jeudi 6 octobre 2022

... rascunhos para uma teologia da vida

Gramsci e Tillich: 
rascunhos para uma teologia da vida 

Prof. Dr. Jorge Pinheiro 

“A democracia não acredita na harmonia natural, mas crê possível submeter a natureza à razão. Ela crê numa harmonia metafísica, que se instaura necessariamente do processo histórico”. Paul Tillich, “Écrits contre les nazis”. 

Quando pensamos no Brasil, e por extensão na América Latina, nos vemos obrigados a falar da teologia como alavanca para transformações que confrontem as estruturas de poder que mantêm o status quo da mundialização do capitalismo, gerador de vítimas e de excluídos de bens e direitos. Dessa maneira, entendemos a teologia como geradora de ações culturais, políticas e sociais, desencadeadas pela comunidade de fé, consciente e crítica, com vistas à transformação radical, a fim de produzir mudanças estruturais no regime e construir uma nova ordem social tanto brasileira, como latinoamericana. A teologia tem, dessa maneira, como parceira organizações não-eclesiásticas, partidos e organismos de classe de trabalhadores. E tais ações fazem da teologia praxe que leva o cristianismo para além da comunidade de fé, que a faz confrontar desigualdades, exploração e miséria. Tal teologia terá de enfrentar, assim, a oposição dos inimigos da justiça, da paz e da alegria do povo. 

O diálogo entre Antonio Gramsci e Paul Tillich possibilita rascunhar uma teologia da vida que, levando em conta as assimetrias, mas também as aproximações das praxes políticas dos dois pensadores, construir uma teologia de liberdade social, pública, para brasileiros e latinoamericanos. 

Antonio Gramsci e Paul Tillich têm muito em comum. Ambos foram militantes políticos e fundamentaram parte de suas concepções em Karl Marx. Por isso, consideramos importante ver que aproximações e assimetrias existem em suas elaborações teóricas. Cristianismo, democracia, e vida são temas que atravessam seus estudos, e que aqui vamos confrontar. Desejamos, dessa maneira, acrescentar elementos novos numa discussão cada vez mais acirrada em nossa América Latina: ainda é possível a construção de regimes que favoreçam a plenitude do sentido da vida? 

Nos últimos anos, como fruto da crise da esquerda mundial, mas também como fruto da instalação de governos nacionalistas no continente, renasceu a busca pela reflexão de pensadores marxianos. Assim, em várias universidades brasileiras, Antonio Gramsci, por exemplo, passou a ser estudado como nunca fora antes. 

Ora, a busca pelo pensamento de Gramsci situa-se nesse contexto de garimpagem do marxismo marginal, dito também não-ortodoxo. Aqui, nos interessa pensar Gramsci em correlação com um filósofo, nada ortodoxo, Paul Tillich. Aliás, o pensamento social de Tillich é praticamente desconhecido no Brasil, apesar de ter trabalhado quase duas décadas sobre questões políticas analisadas a partir do que ele chamou de socialismo religioso. 

Gostaríamos de começar essa discussão com uma idéia exposta por Tillich, de que a busca pelo sentido pleno de vida, que ele vai chamar de socialismo, traduz um anseio que brota da consciência crítica, transfomadora, num mundo autônomo e racional. Assim, tal substância profética, ou seja, a consciência crítica e transformadora, se exprime na praxe e, por isso, a relação entre profecia e racionalidade é essencial. 

Como a linguagem tillichiana é teológica, ao lê-lo nos vemos na obrigação de traduzi-lo. Assim, o que significariam as expressões profético e profecia? Tillich parte de uma compreensão peculiar do profetismo vétero-testamentário. Vê nele, tanto um clamor, como uma ação, um movimento em prol da justiça, da paz e da alegria, que dariam conteúdo, seriam a essência da religião de Israel e, por extensão, do cristianismo e da Reforma protestante. Por isso, movimento profético é praxe de crítica social, que na modernidade levou à racionalidade da autonomia. Mas, para Tillich, justiça, da paz e alegria, ou seja, socialismo, implica em correlação permanente e necessária entre consciência crítica e racionalidade na autonomia. Assim colocada a questão, vemos que Tillich se afasta das correntes socialistas que repousam exclusivamente no racionalismo, em especial do bolchevismo, como das correntes que vêem a possibilidade de uma expansão crescente da autonomia, via democracia. É essa preocupação de Tillich em correlacionar razão e autonomia que possibilita esse diálogo crítico com Gramsci. 

De Gramsci podemos dizer que recriou a linguagem da tradição marxiana e codificou teoricamente seus conceitos, ao falar de estado regulado, filosofia da práxis, grupo social, hegemonia, sociedade civil, estado ampliado, intelectual orgânico e moderno Príncipe. Mas, neste texto, nos interessa analisar suas idéias sobre o cristianismo, o intelectual e a democracia. 

O desafio cristão 

Marx partiu do fato de que o pensamento judaico/cristão torna o ser humano estranho a si mesmo e desdobra o mundo em um mundo imaginário. Por isso, considerava que o trabalho do teórico consiste em dissolver o imaginário judaico/cristão em sua base terrena. Vai dizer, então, que Feuerbach não percebe que, findo o trabalho da crítica da herança judaico/cristã, o principal ainda está por fazer. O fato de que a base terrena se separe de si mesma e se estabeleça nas nuvens, como reino independente, só pode ser explicado pela dissociação interna e pela contradição dessa base terrena consigo mesma. 

O que deve, portanto, ser feito antes de qualquer coisa é compreendê-la em sua contradição e depois remover essa contradição. Assim, por exemplo, após descobrir que a família terrena é o segredo da Sagrada Família, é a família terrena que deve ser criticada teoricamente e revolucionada. Marx explica a fé cristã por meio das contradições da sociedade humana e de suas dissociações, que induzem o ser humano a projetar fora do mundo, em um paraíso, a realidade na qual desejaria viver. Mas como afirma Radice, na quarta tese sobre Feuerbach, Marx afirma de modo explícito que a forma judaico/cristã reflete um conteúdo histórico. Por estar impotente, o ser humano imagina uma potência divina, por estar abandonado cria uma providência. 

