigos defendeu a idéia da imortalidade da alma. Sócrates foi condenado à morte por envenenamento, mas não teve medo, por crer ser a alma imortal. Para Platão, as almas possuem semelhanças com as formas, que são realidades eternas por trás do mundo físico, natural. Nesse sentido, para Platão, o corpo morre, mas a alma não. Ele parte do padrão cíclico da natureza, frio/ quente/ frio, noite/ dia/ noite. Assim, os mortos despertam numa nova vida depois da morte: caso contrário, a vida desapareceria. 

E dirá através de Sócrates em Fédon: “(...) perguntemos a nós mesmos se acreditamos que a morte seja alguma coisa? (...) Que não será senão a separação entre a alma e o corpo? Morrer, então, consistirá em apartar-se da alma o corpo, ficando este reduzido a si mesmo e, por outro lado, em libertar-se do corpo a alma e isolar-se em si mesma? Ou será a morte outra coisa? (...) Considera agora, meu caro, se pensas como eu. Estou certo de que desse modo ficaremos conhecendo melhor o que nos propomos investigar. És de opinião que seja próprio do filósofo esforçar-se para a aquisição dos pretensos prazeres, tal como comer e beber?” 

Paulo conhecia a discussão filosófica grega acerca da anástase, já que isso se evidencia em seus escritos, principalmente no trecho que estamos analisando, mas é certo que construiu seu conceito também levando em conta a tradição judaica, acrescentando novidades ao debate teológico. Existem referências ao ser trazido de volta à vida nas escrituras hebraico-judaicas. Mas a preocupação judaica era existencial, como vimos em Qohélet. Mais do que remeter a um futuro distante, embora tais leituras estejam presentes na teologia de alguns profetas, as histórias de anástase relacionadas aos profetas Elias e Eliseu falam do aqui e agora. Aliás, este último, mesmo de depois de morto, trouxe à vida um defunto que foi jogado sobre sua ossada. Ao tocar os ossos de Eliseu, o morto ficou vivo de novo e se levantou. Esse caminho será a novidade da compreensão cristã/ helênica da anástase.

“Somos arautos de que o ungido foi levantado do meio dos mortos: como alguns podem dizer que não há o ser erguido dos mortos? E, se não há o despertar do sono da morte, também o ungido não foi levantado. E se o ungido não foi levantado, é inútil o que falamos e também inútil a nossa crença. Somos então testemunhas falsas, porque anunciamos que Deus ergueu o ungido. Mas se ele não foi levantado, os mortos também não são erguidos. E se os mortos não são erguidos, o ungido também não o foi. E, se o ungido não foi erguido, a nossa crença é inútil e vocês continuam a vagar sem destino. E os que foram colocados para dormir no ungido estão destruídos”. 

Outras fontes de Paulo foram o profeta Daniel e outras literaturas intertestamentárias, que trabalharam com a idéia de “despertar subitamente do sono”. Chifflot e De Vaux situam o livro de Daniel no período helênico por entender que é uma edição de antigos fragmentos do período babilônico, compilados, organizados e contextualizados ao momento histórico descrito no capítulo onze. Nesse capítulo, as guerras entre lágidas e selêucidas, assim como as investidas de Antíoco IV Epífanes contra Jerusalém e o templo são narradas com riquezas de detalhes. Ao contrário do que acontece nos livros proféticos anteriores, aqui o autor cita fatos aparentemente insignificantes, querendo demonstrar que é uma testemunha ocular da história. Dessa maneira, a edição que conhecemos do livro de Daniel deve ser situada no período da grande perseguição de Antíoco IV Epífanes, possivelmente entre os anos de 167 e 164 a.C., segundo Chifflot e De Vaux, já citados. A partir desse enquadramento, os capítulos 7 a 12 de Daniel, enquanto edição são chamados de “vaticinia ex eventu”, dado que o texto é contemporâneo aos acontecimentos descritos. Esses capítulos expressam a reação contra a helenização da Judéia e das perseguições em curso, mas, paradoxalmente, uma forma de pensamento afetado pela civilização helênica.

A partir da segunda metade do livro, o autor trabalha sobre dois temas registrados na primeira metade: que o judeu deve ser fiel a Deus em meio à tentação e à provação; e que Deus defende o servo leal que prefere morrer a violar os mandamentos. Nos seis capítulos finais, o sábio (ou grupo de sábios, cujos escritos foram compilados por um redator) retoma o conteúdo das visões que teve em relação à profanação do templo, em 167 a.C., e o erguimento da “abominação desoladora”. 

