jeudi 14 mai 2020

Leituras do humano

Leituras do humano
Prof. Dr. Jorge Pinheiro

Primeira parte

“Nós nos importamos com a boa qualidade dos homens, em primeiro lugar porque ela nos é útil, em seguida porque queremos dar-lhes alegria (os filhos aos pais, os alunos aos professores e em geral as pessoas benévolas a todas as outras pessoas). É somente quanto a boa opinião dos homens é importante para alguém, abstraindo a vantagem ou seu desejo de agradar, que falamos de vaidade”. Friedrich Nietzsche in Humano, demasiado humano.

O que é o humano? Se partirmos da teologia, teremos abordagens fundantes, que podem nos direcionar a uma compreensão mais abrangente do que é o humano. A primeira delas tem por base a antiga cosmovisão hebraica e apresenta uma antropologia da unicidade humana.

Dois textos do livro das Origens são paradigmáticos nessa leitura. O primeiro está em Gênesis 1.26 e conta que o Eterno disse: “vamos fazer os humanos, que serão como nós, que se parecerão conosco” E assim o Eterno construiu os humanos; parecidos com Ele. O segundo texto descreve o modo de construção do humano, está em Gênesis 2.7 e diz que “do pó da terra, o Eterno formou o humano. Ele soprou em seu nariz uma respiração de vida e assim esse ser se tornou vivo”.

A partir do segundo texto, podemos entender que a matéria-prima utilizada pelo Eterno na construção do humano é ordinária, ele é uma unidade de carbono, enquanto material pertencente à ordem comum de ló nefesh, que também dá forma aos seres inanimados e animais. Assim, é o sopro do Eterno que faz especial essa matéria ordinária. Teologicamente, podemos nos fazer uma pergunta: será que estamos somente diante de um símbolo ou, de fato, a força criadora do Eterno transmitiu ao humano não somente vida, mas intensidade e profundidade? De certa maneira não é absurdo dizer que seres celestiais são criaturas espirituais. Sua existência procede do exterior da força criadora do Eterno. A exteriorização traduz-se no fato de que a força criadora se dá através da palavra, de uma ordem criadora do Eterno.

A expressão nefesh, presente no segundo texto, leva a uma concepção de exterior versus interior, e tem por base o texto de Deuteronômio 32.9, quando afirma que “uma parte do Eterno faz seu povo”, já que mobiliza diferentes níveis da força criadora.

Nesse sentido, nefesh, fruto do sopro primordial, procede da interioridade do Eterno e por isso é conhecida como ein soph, que vem de seu interior. “Ele soprou” deve ser entendido como continuidade da afirmação “façamos o humano” (Gn 1.26), de maneira que nefesh liga céu e terra, o que está acima e o que está abaixo. Por isso, na tradição antiga dos hebreus, apesar de não tão fortes, os humanos são superiores aos anjos, porque procedem da interioridade do Eterno: traduzem ação mediadora e conjuntiva da força criadora.

Donde, o humano procede de atributos divinos não ostensivos, discretos, que se traduzem em integralidade, pluralidade social, sabedoria, compreensão e abertura à transcendência. Nefesh revela-se enquanto natureza que se torna compreensível e inteligível. É transbordamento e transparência do espírito do Eterno, que indica em transbordamento e transparência no humano, que relaciona imanência com transcendência.

Mas, o texto de Gênesis 2.7 fala de respiração e daquilo que o humano passa a ser: não tem uma nefesh, é uma nefesh. O pensamento literário dos hebreus era sintético. Daí que a chave para chegarmos a uma compreensão analítica dele, exige identificar com que parte do corpo o humano pode ser comparado e onde o agir humano faz interface com nefesh. E para isso utilizaremos textos que apresentam diferentes sentidos da nefesh.

“A mansão dos mortos abre a sua nefesh, escancara as suas fauces desmedidamente”. Isaías 5.14.
“Ele escancara a sua nefesh sem medida, como a mansão dos mortos, e é como a morte, não se saciando nunca”. Habacuque 2.5.

Embora a expressão nefesh apareça 755 vezes nas escrituras hebraicas e seja traduzida seiscentas vezes na Septuaginta, em grego, por psyché, na maioria das citações em hebraico, o significado literal de garganta e estômago transmitem a idéia de necessidade, de algo difícil de ser saciado. Nesse sentido, a palavra alma, tradução do grego psyché, nos dá uma tradução incompleta, pois a idéia é que o Eterno construiu o humano do pó da terra e insuflou em suas narinas o seu hálito e o humano se tornou um vivente que necessita Dele para ser saciado.

Nefesh não traduz algo bom ou mal, mas uma existência colada à realidade das necessidades fundamentais do humano, que ao não serem preenchidas produz alienação, individualismo, descrença, ignorância e idolatria.

Mas como o sopro do Eterno pode ter gerado um humano com tal índole de insaciabilidade? Se entendermos nefesh como figura das necessidades vitais, dos movimentos emocionais da alma, somos levados a entender o pensamento sintético hebreu ao ver a nefesh como síntese da própria vida. Assim, as necessidades humanas criadas pelo próprio Eterno só podem ser saciadas por Ele.

“Quem me encontra, encontrou a vida e alcançou benevolência do Eterno. Quem não me acha, faz violência à sua nefesh. Todos os que me odeiam, amam a morte”. Provérbios 8.39-40.
“Ó Eterno, tiraste a minha nefesh da mansão dos mortos”. Salmos 30.4.

No relato de Gênesis 2.7 o humano é definido como nefesh hayah, um ser vivente, que necessita ser saciado. Por isso, como vimos, quando integrado ao Eterno, nefesh é transbordamento e transparência do espírito do Eterno, o que indica transbordamento e transparência no humano, daquilo que relaciona o que está em baixo com o que está em cima.

Mas essa natureza também se constituirá enquanto expansão dos significados da imagem do Eterno, em graça e amor. “Ele soprou” traduz o fato de que as coisas do intelecto e do coração expressam-se através dos órgãos da fala, em especial garganta e boca, que possibilitam o sopro. Esse padrão simboliza a interioridade da natureza humana. Portanto, para que o humano possa dar intensidade e profundidade a sua inteligência precisa de amor e graça, que nascem da interioridade do Eterno. Em Gênesis 2.7, “ele soprou” significa que Aquele que soprou o fez numa determinada direção e com objetivo definido. Aqui, direção e objetivo traduzem o destino humano.

Esse é o destino humano: ter sua nefesh saciada pelo Eterno e a partir daí relacionar-se com Ele, com o universo, com seus semelhantes e consigo mesmo. Nesse caso, temos uma nefesh em equilíbrio, plena do espírito do Eterno.

“O homem quer dar prazer a si próprio, mas à custa dos outros homens, seja levando-os a ter uma opinião falsa a respeito dele, seja aspirando a um grau de “boa opinião”, em que esta tem de se tornar penosa para todos os outros (provocando inveja). O indivíduo quer geralmente, por meio da opinião dos outros, certificar e fortalecer diante de seus olhos a opinião que tem de si; mas o poderoso respeito pela autoridade – respeito tão antigo quanto o homem – leva muita gente também a apoiar na autoridade sua própria confiança em si, portanto a só aceitar de mão de outrem: acreditam mais no critério dos outros do que no próprio”.
Friedrich Nietzsche in Humano, demasiado humano.

O pensamento pré-socrático inaugurou o problema que atravessará toda a história do pensamento ocidental, o problema do ser, ao caracterizar a verdade (em grego, alethéia) como o nexo entre linguagem (logos) e natureza (physis). Para Heráclito de Éfeso, por exemplo, o filósofo, que ama a sabedoria, é aquele que busca a unidade originária da totalidade de todas as coisas.

Logos, no grego 'palavra', foi entendido por Heráclito, como o princípio supremo de unificação, portador do ritmo, da justiça e da harmonia que regem o Universo. ["Bem dizia Heráclito: homens são deuses e deuses são homens, porque o logos é um só" (Hipólito, Refutações, IX, 10,6)].

Assim, Heráclito diante da mobilidade de todas as coisas denominou fogo ao elemento primitivo, e viu este comandado por uma lei natural racional, o logos. Considerou o logos dotado de dois princípios internos contrários a operar, concórdia e discórdia. Estas duas forças contrárias transformavam o elemento primitivo, ora na direção da solidificação, ora de retorno ao estado móvel do fogo.

Portanto, o logos, concebido por Heráclito como uma lei natural ordenadora, a tudo comanda em forma dialética. E segundo Platão é o princípio de ordem, mediador entre o mundo sensível e o inteligível. Assim, para a filosofia grega, logos era o princípio da inteligibilidade, a razão.

Mas, exatamente por ser razão e palavra, logos mantém uma relação de complementação com sabedoria, e por isso é pensada por Heráclito como harmonia, o próprio nexo original entre logos e physis. Todavia, para que, diante da ameaça do relativismo trazido pelas argumentações dos sofistas, encontre-se melhor determinado o que se compreende por verdade, Sócrates e Platão vão formular a questão: o que é? Esta questão busca definir isso que subjaz sempre idêntico a si mesmo, a essência, fundamento de toda instabilidade acidental da existência aparente.

O que em Heráclito se delimitava como o encontro da harmonia passa a ser, a partir de Sócrates e Platão, uma procura: nasce, então, a filosofia como um desejo de conhecimento. Aristóteles caracteriza esta transformação quando afirma que "o que desde sempre, agora e para sempre, é constantemente procurado, porque sempre de novo a questão fracassa, é o problema: o que é o ser?". A filosofia constitui-se, a partir das concepções socrática, platônica, aristotélica, como o pensamento que investiga a questão do ser.

O conceito razão relaciona-se a três outros: essência, existência e essencialização. A essência não é apenas aquilo que uma coisa é, mas também aquilo que faz com que uma coisa possa ser. Nesse sentido, essência é potencialidade, o poder de ser e a fonte da existência: origem do ser. Mas também é o reino da cognição, do pensamento, impossível de penetrar. Pari passo à essência, o logos correlaciona mente e realidade, tornando possível o conhecimento. Quando alguém compreende e fala sobre a realidade, faz juízos e define padrões, que são comuns aos outros seres humanos, se comunica. E quem possibilita a comunicação é o logos. Assim, o logos é a origem da razão e também do ser. Mas, origem do ser aqui não significa conhecimento a priori, é estar colocado à parte do reino da finitude e por isso a origem do ser só é conhecida por um ato de revelação.

Dentre as inúmeras transformações que surgiram com a cidade democrática grega, a pólis, a mais importante foi a preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos de poder.

A palavra deixou de ser o termo ritual e passou a ser a fonte para o debate, discussão e reflexão, sendo ela, ou melhor, o seu uso de forma mais persuasiva, que definirá o orador vencedor dos embates dialéticos (dialética era a arte da discussão: as normas para uma discussão correta). Todas as questões de interesse geral passaram a ser submetidas à arte da oratória e as decisões eram as conclusões dos debates. A política se tornou a arte do domínio da linguagem. Com a popularidade dos debates e das discussões, a polis se fundamentou na publicidade das manifestações sociais; se distinguiram os interesses comuns dos privados, consolidaram-se as práticas abertas e o domínio público, a base social da estrutura.

Esse desenvolvimento trouxe uma profunda transformação, já que ao tornar comuns os elementos da cultura, levou os mesmos à crítica e à controvérsia. Todos os elementos ficaram expostos a interpretações e a debates apaixonados. Já não era possível a ninguém se impor apenas por prestígio pessoal ou religioso. Deviria haver o convencimento pela dialética.

A palavra constituiu-se no instrumento da vida política. Sua vertente escrita trouxe a possibilidade da divulgação do conhecimento. A escrita tornou-se pública, não mais estando presente apenas no palácio ou no templo. O saber fez-se público, deixando de estar restrito aos magistrados ou sacerdotes. Depois de divulgadas, as idéias deveriam ser submetidas ao debate político e à aceitação popular.

Assim com a consolidação da importância da palavra, o saber passou a ser um bem público. A sabedoria percorreu as veredas da linguagem, do discurso, da dialética: este caminho tornou-se característico da cultura grega. Por isso, podemos dizer que a filosofia nasceu no momento em que se tentou recuperar algo perdido no passado, a sabedoria.

Na contemporaneidade latino-americana, partindo da dialética, Enrique Dussel propôs a dialética analógica da alteridade, a abertura da totalidade à alteridade, transcendendo o âmbito do logos. O logos permanece no mundo e não pode avançar mais além. O logos que transcende é análogo, mais além do logos, analogia que se articula na dialética da voz ouvida que leva a ouvir: ou seja, a ouvir a voz. Assim, o logos chega ao seu limite, e confia no que ouve do outro pela fé, pois sem a confiança no outro, não se pode escutar sua voz.

Fé aqui significa ir mais além do horizonte da physis, ir mais além do horizonte da ontologia do mesmo, afirmando a ontologia da negatividade, isto é, já que o outro não se origina no idêntico, é diferente. Brota como ouvido, é âmbito ao qual a totalidade pode abrir-se, e ao abrir-se muda de estatuto, tornando-se ontologia negativa.

Em sua reflexão sobre a superação das totalidades ontológicas a partir da abertura à alteridade, Dussel afirma que tal superação se dá com a metafísica, entendida como além do fundamento. E se dá assim porque a metafísica não é somente ontológica, mas opera através da descoberta de um mais-além do mundo. E como aná significa em grego mais além, e logos significa palavra, análogos toma o sentido de palavra que brota no mundo desde um mais além do fundamento. O método ontológico-dialético chega até o fundamento do mundo desde um futuro, porém se detém diante do outro como um rosto de mistério e liberdade, de história distinta, mas não diferente. Mas se o outro é distinto, não há diferença, nem retorno, embora haja história e crise. Por isso, para Dussel, se este logos aparece enquanto interpelante indo mais além da compreensão, ele é análogo.

Essa interpretação de Dussel repousa na compreensão do Logos joanino, que pousa sobre o Cristo acima da tradição filosófica, quer de Heráclito, quer de Platão ou do neoplatonismo, e ainda da filosofia judaica expressa em Filo de Alexandria. Nesse sentido, se antes estávamos diante da personificação do Logos, ainda assim não há na tradição da filosofia grega ou judaica a idéia de encarnação do Logos. Esse Logos joanino, por isso, vai além de toda a tradição filosófica, embora João a utilize como ponte para falar à cultura de sua época.