Gramsci verá o pensamento de Marx como herdeiro de dois movimentos culturais, a Reforma protestante e a Revolução francesa: 

"A filosofia da práxis pressupõe todo este passado cultural, o Renascimento e a Reforma, a filosofia alemã e a revolução francesa, o liberalismo laico e o historicismo; em suma, o que está na base de toda concepção moderna da vida. A filosofia da práxis é o coroamento de todo movimento de reforma intelectual e moral, dialetizado no contraste entre cultura popular e alta cultura. Ela corresponde ao nexo Reforma protestante mais Revolução francesa: trata-se de uma filosofia que é também uma política e uma política que é também uma filosofia". 

E por isso dirá que "a religião cristã (...) foi e continua a ser uma necessidade, uma forma necessária de racionalidade do mundo e da vida". 

Marx pode, então, ser entendido como desenvolvimento que se dá a partir de três correntes da Reforma protestante: a luterana que legou Hegel, a calvinista que legou Ricardo e a economia clássica, e a huguenote que criou o jacobinismo. 

"A estas três fontes originais, Gramsci tenta ligar a tradição cultural italiana, principalmente Maquiavel, como precursor do jacobinismo, e Croce como desenvolvimento historicista da filosofia alemã. O marxismo torna-se assim um ponto de convergência destas três correntes sob a forma de crítica radical". 

Dessa forma, para Gramsci, a Reforma foi não somente uma reforma ao nível da economia, filosofia e política, mas também uma revolução cultural, no sentido de que procurou forjar uma nova humanidade. Para Gramsci a consciência religiosa cristã, que se traduziu em revolução cultural no século XVI, teve um caráter de suma importância na construção do pensamento contemporâneo. Ou, nas suas palavras: "da primitiva rusticidade intelectual do homem da Reforma (leia-se Lutero) decorreu a filosofia clássica alemã e o vasto movimento cultural de onde nasceu o mundo moderno". 

Podemos dizer que Gramsci, no que se refere ao cristianismo, faz uma ponte entre Émile Durkheim e Max Weber. Durkheim considera a religião a partir da idéia de vínculo social. A religião constituiria uma comunidade moral na os adeptos comungam um mesmo ideal. A palavra chave aí é solidariedade. E a solidariedade leva a uma memória coletiva, que organiza lembranças, ritualiza a crença. Os estudos de Durkheim sobre as sociedades têm o intuito de dar rumo a sua análise na qual a divisão do trabalho foi anteriormente sua preocupação central. Mais tarde, o diálogo com a antropologia será privilegiado e o universo da religião será pensado como consciência coletiva, abordagem que ele estende ao entendimento da nação, enquanto todo no qual os indivíduos partilham a mesma memória coletiva. 

Weber trabalha em sentido diferente. O cristianismo é instituição, é igreja, que atua como empresa de salvação das almas. É necessário, então, conhecer os meandros de sua doutrina, a organização de seu clero e a disputa entre visões e interesses distintos no quadro das crenças religiosas. Daí a atenção que dá ao pensamento divergentge, as rupturas no interior de uma mesma ordem ideológica, e sua relação com o poder de Estado. 

Assim, Durkheim busca o que une e Weber realça o que separa. Mas Gramsci está interessado nas duas dimensões, no que une e no que divide. O cristianismo, para ele, é uma concepção de mundo que elabora versões sobre a realidade, o que possibilita aos fiéis atuar segundo determinada ética, mas também os une no interior da mesma comunidade. Essa idéia atravessa as páginas dos Cadernos do cárcere, sintetizada na afirmação de que o catolicismo é o "intelectual orgânico" da Idade Média. 

A intelectualidade orgânica 

Partindo de uma leitura do contexto europeu medieval, Gramsci estuda o papel dos intelectuais católicos: seu cosmopolitismo, incentivado pelo poder de Roma, em relação à fragmentação do poder feudal e sua intolerância diante do pensamento divergente que ameaça a unidade da Igreja. Mas, na qualidade de orgânico, o catolicismo funcionaria como cimento cultural entre diferentes setores de uma sociedade hierárquica. Assim, o catolicismo integra o que se encontra separado por lutas de interesses e discordâncias doutrinárias. O catolicismo, no entanto, é parte de uma superestrutura mais ampla, a ideologia. É uma cosmovisão, tem valor cognitivo, interpreta o mundo ético, orienta a ação, e constrói uma moral que baliza a solidariedade dos fiéis. As ideologias possuem potencialidades diferentes destas, por isso Gramsci faz distinção entre filosofia e cristianismo católico, e entre cristianismo católico e senso comum, mas, ainda assim, todas as ideologias podem ser pensadas a partir dessa mesma matriz teórica. 

Dessa maneira, as análises de Gramsci rompem com a tradição marxiana, já que a ideologia, mas do que falsa consciência é entendida como elemento cognitivo, concepção de mundo que brota da vida social. Para ele, como concepção de mundo, o cristianismo não seria alienante, mas deve ser entendido como ideologia presente na história. Exemplo disso foi o catolicismo, que possuía valor positivo, era orgânico, e construiu vínculo social entre as classes e os grupos sociais. Mas, no correr da Idade Média perdeu essa positividade, ao perder sua função de solidariedade, e passou a atuar como força reativa diante das mudanças. 

E se Gramsci se mantém marxiano no que se refere à crítica da transcendência e, por extensão, da natureza humana, a conclusão que se impõe é que não há sociedade sem ideologia. Gramsci prepara, assim, o caminho para outros teóricos do pensamento marxiano, como Althusser e seu "animal ideológico", e Lévy-Strauss e seu "animal simbólico". 

Mas Tillich teve uma compreensão diferente daquela de Gramsci, que entende a vanguarda enquanto intelectualidade orgânica, mas não vê o movimento de massas em processo dinâmico que pode levar ao surgimento de uma massa orgânica. Há uma divergência entre os dois pensadores: a crítica intelectual não se limita ao intelectual orgânico, é um processo maior que gera a massa orgânica, com dupla ação: de liderança da sociedade e de transformação da situação-limite. 

Na perspectiva tillichiana, a passagem da heteronomia à autonomia se deu através de ciclos que atravessaram épocas. Assim, os movimentos dinâmicos das massas estão presentes nos movimentos religiosos do jovem cristianismo, no movimento político da migração dos povos, no movimento religioso da Reforma, no movimento anabatista e no movimento socialista. Embora esses movimentos possam ser encontrados em diversas épocas, estão presentes em diferentes esferas da cultura, mas sempre como movimentos de liberdade: as massas dinâmicas são parteiras de escravos, de povos, de trabalhadores. 

