mardi 10 mai 2016

A força do Iluminismo


Houve um momento da história humana onde o mundo vivia ao redor da religião. O mundo conhecido e desenvolvido era cristianizado. Deus era o centro, ou pelo menos, considerado o centro do conhecimento humano. Esse momento da história é conhecido como Idade Média. Descartes negou tudo isso, ao afirmar que qualquer pensamento que não tenha base científica, não merece confiança. Toda filosofia e teologia anteriores, a Escolástica, assim como o pensamento de Tomás de Aquino são negadas por Descartes (1596-1650). Nega porque não tendo base científica, não pode levar a uma certeza absoluta.



Descartes escreveu um trabalho intitulado Discurso do Método, onde traça o caminho para se chegar à certeza absoluta. Com Descartes há um retorno a maneira de pensar dos gregos. O pensamento grego negava a revelação de Deus e investigava a realidade do mundo à luz da razão. Dessa maneira, a partir de Descartes, a filosofia substitui o tema Deus, invertendo a preocupação central da filosofia medieval e conseqüentemente a teologia tomista ou escolástica. 

Ele baseia seus estudos no pensamento rebelde e criativo de cientistas que entraram em choque com a igreja católica, em especial no polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), no alemão Johann Kepler (1571-1630) e no italiano Galilei Galileu (1564-1642), que eram astrônomos e matemáticos. Esses homens entraram em choque com a igreja acerca de questões sobre a Terra ser redonda, o movimento dos corpos no espaço, o Sol como centro do sistema solar, etc. Eles mostraram que tudo em que se acreditava antes estava errado. Deus, então, vai ser substituído pela razão.

Para fazer essa transição, Descartes faz uma reflexão sobre a existência de Deus, sobre a relação entre filosofia, teologia e ciência. Escreveu Regras para a direção do espírito com a finalidade de evidenciar a única certeza absoluta que o homem pode ter: a certeza matemática. No seu Discurso do Método encontra-se sua famosa frase: “Penso logo existo”. Disse assim que a única certeza que alguém pode ter, de fato, é o próprio pensar.

“Notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era  falso, era necessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E notando que esta verdade, penso, logo sou, era tão firme e tão segura que as mais extravagantes suposições dos céticos não podiam abalá-la, julgava que podia aceitá-la, sem escrúpulo, como primeiro princípio da filosofia que buscava”.

O primeiro princípio da filosofia de Descartes é: “eu penso”. Quando se está pensando, agora, e tudo isso necessariamente não é verdade, ao menos o pensamento sobre isso é. Partindo de uma desconfiança universal, transformou-a em dúvida metódica. Ele não aceitava nada que não oferecesse garantia absoluta de verdade. Definiu quatro regras:

O critério geral da verdade. Tem de ter duas condições: a clareza e a distinção.

A regra de análise. Para se analisar alguma coisa, qualquer que seja, é preciso dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quanto possíveis e necessárias forem. Soluciona-se um problema, qualquer que seja, aos poucos e por partes.

A regra de síntese. O pensamento deve ser ordenado pelo mais simples e mais fácil de se conhecer, e subir aos poucos, como que por degraus até o conhecimento dos compostos, até a ordem daqueles que não precedem naturalmente uns aos outros. Por exemplo: H2O é a síntese, mas a análise diz H H O.

A regra de comprovação. Fazer enumerações tão completas e revisões tão gerais até ter a certeza de não há erro. Todo o processo deve ser revisto e enumerado.

Descartes definiu um método para chegar a verdade natural. Isso para a Matemática. E Deus e a fé, onde ficam? Para encontrar Deus, ele não parte do mundo, mas de si mesmo, parte da revelação geral no próprio homem. O penso logo existo, tem um ponto de apoio: Deus. Ele é a causa de toda a perfeição, é uma idéia inata ao homem. Ele não descarta Deus, coloca-o como início do processo. Para Descartes, a fé é a exceção das regras gerais e evidentes, apresenta a certeza maior, não é fruto do intelecto que conhece, mas da vontade. Por isso, para ele a fé deve levar a ética.

O surgimento do pensamento científico vai influenciar os teólogos do século 19. Descartes é o início do período chamado Iluminismo. Ou seja, tem começo uma época que iluminará o mundo, antes imerso nas trevas da Idade Média. O Iluminismo vai abrir o longo período de modernidade, que deságua nas teologias dos séculos 19 e 20. 

A revolução kantiana

Immanuel Kant, filho de pais pietistas, transformou os avanços da astronomia de Copérnico em teoria do conhecimento. A partir de Kant, o conhecimento não está preso aos objetos, mas os objetos acontecem dentro do processo de conhecimento. 

Na sua época, a filosofia estava dividida entre racionalistas, cuja única fonte de conhecimento é a razão (Descartes), e empiristas, cuja fonte de conhecimento é a experiência (os ingleses que desencadearam a chamada Revolução Industrial). A palavra chave na filosofia de Kant será transcendental. Ele diz:

“Chamo transcendental a todo o conhecimento que em geral se ocupa menos dos objetos, que de nosso modo de os conhecer, enquanto este deve ser a priori”. 

Transcendente é todo o conhecimento que se ocupa pouco do objeto. O objeto não é a fonte do conhecimento humano, mas está dentro dele. O conhecimento é transcendente em relação ao objeto. Transcendente refere-se aquilo que foi descoberto. Kant vai trabalhar com lógica, matemática e analítica. 