Há ainda uma ponte com o pensamento judaico, principalmente no que se refere aos textos de Gênesis um e de Provérbios 8.22-31. O primeiro ao utilizar a expressão “en arché” e o segundo ao personalizar a sabedoria. Nesse sentido, o Logos de João se apresenta como análogo. Análogo ao Eterno, porque é pessoa de Deus, e análogo aos seres humanos, porque é pessoa humana.

Análogo significa que o Logos vem de mais-além, isto é, que há um primeiro momento no qual surge uma palavra interpelante, mais além do mundo, que é o ponto de apoio do método dialético porque passa da ordem antiga à ordem nova. Embora, este Logos eterno se reflita através de nossos pensamentos e, por isso, não possa existir um ato do pensamento sem a secreta premissa de sua verdade incondicional [Romanos 12.2 e 1ª. carta aos Coríntios 2.16].

Mas a verdade incondicional não está ao nosso alcance. Em nós humanos há sempre um elemento de aventura e risco em cada enunciado da verdade. Mas, mesmo assim, devemos correr este risco, sabendo que este é o único modo que a verdade pode ser revelada a seres finitos e históricos.

Quando mantemos relação com o Logos eterno e deixamos de temer a ameaça do destino demoníaco, aceitamos então o lugar que cabe ao destino em nosso pensamento. Vamos constatar que desde o princípio estivemos submetidos ao destino e que sempre desejamos livrar-nos dele, mas nunca conseguimos.

Tarefa teológica da maior importância, na análise cristã do destino é saber relacionar Logos e kairós. O Logos deve alcançar o kairós. O Logos deve envolver a plenitude do tempo e o destino da existência. A separação entre Logos e existência chegou ao fim. O Logos alcançou a existência, penetrou no tempo e no destino. E isso aconteceu não como algo extrínseco a ele próprio, mas porque é a expressão de seu próprio caráter intrínseco, sua liberdade.

É necessário, porém, entender que tanto a existência como o conhecimento humano estão submetidos ao destino e que o imutável e eterno reino da verdade só é acessível ao conhecimento liberto do destino: a revelação. Dessa maneira, ao contrário do que pensavam os gregos, o humano possui uma potencialidade própria, enquanto ser, para realizar seu destino. Quanto maior a potencialidade do ser – que cresce à medida que é envolvido e dominado pelo Logos – mais profundamente está implicado seu conhecimento no destino.

Nosso destino, que aqui pode ser entendido como missão, é servir ao Logos num novo kairós, que emerge das crises e desafios de nossos dias. Quanto mais profundamente entendermos nosso destino [no sentido de prokeimai, estar colocado, ser proposto] e o de nossa sociedade, tanto mais livres seremos. Então, nosso trabalho será pleno de força e verdade.

«O interesse por si próprio, o desejo de se satisfazer alcançam no vaidoso tal nível que ele induz os outros a uma falsa estima de si falsa, demasiado elevada, e depois se fia, não obstante, na autoridade dos outros: desse modo provoca o erro e, contudo, lhe dá crédito. É preciso, portanto, admitir que os vaidosos não querem agradar tanto a outrem quanto a si próprios e que chegam ao ponto de com isso descurar seu proveito; pois, muitas vezes importa-lhes suscitar em seus semelhantes disposições desfavoráveis, hostis, invejosas, em decorrência desvantajosas para eles, apenas para terem satisfação de seu eu, o contentamento de si». Friedrich Nietzsche in Humano, demasiado humano.

Paulo dirá numa oração: “Que Eterno, que nos dá a paz, faça com que vocês sejam completamente dedicados a ele. E que ele conserve o pneuma, a psyché e o soma de vocês livres de toda mancha, para o dia em que vier o nosso Senhor Jesus Cristo”. Primeira carta aos Tessalonicenses 5.23.

Se o soma é o espaço do Eros, da vida e da materialidade; e a psyché o espaço do logos, da razão e da sensibilidade; o pneuma é o espaço da espiritualidade, entendido em grego como poiesis, espaço da experiência estética, que responde à necessidade criativa do sentido da vida.

Assim, o sentido da vida não é experiência exclusiva da pessoa religiosa, mas experiência que traduz a criatividade humana. Tal espiritualidade, ou pnêumica, é gratuita. Essa graça está no ato do fazer com imaginação, na inventividade.

Entre os pais da Igreja, partindo de Paulo, Orígenes (185-254) via o humano como triunidade e relacionava a consciência trinitária à sua leitura e interpretação das Escrituras. Para ele, no soma estava o sentido literal da compreensão da revelação; na psyché o seu sentido moral; e ao nível do pneuma o sentido simbólico. Ou seja, a própria compreensão da revelação tinha que passar por estes níveis da consciência humana.

E porque a atividade humana acontece dentro da cultura, que comove, Tomás de Aquino viu a busca da beleza como busca da totalidade, daquilo que é pleno, que possibilita a sacada. Dessa maneira, o conhecimento implica na existência de uma ontologia que, ao dar uma classificação para a percepção sensorial, descreve a experiência como composta de objetos que existem independentemente dos seres humanos. Temos, então, as diferenças que fundamentam a classificação: humano versus não-humano.

Assim, a temporalidade é percebida a partir dessa triunidade da consciência humana: materialidade, razão, espiritualidade. E se apresenta associada aos critérios de confirmação através de experiências intersubjetivas. Essa consciência tripartite é a base do conhecimento nas culturas, a fonte da inteligibilidade entre os humanos, mas também a base para a compreensão da natureza e da revelação.

O objetivo da revelação, antes que ser o de responder às crises que afetam o humano, é recuperar a ordem daquilo que aparece como caos. Por isso, a crítica à complexidade da revelação e à não-regularidade do comportamento proposto por ela está equivocada por não entender o mundo como infinidade de realidades não-observáveis, pois o aparente objeto único do ponto de vista do senso comum é sempre constituído por infinidade de realidades.

Aqui, o que importa é o aspecto qualitativo: a revelação postula realidades pnêumicas para explicar a diversidade das experiências observáveis. Quanto à não-regularidade do comportamento pnêumico, isso é patente apenas na perspectiva daquele que está de fora, pois, para a pessoa que vive o fenômeno espiritual, essas realidades estão sujeitas a leis, sendo a regularidade a própria condição de seu poder explicativo.

A partir dessas leituras, atravessando a correlação entre a nefesh dos hebreus, o soma e o logos do dualismo grego, e o pneuma de Paulo, o apóstolo, podemos dizer que o humano é construção, unicidade e pluralidade da pessoa, na comunidade, ser lançado no cosmo. Imagem do que é eterno, ser aberto à transcendência. Há nele um deslumbramento permanente diante do absoluto e do mistério. E por pensar o que não está aqui e o que não é agora, e refletir sobre o além da realidade imediata, tem prazer em se debruçar sobre o que é eterno e transcendente.

Segunda parte

Uma análise teológica de Gênesis 2.7-23 nos apresenta o humano em equilíbrio com a natureza e em harmonia com a transcendência. Mas, há no texto a metáfora da ruptura, como aquela que vemos na parábola do filho pródigo, contada por Jesus de Nazaré. Esta foi a interpretação de Ireneu de Lyon (ca. 130-202 d.C.) e de Quintus Septimius Florens Tertullianus (ca. 160 - ca. 220 dC).

Tertuliano considerou que o humano no princípio da vida é semelhante ao Adão descrito em Gênesis. Ou seja, as pessoas nascem, idealmente, no paraíso do equilíbrio natural e da harmonia com a transcenência, mas com a construção da consciência e da identidade humanas deixam para trás o jardim e entram no mundo da culpa. Por isso, Tertuliano rejeitou o batismo infantil.

Aurélio Agostinho (354-430), dito de Hipona, apresentou uma leitura diferente ao dizer que Adão era perfeito, justo e imortal, até perder tal condição com o pecado. Para Agostinho, o batismo tiraria o pecado original e restauraria a imortalidade aos descendentes de Adão. Atribuiu a Adão não somente o estado de pecado original em que viveriam todos os seus descendentes, mas também a culpa herdada por todos os seres humanos. Apoiou o seu conceito da culpa herdada numa tradição errônea, baseada num texto latino, da carta de Paulo aos Romanos (5.12): “em quem todos pecaram”. Mas, o texto grego diz: “assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”.

Segundo Agostinho houve uma queda histórica de Adão, o que fez com que a espécie humana herdasse o pecado original. Mas, a história de Adão nos remete à metáfora de uma experiência partilhada por todos na construção da consciência e identidade humanas. Não partimos de um estado de pecado, mas somos culpados por fazer pecados, conforme nos diz o apóstolo Paulo, “assim como, em Adão, todos morrem” (1ª. Coríntios 15.22), “outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito, reviveu o pecado, e eu morri” (Romanos 7.9). Assim, uma boa tradução para Gênesis 8.21 é “não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do ser humano, porque é mau o desígnio íntimo do ser humano desde a sua adolescência”, situando o movimento para a ruindade do coração a partir da construção da consciência e da identidade.

Adão estava em equilíbrio com a natureza e em harmonia com a transcendência, mas, também, em revolução permanente quanto ao conhecimento e às relações, com possibilidade de não escolher o distanciamento e de, no momento certo, superar a morte física pelo usufruto da árvore da vida.

Mas o humano, apesar de construído na semelhança do Eterno, desfrutar dos benefícios do equilíbrio com a natureza e da harmonia com a transcendência, viu que era diferente da natureza e que sua identidade se construía na separação da transcendência (Gn 3.1-5). Eis aí, a partir da alienação do estado natural e do mundo da transcendência, o surgimento do homo sapiens.

Esse distanciamento, no entanto, não surgiu apenas dentro da mente humana, mas veio também de fora. Veio da relação sujeito/objeto, do olhar a natureza e constatar que era diferente, do olhar a eternidade e ver-se humano. Nesse sentido, o desafio foi colocado pela natureza, que, ao existir, falou ao desejo de entendimento e de vida: “se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.5).

A curiosidade e reflexão surgiu a partir do próprio processo de conhecimento. Diante da natureza nasceu a consciência da diferença e a possibilidade de escolha que, por sua vez, leva a alternativas, escolher bem ou escolher mal, já que no início do processo nem sempre se sabe se será boa ou ruim a escolha feita. E, assim, o humano distanciou-se da natureza, embora ainda dependente dela, e também da transcendência. E com a consciência da diferença e de sua identidade humana, a morte chegou.

Não houve coerção, e, sim curiosidade, reflexão, escolha. O humano está livre para decidir.

Tais conceitos do humano em relação à alienação ressaltam que diante da hamartia a pessoa é culpada, não por participar do estado de pecado, mas, por praticar atos de pecado. O Eterno disse a Caim: “porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante? e se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar” (Gn 4.7) e profeta Ezequiel (18.20) afirmou: “a alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho”.

Sem dúvida, há uma tendência humana para errar o alvo. Ou como disse Oseias (11.7), “porque o meu povo é inclinado a desviar-se de mim”. Mas, tendência não é sinônimo de compulsão ou depravação total. Assim, o distanciamento da transcendência levou à consciência dos desequilíbrios em relação à natureza e aos relacionamentos. Apareceu a culpa, fruto da alienação existencial -- “então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus” (Gn 3.7) e “esconderam-se o homem e sua mulher da presença do Eterno, entre as árvores do jardim” (Gn 3.8). Surgiu o medo existencial, fruto da consciência do poder transcendente: “ouvi a tua voz e tive medo” (Gn 3.10). E, também, à alienação nos relacionamentos (Gn 3.11-13 e 16) e à consciência da separação humano/natureza (Gn 3.17-19).

Dessa maneira, a alienação existencial levou ao lehatati e à consciência de morte, enquanto separação do humano daquilo que lhe é natural, seu próprio corpo, e daquilo que é transcendente, a presença da eternidade. Assim, como disse Byron Harbin, “a morte física é um rasgamento da alma (2Co 5.4) e a morte espiritual é um rasgamento da relação do espírito humano com o Espírito divino”. Mas tal ruptura tem como limite o amor do Eterno, pois “se ele retirasse para si o seu espírito, e recolhesse para si o seu fôlego, toda a carne juntamente expiraria, e o humano voltaria para o pó” (Jó 34.14,15).

A partir de “todos pecaram” -- Romanos (5.12) e Efésios (2.1 e 5) -- devemos entender que “estando vós mortos pelos vossos delitos e pecados” fala da morte como realidade humana resultante da ruptura com a transcendência. Esta morte frente ao espírito e a eternidade levou à morte física, “até que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás” (Gn 3.19), providência do Eterno para que o humano retornasse ao estado anterior à alienação e, assim, partici­passe do Novo Ser, ao invés do rasgamento permanente.

Terceira parte

A existência, enquanto processo, pode ter determinação construtiva no sentido teleológico, por apresentar qualidades adequadas à sua natureza ou função. E o humano, momento da existência, tem possibilidades diante dela. Essas possibilidades podem ser chamadas de liberdade condicionada e relativa à própria existência. Mas tais possibilidades são desafios à compreensão da condição humana e de suas relações reais. Estamos, então, falando de alienação.

A alienação antecede o exercício da liberdade. A idéia, trabalhada por Tillich, a partir de Hegel, é de que pertencemos essencialmente àquilo de que estamos separados. Ou seja, o humano não está separado de seu ser, mas é julgado por ele, e mesmo quando este lhe é hostil não consegue separar-se dele. As possibilidades humanas estão, nesse sentido, mesmo enquanto determinação construtiva e dinâmica, sob funções correlatas, alienação e lei, liberdade e necessidade, que são realidades da existência.

Se a alienação é ruptura essencial, parto que vai produzir a consciência humana, remete tanto ao distanciamento como à aproximação com o Ser. Não seria, então, apenas disfunção, mas apontaria também às funções do humano, enquanto ser com possibilidades de realização somática, psíquica, cultural, ecológica e do sentido pleno da vida.

Na tradição judaico-cristã essa relação entre alienação e liberdade foi um tema teológico de importância. Dos textos judaicos resgatamos idéias como aliança, constância, fidelidade, que remetem à correlação alienação/lei. E no testamento cristão a idéia de destino traduziu o conceito de alienação em seus dois vetores, distanciamento e aproximação.

