jeudi 14 mai 2020

As fronteiras da igualdade e da liberdade

Quando analisamos os conflitos vividos pelas primeiras comunidades cristãs na Galácia, geradas pelas desigualdades raciais e religiosas (judeu/grego), sociais (escravo/livre) e de sexo (homem/mulher), vemos que o apóstolo Paulo propõe uma radical transformação daquela situação: que a unidade da igreja em Cristo leve as comunidades cristãs a viverem em igualdade e liberdade. Na verdade, o apóstolo propõe, em última instância, que as divisões entre irmãos e irmãs, oriundas de raça, condição social ou sexo, não existam nas comunidades cristãs.

As fronteiras da igualdade e da liberdade:
o amor e a unidade
Pr. Jorge Pinheiro



“Pois, por meio da fé em Cristo Jesus, todos vocês são filhos de Deus. Porque vocês foram batizados para ficarem unidos com Cristo e assim se revestiram com as qualidades do próprio Cristo. Desse modo não existe diferença entre judeus e não-judeus, entre escravos e pessoas livres, entre homens e mulheres: todos vocês são um só por estarem unidos com Cristo Jesus”. (Carta aos Gálatas 3.26-28. Nova Tradução da Linguagem de Hoje, SBB).

Esses versículos do apóstolo Paulo são a chave para se entender a carta aos Gálatas. É a partir dela que Paulo discorre sobre a possibilidade da superação das desigualdades raciais e religiosas, sociais e de sexo na igreja. E o fundamento do argumento do apóstolo é a unidade em Cristo, que possibilita a igualdade e liberdade, e que conduz à unidade do corpo de Cristo.

Assim, Gálatas 3.26-28, coração da carta aos Gálatas, faz uma proposta de abertura de fronteiras, de derrubada de muros, de superação de conflitos e antagonismos que dividiam a igreja.

Três questões desafiadoras

Sem dúvida, Paulo apresenta questões desafiadoras para nós batistas. Podemos dizer que as disparidades econômicas e sociais, étnicas e de sexo estão presentes nas igrejas, mesmo quando não desejamos, nem concordamos com essas posturas. Às vezes, é a discriminação aos irmãos afrobrasileiros ou brasilíndios, às vezes é a discriminação aos irmãos migrados de regiões mais pobres, às vezes é a discriminação aos pobres ou mesmo a discriminação de nossas irmãs, apenas por pertencerem ao sexo feminino. Por isso, este texto de Paulo tem hoje tanta atualidade quanto na época em que o apóstolo escreveu.

Converse com a classe sobre as desigualdades raciais, sociais e de sexo na sua cidade. E, por acaso, se ela existe também na sua igreja. Caso exista convide a classe a orar para que o amor em Cristo supere todas as diferenças e preconceitos e mantenha a unidade da igreja.

Lembre a seu povo:

“Saulo foi para Jerusalém e tentou juntar-se aos seguidores de Jesus. Porém todos tinham medo dele porque não acreditavam que ele também era seguidor de Jesus”. Atos dos Apóstolos 9.26.

O Novo Testamento mostra que as igrejas são um projeto de Deus para todos os seres humanos que aceitarem a Jesus como Senhor e Salvador. Isso significa que mesmo aqueles que são diferentes de nós também serão chamados.

O desafio da igualdade e da liberdade

Somos desafiados por essas duas questões, a igualdade e a liberdade. Como vimos, na época de Paulo, as contradições nas comunidades da Galácia do Norte eram geradas por disparidades raciais, sociais e de sexo, mas o apóstolo Paulo acreditava que podiam ser superados pelo amor e pela unidade em Cristo.

O padre Antonio Vieira, um dos maiores pregradores em língua portuguesa, disse no Sermão do Mandato (1643), que “o amor não é união de lugares, senão de vontades; se fora união de lugares, pudera-o desfazer a distância, mas como é união de vontades, não o pode esfriar a ausência”. E explicou que a ausência maior que temos é a de Cristo, que voltou para o Pai, mas que está conosco todos os dias através do Espírito. Por isso, distâncias não nos podem separar, sejam elas de que tipo forem, as distâncias geográficas, as diferenças raciais, a quantidade de dinheiro que temos nos bolsos ou na conta bancária, o fato de ser homem ou mulher, podem parecer separações excessivas, podem parecer separar os corpos e as vidas, mas não podem e não devem dividir os corações. Podem, às vezes, embaçar os olhos, mas não podem esfriar o amor.