Traduzindo Kant para nossa linguagem, podemos dizer que, pensar transcendentemente significa mostrar como os objetos percebidos pelos sentidos são transformados mediante a razão em objetos do conhecimento. Por exemplo, ao falarmos mesa, não estamos falando de uma mesa específica, mas de um conhecimento transcendente que inclui todas as mesas. 

Ou seja, mesa não é apenas uma representação ou reprodução mental de algo que está no exterior, mas uma produção da razão humana. Há uma produção racional na atividade criadora do homem que transforma mesa em conhecimento universal. Quando se fala mesa, nessa transcendência, são mesas de todos os tipos, formas e modelos.

Para Kant, o fundamento do conhecimento humano é a relação sujeito/objeto. Caminha-se através de juízos e imprimem-se categorias aos objetos. Sua abordagem é crítica porque questiona perspectivas racionalistas e empiristas existentes até aquele momento. Sua teoria do conhecimento parte de quatro perguntas:

O que posso conhecer?
O que devo fazer?
O que posso esperar?
Quem é o ser humano?

O que podemos conhecer? Podemos conhecer tudo? Deus? O juízo pode ser analítico ou sintético. É analítico quando o predicado parte do sujeito. Por exemplo: o triângulo tem três ângulos. Diante de qualquer análise está implícito no sujeito, o predicado. O predicado é ângulo e é impossível falar triângulo sem este predicado. 

É sintético quando o predicado não está implícito. Por exemplo: o calor dilata os corpos. Temos aqui uma síntese. Podemos ter calor e corpos, mas quando dizemos, o calor dilata os corpos, unimos os dois através do conceito de dilatação.

Kant está descobrindo como a cabeça do ser humano funciona, fornecendo maneiras de chegar ao conhecimento comprovável. Ele descarta o racional porque trabalha somente com a razão, esquecendo a realidade da existência de objetos. Descarta o empírico porque só produzindo experiência não se transcende. Qual a importância desses conceitos e dessa epistemologia para a vida humana? 

Em primeiro lugar, Kant nos mostra, sempre partindo da razão, que os juízos analíticos não tem por base a experiência, são independentes e por isso só podem ser pensados. Faz uma crítica aos racionalistas, no sentido que Descartes despreza os objetos. O homem pensa e existe, mas mesmo que não existisse, o mundo existe. O mundo não existe porque o homem pensa. 

Em segundo lugar, os juízos sintéticos baseiam-se na percepção sensível, na experiência. Ou seja, o calor dilata os corpos, mas foi necessário uma experiência para chegar à essa conclusão. Daí, Kant conclui: é impossível fazer ciência a partir de juízos analíticos (a priori). A ciência não pode ser apriorística. 

Trabalhar apenas com os elementos que a razão pode fornecer produz uma estagnação. Os juízos sintéticos não levam ao conhecimento porque são particulares e contingentes. Não é possível fazer ciência usando só juízos analíticos ou só juízos sintéticos. A ciência, na verdade, é constituída por juízos sintéticos a priori. Kant está tentando resolver o grande problema medieval.

Os juízos sintéticos a priori são aqueles que tem por base a experiência, só que esta é a priori. Ou seja, são universais e necessários aos quais se chega pela intuição evidente. Um exemplo matemático: a linha reta é distância mais curta entre dois pontos. 

Kant está dizendo que o cientista chega a experiência porque já teve uma intuição antes. Assim, o conhecimento não é fruto nem do sujeito, nem do objeto, mas é a síntese da ação combinada entre os dois. O sujeito dá a forma e o objeto dá a matéria. O conhecimento é resultado de um elemento a priori, o sujeito, e outro a posteriori, o objeto. Ou seja, o conhecimento é uma relação entre sujeito e objeto. 

Para Kant, é impossível haver uma ciência de Deus ou uma ciência das realidades metafísicas. Ele traça como caminho alternativo a razão prática que leva à consciência moral. Ele tira Deus do objeto do conhecimento. Pela razão pura conhece-se o que é, e pela razão prática o que deve ser. Moralmente é necessário aceitar a existência de Deus. Assim, o que não se pode provar pela razão pura torna-se um postulado da razão prática. 

Depois de eliminar Deus da ordem do pensamento e da realidade, postula a existência de um Deus justo que fundamenta a relação entre a virtude e a felicidade. A verdadeira religião é a moral. A religião revelada é imposta e servil. Deus é a razão da moral prática. O cristianismo para Kant identifica-se com a consciência, sem necessidade do conceito de Deus. Kant aprofunda o ceticismo aberto por Descartes, que marcará o pensamento moderno.

Durante a modernidade, a ciência se desenvolve, produzindo frutos comprováveis, o que fará com que a teologia do século 18 fique estagnada. No século 19, os teólogos entram de cabeça no estudo dos filósofos modernos e vão pesquisar história de Israel, arqueologia, etc., a fim de conseguir produzir uma teologia a partir de objetos comprováveis. A teologia absorve o ceticismo.

A base da teologia é a cristologia, esse é nosso fundamento teológico. Temos o Cristo da fé e o Jesus histórico. A base da teologia cristã sempre foi uma cristologia correta, que entende a encarnação como Deus e homem juntos, uma só pessoa e duas naturezas. A cristologia correta é saber que o Jesus histórico e o Cristo da fé não podem ser separados. 

Isso ficou claramente definido nos concílios Nicéia e Calcedônia. O que acontece no século 19 é que o Cristo da fé será bombardeado. Jesus não era um mito porque de fato existiu, mas não era Deus. Ele era o carpinteiro, o profeta, mas não o Cristo da fé. Por causa do ceticismo, a cristologia se divide. Indo mais além, o ceticismo acaba por colocar em xeque até o Jesus histórico. O que sobra é a moral e a fé. Só que a fé cristã está baseada na integridade do Jesus histórico, que ressuscitou. O apóstolo Paulo diz: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados”.  I Coríntios 15.17.