As tensões ao redor da compreensão das idéias de alienação, que traduz funções e disfunções do humano, e graça, enquanto ação divina para a salvação, apontam para duas outras questões: história e liberdade. Essas duas questões formam a base do pensamento de que o ser humano por ser imagem do Eterno é um ser livre e, por extensão, faz história. Livre significa liberdade de julgamento e ação no âmbito da existência. Então, para que as pessoas sejam livres, o Eterno garante a liberdade delas.

Na carta aos Romanos (5.12), Paulo afirma que hamartia entrou no cosmo através do humano e com hamartia, a morte. Ora, hamartia ou peccatus é um fazer, uma consequência que nasce deste conceito militar dos gregos, ato do arqueiro errar o alvo, quer no treinamento, quer na batalha. Paulo utiliza a expressão no sentido de que a humanidade vive um fazer em que errar o alvo é possibilidade crescente na existência, embora não seja um estado dela.

Errar o alvo, ou, em hebraico moderno, errar o tiro, leva à conseqüências. Paulo privilegia uma delas, a consciência da morte. Para o apóstolo, hamartia ou peccatus produz uma consciência matricial, a consciência da morte. A partir da consciência da morte temos a consciência do divino, a consciência da diversidade, já que não somos bichos e, por extensão, não somos natureza, a consciência de que podemos escolher, e a consciência de que coisas e ações podem ser boas ou não. Dessa maneira, o alvo é o desafio de acertar, e estão diante do humano, de forma permanente, as necessidades diante da lei, daquilo que é ou está frente à existência e possibilidades diante da liberdade, daquilo que não existe, mas pode ser criado.

Alvo implica, então, em necessidades e lei e possibilidades e liberdade, que não se excluem: estão correlacionadas na existência humana, fazem parte do desafio da existência.

Ora, em termos teológicos, a partir dessa primeira reflexão, podemos dizer que todos são chamados à comunhão e cada pessoa pode responder positivamente a esse chamado. Caso o ser humano responda positivamente ao chamado, vive o processo de libertação que leva à comunhão plena. A comunhão consiste, então, em metanóia, que é volta ao estado de liberdade e permanência na escolha. A partir desta resposta, o Eterno opera a salvação do ser humano. Por isso, podemos dizer que a vontade humana abre o caminho da libertação. A partir daí entendemos a graça universal, pois todos os seres humanos poderiam responder positivamente ao chamado à comunhão. Ou seja, a liberdade de julgamento no âmbito da existência leva a pessoa a escolher os caminhos de sua história.

As funções e disfunções existenciais do humano, ou seja, a alienação, fazem com que as ações humanas, a partir dos desejos – emoções e sentimentos – levem o ser humano à possibilidade de errar o alvo, lehatati (להחט'א), em hebraico, hamartia, em grego, e peccatu, em latim. Dentro da tradição das escrituras hebraico-judaicas, lehatati é a violação da lei. Mas lehatati é sempre uma ação do coração e não um estado do ser. Já a alienação, esta sim, é um estado da existência e toda a humanidade se encontra nesse estado de disfunção, ou inclinação para fazer o mal, conforme vemos em Gênesis 8.21. Assim, lehatati traduz não somente falta moral, mas todas as violações da lei, quer conscientes ou não. E, segundo a tradição judaica, todo ser humano nasce sem lehatati, e a culpa de Adão recaiu sobre ele e sua família, mas não se estendeu à espécie humana. Apesar disso, todo ser humano é responsável pelo lehatati porque todos temos vontade livre, mas natureza alienada e, por isso, tendemos também para o mal. Por isso, o texto acima citado de Gênesis diz que o coração humano é mau desde a sua juventude. Mas o Eterno, através de sua misericórdia, possibilita ao ser humano a metanóia e o perdão.

A libertação humana é um processo, por isso, a pessoa não é plenamente livre, porque depende dela permanecer ou não na opção escolhida. Se ela manter a escolha será plenamente livre, se abandonar a escolha retorna à alienação. Caso a pessoa livre se alienar, se não houver metanóia, se não voltar à comunhão, estará alienada.

Dessa maneira, na polaridade alienação/comunhão dá-se a construção da história, ou seja, as pessoas e as comunidades humanas interagem, por opção ou por omissão, na construção de sua história. O Eterno é soberano porque criou e mantém o universo, sustentando-o na universalidade do Espírito, aqui entendido como sentido da vida. A soberania especial está sobre a comunidade que permanece na escolha. As outras comunidades estão fora desta soberania especial, da graça que gera comunhão plena, exatamente porque usaram a liberdade para escolher o lehatati.

E quanto maior a alienação, mais o Eterno retrai sua soberania sobre tais pessoas e comunidades, e, consequentemente, a graça que gera comunhão plena. O que explica o mal enquanto feituras pessoal e social. E para que o processo histórico se dê, o Eterno contrai espaço-temporalmente sua justiça executora.

Por paixão ao ser humano, ele contrai a ação de seu conhecimento. Caso o Eterno, a partir de seu conhecimento, definisse todas as ações livres do ser humano, as pessoas e as sociedades poderiam fazer apenas aquilo que o Eterno por conhecer definisse, sem poderem tomar decisões alienadas, sem poderem se afastar dele.

O Eterno dirige o seu fazer, mas interage com as pessoas e as comunidades humanas na produção da história, enquanto obra que nasce das correlações liberdade e comunhão e liberdade e alienação. A polaridade alienação versus comunhão não apresenta o ser humano como bom ou mal, mas como ser que age a partir dessa polaridade. Isso fica claro no diálogo que o Eterno tem com Caim, quando diz que ele está inclinado para o mal, mas deve dominá-lo. Essa conversa apresenta um padrão humano, a alienação.

Podemos ler Gênesis 6.5, 8.21 e Deuteronômio 31.21 a partir da compressão do conceito de alienação. É interessante que nenhum desses textos fala do ser humano como essencialmente corrupto, mas alienado. A própria palavra yetzer, que vem da raiz yzr, utilizada quando as Escrituras hebraicas falam de inclinação maligna, significa moldar, propor-se. A idéia é que o ser humano é dirigido por suas inclinações, imaginações, sejam elas boas ou más. É yetzer que, combinado ao julgamento livre no âmbito da existência, possibilita a metanóia. Ou, conforme diz Deuteronômio, o Eterno coloca diante do ser humano a possibilidade do bem e a possibilidade do mal. Os seres humanos terão comunhão se obedecerem aos mandamentos do Eterno e errarão o alvo se desobedecerem aos mandamentos do Senhor (11.16-28).

Assim, só o Eterno é capaz de fazer com que exista a liberdade humana e mantê-la. Essa graça, oriunda do Eterno e derramada sobre a humanidade, possibilita a construção da história. Por isso, Paulo diz que o Eterno fica de humor transverso com a alienação que distancia, mas segura as pontas com calma, por saber que a alienação é fruto da sua valência e, diante da alienação que aproxima, também obra sua, Ele expressa alegria. (Romanos 9.22-23).

Essa leitura da liberdade entregue ao ser humano é importante para a teologia, pois ao dizer que as pessoas e as comunidades humanas podem agir à margem daquilo que o Eterno desejaria para a humanidade, apresenta a violência, a guerra e os genocídios como frutos da opção e ação humanas. E o teólogo pode, então, analisar porque os profetas clamam e apontam às sociedades o caminho do Reino, embora estas possam escolher os seus próprios caminhos. O campo de concretação de Auschwitz, sob o nazismo, e os genocídios contemporâneos são, então, passíveis de estudo. Mas a nossa leitura coloca, também, para as comunidades de fé, o clamor profético e o desafio de expandir o Reino.

Em relação à alienação, o ser humano herdou de Adão a inclinação para o mal e, como consequência, a possibilidade crescente de errar o alvo, mas não a culpa. Os seres humanos são alienados porque separaram razão e coração e erram o alvo porque são alienados. E em relação ao processo de libertação, a morte do Cristo abre as portas da comunhão, mas não assegura a libertação plena, pois esta só será definitiva se a pessoa não desistir da corrida.

Paralelo ao pensamento hebraico, a cultura grega apresentou uma rica leitura do conceito de destino, que relaciona alienação e hamartia. O conceito destino nasceu da reflexão de que os deuses são imortais porque o humano está situado entre a finitude existencial e a infinitude potencial. Para os gregos o destino era finitude existencial, e esse é o tema da tragédia grega e da busca da superação filosófica, principalmente de estóicos e epicuristas. Era uma tentativa de colocar o humano acima do destino que o distanciava de seu ser, transformando-se em poder destrutivo que envolveu o mundo helênico em culpa e julgamento.

Um exemplo dessa leitura, que nos interessa para a construção de uma compreensão teológica da alienação, seria o arrazoado que Pedro, o apóstolo, fez em sua segunda epístola, ao dizer que a graça não tem limites, pois o Eterno não retarda a sua promessa, como alguns afirmam, por julgá-la demorada, mas por ser paciente. Ele não escolheria a danação eterna de pessoas, ao contrário, desejaria que todos chegassem à metanóia, ou seja, fizessem o caminho de volta à liberdade e construíssem comunhão.

Dessa maneira, a graça tem eficácia ilimitada, mas há uma chave para que a função graça seja plenamente exercida. E essa chave é: chegar à metanóia. Dessa maneira, o sacrifício de Cristo, que é graça plena e universal, deve ser somado à metanóia, produzindo então a libertação. Ou seja, graça plena mais metanóia é igual à libertação. E o sacrifício do Cristo sem a metanóia, produz justiça. Ou seja, o valor da cruz não é limitado, mas sim sua aplicação. E a preparação da pessoa e das comunidades humanas para a graça tem o julgamento livre no âmbito da existência como movimento e o Eterno como móvel.

Essa preparação pode ser pensada como movimento que parte, enquanto universalidade, da liberdade humana em direção à especificidade que tem o Eterno como móvel e implica em graça determinada pelo Eterno, embora não seja proveniente da coação, mas do seu pleno conhecimento, porquanto a intenção do Eterno não pode deixar de ter efeito.

Por isso, podemos falar da universalidade da graça, presente na comunidade humana, e na especificidade da graça, que infalível segue a boa vontade humana. Mas esse movimento é dialético, pois, quando olhamos da perspectiva do humano, ele parte da universalidade, mas se olharmos da perspectiva divina parte da especificidade. Ou seja, universalidade e especificidade são termos relativos, que se complementam na plenitude da graça. Por isso, liberdade, eleição e graça fazem parte de uma dança permanente, onde cada conceito implica na existência do outro e nenhum tem existência independente, mas criam uma unidade/diversidade correlacional plena e necessária.

Todas as pessoas e comunidades humanas realizam suas existências dentro desse processo, fazem parte dele, o que significa dizer que existência, liberdade e graça fazem parte da história humana. O Eterno mobiliza o processo em direção à especificidade, com base no seu conhecimento da fé e da perseverança de cada pessoa e das comunidades humanas, mas conhece e aceita o sentido da universalidade humana. Esta seria a leitura do texto de Pedro, quando disse que no meio do povo surgiram falsos profetas que introduziram doutrinas destruidoras, a ponto de renegarem o Eterno que os resgatou.

Na teologia paulina, enquanto diálogo das concepções do apóstolo com o mundo helênico, principalmente em sua carta aos Romanos, alienação/destino é o tempo favorável que triunfa sobre o espaço. O caráter do tempo propício à liberdade substituiu o tempo cíclico, transitório e perecível do pensamento helênico. A partir dessa compreensão, destino traduz aproximação, e apresenta novas possibilidades de construção da liberdade no tempo e na história.

Antes, a filosofia confrontava-se com a inspiração dos poetas, mas, a partir de Paulo, a revelação apodera-se da filosofia. Assim, o destino que distanciava foi questionado pelo pensamento paulino: “aquele que não era meu povo será chamado de meu povo, e aquela que não era amada passou a ser amada”. (Romanos 9.25). O transitório e perecível perdeu importância e a idéia da construção da existência enquanto tempo favorável foi tomando forma.

Mas voltemos um pouco atrás, para entendermos esse processo. Dentro da visão paulina, que traduz o pensamento cristão palestino, alienação/destino, no sentido de que os limites são potencialmente ilimitados, é a lei na qual surge o conceito de liberdade. Assim, alienação/destino correlaciona conceitos, porque a alienação está sujeita à liberdade; porque alienação significa que a liberdade também está sujeita à lei; e porque alienação significa que liberdade e lei são complementares e interdependentes.

Analisando o conceito cristão palestino de alienação/destino -- exposto por Paulo em sua carta aos Romanos -- podemos dizer que a liberdade humana está ligada às leis universais, de tal forma que liberdade e leis se encontram entrelaçadas. Para Paulo, assim como para a tradição judaica, lei é imposição de limites. Por isso, a alienação é um estado que surge da correlação entre lei e vida, porque se o julgamento é inerente a tudo na existência, também o é a liberdade.

Assim, a certeza de que a alienação/destino é propícia e tem significado realizador e não destruidor, é a peça chave do pensamento de Paulo, que coloca o sentido da vida acima do destino. Ao fazer isso, Paulo está dizendo que a compreensão do destino não está ao alcance da razão humana, mas o sentido da vida traduz a imortalidade potencial do humano.

Quando o humano faz a defesa do sentido incondicional da vida deixa de temer a ameaça da alienação/destino que distancia, e aceita o lugar que cabe à alienação enquanto estado da existência. Reconhecemos, então, que desde o princípio vivemos num estado de alienação e que sempre desejamos nos livrar dela, mas nunca conseguimos. Mas nessa análise da alienação cabe relacionar sentido de vida e tempo. O sentido de vida deve envolver as leis universais, a plenitude do tempo e a própria existência. E quando o sentido de vida alcança a existência, penetra no tempo e faz da alienação, aproximação.

É necessário, porém, entender que a consciência parte da alienação e que o reino da existência só é acessível ao conhecimento liberto da alienação que distancia. Dessa maneira, ao contrário do que pensavam os gregos, o humano possui potencialidade própria, enquanto ser, para realizar seu destino. Quanto maior a potencialidade humana – que cresce na medida da expansão do sentido da vida – maior será sua consciência de destino.

O destino humano, que nasce da alienação, aponta para o sentido da vida que emerge das crises e desafios. Quanto mais profundamente entendermos nosso destino, no sentido paulino de prokeimai, estar colocado, ser proposto, e o de nossas comunidades, tanto mais livres seremos.