Por isso, segundo Tillich, não podemos ver o pensamento de Marx como algo que já se esgotou, se nos propomos a fazer a crítica consciente e transformadora, pois a justiça não é justificativa ideológica das democracias, nem idealismo progressivo ou sistema de harmonia autônoma. A busca incondicional da justiça dentro do espírito da crítica profética e com os métodos do marxismo transcende o mundo. Mas até que ponto a metodologia marxiana e uma conquista do poder político poderiam dar sentido à vida? Só se a busca incondicional da justiça levar em conta que a corrupção também está localizada nas profundezas do coração humano. 

O teólogo da vida deve entender que as forças demoníacas da injustiça e da vontade de poder jamais serão plenamente erradicadas da cena histórica. Precisa compreender que a corrupção da situação humana tem raízes mais profundas do que as estruturas históricas e sociológicas. Estão encravadas nas profundezas do coração humano. 

“Como Kierkegaard, Marx fala da situação alienada do homem na estrutura social da sociedade burguesa. Empregava a palavra alienação (entfremdung) não do ponto de vista individual, mas social. Segundo Hegel essa alienação significa a incursão do Espírito absoluto na natureza, distanciando-se de si mesmo. Para Kierkegaard era a queda do homem, a transição, por meio de um salto, da inocência para o conhecimento e para a tragédia. Para Marx era a estrutura da sociedade capitalista”. 

Por isso, a regeneração da humanidade não é possível apenas mediante mudanças políticas, mas requer mudanças na atitude das pessoas em favor da vida. De todas as maneiras, para Tillich e para Gramsci há uma busca comum de respostas entre aquele que encarna o espírito crítico e a ação consciente do intelectual orgânico. Ou como diz Gramsci: 

"Se a relação entre intelectuais e povo/nação, entre dirigentes e dirigidos, entre governantes e governados, é dada por uma adesão orgânica, na qual o sentimento paixão torna-se compreensão e, portanto, saber, não mecanicamente, mas de forma viva, é somente então que a relação é de representação e que se produz o intercâmbio de elementos individuais entre governados e governantes, entre dirigidos e dirigentes, isto é: que se realiza a vida conjunta que, só ela, é a vida social, cria-se um bloco histórico". 

Para Gramsci, o intelectual quando representa determinada comunidade têm função superestrutural, ou seja, cultural, mas, apesar de sua organicidade, precisa exercer autonomia em relação às pressões sociais que sofre. É dessa postura que nasce a força crítica e a compreensão de que diante da realidade há alternativas diferentes daquelas expressas pelo poder. 

A partir de Tillich e Gramsci podemos dizer que o princípio da crítica intelectual é expressão humana e verbal do incondicionado, e resgata a tradição do profetismo bíblico, que possuía uma concepção unitária do fato e procurava a síntese entre política e ética. O profetismo era ao mesmo tempo revolucionário, mesmo quando voltado para o passado, e conservador, mesmo quando impulsionado pela paixão do porvir. Nada fazia sem invocar a tradição, no entanto, sua mensagem eram os novos tempos. Os profetas sabiam servir-se do passado para as necessidades do presente. Todos pareciam ter algo em comum: uma atitude realista. A pregação do futuro não constituía o essencial de seus clamores; era antes, o fruto e o resultado final de um conhecimento aprofundado no mundo adjacente, da atualidade e do passado. Ora, essa função profética está presente na compreensão crítica de Gramsci e de Tillich do intelectual orgânico. 

Mas, não podemos esquecer que para Tillich há limites para a ação do intelectual, pois a razão não é global. Ao contrário, cada criação do espírito é necessariamente afetada pelos limites da situação que a viu nascer. O espírito está sempre ligado a uma classe. No espírito está implícita uma situação particular de luta, de dominação ou de opressão, que conforma a própria consciência. Entendido assim, o espírito não é universalmente o mesmo em cada pessoa, exprime um ser social particular. A passagem à cultura não se faz simplesmente pela transmissão de bens culturais universais, mas pela formação inculcada por uma sociedade e uma situação de lutas determinadas, em meio a obras que exprimem ou exprimiram no passado esta possibilidade humana particular. 

Numa leitura cristã protestante, Tillich considerou a busca pelo sentido pleno de vida produto do desenvolvimento econômico e espiritual, que preparou e se impõe com a Renascença, a Reforma e o surgimento do capitalismo. Visão compartida por Gramsci. Assim, a busca pelo sentido pleno de vida surge em oposição à cultura autoritária e unitária da Idade Média, sedimenta suas bases nas criações culturais dos últimos séculos, e só pode ser compreendida a partir desta evolução: sua permanência está ligada a esse desenvolvimento. Mas não devemos esquecer, porém, que foi do interior do cristianismo que brotaram as idéias modernas de justiça. 

Para a construção de seu pensamento, Gramsci foge das construções ontológicas, e analisa a sociedade como conjunto de forças, imersas na história e marcada por interesses diversos. Podemos ver isso quando em carta à sua cunhada Tatiana Schucht. de dezembro de 1931, expõe seu conceito de Estado ampliado: 

“Eu amplio muito a noção de intelectual e não me limito à noção corrente que se refere aos grandes intelectuais. Esse estudo leva também a certas determinações do conceito de Estado, que habitualmente é entendido como sociedade política (ou ditadura, ou aparelho coercitivo para adequar a massa popular a um tipo de produção e a economia a um dado momento); e não como equilíbrio entre a sociedade política e sociedade civil (ou hegemonia de um grupo social sobre a inteira sociedade nacional, exercidas através de organizações ditas privadas, como a igreja, os sindicatos, as escolas, etc.)”. 

Democracia e sentido pleno de vida 

Ora, em geopolítica, hegemonia significa a supremacia de uma nação sobre outras, seja por sua presença militar, de coerção, seja pela presença política e cultural. Mas na política, o conceito formulado por Gramsci descreve a dominação ideológica de uma classe sobre outra, no caso da burguesia sobre os trabalhadores. 

Em Gramsci não é possível o domínio bruto de uma classe sobre as demais, a não ser nas ditaduras, ou seja, no Estado-coerção. Mas uma classe dominante para ser dirigente deve articular um bloco de alianças e obter o consenso passivo das classes e camadas dirigidas. Nessa busca de alianças, necessárias, a classe dominante sacrifica parte dos seus interesses materiais imediatos, vai além do horizonte corporativo, com a finalidade de construir uma hegemonia ética e política. 