O século 20 vai produzir grandes teólogos que vão defender a fé, dizendo que tudo isso é ideologia, e que a fé é fundamental para o conhecimento de Deus. Por exemplo, Karl Barth defende o Jesus histórico defendendo o texto. O que Barth faz é retornar ao texto e o faz de forma genial. O texto é a revelação quando eu abro a Bíblia. É uma relação sujeito/objeto, conforme Kant, que produz conhecimento. Se o texto estiver fechado não há revelação.

Análise do Projeto Iluminista

Base filosófica > fornecida por Descartes.
Certeza absoluta ou dúvida crítica e metódica?

1. A existência do ser que pensa > a primeira verdade que não pode ser negada pela dúvida.
2. Natureza humana > a substância que pensa.
3. O ser humano > sujeito racional e autônomo.

Base científica > fornecida por Newton.

O mundo físico é uma máquina.
As leis e regularidades do mundo físico podem ser apreendidas pela mente humana.

Método > mediação entre o sujeito e a natureza.

É objetivo > demonstra a correção das doutrinas científicas, morais e filosóficas.
Coloca a realidade sob o exame da razão > avalia a realidade com base nesse critério.
O método é racional e lógico.

Objetivo

Revelar os segredos do universo.
Pôr a natureza a serviço do homem.
Criar um mundo melhor.

O que produziu

Um desenvolvimento espantoso das ciências objetivas.
Elaborou bases universais de moralidade e de lei.
Criou uma arte autônoma, dependente apenas de sua lógica interna.

O conhecimento é

Exato.
Racional.
Objetivo.
Bom.

Declaração de fé iluminista
O desenvolvimento das artes e das ciências leva

Ao controle das forças da natureza.
À compreensão do ser e do mundo.
Ao progresso moral e à justiça nas instituições sociais.
À felicidade humana.

O projeto iluminista é otimista. Trabalha dentro de um ciclo: ciência > educação > progresso. Com uma finalidade: o fim de toda escravidão social e da vulnerabilidade à natureza.

Problemas

Descartes e Newton provocam uma separação entre Deus e o mundo físico > alma e corpo.
Isso produziu ceticismo (dúvida) em relação a Deus e à alma e, a partir da revolução industrial, uma cosmovisão ateísta/materialista.

Exemplo de argumento clássico do pensamento moderno: a alma = mente > epifenômeno ou subproduto do cérebro > não existe nenhum espírito (algo desprovido de substância) dentro da máquina > c.q.d. não há alma.

Projeto iluminista e teologia

A teologia reformada é filha da primeira fase da modernidade. Defende

O pensamento científico.
A abordagem empírica.
O senso comum.

Hoje vivemos uma transição da modernidade em direção à alta modernidade. O desafio feito à fé cristã é:

Não dá para voltar à modernidade primitiva. A alta modernidade apresenta avanços em relação à modernidade, mas também perigos. É preciso conhecê-lo. Devemos assumir a teologia segundo critérios compreensíveis às novas gerações da alta modernidade.

A proposição fundamental da teologia, numa leitura a partir da filosofia

A Filosofia cristã estabelece uma proposição fundamental: um princípio atemporal e não espacial, onipresente, eterno, sem limites e imutável, sobre o qual qualquer especulação é impossível, uma vez que transcende o poder da concepção humana e seria diminuído por qualquer expressão humana ou similitude. Está além do âmbito e alcance do pensamento e da razão, é impensável e impronunciável.

Para tornar essas idéias mais claras, pode-se partir do postulado de que há uma realidade absoluta que antecede todo ser manifestado. Esta causa infinita e eterna – na psicologia moderna formulada como inconsciente - é a raiz sem raiz de tudo que foi e é. Despido de atributos não tem, essencialmente, nenhuma relação com o ser finito, condicionado. É “o que é” e está além de todo pensamento ou especulação.

Este "o que é" é simbolizado, na Filosofia cristã, sob dois aspectos: por um lado, é o anti-espaço absoluto que representa a subjetividade, aquilo que nenhuma mente humana pode excluir de nenhuma concepção ou conceber por si mesma. Por outro lado, é movimento eterno absoluto, que na psicologia seria a consciência incondicionada. Mas a consciência é inconcebível se a separamos da mudança, e o movimento é o que melhor simboliza a mudança, sendo esta a sua característica essencial. Este último aspecto da realidade una, na linguagem hegeliana, também é simbolizado pela expressão "o primeiro sopro", um símbolo gráfico. Este primeiro axioma fundamental da Filosofia cristã – “o que é” –, metafísico, remete àquilo que a inteligência finita simboliza com a Trindade teológica.

A natureza da primeira causa, derivada da causa sem causa, do eterno e do incognoscível, aflora dento do finito como consciência, realidade impessoal que permeia a natureza, enquanto noumeno. Esta realidade una, o absoluto, é o campo da consciência absoluta, essência que transcende toda relação com a existência condicionada e da qual a existência consciente é um símbolo condicionado. Mas, ao atravessar pela negação a dualidade, sobrevém o espírito/ consciência e a matéria/ sujeito e objeto.