No século 17, quando surgiram as primeiras igrejas batistas na Inglaterra, o pastor John Smyth e Guilherme Dell, fundadores do pensamento batista naquele país, fizeram a diferença levantando as bandeiras da igualdade e da liberdade.

John Smyth e Guilherme Dell defenderam a liberdade de consciência absoluta, e usaram cada oportunidade para mostrar que não é plano de Deus que as pessoas tivessem sua liberdade de consciência cerceada. Dell considerou que o uso da coação por parte do poder monárquico inglês contra puritanos, separatistas e batistas era um ato deletério que não vinha de Cristo, porque somos todos iguais e, por isso, salvos pela graça. Mas também porque somos, em Cristo, livres diante de Deus. Livres para adorar e iguais porque na vida de fé ninguém pode se colocar acima de nós, a não ser Cristo, o filho do Deus vivo.

Assim, esses dois homens entenderam a mensagem do Novo Testamento, inspirada por Deus. E fica em nossos corações a proposta de Paulo, que apresentou o mandamento da superação das barreiras de raça, de condição social e de sexo e mostrou às igrejas da Galácia e a nós batistas os fundamentos do amor e da unidade, que definem as fronteiras da igualdade e da liberdade.

Lembre a seu povo:

“No caminho ele viu um eunuco da Etiopia, que estava voltando para o seu país. Esse homem era alto funcionário, tesoureiro e administrador das finanças da rainha da Etiópia”. Atos dos Apóstolos 8. 27-28.


O etíope era negro, uma pessoa diferente em relação a Felipe, mas perguntou "como poderei entender, se alguém não me explicar?". E esse homem de cultura, cor, país diferente creu, quando o Evangelho do Reino lhe foi apresentado.


O eunuco aceitou o Evangelho e foi batizado. Então, o que diremos a Deus quando pessoas diferentes se acercam de nós? Certamente com gratidão, porque fomos chamados à comunhão e à obediência. Por isso, o apóstolo Paulo fala de que há "um só Senhor, uma só fé e um só batismo", apesar de sermos diferentes uns dos outros. (Efésios 4.5).

Da reflexão à ação

A abrangência do texto apostólico nos leva da reflexão à ação sobre os três temas que estão imbricados nessa abertura de fronteiras: igualdade, liberdade e unidade em Cristo.

Assim Paulo nos obriga a repensar às questões de etnia, escravidão e sexo, extrapolando as paredes da igreja e apresentando a todos os cristãos uma proposta de abertura de fronteiras, onde haja aequalitate, paridade, iguais direitos e oportunidades. E libertate, de tal forma que cada pessoa possa dispor de seu arbítrio, em pleno gozo dos direitos de ser humano autônomo diante de sua consciência e de Deus, como imagem dEle, que tem garantidos seus direitos à existência e à vida.

Se a revelação é uma conversa entre Deus e o ser humano, em Cristo, é a partir desse diálogo que temos os elementos fundamentais para conhecer aquilo que Deus deseja que sejamos: iguais e livres, unidos do amor de Cristo. Nesse sentido, por mais decaído que esteja o ser humano, por mais abandonado e discriminado socialmente, ainda lhe resta a liberdade de consciência necessária para aceitar o diálogo proposto pelo Criador.

Nós batistas consideramos que a missão do povo de Deus é a evangelização do mundo, visando a reconciliação do ser humano com Deus, não importando condição financeira, social ou se é homem ou mulher. Os discípulos de Jesus e as igrejas foram chamadas a proclamar através do exemplo do amor e da unidade em Cristo e através do pregação do Evangelho da paz e, assim, fazer novos discípulos de Cristo em todas as nações. Cabe às igrejas batizá-los, ensinando-os a observar o que Jesus ordenou. Evangelização e missões acontecem quando nós vivemos na igreja igualdade e liberdade e testemunhamos a fé através de nossas próprias vidas.

Lembre a seu povo:

Foi o próprio Jesus quem nos deu a diretriz: “Eu sou a videira e vocês são os ramos. Quem está unido comigo e eu com ele, esse dá muito fruto, porque sem mim vocês não podem fazer nada”. João 15.5.


Jesus é a videira, mas os frutos da justiça brotam das comunidades que estão ligadas nele. Que todos possamos, unidos com ele, produzir frutos de justiça e dignidade reconhecidos. É isso que Jesus espera de nós.

Esta é a mensagem de Paulo para nós :

Se formos um só em Cristo Jesus – e é isso que deve ser buscado -- a igreja não pode estar dividida entre judeus e palestinos, entre poderosos e miseráveis, entre homens e mulheres.







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