Ao estudar os mecanismos de construção desta hegemonia, Gramsci chega a um conceito fundamental na sua teoria política, a saber, o conceito de Estado ampliado. O Estado moderno na Europa analisada por Gramsci não seria, para ele, apenas instrumento de força a serviço da classe dominante, mas força revestida de consenso, ou seja, combinaria coerção e hegemonia. O Estado ampliado pode, então, ser entendido como sociedade política mais sociedade civil. E, nas sociedades de tipo ocidental, a hegemonia, que se decide nas inúmeras instâncias e mediações da sociedade civil, não pode ser ignorada pelos grupos sociais subalternos que aspiram a modificar sua condição e a dirigir o conjunto da sociedade. 

O sentido de progresso civilizatório que a teoria gramsciana implica, reside no fato de que todo o movimento deve acontecer no sentido de uma absorção do Estado político pela sociedade civil, com o predomínio crescente de elementos de autogoverno e autoconsciência. A partir dessa teorização, Gramsci formula nos Cadernos do cárcere uma crítica ao stalinismo, a partir dos traços de hipertrofia do Estado soviético, que chama de estatolatria, considerando que tal estado de ditadura sem hegemonia não subsistiria por muito tempo. 

Assim o Estado se compõe de dois segmentos distintos, porém atuando com o mesmo objetivo, que é o de manter e reproduzir a dominação da classe hegemônica: a sociedade política, estado-coerção, a qual é formada pelos mecanismos que garantam o monopólio da força pela classe dominante, burocracia executiva e policial-militar; e a sociedade civil, formada pelo conjunto das organizações responsáveis pela elaboração e difusão das ideologias, composta pelo sistema escolar, Igreja, sindicatos, partidos políticos, organizações profissionais, organizações culturais: meios de comunicação e de massa. 

E aqui merecem destaque os meios de comunicação, pois para sua época estavam ainda em sua fase embrionária, e a televisão nem sequer fazia parte dos projetos futuros. Isto só seria possível no início da década de 1950. É exatamente através dos meios de comunicação da alta modernidade, que se dá a canalização da direção intelectual e moral, difundindo as ideologias da classe hegemônica vigente. 

Assim, o Estado é a sociedade política gramsciana. E esta sociedade civil representa a nova determinação apresentada por Gramsci. Esta sociedade civil assume crescente dimensão no começo do século vinte, com os partidos de massa, sindicatos de trabalhadores e outras formas de organizações sociais. É após seu desenvolvimento histórico que a sociedade civil pôde ser capturada teoricamente. Antes disso, o estado-coerção era muito superior em sua base material para se permitir tal percepção. 

O que chama a atenção no modelo do Estado ampliado, desde o Leviatã de Hobbes até Marx, é o sentido unitário do Estado. Ou seja, até Marx, o Estado era entendido como algo diferente da sociedade civil, que seria extinto quando se extinguisse a divisão de classes dentro da sociedade, uma vez que era esta divisão que produzia a necessidade do Estado. 

Em Gramsci, porém, quando agrega a sociedade civil ao Estado-coerção, nada fica de fora do Estado. Este todo, entretanto, não é homogêneo, é rico em contradições e é mantido pelo tecido hegemônico que a cada momento histórico é recriado em processo permanente de renovação. 

Assim, a luta pela construção de uma sociedade plena de sentido de vida, torna-se mais complexa e difícil do que imaginava Marx. Não basta ser classe dominante, tem que ser também classe hegemônica, dirigente. Desta forma, o campo da luta entre as classes se amplia. E a democracia necessária ao sentido pleno de vida será construída pelo bloco histórico hegemônico. Neste momento, a sociedade civil terá atingido uma base material superior a base material do Estado-coerção, atingindo o que Gramsci chama de sociedade regulada. 

Com a gradativa absorção da sociedade política pela sociedade civil, que atua através dos seus aparelhos de hegemonia, o estado-coerção será substituído pelo estado-ético. E esta figura remanescente do estado-coerção, torna mais factível o modelo social voltado para a democracia de bens e direitos e menos utópico em relação ao que planejara Marx. 

Nesta concepção de Estado, as democracias ocidentais possibilitariam o sentido pleno de vida. Mas fica uma questão: se a supremacia da sociedade civil se dará pelo consenso contra a coerção, onde fica o conceito de luta de classes, momento celular do pensamento marxiano? 

Na verdade, para Gramsci a extinção da coerção do estado se dará pela absorção deste pelo estado-ético, ou seja, pela sociedade civil. Esta sociedade civil está inserida no estado ampliado e, por isso, não se pode falar de extinção do estado, mas de uma reorganização do estado onde um de seus componentes, está atrofiado por disfunção ou necessidade, já que os conflitos passaram a ser administrados pela base material do consenso. 

Há, porém, dois níveis superestruturais nas sociedades democráticas: o estado ampliado, que é a sociedade civil, ou o conjunto dos aparelhos privados de hegemonia; e a sociedade política, ou o estado no sentido restrito do termo, composto pelos organismos de coerção do aparelho burocrático-militar de dominação política. 

Nesse espaço a sociedade civil como espaço do domínio da ideologia, portador material da hegemonia, encontra a possibilidade de legitimidade, de consenso, através dos aparelhos privados de hegemonia que propagam valores ideológicos. 

Assim, o conceito de estado ampliado procura apreender a configuração de forças sociais e políticas resultantes dos estados ocidentais do século vinte, idéia que confronta a proposta de Trotsky de revolução permanente a partir da concepção de hegemonia civil. Tal proposta-conceito parte da idéia de guerra de posição, que exige uma frente de combate no campo cultural, unida às frentes econômicas e políticas para a conquista da hegemonia pelas classes subalternas. A fórmula hegemonia civil propõe a participação das maiorias sociais nos aparelhos privados de hegemonia (sindicatos, partidos, escolas, igrejas, imprensa), que constituem as trincheiras de luta para obter posições de direção no governo da sociedade. 

A proposta de extinção do estado, no entanto, nunca é plena, pois sempre restará o governo para cuidar da sociedade civil. É claro que se entendermos assim podemos dizer que na distinção de função entre as pessoas que governam e as que vivem a vida da sociedade de consenso está presente ainda a dominação entre as classes e, portanto, os restos da coerção do Estado se farão presentes. 