Assim, a liberdade humana se dá na existência, enquanto realidade condicionada pela materialidade. A liberdade entende-se como correlação entre lei e sentido de vida. Quando Hegel afirmava que a liberdade é a consciência da necessidade, como fez questão de mostrar Marx, cometia um erro porque descartava a realização da liberdade. É por isso que Marx dirá que liberdade é práxis. Ora, para Marx, práxis é consciência da necessidade somada à ação transformadora. Ou seja, consciência da lei diante do estado de alienação que distancia é mudança radical, é ação transformadora da vida.

Lehatati, hamartia, peccatu é um fazer. Em relação ao imediato transforma-se em estado e no que se refere à espécie humana é um domínio. Lehatati, hamartia, peccatu acontece quando minha liberdade é desafiada, quando ela é chamada a surgir como feitura humana. Nesse sentido, lehatati, hamartia, peccatu não se apresenta sem agente moral, sem liberdade. Toda vez que realizo minha liberdade a lei está presente, pois lehatati, hamartia, peccatu é um contra-tipo da liberdade.

Por isso, só podemos responder à alienação que distancia reconhecendo que lehatati, hamartia, peccatu é feitura minha e de minha espécie, e que devo promover a ruptura desse fazer através da ação de expansão do sentido pleno da vida. Ao nível do pensamento, do sentimento, da vontade e da ação -- pois a alienação que distancia é o que não devia estar -- devemos exercer uma ética radical de defesa da vida e de seu sentido, de combate ao estado de alienação na vida de pessoas e comunidades.

Em 1970, Manuel Ballestero publicou em Madri, pela Siglo XXI, La Revolución del Espíritu (Tres pensamientos de libertad), analisando o caráter radical da liberdade no pensamento de três gênios da modernidade: Nicolas de Cusa, Lutero e Marx. Ballestero diz que sua preocupação residiu em analisar o projeto de liberdade desses três pensadores, sabendo que a autonomia e o ato livre são concebidos de maneiras diferentes e mesmo antagônicos, embora existam, no contexto da obra dos três, analogias de fundo. E essas se referem ao fato de que liberdade poderia significar a abolição da lei, o colapso da determinação exterior, e não o comportamento que se adequou aos limites da ordem. Assim, segundo Ballestero, Cusa, Lutero e Marx olham a liberdade como a destruição da ordenação exterior e anterior ao próprio ato livre.

Os ensaios mostram que a revolução teórica empreendida por Cusa e Lutero não foi gratuita, nem produto de um simples ato ideal, mas se enraizou no tecido histórico do movimento de decomposição global da formação social pré-capitalista. Cusa e Lutero clamaram por essa destruição. Sem entrar nos detalhes das mutações vividas no século dezesseis, com a ruptura do equilíbrio cidade/campo, o surgimento das manufaturas e a consolidação do sistema de trabalho assalariado, vemos que a alienação que distancia da condição humana na incipiente sociedade capitalista foi percebida por Cusa e Lutero: a liberdade do sujeito se dá como dor.

Mas ambos consideraram essa subjetividade liberada pelo início da arrancada capitalista como desequilíbrio. Assim, tanto Cusa quanto Lutero partiram do distanciamento nessa subjetividade alienada do nascente capitalismo, considerando que deveria ser superada para que o sentido da vida florescesse. Aí, então, teríamos o fim da não-essencialidade do sujeito alienado e a inserção deste na totalidade objetiva. Mas isso não poderia acontecer sem a transformação dessa realidade objetiva em realidade plena de vida, que sustenta o humano. Dessa maneira, para os dois pensadores, o sentido da vida constrói num nível superior o universo anteriormente negado.

O jovem Marx, seguindo os passos de Hegel, partiu dessa discussão. Para ele, a religião era a realização imaginária da essência do humano, mas essa essência não tem realidade alguma. De todas as maneiras, há um ponto de interligação nessa perspectiva: a liberdade como abolição da legalidade, como coincidência do momento subjetivo com o momento objetivo e como responsabilidade maior do ser humano.

Para Lutero, o humano existe como estrutura ontológica dual. Sua conceituação partiu da ansiedade teórica do século dezesseis, mas traduziu-se em superação da subjetividade alienada. O humano pleno do sentido de vida é senhor de todas as coisas, não está submetido a ninguém e esse senhorio radical é produto da vida em plenitude. Sua liberdade transforma a subjetividade alienada em realidade objetiva. Nesse sentido, o caráter da liberdade do humano pleno do sentido de vida se dá como processo: morre o imediato, o alienado, e tem início a construção de uma segunda natureza.

A liberdade surge como deslocamento do humano alienado, como distanciamento crítico daquilo que foi naturalmente dado. O primeiro momento da liberdade parte de uma concepção trágica, porque o senhorio num primeiro momento implica em servidão, criando tensão e luta. “É necessário desesperar-se por você mesmo, fazer com que você saia de dentro de você e escape de sua prisão” (Lutero, Les grands écrits, p. 259). Mas superada a tensão, temos a liberdade enquanto sentido pleno de vida, uma dimensão de combate.

Os humanos são chamados a superar a alienação, ter a liberdade que vai além, a liberdade que é construída na expansão do sentido pleno da vida. E, assim como Paulo, devemos saber que morte ou vida, anjos ou governos, coisas presentes ou futuras, poderes, altura ou profundidade, ou qualquer criatura não poderá nos distanciar do amor do Eterno, que está no Novo Ser, o Senhor.















As fronteiras da igualdade e da liberdade

Quando analisamos os conflitos vividos pelas primeiras comunidades cristãs na Galácia, geradas pelas desigualdades raciais e religiosas (judeu/grego), sociais (escravo/livre) e de sexo (homem/mulher), vemos que o apóstolo Paulo propõe uma radical transformação daquela situação: que a unidade da igreja em Cristo leve as comunidades cristãs a viverem em igualdade e liberdade. Na verdade, o apóstolo propõe, em última instância, que as divisões entre irmãos e irmãs, oriundas de raça, condição social ou sexo, não existam nas comunidades cristãs.

As fronteiras da igualdade e da liberdade:
o amor e a unidade
Pr. Jorge Pinheiro



“Pois, por meio da fé em Cristo Jesus, todos vocês são filhos de Deus. Porque vocês foram batizados para ficarem unidos com Cristo e assim se revestiram com as qualidades do próprio Cristo. Desse modo não existe diferença entre judeus e não-judeus, entre escravos e pessoas livres, entre homens e mulheres: todos vocês são um só por estarem unidos com Cristo Jesus”. (Carta aos Gálatas 3.26-28. Nova Tradução da Linguagem de Hoje, SBB).

Esses versículos do apóstolo Paulo são a chave para se entender a carta aos Gálatas. É a partir dela que Paulo discorre sobre a possibilidade da superação das desigualdades raciais e religiosas, sociais e de sexo na igreja. E o fundamento do argumento do apóstolo é a unidade em Cristo, que possibilita a igualdade e liberdade, e que conduz à unidade do corpo de Cristo.

Assim, Gálatas 3.26-28, coração da carta aos Gálatas, faz uma proposta de abertura de fronteiras, de derrubada de muros, de superação de conflitos e antagonismos que dividiam a igreja.

Três questões desafiadoras

Sem dúvida, Paulo apresenta questões desafiadoras para nós batistas. Podemos dizer que as disparidades econômicas e sociais, étnicas e de sexo estão presentes nas igrejas, mesmo quando não desejamos, nem concordamos com essas posturas. Às vezes, é a discriminação aos irmãos afrobrasileiros ou brasilíndios, às vezes é a discriminação aos irmãos migrados de regiões mais pobres, às vezes é a discriminação aos pobres ou mesmo a discriminação de nossas irmãs, apenas por pertencerem ao sexo feminino. Por isso, este texto de Paulo tem hoje tanta atualidade quanto na época em que o apóstolo escreveu.

Converse com a classe sobre as desigualdades raciais, sociais e de sexo na sua cidade. E, por acaso, se ela existe também na sua igreja. Caso exista convide a classe a orar para que o amor em Cristo supere todas as diferenças e preconceitos e mantenha a unidade da igreja.

Lembre a seu povo:

“Saulo foi para Jerusalém e tentou juntar-se aos seguidores de Jesus. Porém todos tinham medo dele porque não acreditavam que ele também era seguidor de Jesus”. Atos dos Apóstolos 9.26.

O Novo Testamento mostra que as igrejas são um projeto de Deus para todos os seres humanos que aceitarem a Jesus como Senhor e Salvador. Isso significa que mesmo aqueles que são diferentes de nós também serão chamados.

O desafio da igualdade e da liberdade

Somos desafiados por essas duas questões, a igualdade e a liberdade. Como vimos, na época de Paulo, as contradições nas comunidades da Galácia do Norte eram geradas por disparidades raciais, sociais e de sexo, mas o apóstolo Paulo acreditava que podiam ser superados pelo amor e pela unidade em Cristo.

O padre Antonio Vieira, um dos maiores pregradores em língua portuguesa, disse no Sermão do Mandato (1643), que “o amor não é união de lugares, senão de vontades; se fora união de lugares, pudera-o desfazer a distância, mas como é união de vontades, não o pode esfriar a ausência”. E explicou que a ausência maior que temos é a de Cristo, que voltou para o Pai, mas que está conosco todos os dias através do Espírito. Por isso, distâncias não nos podem separar, sejam elas de que tipo forem, as distâncias geográficas, as diferenças raciais, a quantidade de dinheiro que temos nos bolsos ou na conta bancária, o fato de ser homem ou mulher, podem parecer separações excessivas, podem parecer separar os corpos e as vidas, mas não podem e não devem dividir os corações. Podem, às vezes, embaçar os olhos, mas não podem esfriar o amor.

No século 17, quando surgiram as primeiras igrejas batistas na Inglaterra, o pastor John Smyth e Guilherme Dell, fundadores do pensamento batista naquele país, fizeram a diferença levantando as bandeiras da igualdade e da liberdade.

John Smyth e Guilherme Dell defenderam a liberdade de consciência absoluta, e usaram cada oportunidade para mostrar que não é plano de Deus que as pessoas tivessem sua liberdade de consciência cerceada. Dell considerou que o uso da coação por parte do poder monárquico inglês contra puritanos, separatistas e batistas era um ato deletério que não vinha de Cristo, porque somos todos iguais e, por isso, salvos pela graça. Mas também porque somos, em Cristo, livres diante de Deus. Livres para adorar e iguais porque na vida de fé ninguém pode se colocar acima de nós, a não ser Cristo, o filho do Deus vivo.

Assim, esses dois homens entenderam a mensagem do Novo Testamento, inspirada por Deus. E fica em nossos corações a proposta de Paulo, que apresentou o mandamento da superação das barreiras de raça, de condição social e de sexo e mostrou às igrejas da Galácia e a nós batistas os fundamentos do amor e da unidade, que definem as fronteiras da igualdade e da liberdade.

Lembre a seu povo:

“No caminho ele viu um eunuco da Etiopia, que estava voltando para o seu país. Esse homem era alto funcionário, tesoureiro e administrador das finanças da rainha da Etiópia”. Atos dos Apóstolos 8. 27-28.


O etíope era negro, uma pessoa diferente em relação a Felipe, mas perguntou "como poderei entender, se alguém não me explicar?". E esse homem de cultura, cor, país diferente creu, quando o Evangelho do Reino lhe foi apresentado.


O eunuco aceitou o Evangelho e foi batizado. Então, o que diremos a Deus quando pessoas diferentes se acercam de nós? Certamente com gratidão, porque fomos chamados à comunhão e à obediência. Por isso, o apóstolo Paulo fala de que há "um só Senhor, uma só fé e um só batismo", apesar de sermos diferentes uns dos outros. (Efésios 4.5).

Da reflexão à ação

A abrangência do texto apostólico nos leva da reflexão à ação sobre os três temas que estão imbricados nessa abertura de fronteiras: igualdade, liberdade e unidade em Cristo.

Assim Paulo nos obriga a repensar às questões de etnia, escravidão e sexo, extrapolando as paredes da igreja e apresentando a todos os cristãos uma proposta de abertura de fronteiras, onde haja aequalitate, paridade, iguais direitos e oportunidades. E libertate, de tal forma que cada pessoa possa dispor de seu arbítrio, em pleno gozo dos direitos de ser humano autônomo diante de sua consciência e de Deus, como imagem dEle, que tem garantidos seus direitos à existência e à vida.

Se a revelação é uma conversa entre Deus e o ser humano, em Cristo, é a partir desse diálogo que temos os elementos fundamentais para conhecer aquilo que Deus deseja que sejamos: iguais e livres, unidos do amor de Cristo. Nesse sentido, por mais decaído que esteja o ser humano, por mais abandonado e discriminado socialmente, ainda lhe resta a liberdade de consciência necessária para aceitar o diálogo proposto pelo Criador.

Nós batistas consideramos que a missão do povo de Deus é a evangelização do mundo, visando a reconciliação do ser humano com Deus, não importando condição financeira, social ou se é homem ou mulher. Os discípulos de Jesus e as igrejas foram chamadas a proclamar através do exemplo do amor e da unidade em Cristo e através do pregação do Evangelho da paz e, assim, fazer novos discípulos de Cristo em todas as nações. Cabe às igrejas batizá-los, ensinando-os a observar o que Jesus ordenou. Evangelização e missões acontecem quando nós vivemos na igreja igualdade e liberdade e testemunhamos a fé através de nossas próprias vidas.

Lembre a seu povo:

Foi o próprio Jesus quem nos deu a diretriz: “Eu sou a videira e vocês são os ramos. Quem está unido comigo e eu com ele, esse dá muito fruto, porque sem mim vocês não podem fazer nada”. João 15.5.


Jesus é a videira, mas os frutos da justiça brotam das comunidades que estão ligadas nele. Que todos possamos, unidos com ele, produzir frutos de justiça e dignidade reconhecidos. É isso que Jesus espera de nós.