O espírito/ consciência e a matéria/ sujeito e objeto devem, portanto, ser considerados, não como realidades independentes, mas como correlações do absoluto, que constituem a base do ser condicionado subjetivo/ objetivo. Considerada esta tríade da metafísica cristã como a raiz da qual procedem toda manifestação, o sopro assume o caráter de ideação pré-natureza. Ele é a fons et origo da força de toda consciência individual e fornece à inteligência guia no vasto esquema da natureza. Tal raiz pré-natureza é aquele aspecto do absoluto que é a base de todos os planos objetivos do cosmos. Tal ideação pré-natureza é também a raiz da consciência individual, já que a substância pré-natureza é o substrato da matéria nos vários graus de sua diferenciação.

A correlação desses dois aspectos do absoluto é essencial para a existência do universo manifestado. A ideação da natureza, separada de sua substância, não pode ainda se manifestar como consciência individual, uma vez que é somente através de um veículo, a alienação da ideação, que a consciência aflora como "eu sou eu", como alienado que necessitou de base física para focar-se enquanto estágio da complexidade. Da mesma forma, a substância da natureza, separada da ideação da natureza, permaneceria como uma abstração vazia da qual a consciência não poderia emergir. O universo manifestado, portanto, é permeado pela correlação que é, por assim dizer, a própria essência de sua existência como manifestação.

Mas, assim como as correlações sujeito/ objeto, espírito/ matéria são símbolos da realidade una, também no universo manifestado se dão as correlações que possibilitam espírito e matéria, sujeito e objeto. Essa correlação é a alienação existencial, é a ponte através da qual as idéias são impressas enquanto substância da natureza na forma de leis da natureza. A alienação, portanto, é dinâmica da ideação da natureza, é meio inteligente que guia a manifestação. Assim, do espírito ou ideação da natureza procede a consciência, e os meios que possibilitam à consciência individualizar-se procedem da substância da natureza, chegando à consciência reflexiva. A alienação em suas várias manifestações é o elo entre a mente e matéria, o princípio que possibilita a vida.


Pesquisa

Sávio Laet de Barros Campos, O Cristianismo e a filosofia grega.
WEB http://br.geocities.com/webfilosofante/files_pdf/cristianismo_versos_filosofia_grega.pdf.
Site: O mundo dos filósofos. WEB http://www.mundodosfilosofos.com.br/pencristao.htm
Site: Consciencia.org. WEB http://www.mundodosfilosofos.com.br/pencristao.htm

TRUST THE INSTINCT!

TRUST THE INSTINCT!

A RUN THE NIGHT 10K SP chegou a sua 2ª edição. É a minha corrida noturna: ambiente lúdico, rock do bom, e uma galera de amigos – corrida para curtir o sábado à noite!








TRUST THE INSTINCT!

A RUN THE NIGHT 10K SP 

Além da prova, tinha com uma arena interativa, DJ, luzes, malabaristas, painéis de fotos e uma alegria extravasante! Eu e Naira aproveitamos a noite de temperatura amena e baixamos o nosso tempo por km.

Celebramos a corrida!

A corrida aconteceu em São Paulo, no dia 7 de maio de 2016, na USP.






lundi 9 mai 2016

JP Run The Night 10K SP 2016


Jorge Pinheiro, performance










Run The Night 10K SP 2016

Run The Night 10K SP 2016

Sao Paulo, Brazil    May 7, 2016 8:00PM 

Bib
3139
JORGE SANTOS
10k » SAO PAULO, Brazil
Finished
01:16:05
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vendredi 6 mai 2016

Espírito e pessoalidade

O Espírito Santo



Segunda lição
O Espírito é Pessoa
Jorge Pinheiro, PhD



O Espírito é Ser consciente, com arbítrio próprio e, por isso, tem plena capacidade de mente e é responsável pelos seus atos. Ou seja, é personagem, tem personalidade, pessoalidade, é pessoa da Trindade. É pessoa divina que dá vida nova (Is 63.11-14) e consola os que sofrem (Jo 14.16; 16.7). O Espírito adota (Rm 8.16) e enche de amor (2Tm 1.7). Transmite conhecimento, sabedoria e justiça (Is 11.2-5). Derrama arrependimento e graça (Zc 12.10; 13.1), dá poder e torna as pessoas prudentes (2Tm 1.7). Ele vive em nós (Jo 14.17; 16.13; 1Jo 4.6): pertencemos a Ele (Ef 1.13).

“Mas foi a nós que Deus, por meio do Espírito, revelou o seu segredo. O Espírito Santo examina tudo, até mesmo os planos mais profundos e escondidos de Deus. Quanto ao ser humano, somente o espírito que está nele é que conhece tudo a respeito dele. E, quanto a Deus, somente o seu próprio Espírito conhece tudo a respeito dele. Não foi o espírito deste universo que nós recebemos, mas o Espírito mandado por Deus, para que possamos entender tudo o que Deus nos tem dado. Portanto, quando falamos, nós usamos palavras ensinadas pelo Espírito de Deus e não palavras ensinadas pela sabedoria humana. Assim explicamos as verdades espirituais aos que são espirituais. Mas quem não tem o Espírito de Deus não pode receber os dons que vêm do Espírito e, de fato, nem mesmo pode entendê-los. Essas verdades são loucuras para essa pessoa porque o sentido delas só pode ser entendido de modo espiritual”. 1Coríntios 2.10-14.

Como viver isso em nossas comunidades de fé? Qual é a importância desse Espírito? Será que vida no Espírito não significa experiência religiosa?