Em Gramsci está presente uma utopia que atravessou todo pensamento socialista: sonhar com o bom selvagem de Rousseau, em oposição ao homem é o lobo do homem de Hobbes. Esse Estado ético é uma idealização do ser humano, que poderia viabilizar a construção de uma sociedade ética, igualitária e justa. 

Mas, mesmo questionando Gramsci, podemos utilizar seus conceitos de estado ampliado e de hegemonia civil como estruturas de pensamento válidas para a análise social, não como proposta da utopia socialista, mas como ferramenta para delimitar e compreender o desenvolvimento das sociedades ocidentais contemporâneas, principalmente aquelas que se propõem democráticas. 

Rascunhos de teologia 

A busca pelo sentido pleno de vida e os movimentos de liberdade sempre estiveram ligados, mas isso não significa que não existem tensões entre o momento universal e o momento particular. O momento universal pode formular exigências que ameaçam absorver o momento particular. A busca pelo sentido pleno de vida se tornará, então, uma idéia geral, desprovida de raízes sociais e perderá sua força histórica. Este é o perigo de uma luta pela justiça restrita à intelectualidade. Esse perigo provém da situação burguesa e de seu pensamento político particular, que procura elaborar uma ordem social futura fundada sobre a justiça, mas deixando de lado a situação proletária real. Seja qual for o valor que se atribua a esta tentativa, ela não será de fato justiça social. A luta contra o intelectualismo utópico se apóia sobre a ligação indissolúvel que Marx viu entre sentido pleno de vida e proletariado, que não pode ser quebrada por essa harmonia metafísica proposta pela globalidade burguesa. 

Para Paul Tillich existe na esfera política uma relação entre razão e autonomia. Toda estrutura política pressupõe poder e um grupo que o assume. Mas um grupo de poder é também um conglomerado de interesses opostos a outras unidades de interesses e sempre necessita uma correção. A democracia está justificada e é necessária na medida em que é um sistema que incorpora correções contra o uso errôneo da razão política. Assim, a teologia e a política não são realidades estanques, porque as raízes do pensamento político não são apenas pensamentos. Teologia e política, no mundo ocidental, estão imbricados, mas não existem sem a necessidade de correção, ou seja, da democracia. 

Tal compreensão da realidade ocidental no pós-guerra levou Tillich a se debruçar sobre projetos que tiveram início ainda na sua fase alemã, como a sua reflexão sobre a cultura. Mas a maioria de seus companheiros, que esperavam a realização da vida social plena de sentido, diante do visível abandono dos direitos civis e humanos, assim como a descoberta da existência de gulags nos países comunistas, se desiludiu. 

“O movimento marxista não foi capaz de se criticar por causa da estrutura em que caiu, transformando-se no que chamamos agora de stalinismo. Dessa maneira, todas as coisas em favor das quais os grupos originais tanto lutaram acabaram sendo reprimidas e esquecidas. Em nosso século vinte temos tido a ocasião de melhor perceber a trágica realidade da alienação humana no campo social”. 

Tal política comunista fez com que Tillich, que não se considerava um utópico, constatasse que “o amanhecer de uma nova era criativa” se distanciava da humanidade. Assim, alertou para o perigo, a partir da experiência stalinista de que, em nome da busca pelo sentido pleno de vida, sociedades mergulhassem no totalitarismo, já que não aceitavam a pluralidade de partidos políticos e as liberdades civis, que ele e os socialistas-religiosos defendiam. Mas é interessante ver que descartava qualquer possibilidade de hegemonia permanente, quer por parte do bloco soviético, quer por parte do bloco ocidental: 

“Novos centros de poder podem aparecer, primeiro secretamente, e depois, então, abertamente, levando para a separação de ou para a transformação radical do todo. (...) O poder inicia a luta novamente e o período determinado do império mundial será tão limitado quanto o foi o período augustiniano de paz”. 

E afirmou que um mundo sem as dinâmicas do poder, sem a tragédia da vida e da história não é o reino de Deus, nem a finalidade do ser humano, pois o fim está limitado à eternidade e nenhuma imaginação pode atingir o eterno. Mas as antecipações fragmentárias são possíveis. Assim, falar de teologia da vida significa entender que a busca pela incondicionalidade da justiça e, por extensão, da paz e alegria, traduz a defesa do sentido último do significado profundo das raízes do humano e que, no mundo contemporâneo, diante do trovejar dos canhões e da ameaça à existência, deve levantar-se como voz profética de um mundo novo. 



I. BIBLIOGRAFIA ANTONIO GRAMSCI 

1. Escritos 1910-1926 

A questão meridional. Introdução e seleção de Franco de Felice e Valentino Parlato. Apresentação de Carlos Nelson Coutinho. Trad. Carlos Nelson Coutinho e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. 165p. [Contém 10 textos do período 1916-1926]. 

Conselhos de fábrica. Introdução de A. Leonetti. Prefácios de Carlos Nelson Coutinho e Maurício Tragtenberg. Trad. Marina B. Svevo. São Paulo: Brasiliense, 1981. 121p. [Contém 6 artigos de Gramsci da época de L'ordine nuovo, escritos entre 1916-1920, bem como outros 6 artigos polêmicos de Amadeo Bordiga]. 


2. Dos "Cadernos do cárcere" (1929-1935). 

Concepção dialética da história. Apresentação de Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder. Orelha de Luiz Mário Gazzaneo. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966 (6a. ed., 1986), 341p. 

Literatura e vida nacional. Seleção, tradução e orelha de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968 (3a. ed., 1986). 273p. 

Maquiavel, a política e o Estado moderno. Tradução e orelha de Luiz Mário Gazzaneo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968 (8a. ed., 1987), 444p. 

Os intelectuais e a organização da cultura. Tradução e orelha de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968 (5a. ed., 1987), 244p. 


3. Dos "Cadernos do cárcere" (1929-1935). 

(Edição em seis volumes) 

Volume 1: "Introdução ao Estudo da Filosofia. A Filosofia de Benedetto Croce". Edição de Carlos Nelson Coutinho, em colaboração com Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Orelha de Joseph A. Buttigieg. Quarta capa de Eric Hobsbawm. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 494p. 

Volume 2: "Os Intelectuais. O Princípio Educativo. Jornalismo". Trad. Carlos Nelson Coutinho. Orelha de Leandro Konder. Quarta capa de Norberto Bobbio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. 334p. 