Esta é a mensagem de Paulo para nós :

Se formos um só em Cristo Jesus – e é isso que deve ser buscado -- a igreja não pode estar dividida entre judeus e palestinos, entre poderosos e miseráveis, entre homens e mulheres.







samedi 2 mai 2020

Les protestants et la Révolution





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Invité : Patrick Cabanel
Animation : Philippe Arundel


Os huguenotes e a revolução

Os huguenotes e a Revolução francesa

Refuge et Désert. L’évolution théologique des huguenots de la Révocation à la Révolution française, Stéphane Gomis, p. 161-164. Référence(s) : Hubert Bost et Claude Lauriol (éd.), Refuge et Désert. L’évolution théologique des huguenots de la Révocation à la Révolution française, Actes du colloque du Centre d’étude du XVIIIe siècle, Montpellier, 18-20 janvier 2001, Paris, Honoré Champion, 2003, 319 p., ISBN 2-7453-0751-7.

Stéphane Gomis

Este volume reúne dezesseis trabalhos apresentados no simpósio organizado em 2001 pelo Centro para o estudo do século XVIII em Montpellier. Este encontro concentrou-se na "evolução teológica dos huguenotes, da revogação à revolução francesa". Tal título poderia sugerir que se tratava de debater em torno de um objeto de estudo muito restrito. Em sua apresentação, Christine Berkvens-Stevelinck deixou bem claro que a expressão "evolução teológica" certamente não limitou a discussão ao estudo dos principais tratados teológicos. De fato, na Era do Iluminismo, esses não são mais os únicos suportes para a transmissão da doutrina e do pensamento da Igreja Reformada. Entre as décadas de 1680 e 1790, a teologia protestante "meio que seculariza". Antes de tudo, não é mais o domínio dos pastores ou exegetas, mas também dos fiéis simples, sejam homens ou mulheres. 

Segundo, essa evolução teológica atinge um grande número de campos, da piedade ao direito e à política. Esta coleção, portanto, pretende seguir a longo prazo um dos fenômenos mais característicos do protestantismo do século passado do Antigo Regime, "em termos desses lugares tão especiais que eram o deserto e o refúgio". Suas lições são todas mais ricas porque têm uma dimensão transdisciplinar e européia. O sujeito impôs essa dupla qualidade. As contribuições dos autores foram divididas em cinco temas principais. O primeiro se concentra em apresentar as mais recentes contribuições na história do Refúgio. O destino dos huguenotes em terras estrangeiras é analisado principalmente por um lado, através da questão de sua recepção, por outro lado, sobre o status legal reservado a eles. Estudando as resoluções e os atos sinodais das igrejas da Valônia, Hans Bots dá inúmeros testemunhos sobre a solidariedade demonstrada por estes últimos em relação aos seus co-religiosos. O autor lembra, com razão, que desde as guerras da religião as duas igrejas têm sido muito fortemente ligadas por uma cultura de perseguição. De fato, entre 1680 e 1700, nada menos que 337 pastores foram bem-vindos. 

H. Bots expõe uma série de jornadas pessoais, entregando toda uma série de documentos inexplorados até o momento. Os anos de 1684-1689 também viram a fundação de 26 novas igrejas de língua francesa. No entanto, como o autor demonstra, essa compaixão fraterna não exclui uma certa tutela das autoridades sinodais sobre os pastores. É uma questão de garantir a ortodoxia de suas posições. Por seu lado, Eckart Birnstiel questiona a situação jurídica das comunidades huguenotes em Brandemburgo-Prússia. A partir da década de 1680, cerca de 20.000 reformadores franceses se refugiaram nas terras do eleitor de Brandemburgo. Em 1685, o edito de Potsdam, uma verdadeira grande carta do Refúgio, assimilou os pastores ao serviço público local. No entanto, o sistema presbitero-sinodal francês permanece incompatível com a qualidade do Summus episcopus do soberano alemão. Este último resolve controvérsias teológicas e nomeia os pastores. A liberdade de consciência, portanto, tem um preço. Por outro lado, os huguenotes ainda podem confiar localmente em seu consistório. Essas situações de refúgio e deserto influenciaram o conteúdo das doutrinas teológico-políticas? Nicolas Piqué coloca a questão através de uma análise do trabalho de Pierre Jurieu. As posições desse personagem variam da "lealdade monárquica" à defesa da "soberania popular". Assim, depois de 1685, Jurieu questionou o absolutismo dos reis e, é claro, seu "direito de dominar as consciências". Além disso, o pastor afirma a origem popular da soberania, como o direito da desobediência. 

Para Nicolas Piqué, o pensamento jureano mostra aqui uma verdadeira modernidade. Portanto, não é um simples retorno a uma concepção medieval de poder. O segundo tema visa explorar a piedade reformada entre "solavancos e continuidades". Assim, Jean-Daniel Candoux estuda os catálogos de seis livreiros em Amsterdã ou Genebra, especializados em livros devocionais. Esta amostra provavelmente não é suficiente, pois cobre apenas cerca de 300 títulos. Mas a busca por fontes foi certamente bastante difícil. Em seu desejo de identificar a devoção dos fiéis, J.-D. Candoux formula certas hipóteses. Assim, os trabalhos divulgados testemunhariam uma devoção barroca, centrada no tema da morte, comum ao catolicismo. É uma pena que o autor não tenha apresentado seus dados de maneira mais sintética, por exemplo, na forma de uma tabela. De fato, o leitor se perde um pouco entre o número de ocorrências e as porcentagens anunciadas. Por seu lado, Yves Krumenacker e Marjolaine Chevallier nos levam profundamente aos pensamentos de Marie Huber e Pierre Poiret. Este último está convencido de que Deus intervém na parte mais profunda do coração do homem, para significar sua graça para ele. Por fim, ele expõe uma teologia radicalmente diferente da teologia racional que adotará a maioria dos pensadores protestantes do século XVIII. 

Marie Hubert, desconhecida, mas cujo pensamento teve uma influência definida, também mostra anticonformismo. Assim, ela não hesita em atacar o dogma calvinista da eternidade de frases. Para ela, a purificação divina é necessariamente limitada no tempo. A terceira parte da coleção coloca a questão da ortodoxia protestante na Era da Iluminação através da pregação e crítica das escrituras. Estudando o sermão de um pastor do "segundo Deserto", datado de 1760-1770, Otto H. Selles mostra o quanto isso testemunha o desenvolvimento geral do protestantismo francês. Em seu comentário sobre Paulo, o autor, que permanece anônimo, propõe uma verdadeira revolução moral. Ele apela à criação de uma sociedade reformada ideal cuja hierarquia moral e social seja exemplar. No entanto, as respectivas comunicações de Maria-Cristina Pitassi e Graham Gargett mostram que certos autores ocupam um lugar à margem desse movimento. 

Assim, em sua tradução francesa do Novo Testamento publicada em 1718, Jacques Lenfant e Isaac de Beausobre afirmam a necessidade de situar a Bíblia em seu contexto literário e histórico. Essa distância de uma leitura puramente teológica é exposta com coragem. Ela nunca deixa de ser criticada pelos mais ortodoxos. Além disso, o pastor David-Renaud Boullier, que se refugiou em Amsterdã e depois em Londres, pretende defender "por boas razões a fé dos mistérios, sem tentar explicar os próprios mistérios". Assim, permanecendo apegado à ortodoxia, ele manifestou com convicção seu gosto pelo "espírito racionalizador de seu tempo". O penúltimo tema abordado é intitulado "Historiografia e consciência histórica". Em uma bela contribuição, Jacques Solé analisa a abordagem do historiador que também era J. Lenfant. Suas obras se concentram na história da Igreja nos séculos XV e XVI. É certo que foi como homem da Reforma que ele analisou as fraquezas do clero da época. No entanto, ele discute as fontes, expõe seu método, dá referências. Em suma, oferece uma história religiosa humanizada e desacralizada. Trata-se de "ensinar aos leitores o peso das paixões no homo religiosus". Verdadeiros mestres da história do Refúgio Brandemburgo-Prussiano, publicado entre 1782 e 1799, Erman e Reclam fazem parte dessa tendência historiográfica, como aprendemos Viviane Rosen-Prest. Eles afirmam a vocação protestante no progresso do Iluminismo, que acompanham com a rejeição de brigas dogmáticas. 

O projeto "Guardião da Tradição Huguenote" de Antoine Court, apresentado por Pauline Duley-Haour, é diferente. Sua ambição é cobrir todos os aspectos da história dos protestantes franceses no reino e no refúgio. Para um pastor marcado por profecia, um de seus objetivos é sublinhar as intervenções de salvação da Providência. Essa preocupação apologética não está longe de seus co-religiosos que estavam preocupados em assimilar os personagens da obra de Rabelais, um autor condenado por Roma, aos atores de seu tempo. O objetivo é sempre servir melhor a história da Reforma, como escreve Olivier Donneau. Finalmente, a pergunta final diz respeito ao racionalismo do Refúgio. Mais do que legítima, a questão surgiu. Ele suporta o pensamento da maioria dos colaboradores. O tema é explorado usando caminhos diferentes. Assim, C. Berkvens-Stevelinck nos leva aos passos dos pastores franceses de Berlim, trazendo-os para integrar o pietismo luterano e o racionalismo do filósofo Johann Christian Wolff. Essa dupla influência leva a uma transformação da homilética. A partir de agora, ele insiste na vida da caridade fiel e cristã, enquanto os dogmas estão desaparecendo. 

H. Bost e C. Lauriol escolheram outros ângulos de abordagem. Eles analisam, respectivamente, o trabalho de Jaques-Georges de Chauffepié, o Novo Dicionário Histórico e Crítico e o de La Beaumelle, em particular no que diz respeito à refutação de L'Émile por J.-J. Rousseau. Ao longo de seu trabalho, Chauffepié criticou bastante seu antecessor P. Bayle. Assim, ele se apega à razoabilidade da revelação sem submetê-la à autoridade exclusiva da racionalidade. Quanto a La Beaumelle, ele pretende afirmar alto e claro que a fé não é contrária à razão. Por fim, ao fechar este livro com uma apresentação muito cuidadosa, o leitor certamente aprendeu muito. Acima de tudo, porém, mede completamente a grande riqueza de pensamentos reformados na Era do Iluminismo, dos quais essa revisão é insuficiente. 

Fonte: 
Stéphane Gomis, « Refuge et Désert. L’évolution théologique des huguenots de la Révocation à la Révolution française », Annales historiques de la Révolution française, 338 | 2004, 161-164. 

Quando se fala sobre a contribuição do protestantismo às origens da esquerda francesa, devemos lembrar que o anticlericalismo, o anticatolicismo ou o antipapismo, um fio vermelho ao longo da história secular da esquerda francesa, remonta à revolução protestante, calvinista, do século XVI. 


Ces députés huguenots dans la Révolution Française
Les huguenots
Tableau du "Serment du Jeu de Paume" - © Jacques-Louis David [Public domain]
Publié le 12 juin 2019 (Mise à jour le 12/06)
Par Céline Borello
Dans le célèbre tableau du Serment du jeu de Paume, 
on repère des députés huguenots

Parmi les représentations iconographiques les plus fameuses des débuts de la Révolution française se trouve l’œuvre, pourtant inachevée, du Serment du jeu de Paume  de Jacques-Louis David. L’événement se déroule le 20 juin 1789, trois jours après que les députés du tiers état – rejoints le 19 par une partie de ceux du clergé­ – se sont proclamés Assemblée nationale.

Dans la salle du Jeu de Paume, les élus jurent alors de ne pas se séparer jusqu’à ce qu’ils aient donné une première Constitution au royaume.

L’œuvre croise l’histoire huguenote par un des protagonistes, le pasteur Rabaut Saint-Étienne, figuré en habits civils. Il trône au centre et au premier plan de la foule des députés, avec l’abbé Grégoire et le chartreux Dom Gerle. Ils se donnent une accolade fraternelle, allégorie d’une union religieuse de la Nation dans un moment particulièrement fort politiquement.

Dans la masse des députés représentés, dont la plupart demeurent inconnus, dix-sept autres protestants, invisibles sur le tableau, mais bien présents dans l’assemblée révolutionnaire. Certes, ce nombre ne correspond qu’à une part infime des 1 200 députés, mais l’instant est symbolique pour les huguenots qui participent ainsi activement au destin politique de leur pays, après avoir connu une véritable mort civile entre 1685 et 1787.

Provenant de diverses provinces du royaume, ce groupe d’hommes, dont certains comme Barnave ou Boissy d’Anglas sont connus, sont pour la plupart négociants ou avocats.

La diversité de leurs opinions est de mise. Emblématiquement et plus tardivement, les votes lors du procès de Louis XVI, en janvier 1793, l’indiquent.Certains, comme Louis Bernard Saint-Affrique ou Charles Saint-Martin-Valogne, optent contre la mort du roi ; d’autres, comme Pierre-Joseph Cambon ou Marc-David Alba Lasource y sont favorables. Ces députés protestants inaugurent ainsi une présence discrète mais constante des huguenots dans les instances électives de la ­Nation, sans montrer toutefois dans ces instants révolutionnaires une cohésion­ politique.

https://www.reforme.net/religion/protestantisme/2019/06/12/ces-deputes-huguenots-dans-la-revolution-francaise/


La Révolution et les Protestants

Musée protestant > XVIIIe siècle > La Révolution et les Protestants

En France, la Révolution avait, à la fin de 1791, répondu aux aspirations communes des Protestants.
Ils se voient accorder l'égalité civile, la liberté de conscience et la liberté de culte


Déclaration des droits de l’homme © Collection privée 

La Déclaration des droits de l’homme et du citoyen du 26 août 1789 leur accorde la liberté de conscience et la Constitution de 1791 la liberté de culte.

L’attitude des Protestants au cours des années révolutionnaires ne présente pas une image cohérente. Ceux-ci ont réagi de façon plutôt individuelle face au phénomène révolutionnaire. De nombreux Protestants ont participé aux Assemblées révolutionnaires, mais il n’y a pas eu de « groupe protestant ».

Sous la Terreur, le phénomène de déchristianisation (septembre 1793 à juillet 1794) n’a pas affecté en profondeur le monde protestant, quoique le culte ait été presque partout suspendu. Mais il s’agit en fait pour la plupart des pasteurs d’une cessation temporaire d’activité. Après la chute de Robespierre, le 9 Thermidor, an II (27 juillet 1794) on assiste à la réouverture des temples et la liberté des cultes est proclamée.

En outre, de nombreux huguenots vont bénéficier de l’Édit royal du 15 décembre 1790 accordant la nationalité française à toute personne exilée pour cause de religion.