Será que Tertuliano não tinha razão quando disse que toda pessoa deveria prestar satisfação a Deus na mesma questão em que o ofendeu? Tertuliano estava preocupado com o efeito prático da realidade de Deus na vida das pessoas. E creio que tinha razão. Tanto que mais tarde, também os reformados entenderam que a obra do Espírito Santo não é garantia de que a ofensa tenha sido superada, mas que imputação da justiça do Cristo, através do Espírito, é prometida aos que expressam arrependimento. Dessa maneira, através do Espírito somos levados à batalha do arrependimento, experiência viva na vida da pessoa. 

E vemos essa ação e voz do Espírito na vida dos profetas, que se tornavam porta-vozes de Deus, quando o Espírito descia sobre eles. Isaías profetizou sobre a vinda do Cristo e disse que o Espírito do Senhor estaria sobre Jesus (Is 61.1). Ezequiel revelou que o Espírito o levou a lugares distantes, numa visão dada pelo próprio Espírito de Deus (Ez 11). 

E mesmo pessoas que não tinham o título de profeta, proferiram mensagens por meio do Espírito Santo. O rei Davi pronunciou seu último testemunho poético antes de morrer e disse: "O Espírito do Senhor fala por meio de mim, e a sua mensagem está nos meus lábios" (2Sm 23.2). José interpretou os sonhos de Faraó, e o próprio rei exclamou que o Espírito de Deus estava sobre o filho de Jacó (Gn 41.38,39).

Depois que Samuel ungiu a Saul rei de Israel, o Espírito do Senhor desceu sobre ele e profetizou. Deus o transformou numa pessoa diferente, de maneira que os israelitas perguntaram: “Será que Saul também virou profeta?”. (1Sm 10.5-13). Essa pergunta foi repetida quando o Espírito do Senhor desceu novamente sobre Saul, quando perseguia Davi. O rei tirou sua túnica e profetizou (1Sm 19.23,24). 

No acampamento de Israel, durante o Êxodo, Deus multiplicou o Espírito que estava sobre Moisés e o colocou sobre setenta anciãos: eles então profetizaram, bem como Eldade e Medade. Quando ouviu sobre isso, Moisés disse que seu desejo era que o Senhor colocasse o seu Espírito sobre todo o povo, para que todos profetizassem (Nm 11.25-29). 

Moisés é o protótipo do Messias, pois foi considerado profeta e revelou o Espírito do Senhor. Ele predisse o advento do Cristo, quando falou ao povo que Deus levantaria um profeta como ele próprio, do meio deles (Dt 18.15,18). Além disso, ele repetidamente introduziu a revelação do Senhor com as palavras "disse o Senhor a Moisés" (Nm 8.1,5, 23).

São essas experiências do Antigo Testamento que levaram Tertuliano a falar de prestar satisfação a Deus. Não há vida humana sem experiência. Vive-se na experiência da vida. Por que então negar a experiência religiosa no Espírito? Por que esta tentativa de pasteurizar o Espírito?

O Espírito é Santo nos leva à afirmação da justificação pela graça, através da fé. Essa expressão “através da fé” não é somente posicional, mas existencial. É, nesse sentido, que falamos do Cristo na vida da comunidade: de tal maneira que a justificação se transforma em vida aberta.

Nas línguas utilizadas no Antigo e no Novo Testamento (hebraico e grego), os termos usados para o Espírito Santo enfatizam sua santidade, embora no AT, o adjetivo santo antes do substantivo espírito aparece poucas vezes (Sl 51.11; Is 63.10,11). No Novo Testamento a palavra santo antes do substantivo Espírito está presente na maioria dos livros, especialmente no livro de Atos. Isso não significa que a ênfase ao Espírito seja menor no Antigo do que no Novo Testamento. As expressões mais frequentes no Antigo Testamento são “o Espírito de Deus” ou “o Espírito do Senhor”. 

Mas, é importante entender que a idéia da santidade do Espírito está intimamente ligada à sua eternidade. E, a partir daí, santo é este Espírito que não pode ser violado, cuja ação sobre nós e para nós é benéfica, segura e eficaz.

Ora, o Espírito é criador, mas o que significa isso? Bem, poderíamos falar da criação do cosmo: "Por meio da sua palavra, o SENHOR fez os céus; pela sua ordem, ele criou o sol, a lua e as estrelas". (Salmo 33.6). E, "Tu lhes deste o teu bom Espírito para lhes ensinar o que deviam fazer" (Neemias 9.20).

Lembrar que a primeira vez que a palavra espírito aparece na Bíblia é no relato da criação, em Gênesis, onde o Espírito de Deus pairava sobre as águas como poder criador que traz ordem ao caos (Gn 1.2). E que o salmista faz eco a esse conceito, quando disse: "Por meio da sua palavra, o SENHOR fez os céus; pela sua ordem, ele criou o sol, a lua e as estrelas". (Sl 33.6). 

Ou ainda, que por meio do sopro de Deus, o boneco de barro tornou-se uma alma vivente (Gn 2.7). Jó afirma que o Espírito do Senhor o criou e que recebeu vida por meio do sopro do Todo-poderoso (Jó 27.3; 32.8; 33.4; 34.14,15). Sabemos, também, que quando Deus retira seu sopro dos seres humanos e dos animais, eles morrem e retornam ao pó (Sl 104.29; Ec 3.19,20; 12.7). 

É verdade, o Espírito é Pessoa. Se partirmos da ênfase sobre o monoteísmo, dada pelos escritores do Antigo Testamento, vamos encontrar uma distinção entre Deus e o Espírito do Senhor. Mas essa distinção, em nenhum momento define o Espírito como emanação de Deus. Tome-se, por exemplo, as referências em Gênesis 1.1-2. Deus criou o céu e a terra, mas o Espírito do Senhor pairava sobre as águas. Ou quando Deus disse que seu Espírito não contenderia para sempre com o ser humano (Gn 6.3). 