Volume 3: "Maquiavel. Notas sobre o Estado e a política". Trad. Carlos Nelson Coutinho, Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Orelha de Francisco de Oliveira. Quarta capa de Pietro Ingrao. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, 428p. 

Volume 4: "Temas de cultura. Ação Católica. Americanismo e fordismo". Trad. Carlos Nelson Coutinho e Luiz Sérgio Henriques. Orelha de Luiz Werneck Vianna. Quarta capa de Michael Löwy. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. 394p. 

Volume 5: "O Risorgimento. Notas sobre a história da Itália". Trad. Luiz Sérgio Henriques. Orelha de Octavio Ianni. Quarta capa de Valentino Gerratana. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. 461p. 

Volume 6: "Literatura. Folclore. Gramática. Apêndices: variantes e índices". Trad. Carlos Nelson Coutinho e Luiz Sérgio Henriques. Orelha de Alfredo Bosi. Quarta capa de Giorgio Baratta. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. 495p. 




II. BIBLIOGRAFIA PAUL TILLICH 

A Era Protestante, São Bernardo do Campo, Ciências da Religião, 1992, p. 274. The Protestant Era, Chicago, Illinois, University of Chicago, 1948. Trad. pt. de Jaci Maraschin. “Die protestantische Ara”, Der Protestantismus als Kritik und Gestaltung, Gesammelte Werke VII, Evangelische Verlag Stuttgart, 1962, pp. 105-123. Trad. al. W. De Gruyter. 

Écrits contre les nazis, 1932-1935, Paris, Genève, Québec : Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, 1994. Christentum und soziale Gestaltung. Frühe Schriften zum religiösen Sozialismus, Evangelisches Verlagswerk Stuttgart, Gesammelte Werke II, 1962. Trad. fr. Nicole Grondin e Lucien Pelletier. 
  
La lutte des classes et le socialisme religieux [artigo publicado no Religiöse Verwirklichung de 1930. Gesammelte Werke, II, pp. 175-192] in Christianisme et Socialisme, Écrits socialistes allemands (1919-1931), Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, tradução de Nicole Grondin e Lucien Pelletier, 1992. 

Perspectivas da Teologia Protestante nos séculos XIX e XX, São Paulo, ASTE, 1999. Texto original: Perspectives on 19th and 20th century protestant theology, New York, Harper and Row Publishers, Inc., 1967. Tradução de Jaci Maraschin. 

BIBLIOGRAFIA OUTROS 
Hugues Portelli, Gramsci e a questão religiosa, São Paulo, Edições Paulinas, 1984. 
João Rego, Reflexões sobre A Teoria Ampliada do Estado em Gramsci, Recife, Caderno Cultural do Jornal do Commercio, 5/04/1991. 
Lucio Lombardo Radice, "Um marxista diante dos fatos novos no pensamento e na consciência religiosa", Revista Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, Ano III, Número 16, novembro/dezembro de 1967. 
Renato Ortiz, Notas sobre Gramsci e as ciências sociais, São Paulo, Revista Brasileira de Ciências Sociais, Out. 2006, vol.21, no. 62. 




jeudi 29 septembre 2022

IVG : le droit à l'interruption volontaire de grossesse en France

Avorter n’est pas une plaisanterie
Auteur : Abigaïl Bassac
https://www.evangile-et-liberte.net/2018/11/avorter-nest-pas-une-plaisanterie/


Sur les réseaux sociaux, l’Interruption Volontaire de Grossesse (IVG) suscite des affrontements entre militants anti-IVG agressifs qui évoquent le « génocide » des bébés et féministes outranciers qui parlent de l’IVG comme d’« un truc banal et dont on peut plaisanter ». 

Une bande dessinée affirme qu’il ne faut pas « faire un fromage » des 200 000 IVG pratiquées en France chaque année. L’IVG n’est ni un génocide, ni une plaisanterie. Les femmes qui veulent avorter avortent, et lorsque cela est illégal, dans des conditions telles qu’elles y risquent leur vie. L’IVG doit donc être légale, les premières semaines de grossesse, afin d’éviter que des femmes meurent. Mais ce n’est pas pour autant un « truc banal ». J’ai lu sur Twitter cette phrase d’une femme s’apprêtant à avorter : « J’ai zéro culpabilité à l’idée d’avorter. Beaucoup plus à l’idée de manquer le taf. MDR. [NDLR : Mort De Rire] » 

Être absent au travail serait donc plus grave qu’interrompre une grossesse ? Certainement pas. Que les femmes qui avortent ne portent pas une culpabilité qui les entrave pour la suite de leur vie, c’est souhaitable pour elles, mais que cet acte soit fait sans gravité ne l’est pas. Une vie en devenir qui aurait pu être ne sera pas. Il n’y a là rien de drôle qui pourrait faire l’objet d’une plaisanterie. 

Si une femme veut avorter, elle doit pouvoir le faire sans risquer une septicémie. Non pas parce que son corps lui appartiendrait, car quand une femme est enceinte, non, elle n’est plus réellement seule dans son corps, mais parce qu’elle doit pouvoir évaluer si elle et son compagnon peuvent réellement accueillir l’enfant potentiel dans leur monde. L’embryon n’est pas pour autant un « alien », « un tas de cellules » ou une « saloperie », c’est le résultat d’une relation sexuelle, la plupart du temps librement consentie, et c’est un début de vie qui nous dépasse.

Un acte n’a pas à être dénué de sens et de poids pour être posé et assumé. Dans une époque où le divertissement règne, il est malvenu de le rappeler, mais la vie humaine comporte des aspects tragiques. Ne nous aveuglons pas, osons nous tenir debout face à cette réalité, même si elle est effrayante. Nous sommes des adultes, libres et responsables.

Interruption volontaire de grossesse en France
https://fr.wikipedia.org/wiki/Interruption_volontaire_de_grossesse_en_France



LE DISCOURS DE SIMONE VEIL EN 1974 À L'ASSEMBLÉE NATIONALE https://www.bfmtv.com/politique/texte-le-discours-de-simone-veil-en-1974-a-l-assemblee-nationale_AN-201706300041.html


Vie Publique
https://www.vie-publique.fr/discours-dans-lactualite/286429-interruption-volontaire-de-grossesse-les-discours-publics-sur-livg
Discours dans l'actualité
IVG : le droit à l'interruption volontaire de grossesse dans les discours publics



IVG le point de vue des protestants 
 Claire Bernole 31/05/2018

Claire Bernole, journaliste à Réforme

Les protestantes et protestants ont joué un rôle essentiel dans le combat historique sur l’avortement et continuent de débattre.