Bibliographie

Livres
BOURDON Jean-François, Les pasteurs réformés face à la déchristianisation de l’An II, mémoire de maîtrise, Université Pierre Mendès-France, 1987
VOVELLE Michel, La Révolution contre l’Église : de la raison à l’être suprême, Complexe, Bruxelles, 1988.

Articles

« Les Protestants et la Révolution française », Bulletin de la SHPF, SHPF, Paris, 1989, Tome 127
ENCREVÉ André, « Les Protestants et la révolution française », Réformes et Révolutions, VIALLANEIX Paul (dir.), Presses du Languedoc, Montpellier, 1990, p. 192.




mardi 28 avril 2020

dimanche 26 avril 2020

La Révolution et les Protestants en France, Patrick Cabanel



La Révolution et les Protestants
Musée protestant > XVIIIe siècle >
La Révolution et les Protestants En France, la Révolution avait, à la fin de 1791, répondu aux aspirations communes des Protestants.

Ils se voient accorder l'égalité civile, la liberté de conscience et la liberté de culte

La Déclaration des droits de l’homme et du citoyen du 26 août 1789 leur accorde la liberté de conscience et la Constitution de 1791 la liberté de culte.

L’attitude des Protestants au cours des années révolutionnaires ne présente pas une image cohérente. Ceux-ci ont réagi de façon plutôt individuelle face au phénomène révolutionnaire. De nombreux Protestants ont participé aux Assemblées révolutionnaires, mais il n’y a pas eu de « groupe protestant ».

Sous la Terreur, le phénomène de déchristianisation (septembre 1793 à juillet 1794) n’a pas affecté en profondeur le monde protestant, quoique le culte ait été presque partout suspendu. Mais il s’agit en fait pour la plupart des pasteurs d’une cessation temporaire d’activité. Après la chute de Robespierre, le 9 Thermidor, an II (27 juillet 1794) on assiste à la réouverture des temples et la liberté des cultes est proclamée.

En outre, de nombreux huguenots vont bénéficier de l’Édit royal du 15 décembre 1790 accordant la nationalité française à toute personne exilée pour cause de religion.


mardi 21 avril 2020

Petite lettre à ma petite fille

À ce qu’il me semble, quand nous allons réfléchir sur le chemin humain, il y a trois question qui brûlent l’esprit : Pourquoi dois-je exister ? Qui suis-je ? Ai-je une destinée ?


Dans la tradition judéo-chrétienne, l’être humain il ne vient pas par hasard, il a l’universalité, il a liberté de construire son propre chemin. Et les textes anciennes de la tradition judéo-chrétienne disent que l’être humain est bon ou mauvais, mais agit dans polarité. Fait intéressant, aucun de ces textes ne parle pas de lui comme essentiellement corrompu. Il est clair, nous sommes guidés par notre imagination, que soit bon ou mauvais.


Sans aucun doute, la vie est le don le plus précieux, le modèle du choix. Je vous assure, le bon choix est alors ceci : choisir la vie, ce chemin est entre croissance et décroissance. 


Il faut bien se rendre à l’évidence, l’être humain, en tant que personne et communauté, est le créateur de lui-même. Sa vie est un voyage dans le but de devenir. Il devrait rebondir de « connais toi toi-même » à « devenir qu’il est » et « de trouver qu’il sert ».


Il est le voyage de l’existence humaine et la liberté est un voyage en soi, une communion que embrasse le cosmos, et doit être réalisé en taillant la pierre, symbole de l’être humain, où le matériel devient le spirituel.


Des petits bisous,


Le papi Jorge.



Un message subversif ?

Que ce monde passe et que ton règne vienne !
[ De l'étude de Georges Siguier, Un L'évangile de Jésus est un message subversif * ]


“À tous les oiseaux de proie volant très haut dans les airs l’ange, debout dans le soleil, cria: venez, rassemblez-vous pour le grand festin de Dieu ! Venez manger la chair des rois, la chair des chefs, la chair des puissants, la chair des chevaux et des cavaliers, la chair de tous les hommes, esclaves et libres, grands et petits.” (Apocalypse 19. 17 et 18) cf (Ézéchiel 39. 17 à 20)


L’évangile de Jésus

Quand nous employons le mot « évangile » nous traduisons un mot grec qui signifie: « bonne nouvelle », « joyeux message » ou « heureuse information ». Et quand nous parlons de l’évangile de Jésus, nous parlons du message qu’annonçait Jésus en son temps, c'est-à-dire au cours de ces brèves années qui vont de son baptême au Jourdain à sa mise à mort sur la croix. Il est donc question ici de la bonne nouvelle que proclamait le prophète de Galilée, du joyeux message qu’annonçaient aux foules d’Israël « l’homme venu de Nazareth ».

Ce message, cet évangile de Jésus est l’annonce que Jésus faisait au sujet de Dieu et de son règne; voici cette annonce: « Le règne de Dieu est tout proche ! ». Il faut distinguer ce que Jésus disait là de ce que, après sa résurrection, l’église naissante proclamait au sujet de Jésus. Cette proclamation par l’église primitive, et dont tout le Nouveau Testament témoigne, est également un évangile à publier, mais c’est l’évangile au sujet de Jésus: la grande nouvelle de sa résurrection, de son ascension « à la droite de Dieu » comme Seigneur et Sauveur, de son règne qui vient, et de son retour. 

Ce message chrétien, prêché au monde, concerne donc Jésus mais il ne doit pas être confondu avec le message que ce Jésus lui-même communiquait à ses contemporains, en reprenant d’ailleurs le message de Jean-Baptiste venait tout juste de proclamer à Israël: « Après que Jean eut été arrêté, Jésus vint en Galilée. Il proclamait l’évangile de Dieu en disant: « le moment voulu par Dieu est arrivé: le règne de Dieu est là ! revenez à Dieu et croyez à la bonne nouvelle. » ( Marc 1 14 et 15). 

Tel est, si je puis dire, le « credo primitif » de notre Maître, son message fondamental et primordial, son évangile originel et fondateur, sa parole proclamée à Israël. Telle est l’annonce messianique du Messie de Dieu, selon les témoignages unanimes des évangiles du Nouveau Testament. Voilà l’évangile de Jésus. Il y a dans la Bible un exemple retouant. Et Jonas un fidèle de Dieu a dit : « Je le savais bien, tu es plein de tendresse et de pitié, patient, plein d'amour, et tu regrettes tes menaces ». (Jonas 4: 2 b).

Le grand défi, une découverte à partager

Comment te sens-tu quand quelqu’un te dit de faire quelque chose que tu n’as vraiment pas envie de faire ? Est-ce que tu te mets en colère ? Te-tu sens ennuyé, irrité ou grincheux .Est-ce qu’il t’arrive de refuser que faire ce qu’on t’a demandé ? Ou le fais-tu avec une mauvaise volonté évidente ? D’après toi, que ferait Dieu s’il demandait à quelqu’un de faire quelque chose pour lui et que cette personne essayait de se défiler .

Mais, pour quoi l’évangile est un message subversif ?

Ce que je voudrais exposer ici, brièvement, c’est le caractère subversif de cet évangile annoncé par Jésus.En même temps, j’évoquerai la façon dont l’Église chrétienne, dès le second siècle, a peu à peu édulcoré, changé et perverti cet évangile, subversif de Jésus. Comment ? Il lui a suffi d’abandonner l’attente enthousiaste du retour proche de Jésus et de l’avènement du royaume de Dieu. Il lui a suffi « d’abandonner son amour du début. » ( Apocalypse 2. 4 ) et de s’installer progressivement dans le « train de ce monde » en y devenant une Puissance. Mais n’oublions pas de rappeler d’abord le sens du mot: « subversif ». Le dictionnaire ( petit Robert ) définit l’adjectif « subversif » en disant: « qui renverse ou qui détruit l’ordre établi; qui est susceptible de menacer les valeurs reçues ». C’est ainsi, dit-il qu’on parle « d’idées subversives ou d’activités subversives”, surtout dans le domaine politique.

À partir de là peut-on appliquer à l’Évangile de Jésus le qualificatif de « subversif » ? Bien sur que oui, dès qu’on comprend que l’arrivée du règne de Dieu va mettre le point final, sur la terre, au règne des pouvoirs humains qui s’y exercent. Certes l’évangile ne prêche pas une révolution violente ou l’établissement d’un « ordre établi » ! 

Jésus ne cherchait absolument pas à renverser et à détruire par la force les pouvoirs établis qui dirigeaient son peuple, soit le pouvoir de la caste des prêtres du Temple soit le pouvoir de la puissance étrangère des Romains. Certes par sa parole, et par les signes qui l’accompagnent, il combat sans faiblesse le péché des chefs religieux et politiques. Mais cette parole est radicalement non-violente, tout comme Jésus lui-même est totalement non-violent. Il n’est pas un révolutionnaire au sens classique du terme et, lors de son arrestation, il désarme Simon-Pierre qui a commencé à utiliser son épée. Mais il est même temps tout le contraire d’un mou, d’un passif, d’un religieux fuyant le monde et laissant se poursuivre sur la terre le règne de la force, de la puissance et de l’argent. 

Non, Jésus est le combattant suprême contre le mal, mais il laisse à son Père le soin de faire justice et de réprimer les méchants. Il se place au coeur de ce combat sans merci qui oppose d’un côté le seigneur Dieu et ses prophètes et de l’autre, le monde des hommes, leurs pouvoirs et le pouvoir laissé au « prince de ce monde », le diable ( Mathieu 4 8). Et les violents vont poursuivre jusqu’au crime leur tentative d’empêcher le règne de Dieu d’advenir, jusqu’à assassiner Jésus. Car ce qui déclenche la fureur des puissants, c’est précisément la présence et la parole de cet obscur galiléen qui se met à crier partout, « l’arrivée du grand jour de l’Éternel », l’arrivée du « Royaume » qui va mettre fin, sur la terre sainte, au règne des pouvoirs, des autorités et des dominations qui écrasent et asservissent les enfants de Dieu.

Nous comprenons donc pourquoi l’évangile de Jésus est si subversif. C’est parce que, ni plus ni moins, il annonce le jugement et la disparition des pouvoirs de ce monde, ceux qui règnent sur les non-juifs ( les « païens ») et ceux qui règnent sur le peuple juif. Et nous devons faire la question : est-ce qu’il existe des gens qui ne méritent pas le pardon de Dieu ? C’est en tout cas ce que pensait Jonas à propos des habitants de Ninive. Il n’était pas du tout content quand Dieu a fait preuve de bienveillance et leur a donné quelque chose qu’ils ne méritaient pas. Dieu peut pardonner à quelqu’un qui a fait quelque chose de vraiment mal. Il a entendu leurs prières et les a laissés intacts, eux et leur ville. 

Le pardon de Dieu est réellement pour tout le monde. C’est la royauté et le royaume de Dieu qui sont subversifs ! Surtout quand ils sont annoncés pour l’immédiat, pour le très court terme !


_________________

* Georges Siguier : 14 rue St Jacques 81 200 Mazamet , pasteur église réformée. (à la retraite.)

vendredi 17 avril 2020

Protestantisme libéral

Le protestantisme libéral
par André Gounelle


Sommaire :


1) Comprendre ce que l'on croit
2) Etude critique de la Bible
3) Ecouter le message de Jésus
4) Ouverture aux autres religions
5) Un individualisme ouvert et positif
6) La relativité des doctrines
Conclusion

On m'a demandé de vous présenter le protestantisme libéral, courant auquel je me rattache. Je me garderai bien d'en faire un historique, ce serait long et peut-être fastidieux, mais je tiens cependant à souligner qu'il ne s'agit pas d'un courant nouveau, apparu depuis peu. Le protestantisme libéral a des racines au seizième siècle, et peut se réclamer, par exemple, de Sébastien Castellion et de Fausto Socin. Castellion, un libre croyant très attaché à la Bible, a vivement protesté contre l'exécution de l'hérétique Michel Servet à Genève en 1553, et a défendu contre Calvin le principe de tolérance. Socin, un italien non conformiste, a fondé une Eglise anti-trinitaire en Pologne, où il est mort en 1604. Le libéralisme s'est développé aux dix-huitième siècle dans l'atmosphère de la philosophie des Lumières qui lui convenait bien. Il a joué un rôle très important dans le protestantisme du dix-neuvième siècle, et a, en particulier, contribué à l'essor d'une étude historiquement rigoureuse de la Bible. Des hommes comme Charles Wagner lui ont donné de l'éclat et ont fait rayonner sa spiritualité bien au-delà des frontières du protestantisme. Au vingtième siècle, il a reculé, vivement combattu, entre autres, par la théologie de Karl Barth. Il a subi de profondes transformations sous l'influence de penseurs comme Albert Schweitzer, Rudolf Bultmann et Paul Tillich.

L'étiquette libéralisme, est vague, peu précise. Dans le langage courant, elle recouvre quantité de marchandises, pas toutes de bon aloi. On l'utilise en philosophie, en politique, en économie, dans le domaine de l'éducation et dans celui de la religion en général. On l'applique à des mouvements divers dont certains n'ont à mes yeux rien de libéral. Je m'en tiendrai au protestantisme libéral. Il est lui-même difficile à définir à cause de sa diversité. Chez les protestants libéraux, on trouve des positions parfois très différentes, qui vont du rationalisme au mysticisme, ou de l'ésotérisme à l'agnosticisme, du. symbolo-fidéisme à l'existentialisme, de l'intellectualisme au sentimentalisme. Ils ont, cependant, en commun, me semble-t-il, un «esprit» caractérisé par un certain nombre de préoccupations et d'attitudes. Je vais indiquer les six qui me paraissent les plus importantes et les plus caractéristiques.
1. Comprendre ce que l'on croit

En premier lieu, le protestantisme libéral se veut en quête d'une foi intelligente ou d'une intelligence croyante. Il refuse tout divorce entre la religion et la réflexion. On rencontre dans le christianisme quantité de courants, au demeurant tout à fait respectables, qui voient dans la foi une rupture avec les logiques humaines, un saut dans l'irrationnel, une acceptation d'un mystère indépassable. Ces courants opposent, comme le faisait Pascal, le Dieu d'Abraham, d'Isaac, de Jacob, au Dieu des philosophes et des savants. Dans leur perspective, la révélation biblique n'a rien de commun avec la pensée philosophique, et la foi demande qu'on impose silence à la raison, qu'on s'abêtisse, comme dit encore Pascal dans un mot terrible, ou que l'intelligence se soumette.