Isso significa que os escritores bíblicos viam ações e personalidades divinas distintas. Entendiam que o Espírito era Deus, o qual exercia funções que os escritores bíblicos expressaram em termos humanos. Isso fica claro em algumas passagens. Os levitas oraram: "Tu lhes deste o teu bom Espírito para lhes ensinar o que deviam fazer" (Ne 9.20). Davi perguntou: "Aonde posso ir a fim de escapar do teu Espírito?" (Sl 139.7) e Isaías escreveu que o povo entristeceu o seu Espírito Santo e Deus (o Pai) tornou-se inimigo deles (Is 63.10-12; veja também 48.16).

Mas a pessoalidade do Espírito pode melhor ser compreendida na comunidade de fé, pois cada comunidade de fé possui um só Espírito. E todas as comunidades de fé têm Deus. Inversamente, o espírito de uma comunidade é ou o Espírito de Deus ou um dinamismo ameaçador, quem sabe demoníaco. Assim todas as comunidades se confrontam com a transcendência, e o Espírito aparecerá ou como a defesa da comunidade contra o espírito que ameaça, ou como a própria desorientação. As comunidades de fé reivindicam seu estabelecimento como cumprimento da pessoalidade do Espírito prometido. Assim a identidade de Deus e do Espírito é clara para as comunidades de fé. E essa pessoalidade do Espírito se dá como Trindade. No chão das comunidades de fé, na carne e osso da Igreja, o Espírito procede do Pai e do Cristo; o Cristo foi gerado pelo Pai e pelo Espírito; e o Pai é fruto do amor de Jesus e do Espírito. Assim, podemos dizer que na Igreja, de forma existencial para cada um de nós, o Espírito é Pessoa. 

Fonte
Jorge Pinheiro, Teologia bíblica e sistemática, o ultimato da práxis protestante, Fonte Editorial, São Paulo, 2012, cp. 6, O Espírito.





Espírito e espiritualidade

O Espírito Santo



Terceira lição

O Espírito e nossa espiritualidade

Jorge Pinheiro, PhD


A pessoalidade do Espírito nos leva à questão da espiritualidade. Quando dizemos espiritualidade queremos dizer uma vida no Espírito, um intenso convívio com o Espírito: esse é o sentido cristão da palavra. Dessa maneira, a idéia de uma vida forte, a idéia da vitalidade de uma vida criativa a partir de Deus nos leva à espiritualidade, ou seja, a uma vida espiritualizada por Deus. 

Por isso, podemos dizer: as pessoas procuram a Deus porque o Espírito as atrai para si. Estas são as primeiras experiências do Espírito no ser humano. E o Espírito as atrai como um imã atrai as limalhas de ferro. O íntimo e suave atrativo do Espírito é experimentado pela pessoa em sua fome de viver e em sua busca de felicidade, que nada no universo pode satisfazer ou saciar.

A espiritualidade da vida se opõe à mística da morte. Quanto mais sensíveis as pessoas se tornam para a felicidade da vida, mais sentem a dor pelos fracassos da vida. Vida no Espírito é vida contra a morte. Não é vida contra o corpo, mas a favor de sua libertação e sua glorificação. Dizer sim à vida significa dizer não à fome e suas devastações. Dizer sim à vida significa dizer não à miséria e suas humilhações. Não existe uma afirmação verdadeira da vida sem luta contra tudo que nega a vida.

A recepção universal de tal espiritualidade foi anunciada séculos antes do derramamento do Espírito no dia de Pentecostes (At 2.17-21). Deus falou por meio do profeta Joel: "E depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. Até sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito" (Jl 2.28,29). Joel não estava sozinho na predição da espiritualização futura do planeta.

Isaías também fez uma ilustração do Senhor derramando correntes de água sobre terras secas e seu Espírito sobre os descendentes de Jacó (Is 44.3). Por meio de Ezequiel, Deus disse aos judeus do exílio que o Senhor os tomaria de todas as nações e os reconduziria à sua própria terra. Colocaria seu Espírito sobre eles e os motivaria a obedecer à sua Lei (Ez 36.24-28; 39.29). Deus revelou que o Messias, quando viesse, seria cheio do Espírito (Is 11.2), que também seria derramado sobre o povo da aliança (Is 32.15; 59.21; Ez 37.14). E esse Espírito permaneceria com os filhos de Deus (Ag 2.5).

O Espírito é a fonte de vida (Jo 6.63) e ela é comparada às fontes de águas correntes que, espiritualmente falando, fluem do interior da pessoa (Jo 7.38,39). O discurso de despedida de Jesus, proferido no cenáculo, enfatizou a chegada do Espírito. Ensinou que Ele seria dado pelo Pai e permaneceria para sempre com os fiéis. 

Seria outro Consolador, uma Pessoa que personificaria a verdade (Jo 14.16,17). O Consolador sairia do Pai, seria enviado pelo Filho e testificaria sobre Jesus (Jo 15.26). O Consolador também convenceria o universo de seus erros, da justiça e do juízo (Jo 16.7-11). O Espírito guiaria as pessoas em toda a verdade, proporcionaria a revelação futura e glorificaria a Jesus Cristo (Jo 16.13-15). 