En France, les protestantes ont soutenu de manière décisive la légalisation de la contraception et de l’avortement. « Les femmes protestantes ont été sur-représentées dès la création des mouvements féministes, c’est-à-dire dès la fin du XIXe siècle, rappelle Sylvie Chaperon, historienne. Les protestants font partie de cette frange laïque et progressiste de la société. » Il ne faut pas imaginer pour autant les protestantes – d’ailleurs accompagnées par la Grande Loge féminine de France et quelques francs-maçons hommes – en « pasionarias » de la lutte féministe.
Contraception et avortement

Le débat sur l’avortement a été précédé d’une montée en puissance progressive des questions autour des droits des femmes. D’abord pour défendre l’accès à la contraception puis pour une éducation globale à la sexualité intégrant les revendications des femmes. Ces revendications sont portées par la Maternité heureuse puis par le Mouvement français pour le planning familial (MFPF), qui lui a succédé, ainsi que par le mouvement Jeunes Femmes, rattaché au protestantisme. Ce mouvement a accompagné l’essor du planning familial. « Le protestantisme, qui a beaucoup évolué sur l’IVG, visait la responsabilité humaine. Nous organisions des études bibliques et à l’aide d’intellectuels, de théologiens, nous réinterprétions les textes dans le sens de l’égalité femmes/hommes, même si nous n’en parlions pas en ces termes », raconte Christiane Delteil, participante du groupe Jeunes Femmes de Saint-Jean-du-Gard dès 1967.

Pourtant, si l’Église réformée aide le mouvement par ses prises de position, des freins subsistent. « Les femmes étaient posées comme objet de discours, certes, mais pas en tant que participantes à l’Église. Même si elles pouvaient être pasteurs et même si sur ce point les protestants étaient en avance dans la chrétienté, c’était un combat. Nous étions donc en lutte contre des pesanteurs et des institutions qu’il fallait bousculer », poursuit Christiane Delteil. Aussi, en 1971, de nouveaux statuts détachent officiellement le mouvement de l’Église, même si l’influence du protestantisme demeure.

Finalement, lors du 10e congrès du MFPF, en 1973, le féminisme est intégré aux statuts. La protestante Simone Iff incarnera cette nouvelle ligne favorable à la libéralisation de l’avortement. Mais devant la sourde oreille des politiques, le combat pour la contraception se radicalise.

Dès 1960, les centres de plannings familiaux n’attendent plus la libéralisation de la contraception pour distribuer la pilule à leurs adhérentes. Le combat pour l’avortement suivra le même chemin. En 1973 toujours, le planning familial rejoint la revendication du MLF, qui réclame le droit à l’avortement depuis trois ans. C’est alors la création du Mouvement pour la liberté de l’avortement et de la contraception, qui milite pour l’avortement libre (des voyages sont organisés pour aller avorter à l’étranger ou des avortements ont lieu par aspiration).

Le sujet, qui divisait déjà au sein des groupes locaux du mouvement Jeunes Femmes, devient plus clivant. Parmi ces groupes, qui ont toujours eu vocation à accueillir des femmes indépendamment de toute confession, certaines partent. Des catholiques, mais pas toutes et pas seulement. En fait, il semble très difficile de penser la place de la femme avec recul, sans que son rôle de mère ne la dimensionne d’emblée. Dans les plannings familiaux non plus, tout le monde n’est pas d’accord. À Toulouse, par exemple, le premier planning fondé très tôt, dans les années 1960, se montre modéré lors de la radicalisation en faveur de l’avortement, et se fait doubler par un deuxième planning.

« On était, on est encore, dans un système très patriarcal, perpétué par les mentalités. Les femmes se culpabilisaient quant à l’avortement, leur corps ne leur appartenait pas, finalement », explique Christiane Delteil en insistant sur l’enjeu politique que représente le corps féminin.
Un débat qui divise

« C’était une conception validée par une certaine lecture de la Bible, ce qui rendait toute discussion impossible pour certaines », se souvient-elle. Néanmoins, un véritable travail de réflexion est mené à l’échelle nationale, régionale, locale, et le mouvement Jeunes Femmes se montre partisan de la loi Veil, lors du vote, en 1975. « Il y avait réellement une volonté de changer les mentalités », estime-t-elle.

Aujourd’hui encore, et au sein même du protestantisme, le débat n’est pas clos. En cause, le statut de l’embryon. « Est-ce que l’acte [l’avortement], quelles que soient ses motivations et il y en a de très légitimes, est l’élimination de quelques cellules ou d’une personne humaine en devenir ? », interroge Louis Schweitzer, pasteur baptiste et membre de la commission d’éthique protestante évangélique.

Si certains protestants évangéliques peuvent être ouverts à l’IVG dans les cas où la femme se retrouve en grande détresse, cela implique de tout mettre en œuvre pour que ces situations se raréfient. Car « avorter est toujours un drame », comme le soulignent nos interlocuteurs. Or, « malgré le développement de la contraception, le taux d’IVG reste stable », pointe Louis Schweitzer.
Droit, éthique et information

Et de regretter que « la notion de détresse ait peu à peu disparu des textes pour que l’avortement ne soit plus qu’un droit de la personne. Ceci est symptomatique des lois qu’on veut faire passer grâce à un emballage dont on sait qu’il va se dissoudre au bout de quelques années ». Une fois un moindre mal accepté, il devient un bien et la société ne fait plus l’effort d’avancer vers d’autres solutions.

Samuel Amédro, pasteur de l’Église protestante unie et théologien, nuance : « Certaines femmes vont utiliser cet outil comme un moyen de préserver leur confort, d’autres sont dans la détresse dans laquelle les laisse des hommes lâches ou violeurs. Tout est possible… » Mais selon ce pasteur, l’enjeu n’est pas de cautionner l’IVG en tant que telle. Il est d’accompagner les personnes. « Comment sommes-nous présents à elles, comment Jésus Christ les rejoint-il ? Cela peut changer leur manière de penser et de voir. »

Pas de réponse de principe qui vaille face à une variété de situations. À chacun de décider sans instrumentaliser le texte biblique ni se retrancher derrière la volonté de Dieu, mais en étant pleinement conscient et responsable. D’autant que directement concerné par une difficulté, tout être humain est susceptible de suivre un autre chemin que celui dicté par sa position de départ. « S’il y a une éthique protestante, c’est d’aider les gens à être debout dans leur décision », résume Samuel Amédro. Et son confrère Louis Schweitzer de conclure qu’« on peut avoir une conviction profonde en tant que chrétien et comprendre, en même temps, qu’on ne peut pas imposer cette conviction à une société qui ne la partage pas ».