Durante o período helênico idéias novas afloraram em meio à vida judaica, entre elas a esperança da recompensa escatolõgica apresentada pelas profecias apocalípticas, como em 2Macabeus 7, Daniel 12:2-3 e o Escrito de Damasco 4:4, que se traduzem concretamente na anástase.

Assim, os elementos novos da compreensão paulina da anástase já aparecem delineados no profeta Daniel: “Muitos dos que dormem no pó da terra despertarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente”. Paulo, porém, somará um componente existencial à compreensão de Daniel, dirá que a morte, o maior de todos os odiados pela espécie humana, será privada de força.

“Caso o ungido só sirva para esta vida, somos as pessoas mais dignas de lástima. Mas o ungido foi levantado dentre os mortos e foi o primeiro fruto dos que foram colocados para dormir. Porque se a morte chegou pela humanidade, também o ungido dará à luz nova vida. Como morre a espécie, no ungido ela recebe vida. E isso acontece numa ordem: o ungido é o primeiro fruto, depois os que pertencem ao ungido, quando ele aparecer. E veremos o limite, quando o ungido entregar o reino a Deus e Pai, e tornar inoperante o império, os poderes e os exércitos. Convém que seja rei até derrubar os odiados por terra. O último odiado a ser privado de força é a morte, porque o resto já foi colocado debaixo de seus pés”. 

É interessante que Paulo em seu texto sobre a anástase cita o dramaturgo, filósofo e poeta grego Menandro (342-291 a.C.), que num verso disse: “as más companhias corrompem os bons costumes”. E voltando ao Misantropo: “insisto que, enquanto você é dono deles, você deve usá-los como um homem de bem, ajudando os outros, fazendo felizes tantas pessoas quantas você puder! Isto é que não morre, e se um dia você for golpeado pela má sorte você receberá de volta o mesmo que tiver dado. Um amigo certo é muito melhor que riquezas incertas, que você mantém enterradas”. Tudo indica que Paulo gostava de teatro e de comédias.

Que Paulo recorreu à tradição profética fica claro quando cita o profeta Oséias literalmente: “eu os remirei do poder do inferno e os resgatarei da morte? Onde estão ó morte as tuas pragas? Onde está ó morte a tua destruição?”. Mas há uma correlação entre Platão e a tradição hebraico-judaica, que pode ser lida nesta carta de Paulo. Isto porque, como afirma Fuks, o leitor desconstrói, pois ler não é repetir o texto: é um modo de criação e de transformação. Por isso, digo que ler é um ato de anástase. E Paulo trabalhou de forma brilhante o termo, tanto nas suas leituras e estudos, como na reconstrução do próprio conceito.

“Que farão os que se batizam pelos mortos, se os mortos não são chamados de volta à vida? Por que se batizam então pelos mortos? Por que estamos a cada hora em perigo? Protesto contra a morte de cada dia. Eu me glorio por vocês, no ungido Iesous a quem pertencemos. Combati em Éfeso contra animais ferozes, mas o que significa isso, se os mortos não podem ressurgir? Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos. Mas não vamos nos enganar: as más companhias corrompem os bons costumes”.

Na sequência da tradição hebraico-judaica, ou como diz Fuks, “os antigos hebreus não estavam trabalhados, como nós, pela necessidade de abstração, de síntese e de precisão na análise conceitual do real, herança dos gregos”, Paulo está preocupado com o corpo, com a vida.

“Mas alguém pode perguntar: como os mortos são trazidos à vida? E com que corpo? Estúpido! O que se semeia não tem vida, está morto. E, quando se semeia, não é semeado o corpo que há de nascer, mas o grão, como de trigo ou qualquer outra semente. Deus dá o corpo como quiser, e a cada semente o corpo que deve ter. Nem toda a carne é uma mesma carne, há carne humana, de animais terrestres, de peixes, de aves. E há corpos celestes e corpos terrestres, uma é a dignidade dos celestes e outra a dos terrestres. Diferente é o esplendor do sol do esplendor da lua e das estrelas. Porque uma estrela difere em brilho de outra estrela. Assim também o ser levantado dentre os mortos. Semeia-se o corpo perecível; levantará sem corrupção. Semeia-se na desgraça, será levantado em excelência. Semeia-se em debilidade, será erguido vigoroso. Semeia-se corpo controlado pela psiquê, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo controlado pela psiquê , também há corpo espiritual”. 

Para Paulo, anástase leva à uma teologia da vida que nasce do corpo. Mas, não é simplesmente ter de volta a vida do corpo material, tanto que em certo momento Paulus diz que “deveremos ser a imagem do homem do céu”.