E, antecipando o Pentecostes, Jesus soprou o Espírito sobre os discípulos, para auxiliá-los na tarefa que receberam de pregar o Evangelho (Jo 20.22). As referências ao Espírito na primeira carta de João não diferem muito de seu evangelho. O Espírito dado às pessoas cria uma consciência de que o Pai vive em nós através do Filho (1Jo 3.24; 4.13). E como somos capazes de reconhecer o Espírito de Deus? Nós O conhecemos pelo reconhecimento de que Jesus Cristo veio de Deus em forma humana: ouvimos a Deus (1Jo 4.2, 6).

Podemos dizer, sobre a espiritualidade, que onde há comunidade, há vida e comunicação. E que a comunicação é, ela própria, Espírito ou então resistência ao Espírito. Da mesma maneira, inversamente, ou o Espírito é comunicação, ou então subverte a comunicação. A comunicação é a realidade da relação de uns com os outros e com o futuro. É pela comunicação que temos um mundo e nos encontremos nele. Assim, a missão das comunidades de fé é permanente comunicação no Espírito. 

É interessante ver que o Espírito esteve presente no ministério de Jesus desde o início. Ou como diz Mateus, "o céu se abriu, e Jesus viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e pousar sobre ele". (3.16). É, o batismo de Jesus foi um evento trinitário: o Pai revelou o Filho, de quem se agrada, e o Espírito Santo desceu sobre ele na forma de uma pomba (Mt 3.16,17; Mc 1.10; Lc 3.22). E tal presença chegou a cada um de nós. O Novo Testamento enfatiza o derramamento do Espírito, seus dons, sua obra, inspiração, comunhão e habitação nos corações dos cristãos. 

A fórmula batismal trinitária, mostrada na conclusão do evangelho de Mateus, enfatiza essa mesma idéia (Mt 28.19). Nas cartas, Paulo e Pedro ensinaram o princípio trinitário, tanto no início como na conclusão de suas cartas (2Co 13.13; Ef 1.2-11; 1Pe 1.1-3). 

Além dos relatos do nascimento, batismo e tentação de Jesus, há poucas alusões ao Espírito nos evangelhos de Mateus e Marcos. Comparativamente, o de Lucas está repleto de passagens que falam sobre o Espírito. Mateus e Lucas relatam a concepção de Jesus como obra do Espírito Santo (Mt 1.18, 20; Lc 1.35). João Batista disse ao povo que ele batizaria com água, mas Jesus os batizaria com o Espírito Santo (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16). Antes do Cristo iniciar seu ministério, o Espírito o levou ao deserto para ser tentado pelo diabo (Mt 4.1; Mc 1.12; Lc 4.1).

O ministério de Jesus é paradigmático da vida cristã. Entramos para a comunidade de fé pelo Espírito e pelo batismo. Assim, em cada vida, Espírito e batismo são eventos históricos, que marcam e demarcam a caminhada cristã, que é a liberdade em Cristo. O que as pessoas vão fazer com essa liberdade construirá a história de suas vidas e de suas comunidades de fé. E é assim que o Espírito se faz presente, como liberdade do Cristo que vive em comunidades historicamente efetivas.

Mas além de ser a liberdade, o Espírito é defensor. Aquele que convence os errados de suas culpas, defende os acusados e julga com misericórdia. A vida humana pode ser negada e, por isso, para ser realmente vivida tem de ser afirmada. Vida negada e recusada é morte. Vida aceita e afirmada é felicidade. É o Espírito da verdade quem convence o universo de seu pecado, que corrige o universo injusto e que transforma as pessoas, de escravos e vítimas do erro em servos alforriados pela graça de Deus.

Com efeito, se olharmos a prodigiosa atividade do Espírito em Atos dos Apóstolos, será fácil entender o Espírito defensor dos fiéis e da comunidade neotestamentária, que se por um lado produzia unidade, por outro trabalhava a diferença e diversidade das pessoas.

Nesse sentido, a autoridade defensora do Espírito interveio nos momentos difíceis quando a vida de pessoas estava sob risco, quando a perseguição crescia ou quando se fazia necessário proclamar o Verbo da vida. Foi esse Espírito defensor que revelou às igrejas apostólicas o mistério da encarnação do Filho de Deus, em conformidade com o ensino dos profetas e do evangelho.

Mas, quando se fez necessário morrer pela proclamação do Verbo da vida, o Espírito Defensor se fez Consolador preenchendo a fraqueza humana de coragem e fidelidade.

É este Espírito Defensor que possibilita o encontro das diferentes experiências de vida, assim como a comunhão da diversidade que Ele próprio cria e administra em cada um de nós. E é Ele quem nos encoraja à esperança. O Espírito da unidade e da diversidade não cessa de atuar entre os cristãos, mesmo quando distantes e aparentemente separados.

Se ele defende, também possui. Ou como disse Paulo: “Certamente vocês sabem que são o templo de Deus e que o Espírito Santo vive em vocês”. 1Coríntios 3.16. Possui quem: nós! Por isso, falar sobre o Espírito Santo é falar sobre nós, pois só Ele pode mostrar quem de fato somos. Assim, o que somos é compreendido quando o Espírito atua em nossas vidas.

A criação, a providência e a salvação são obras de Deus. Mas, existe também uma obra subjetiva de Deus, que é a aplicação de sua salvação na vida das pessoas. E é aqui que entra o Espírito, pois esta obra é feita de dentro para fora no ser humano.

“Mas foi a nós que Deus, por meio do Espírito, revelou o seu segredo. O Espírito Santo examina tudo, até mesmo os planos mais profundos e escondidos de Deus. Quanto ao ser humano, somente o espírito que está nele é que conhece tudo a respeito dele. E, quanto a Deus, somente o seu Espírito conhece tudo a respeito dele”. 1Co 2.10-11.