Le protestantisme libéral se soucie, au contraire, de continuité, de cohérence, de corrélations et de correspondances. Il dialogue avec la culture. Sans nier qu'il y ait du mystère, sans confondre la foi et la raison, il cherche à les faire se rencontrer et collaborer. Comme l'écrit Tillich :“Contre Pascal, je dit: le Dieu d'Abraham, d'Isaac et de Jacob et le Dieu des philosophes est le même Dieu”.

Albert Schweitzer illustre bien cette première préoccupation et orientation. Il souligne que la pensée est très menacée dans notre monde. La société moderne ne fait pas très grand cas de la réflexion ; elle lui préfère l'action et la technique. Elle cherche l'efficacité, la rentabilité ; elle se méfie de ceux qui s'interrogent, qui posent des questions, qui mettent en cause ses postulats. Ils troublent, dérangent, perturbent, et on les écarte autant que possible. De plus, la vie moderne consomme énormément de temps. Elle fait de nous des êtres agités et superficiels. Quantité de choses, aussi intéressantes les unes que les autres, nous sollicitent. Nous sommes sans cesse obligés de nous dépêcher, d'aller vite, de sauter d'une occupation à une autre, dans une sorte de perpétuel zapping». De plus, la pensée nous fatigue, souvent nous trouble, nous inquiète, et nous dérange. Pourtant, elle fait la grandeur et la dignité de l'être humain. Y renoncer revient à appauvrir, à mutiler notre humanité.

La religion a besoin de la pensée pour ne pas s'égarer ou se rabougrir. La spiritualité trouve en elle non pas un adversaire, mais une alliée précieuse, voire indispensable. La raison bien conduite, la raison authentique, la raison raisonnable n'est pas, en effet, rationaliste. Elle reconnaît que quantité de choses lui échappent, qu'elle est incapable de percer le mystère de l'univers et de la vie. Elle accepte ses propres limites, et donc l'existence de dimensions qui la dépassent. Cependant, elle entretient un esprit de critique et d'ouverture. Elle empêche de croire, de dire ou de faire n'importe, quoi.

Actuellement, on voit apparaître des formes de piété émotives et exubérantes, que les sociologues qualifient de «chaudes». Elles cultivent l'affectivité, et elles craignent la pensée. On voit aussi se développer des groupes très dogmatiques, des courants intégristes qui enseignent à leurs adhérents ce qu'ils doivent faire, affirmer, et qui les dispensent donc de l'effort de chercher, de réfléchir, de juger, de se faire par eux-mêmes une opinion. Ils offrent le confort et la paresse des certitudes toutes faites. Ils épargnent des remises en question et des interrogations parfois pénibles. Pour le protestantisme libéral, le croyant est toujours quelqu'un en quête de la vérité, quelqu'un qui ne la possède pas, mais qui doit sans cesse la découvrir, et, une fois qu'il l'a découverte, l'explorer. La foi a, certes, besoin de ferveur, de conviction et de sentiments ; bien sûr, elle expérimente l'ineffable ou l'incompréhensible, et elle respecte le secret ou le mystère de Dieu. Mais n'oublions pas que la Bible nous demande d'aimer Dieu non seulement de tout notre coeur et de toutes nos forces, mais aussi de toute notre pensée. Loin d'affaiblir et de menacer la foi, là réflexion l'approfondit et,la consolide. Elle constitue la meilleure défense contre les extrémismes politiques et les intégrismes religieux qui nous guettent et nous menacent.
2. L'étude critique de la Bible.

Le protestantisme libéral présente une seconde caractéristique sur laquelle on a beaucoup mis l'accent jusqu'au milieu du vingtième siècle, qu'on a fait passer avant les autres. Il s'agit, de l'importance qu'il donne à l'étude historique de la Bible, et principalement à celle du Nouveau Testament. Beaucoup de chrétiens ont tendance à voir dans la Bible un texte révélé, sinon dicté littéralement, du moins directement inspiré par Dieu. Contre cette tendance, il faut rappeler que la Bible n'est pas la révélation de Dieu, mais le témoignage rendu par des hommes à cette révélation. Elle se compose d'un ensemble de livres qui nous disent comment des êtres humains ont reçu et compris ce que Dieu a fait et a dit.

On sait que Jésus n'a jamais rien écrit. Nous ne le connaissons que par ce que nous ont rapporté ses disciples. Leurs idées, leurs connaissances, leurs doctrines, se reflètent dans leurs récits, orientent, et parfois déforment leur témoignage. Il faut donc à travers les seuls documents dont nous disposons, les écrits du Nouveau Testament, découvrir ce qu'ont été la prédication et la personnalité de Jésus. Cette enquête doit se poursuivre selon les méthodes historiques les plus rigoureuses ; elle exige une étude attentive du texte ; elle demande une connaissance approfondie du contexte ; elle propose plus souvent des hypothèses vraisemblables que des certitudes. Menée avec science et intelligence depuis deux siècles, elle a abouti à des résultats que certains jugent dangereux, et que d'autres estiment positifs.

Pour donner un exemple, dans un petit livre, publié il y a une vingtaine d'années, A. Malet soutient que les récits de .Noël sont des romans à thèse. Ils ont été fabriqués pour établir la supériorité de Jésus sur Jean Baptiste, et pour présenter Jésus comme un, nouveau Moïse : son père est un Joseph qui a des songes, comme le Joseph qui dans l'Ancien Testament précède Moïse; sa naissance s'accom- pagne également d'un massacre d'enfants ; il va en Egypte et en revient ; les mages s'inclinent devant lui comme les magiciens d'Egypte devant Moïse. Bref, il faut voir dans le récit de la naissance de Jésus un démarquage d'histoires de l'Ancien Testament concernant Moïse. N'accusons cependant pas les évangélistes de fraude ou de malhonnê- teté. Il ont utilisé un procédé littéraire courant à leur époque et admis de tous.

Des études de ce genre ont amené des réactions très violentes de la part des chrétiens qui ont estimé qu'elles détruisaient l'autorité de l'Ecriture et qu'elles ébranlaient la foi. Au contraire, les libéraux considèrent que le premier choc passé, elles apportent un enrichissement et un approfondissement de notre lecture et de notre compréhension de la Bible. S'apercevoir que le récit'de Noël de Matthieu a pour but non pas de raconter des faits, mais de présenter Jésus comme un nouveau Moise, non seulement n'affaiblit pas sa valeur, mais permet de discerner son véritable message, sa véritable portée. Au delà de lectures habituelles, conformistes et paresseuses qui passent à côté de ce que le texte veut dire, la critique nous fait découvrir la Bible dans sa vérité, et lui donne beaucoup plus de sens et de valeur. Elle ne détruit pas le principe de l'autorité de l'Ecriture, mais oblige à le reprendre, à le repenser autrement.
3. Ecouter le message de Jésus.

J'en arrive à la troisième orientation caractéristique du protestantisme libéral. La tradition chrétienne et les Eglises ont accordé plus d'importance à la personne de Jésus qu'à son enseignement. L'enchaînement du second article du symbole dit des apôtres, qui parle du Christ, est à cet égard significatif :"il a été conçu du Saint Esprit, il est né de la Vierge Marie, il a souffert sous Ponce Pilate, il a été crucifié, il est mort, il est descendu aux enfers ; le troisième jour, il est ressuscité..." On mentionne d'un côté sa conception et sa naissance, de l'autre sa mort et sa résurrection, et on fait silence sur ce qui s'est passé entre-temps.

Pour beaucoup de protestants libéraux, au contraire, les évènements (qui souvent sont des enseignements sous forme de récit plus que des reportages ou des récits de type historique), passent au second plan. On ne peut pas se contenter, comme le symbole dit des apôtres, de déclarer que Jésus est né et qu'il est mort ; sa naissance et sa mort n'ont d'intérêt qu'à cause de ce qu'il a été. L'essentiel de l'évangile se trouve dans ce que Jésus a dit, dans la manière dont il présente l'action et la présence de Dieu, dans sa conception de l'existence humaine, dans ce que signifie pour lui la foi, dans ce qu'il demande à ses disciples de faire, dans la manière dont lui-même agit et se comporte. Le message compte plus que le messager. La théologie protestante classique estime que le Christ remplit trois fonctions ou offices ; un office royal (il règne et dirige le monde) ; un office sacrificiel (il s'offre en sacrifice pour le salut des humains), sur lequel le piétisme et l'orthodoxie protestantes ont mis l'accent ; un office prophétique (il prêche et enseigne). Certains courants du catholicisme et de l'orthodoxie orientale privilégient l'office royal. Le protestantisme orthodoxe met surtout l'accent sur la mort du Christ, sur le sang versé pour nos péchés, sur sa mort expiatoire. Au contraire, un des prem,iers textes du protestantisme libéral, le catéchisme socinien de Rakow, en 1605, insiste principalement sur la fonction prophétique de Jésus (c'est-à-dire sur sa fonction de prédicateur et d'enseignant), à qui il accorde plus d'importance qu'à la mort sur la Croix. Certains libéraux pensent que la crucifixion de Jésus s'explique par les circonstances historiques ; elle n'est pas une nécessité théologique pour le salut de l'être humain. Certes, plusieurs passages du Nouveau Testament parlent de la mort de Jésus comme d'un sacrifice de bonne odeur offert à Dieu (expression horrible) ; ils la présentent comme le prix à payer afin de nous racheter et de nous libérer. Mais il faut voir que ces textes utilisent des images qu'explique et qu'éclaire le contexte du premier siècle. Ce sont des paraboles qu'on a tort dé prendre à la lettre. Celle du prix payé convenait bien dans un monde où le marché des esclaves était une réalité quotidienne et banale, où l'on faisait commerce avec des vies humaines et où la liberté s'achetait. Celle de la victime tuée sur un autel avait de la pertinence à une époque où, partout et tout le temps, on sacrifiait à des divinités pour obtenir leur indulgence et leur faveur. Les auteurs humains du Nouveau Testament ont utilisé les figures et illustrations qui correspondaient aux coutumes et à la culture de leur temps. Par contre, elles conviennent mal aux nôtres, et elles nous cachent l'essentiel, à savoir que Jésus agit et nous sauve essentiellement par sa parole.

De manière caractéristique, le libéral américain John Cobb ,a écrit sur Jésus un livre où il étudie longuement son oeuvre et sa prédication ou son enseignement, mais où il ne consacre que quelques lignes à sa mort. Selon lui, même si Jésus n'avait pas été crucifié, il aurait cependant été le Christ, le messie et le sauveur p ar l'exemple qu'il donne et par le message qu'il proclame.

Ce message, Jésus lui-même l'a formulé dans des catégories de pensée qui sont celles de son temps, et qui ne correspondent plus à notre époque. Il faut donc l'adapter, l'actualiser, le «démythologiser» selon l'expression de Bultmann, ce qui ne veut pas dire le transformer, mais le maintenir vivant, lui conserver sa pertinence, l'appliquer à notre existence. Schweitzer a tenté de la faire en parlant du «respect de la vie», qui n'est rien d'autre, pour lui, que le coeur de la mystique et de l'éthique de Jésus formulé en termes contemporains. Il rejoignait là 1'une.des grandes préoccupations de Charles Wagner qui, comme Schweitzer, a essayé de formuler le message de Jésus dans un langage quasi laïc, et de développer une morale et une spiritualité à la fois fidèles à l'évangile et ouvertes au monde contemporain.

J'ai employé les termes «éthique» et «morale». Il ne faut pas établir une équivalence entre libéralisme et laxisme du comportement. Ecouter Jésus signifie le suivre, lui obéir. Certains libéraux, comme Wilfred Monod, ont proposé d'accorder plus d'importance à l'orthopraxie (à la bonne conduite) qu'à l'orthodoxie (à la bonne doctrine). Certes, le libéral entend ne pas juger ni condamner les autres ; mais il se veut exigeant pour lui-même. Son écoute du Christ se traduit dans sa manière de vivre.
4. Ouverture aux autres religions

Je passe à une quatrième préoccupation ou orientation caractéristique du protestantisme libéral. Le christianisme classique a condamné sévèrement les religions non chrétiennes. Il n'y a vu qu'un amas de sottises et d'horreurs. Il affirme qu'il n'y a pas d'autre révélation que celle dont témoigne la Bible. Ce que l'on trouve ailleurs est faux, mensonger, peut-être diabolique, et on doit'le rejeter catégoriquement. Les croyants des autres religions sont, selon une expression longtemps employée, des infidèles. Beaucoup de libéraux, au contraire, pensent que Dieu agit et se manifeste partout dans le monde, et qu'on trouve chez les autres d'authentiques valeurs spirituelles. Quand le Dalaï Lama vient en Europe, allons-nous au nom du Christ et de l'évangile nous détourner de lui, refuser d'écouter ce qu'il veut nous dire, et voir en lui un impie ou un idolâtre ?

La Bible ne nous conduit pas du tout à un tel exclusivisme, bien au contraire. Dans le livre de la Genèse, on raconte qu'Abraham demande à Melchisedek, un prêtre païen, de le bénir. L'Ancien Testament contient de nombreux textes qui s'inspirent des religions égyptiennes, babyloniennes ou iraniennes ; les prophètes et les sages d'Israël n'ont jamais considéré qu'il n'y avait rien de bon chez les autres, et qu'il ne fallait pas écouter ce qu'ils disent. Dans le Nouveau Testament, des mages qui rendaient un culte aux astres, viennent à Bethléem. Jésus admire la foi d'un officier romain, probablement polythéiste. Paul déclare à Lystre que nulle part Dieu ne s'est laissé sans témoignage. A Athènes, il cite des poètes et des philosophes païens.