“Assim também está escrito: o primeiro ser humano, terrestre, foi feito ser-que-deseja, o futuro humano será um espírito-cheio-de-vida. Mas o que não é espiritual vem primeiro, é o natural, depois vem o espiritual. O primeiro ser humano, da terra, é terreno; o segundo humano, a quem pertencemos, é celestial. Como é o da terra, assim são os terrestres. E como é o celeste, assim são os celestiais. E, como somos a imagem do terreno, assim seremos também a imagem do celestial”. 

O pensamento grego, platônico, está presente na anástase paulina, já que a eternidade não é construída em cima da carne e do sangue. Vemos aqui a dualidade entre a realidade física e o mundo das formas. O dualismo metafísico de Paulo admite aqui duas substâncias que regem o ser humano, no mundo natural, a psiquê, e no mundo pós-anástase, o pneuma. E dois princípios, nesse sentido bem próximo a Platão, o bem e o mal. 

“E agora digo que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a eternidade. Digo um mistério: nem todos vamos adormecer, mas seremos transformados. Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta, porque a trombeta soará, os mortos serão levantados incorruptíveis, e seremos transformados. Convém que o corrompido seja tornado eterno, e o que é mortal seja tornado imortal. E, quando o que é corruptível se vestir de eternidade, e o que é mortal for transformado em imortal, então será cumprida a palavra que está escrita: a morte foi conquistada definitivamente. Onde está, ó morte, a tua picada? Onde está, ó inferno, a tua vitória? Ora, a picada da morte é o desviar-se do caminho da honra e da justiça, e a força do erro é a lei. Mas a alegria que Deus dá é a vitória por Iesous, o ungido, a quem pertencemos. Sejam firmes e persistentes, abundantes no serviço daquele a quem pertencemos, conscientes de que o trabalho árduo e duro não é desprezado por aquele a quem pertencemos”. [Ver texto na Vulgata].

Caso voltemos à análise do conceito anástase no capítulo 15 da primeira carta aos Coríntios, tomando como ponto de partida o desafio de Fuks: “há que ler o desejo: sem terra, sem pátria e sem objeto, ele vaga por um deserto, cujas trilhas conduzem o leitor à experiência limite mais-além do que aparece na imagem”, vemos que Paulo traduziu para as novas gerações o desejo judaico-helênico, humano, da anástase: “Pede-se ser levantado”.

Vulgata -- 1Coríntios 15

[50] Hoc autem dico, fratres: quia caro et sanguis regnum Dei possidere non possunt: neque corruptio incorruptelam possidebit.

[51] Ecce mysterium vobis dico: omnes quidem resurgemus, sed non omnes immutabimur. [52] In momento, in ictu oculi, in novissima tuba: canet enim tuba, et mortui resurgent incorrupti: et nos immutabimur. [53] Oportet enim corruptibile hoc induere incorruptionem: et mortale hoc induere immortalitatem. [54] Cum autem mortale hoc induerit immortalitatem, tunc fiet sermo, qui scriptus est: Absorpta est mors in victoria. [55] Ubi est mors victoria tua? ubi est mors stimulus tuus?

[56] Stimulus autem mortis peccatum est: virtus vero peccati lex. [57] Deo autem gratias, qui dedit nobis victoriam per Dominum nostrum Jesum Christum. [58] Itaque fratres mei dilecti, stabiles estote, et immobiles: abundantes in opere Domini semper, scientes quod labor vester non est inanis in Domino.


Bibliografia recomendada

Andrés Torres Queiruga, Repensar a ressurreição, São Paulo, Paulinas 2010.
Jonas Machado, Morte e ressurreição de Jesus, São Paulo, Paulinas, 2009.
Marko Ivan Rupnik, Ainda que Tenha Morrido, Viverá/ Ensaio Sobre a Ressurreição dos Corpos, São Paulo, Paulinas, 2010. 

jeudi 27 novembre 2014

Vamos nos preparar para receber Jesus

Igreja Batista em Perdizes

(Cantata de Natal em 2013)

Adoração na manhã de domingo, a partir das 10h45
Adoração na noite de domingo, a partir das 18h45

Venha participar destes momentos de adoração. Em comunidade elevemos nossa voz aos céus. Venha ao culto de domingo de manhã, convide os amigos e adoremos juntos!

E à noite teremos batismos. Este é sempre um momento especial de evangelização, traga seus amigos para ver e ouvir a Palavra de Deus.
E adoremos juntos.

Do pastor e amigo, Jorge Pinheiro.

Leia , participe, divulgue!