Num exercício teológico, podemos dizer que o Pai, para nós, aparece nas obras da criação e da providência, o Filho aparece na obra de redenção da humanidade e o Espírito aplica essa obra redentora às pessoas, tornando real a salvação. Na realidade, o Espírito é a Pessoa da Trindade que se torna pessoal para aquele que crê. O Espírito é a pessoa específica da Trindade por meio de quem a Trindade atua em nós.

Quando falamos que o Espírito é a espontaneidade da realidade, estamos dizendo que o Espírito é paradoxal. Exemplo disso foi o derramamento do Espírito no dia de Pentecostes, que se apresentou como fim e princípio. Foi o fim da aliança anterior e o surgimento de uma nova. É o fim de uma era e o início de uma nova. O que era escrito nas pedras da lei agora seria, pelo Espírito, escrito nos corações. As comunidades de fé deixavam de estar restritas a uma raça.

No Pentecostes, ao citar o profeta Joel, Pedro deixa claro: o fim começou. A compreensão de que o Pentecostes marca o tempo do fim traz para nós duas lições: a primeira, é que somos chamados à vigilância, pois o fim se abrevia. A segunda, é que devemos fazer a crítica daqueles que pensam poder apresentar os tempos e as épocas que Deus reservou para si. 

É interessante observar que Lucas (Atos 1.4) diz que os discípulos deveriam esperar o tempo da promessa em Jerusalém. Depois (Atos 2.2) fala que de repente o Espírito se fez presente. Eles esperavam, mas não sabiam quando. Eles tinham certeza, mas não sabiam a hora. O Espírito é a espontaneidade da realidade. Ele vem quando e da forma que não esperamos. Quem anda com o Espírito aprende a estar preparado para surpresas. É certo que Ele não falha nas promessas, mas não faz como e quando esperamos.

Quando o Espírito vem, Ele controla a todos. Aquela hora do Pentecostes ninguém escolheu. Mas ninguém estava sem controle, porque o Espírito controlava a todos. Era conforme o Espírito queria. Ser cheio do Espírito não é ser avião sem piloto. Ser cheio do Espírito é ser conduzido por sua soberania. Eis o paradoxo de Espírito.

“Mas quem não tem o Espírito de Deus não pode receber os dons que vêm do Espírito e, de fato, nem mesmo pode entendê-los. Essas verdades são loucura para essa pessoa porque o sentido delas só pode ser entendido de modo espiritual”. 1Coríntios 2.14.

O Espírito é cósmico, ou seja, é missionário. Vejam as palavras de Lucas: “Essas notícias chegaram à igreja de Jerusalém, que resolveu mandar Barnabé para Antioquia. (...) Barnabé era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé. E muitos se converteram ao Senhor”. Atos 11.22 e 24.

Atos dos Apóstolos é um livro sobre a prática de missões sob o comando do Espírito Santo. Por isso, o livro de Atos é único em seu estilo no Novo Testamento, porque revela o Espírito como missionário. E se o Espírito é missionário, o que lemos em Atos é a consequência natural da história de uma comunidade que é formada como igreja missionária. A relação Espírito/ comunidade é a chave do sucesso em Atos. 

Lucas deixa claro que o Espírito é quem comanda a igreja em sua missão. O Espírito é Deus soberano. Ele conduziu em triunfo a jovem comunidade cristã em sua missão de comunicar. E o mesmo Espírito quer hoje conduzir nossas comunidades na tarefa missionária. Afinal, é o Espírito quem vocaciona, capacita e dirige os chamados para a missão.

“Naquele tempo alguns profetas foram de Jerusalém para Antioquia. Um deles, chamado Ágabo, levantou-se e, pelo poder do Espírito Santo, anunciou: Haverá uma grande falta de alimentos no universo inteiro. Isso aconteceu quando Cláudio era o Imperador romano”. Atos 11.27-28.

Mas qual a relação entre Espírito cósmico e missão? Seguindo Irineu, podemos dizer que Deus pela Palavra deu existência ao universo, mas foi pelo Espírito que Ele transforma o existente em cosmo, todo ordenado, com sentido, com ordem de adequação e adaptação.

Esse Espírito cósmico é a consciência do universo, Espírito vivo. Ou seja, assim como o Espírito deu sentido ao universo, Ele tem como propósito dar sentido à vida humana, por isso é Ele quem vai adiante: abre as portas e prepara o caminho para o sucesso da comunicação. E o mesmo Espírito, além de preparar as regiões, e o Brasil é um exemplo disso, é quem transforma este mesmo base para a expansão da comunicação. A visão da expansão da comunicação é uma dádiva do Espírito para as comunidades de fé do Senhor Jesus. Praticar esta visão, como o fez as comunidades de Atos, é entender o propósito para o qual a própria comunidade de Jesus existe.

Comunicar é semear. Por isso, Jesus disse: “Eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Auxiliador, o Espírito da verdade, para ficar com vocês para sempre. O universo não pode receber esse Espírito porque não o pode ver, nem conhecer. Mas vocês o conhecem porque ele está com vocês e viverá em vocês”. João 14.16-17.

Para a comunidade de fé, a unidade só é válida na variedade: nunca na uniformidade. A aceitação das pessoas com suas diferenças e particularidades é uma condição indispensável para a saúde da comunidade cristã. 


Fonte
Jorge Pinheiro, Teologia bíblica e sistemática, o ultimato da práxis protestante, Fonte Editorial, São Paulo, 2012, cp. 6, O Espírito.