Dans cette ligne, s'appuyant sur ces exemples, de grands théologiens libéraux comme Troeitsch, Schweitzer, Tillich, Hick, Cobb, se sont préoccupés du dialogue interreligieux, et une association d'inspiration libérale, 1'l.A.R.F., travaille depuis le début de notre siècle à le promouvoir et à le développer. Ce dialogue pose de nombreux problèmes ; il

S’agit d'une tâche difficile qu'il faut entreprendre dans la clarté et l'ouverture. Le protestantisme libéral n'entend certes pas tout mélanger. Il ne veut pas abandonner ou abâtardir le message évangélique, qui reste pour lui la référence privilégiée et la norme de la foi chrétienne. Mais, il se refuse à mépriser et à écarter les spiritualités non chrétiennes. Il estime que si les chrétiens ont des choses à apporter aux autres, ils en ont aussi à recevoir d'eux.
5. Un individualisme ouvert et positif.

Mon cinquième point porte sur l'individualisme que l'on reproche souvent au libéralisme. On l'a accusé de manquer du sens de l'Eglise, ou de la communauté. Pourtant les libéraux ont toujours travaillé dans et pour l'Eglise ; ils ont, en particulier, activement contribué au lancement entre les deux guerres du mouvement oecuménique. Ils se sont aussi beaucoup souciés de questions sociales. Ils ne préconisent pas un individualisme fermé et négatif, où l'on ne pense qu'à soi et où on néglige les autres. Ils plaident pour une autre forme d'individualisme, celle-ci ouverte et positi-ve, que définissent trois éléments :

- D'abord, la responsabilité personnelle. Chacun a le droit et le devoir de prendre position pour son compte. Il n'a pas à se fondre dans un ensemble, ni à laisser d'autres parier ou se prononcer à sa place. Mes décisions, mes actions, mes paroles sont toujours miennes et m'engagent person-nellement. Je n'ai pas à me retrancher derrière les consignes reçues, les opinions dominantes, les déclara-tions des autorités, Il m'incombe de prendre parti. Le libéral rie peut pas dire comme en 1526 l'évêque Guillaume Petit :"Je crois sainte mère l’église et plus ne m'enquiers". Il a à s'enquérir.

- Ensuite, le refus de condamner et de rejeter ceux qui ne pensent pas comme nous, même si on a le sentiment qu'ils se trompent. On peut et on doit certes discuter avec eux, essayer de leur expliquer et de les convaincre. On n'a pas le droit de leur imposer silence, de les obliger à se soumettre ou de les traiter avec mépris. Il faut accepter la différence et la divergence par respect de l'autre. Là où l'erreur n’est pas libre, disait le suisse Alexandre Vinet, la vérité ne l'est pas non plus. C'est pourquoi d'ailleurs les groupes libéraux sont en général pluralistes ; on y admet des opini.ons et des positions très diverses.

Enfin, le sentiment que les institutions, civiles ou ecclésiastiques, n’ont qu'une valeur relative. Cela ne veut pas dire qu'on ne. leur accorde pas d'importance, mais qu'on tient a ce qu'elles soient au service des personnes et non les personnes à leur service. En particulier, l'Eglise n'a pas a dicter à ses membres leurs croyances et leurs attitudes elle n'a pas à leur imposer une dogmatique ou une morale. Elle a pour rôle de les aider à se forger des convictions et des positions personnelles.
6. La relativité des doctrines

Je m'attarde un peu plus sur le sixième point, parce qu'il me semble fondamental. Pour le protestantisme libéral, il n’existe pas de dogmes, c'est à dire des définitions intangibles qui exprimeraient une fois pour toutes et de manière pleinement satisfaisante la vérité. Il y a seulement des doctrines, autrement dit des essais approximatifs et révisables, qui tentent de formuler dans- un temps et dans un lieu donnés la manière dont on reçoit et perçoit la vérité. Le dogme est objet de foi, la doctrine expression de la foi. Pour expliquer cette distinction entre l'objet et l'expression de la foi, je prends un exemple, celui de la trinité.

Cette doctrine à été définie par des conciles des quatrième et cinquième siècles. Elle affirme que Dieu est une essence ou une substance (en grec «ousia») en trois personnes (en grec «prosopon» ou «upostasis») consubstantielles (en grec «omousios»). On ne trouve évidemment pas ces concepts, ces termes, dans le Nouveau Testament; ils sont aussi étrangers au vocabulaire et à la pensée modernes. Ils appartiennent à la philosophie grecque de l'antiquité tardive. La doctrine trinitaire naît d'un effort pour exprimer dans le langage de la culture helléniste le message évangélique. Cet effort me paraît tout à fait légitime, et je crois que les Conciles ont eu raison de l'entreprendre, même si le résul-tat ne me paraît pas tout à fait convaincant et si, à mon sens, d'autres formulations, celles proposées par Arius par exemple, auraient sans doute aussi bien convenu.

A partir de là, commence une dérive. Parce qu'adoptée par des Conciles, parce que promulguée par les autorité civiles et ecclésiastiques, parce que sacralisée et canonisée par les siècles, la doctrine trinitaire, d'expression de la foi chrétienne, est devenue objet de foi. On a considéré que les formules qu'elle emploie sont obligatoires en tous temps et en tous lieux, qu'elles s'imposent à tous les fidèles, qu'il faut obligatoirement y croire ou y adhérer pour être chrétien, qu'elles définissent très exactement l'être de Dieu. Pour désigner le Dieu de l'Evangile, le Dieu de Jésus -Christ, on parle du Dieu trinitaire, comme le font abondamment les textes oecuméniques actuels (beaucoup plus que les textes d'il y a cinquante ans). Et là les protestants libéraux ne sont plus d'accord, pour deux raisons :

- D'abord,parce que l'on confond ce que nous disons de Dieu, notre langage sur Dieu, notre manière de le représenter, avec la réalité même, avec l'être même de Dieu. Il y a là une prétention inacceptable. Il existe toujours une différence et une distance entre ce que Dieu est, et ce que nous en disons. Nous ne pouvons pas le définir, l'enfermer dans nos formules. Il dépasse toute intelligence. Dans le dogmatisme qui prétend posséder la vérité sur Dieu, se cache une idolâtrie : on se fait une image de Dieu et on l'adore.

- Ensuite, pour le libéralisme, notre témoignage, notre tâche aujourd'hui, ne consistent pas à répéter des formules d'une autre époque, qui sont devenues désuètes et'incompréhensibles, mais à traduire le message évangélique dans le langage culturel d'aujourd'hui, en tenant compte de nos .connaissances historiques, scientifiques, psychanalytiques, etc., de nos manières de vivre et de penser. Ce qu'ont fait les conciles à leur époque, il nous faut le faire à la nôtre, en sachant que nous n'aboutirons jamais à des formules définitives, que toute expression de la foi, même si elle se réfè-re à un absolu, est, relative.

On pourrait comparer les doctrines à des cartes de géogra-phie. On en a besoin pour se situer et s'orienter , mais aucune n'est totalement juste, parce qu'elles figurent toutes une sphère, le globe terrestre, sur une surface plane. A la fois, elles expriment et déforment la réalité qu'elles veulent représenter. De plus, une carte répond à un besoin, pas à d'autres : la même carte ne peut pas servir à préparer un voyage en auto, à étudier l'économie d'un pays et à déterminer le site d'atterrissage d'un vaisseau spatial. Quand on utilise une carte pour autre chose que ce pour quoi elle est faite, ou dans une situation que celle qu'on avait prévue en l'établissant, elle risque d'égarer. Il en va de même des doctrines. Ce qu'elles disent est vrai, mais seulement jusqu'à un certain point et dans un cadre limité. Quand ont l'oublie, on tombe dans l'idolâtrie de la doctrine. Il faut avoir conscience de leur relativité, sans tomber dans le scepticisme ou le relativisme total ; elles visent, sans jamais totalement y parvenir, à exprimer une vérité absolue.

Même s'ils se soucient plus de l'actualisation du message évangélique que de la tradition doctrinale et ecclésiastique, il ne faut pas dire que les protestants libéraux rejettent ou condamnent cette dernière. Ils cherchent à l'interpréter, à la comprendre et à la transposer, ils la soumettent à une réflexion critique qui derrière le langage employé se préoccupe de son sens profond. Pour eux, la doctrine essaie de dire, aussi bien que possible, dans le contexte où l'on se trouve, ce que l'on croit, en sachant que toute formulation de la foi est approximative, relative et révisable, et qu'il y a toujours plusieurs formulations possibles.
Conclusion

Après avoir indiqué ces six caractéristiques essentielles du protestantisme libéral, il me faut maintenant conclure. Quand on esaie d'évaluer le protestantisme libéral, quand on se demande. quelle place il occupe et quel rôle il peut jouer dans le monde d'aujourd'hui, lorsqu'on s'interroge sur sa -pertinence face aux problèmes et défis de notre temps, on s'aperçoit que les opinions sur ces points sont très par-tagées, et que l'on donne à ces questions deux réponses très différentes, voire opposées.

1 . Pour les uns, le protestantisme libéral, s'il a mené naguère des combats nécessaires, n'a plus aujourd'hui grand sens, parce qu'il enfonce des portes largement ouvertes. La grande majorité des chrétiens ne partagent-ils pas les préoccupations et orientations que je viens de défi-nir, alors qu'ils ne se considèrent nullement comme libé-raux ?

Cette première réponse ne manque pas de pertinence et de justesse. On rencontre beaucoup de libéraux qui s'igno-rent, voire qui refusent cette étiquette. Dans les Eglises, les idées libérales ont largement fait leur chemin, se sont en grande partie imposées. Dans aucune Faculté de théologie par exemple, on ne conteste actuellement la nécessité d'une critique historique de la Bible. Toutes les grandes Eglises s'interrogent sur les possibles révisions de leurs doctrines, et s'intéressent au dialogue entre religions. Un orthodoxe du siècle dernier qui reviendrait parmi nous esti-merait probablement que le libéralisme a triomphé dans le protestantisme et s'est largement répandu dans le catholi-cisme.

Toutefois, deux remarques viennent nuancer ce constat, et conduisent à affirmer que le libéralisme a encore un rôle à jouer, une mission à remplir. .

- D'abord, le libéralisme ne cherche pas à constituer un parti ecclésiastique ou un groupe particulier, mais à diffuser des idées, à entretenir des débats, à maintenir une attitude d'ouverture. Cette tâche-là n'est jamais achevée ; elle doit être reprise à chaque époque. Si certaines des idées du protestantisme libéral se sont répandues, au point qu'on considère qu'elles ne lui appartiennent plus, tant mieux. Il n'en demeure pas moins qu'elles sont toujours menacées, et qu'il faut travailler à les maintenir. A quoi il faut ajouter qu'au delà des idées, les attitudes libérales, pourtant plus importantes, restent peu fréquentes. On n'est pas libéral une fois pour toutes ; on le devient à chaque instant par un effort et une victoire sur soi-même.

- Ensuite, dans le monde chrétien, les positions libérales demeurent minoritaires. On le constate à la conférence des Eglises d'Europe, et au Conseil Oecuménique des Eglises (où on est plutôt mai reçu si on critique par exemple, le dogm e trinitaire, si on y voit une expression discutable et relative, et non le fondement de la foi chrétienne).

2. La seconde réponse se situe à l'opposé de la première, en ce sens que pour elle le libéralisme n'a pas gagné, mais perdu la partie. Nous voyons aujourd'hui en effet proliférer de multiples sectes qui ont beaucoup de succès, qui attirent quantité de gens, alors que les grandes Eglises semblent plutôt perdre du terrain et voient leur influence décliner ; ne faut-il pas attribuer leur recul aux idées et attitudes libérales qui les imprègnent ? Et dans l'ensemble du monde religieux, on assiste à un développement impressionnant des courants fondamentalistes et à la montée de divers intégrismes.

Comment expliquer cela ? Je crois que cela tient en grande partie à la dureté et à l'insécurité du monde moderne. Beaucoup de nos contemporains sont déstabilisés et désorientés par des évolutions trop rapides, par les menaces de toutes sortes qui pèsent sur nous, la menace du chômage. celle de maladies inquiétantes comme le Sida, celle de la violence dans nos ville et dans le monde, celle d'une destruction écologique de notre planète. Les médias nous donnent une conscience aigüe de cette situation, et nous la vivons mal. Alors, nous éprouvons le besoin d'une religion qui nous rassure, qui nous tranquillise, qui nous donne des certitudes fortes. C'est ce que font les mouvements intégristes et les sectes. Ils dispensent de réfléchir, de choisir, par leurs slogans, par leurs rites, par les communautés solidement structurées qu'ils forment, ils soulagent l'angoisse sourde qui habite nos contemporains. Il faut bien reconnaître qu'en tout cas, dans un premier temps, le libéralisme l'avive en demandant aux gens de réfléchir de choisir de s'engager individuellement, de prendre leur responsabilité sans s'en décharger sur le groupe. Et sous cet angle-là. le libéralisme se situe effectivement à contre-courant. Mais de ne pas être à la mode, de ne pas aller dans le sens de la pente, lui donne de la pertinence. On a trop vu dans le libéralisme une adaptation du christianisme au monde contemporain, en en oubliant qu'il réagit aussi contre les tendances de notre temps ; que certes, il leur porte attention et s'ouvre à elles, mais qu'également il les critique. Précisément, à cause de cela, il peut agir comme un contre-poison, en empêchant de céder trop vite à des facilités, à des paresses, à des tentations qui ne sont pas dépourvues de danger. Le combat libéral me semble donc ne rien avoir perdu de sa nécessité et de son actualité. Ce combat ne me paraît pas plus difficile qu'autrefois et naguère. Il s'agit de lutter contre soi-même, contre ses propres tendances autori- taires, de se battre pour maintenir l'ouverture et la recherche en dépit du confort des idées toutes faites. Je parle de combat ; je tiens cependant à signaler que le pro- testantisme libéral ne cherche nullement à susciter des .luttes et à entretenir des polémiques. Il veut maintenir une réflexion, participer à ses débats qu'il souhaite fraternels, même avec ses adversaires, dont il peut comprendre les craintes et écouter les critiques. Il entend partager avec tous des compétences, des recherches, des questionne- ments. Il ne se considère pas comme un but, mais comme un moyen, un instrument au service des hommes de bonne volonté, libres penseurs ou. libres croyants. Il ne prétend pas les enrégimenter sous sa bannière, mais dialoguer avec eux, les aider dans la mesure de ses possibilités, et aussi recevoir et apprendre.d'eux.



André Gounelle
(causerie donnée à l'Eglise du Musée le 6 février 1994 à Bruxelles)
CAHIER EVANGILE ET LIBERTE N' 134 Octobre 1994