Encore aujourd’hui, les droits des femmes, dont l’avortement fait partie mais auxquels ils ne se résument pas, restent à défendre. Contre une domination masculine, que les femmes alimentent parfois, même inconsciemment, et contre les femmes elles-mêmes qui peinent à prendre toute leur place. Quant à l’avortement, s’il reste à défendre contre l’ignorance, voire la désinformation exercée par certains lobbies, il demeure le dernier recours, tant il faut encourager la contraception, trop souvent négligée.


Un œil libéral sur l’IVG
https://www.evangile-et-liberte.net/2022/02/%EF%BB%BFun-oeil-liberal-sur-livg/

L’interruption volontaire de grossesse est un sujet de débat, y compris dans les pays où elle a été légalisée. La pasteure Emmanuelle Jacquat rappelle à la fois qu’il est nécessaire que cet acte soit légal et que son poids devrait nous conduire à épauler les femmes qui le traversent au lieu de détourner les yeux ...



mardi 27 septembre 2022

La Rochelle, belle et rebelle

 La Rochelle, belle et rebelle


Desde o começo do século 16, La Rochelle era uma cidade próspera que lucrava com o comércio. Era um centro huguenote extremamente ativo.


Amanhã volto para o Brasil. Estou na França há quinze dias. Vim apresentar comunicação sobre Socialismo e Religião no Colóquio Internacional da Associação Paul Tillich em Língua Francesa, que se reuniu em Toulouse. Depois do Colóquio vim para Paris. Estou hospedado na Faculdade Evangélica Livre de Vaux-sur-Seine.


Estou vivendo momentos de descanso e reflexão, aqui à margem do rio Sena, onde num ambiente pleno de espiritualidade cristã, posso meditar sobre a heróica história dos evangélicos na França. E é sobre eles, os huguenotes, que escreverei nesta crônica.


Os huguenotes eram protestantes franceses que surgiram durante a Reforma do século XVI. Não eram camponeses, mas cidadãos nobres e burgueses. Fundaram em 1559 uma igreja reformada que cresceu de forma impressionante.


Em 1571, houve um sínodo huguenote que elaborou, sob a inspiração do líder reformado Théodore de Bèze, a Confissão de La Rochelle. Em 1573, Henrique III, ainda como duque de Anjou, cercou a cidade por mais de seis meses. Os huguenotes formavam então um formidável grupo de pressão econômica, política e militar, apoiados pelos ingleses, alemães, holandeses e pelos protestantes de Genebra.


Assim, na segunda metade do século XVI, os ataques católicos aos huguenotes fizeram-se cada vez mais virulentos, culminando com o massacre de São Bartolomeu, em 24 de agosto de 1572, no qual foram mortas mais de 30 mil pessoas.


Estou sentado num banco de madeira, rodeado de verde. Atrás, fica a biblioteca da faculdade, lá na frente, uma árvore seca se inclina sobre o rio. Um irmão seminarista, do Haiti, caminha de um lado a outro do campo verde. Ele ora. Está entardecendo. São quase dez da noite, mas ainda está claro. Eu também oro, olhando para o rio Sena e agradecendo a O Eterno por aqueles que vieram antes de mim, que mantiveram ao preço de sangue, desfraldada, a bandeira do Evangelho.


Os católicos franceses, agrupados no partido da Santa Liga, entre 1576 e 1584, passaram a pressionar huguenotes e os reis considerados hesitantes. Na esperança de legalizar a existência de uma igreja reformada e de apaziguar os ânimos, o rei Henrique IV (1553-1610), soberano huguenote que se converteu sob pressão ao catolicismo uma semana antes do massacre de São Bartolomeu,  assinou em 13 de abril o Edito de Nantes. Em 1576, retornou ao protestantismo.


O Edito de Nantes fez importantes concessões aos huguenotes. Entre elas, as liberdades de consciência e de culto nas residências senhoriais, em todas as cidades onde existisse a fé reformada. Concedeu anistia para todos os "crimes" cometidos no passado e criou 150 locais de refúgio para os huguenotes: 66 cidades e castelos onde guarnições eram mantidas pelo rei.


La Rochelle que pertencia aos huguenotes desde a primeira guerra de 1562 foi uma dessas cidades de refúgio. E mais: tornou-se a mais forte praça de guerra cedida aos protestantes pelo Edito de Nantes. Na verdade, era a capital huguenote na França.


O Edito de Nantes foi, de fato, uma constituição político-religiosa que procurou criar mecanismos de defesa para os huguenotes. Mas não durou muito. Em 1627, o cardeal Richelieu, a propósito de um pacto firmado entre La Rochelle e a Inglaterra, que já declarara guerra à França, iniciou a destruição de La Rochelle.


O cardeal conduziu pessoalmente o cerco à cidade rebelde, construindo em terra firme, 12 km de linhas contínuas de fortificações e, no mar, a construção de um dique destinado a impedir a chegada de suprimentos pela frota inglesa.


Os huguenotes, comandados pelo almirante Jean Guiton, prefeito da cidade, resistiram durante quinze meses até que a fome forçou-os à rendição em 28 de outubro de 1628. As fortificações da cidade foram arrasadas e as franquias municipais suprimidas. A partir de então, La Rochelle entrou em declínio.


Luiz XIV, convencido de que os huguenotes haviam desaparecido do solo francês, seja pela fuga, pela conversão forçada ao catolicismo ou pelo massacre, aboliu, em 18 de outubro de 1685, o Edito de Nantes.


A partir desse momento, os huguenotes perderam toda liberdade de culto e toda garantia de segurança. Tornaram-se marginais: suas propriedades foram confiscadas e privados de todos os seus direitos pessoais.


A guerra civil irrompeu como guerra clandestina, com a fuga para os países protestantes de centenas de pastores. Suas igrejas foram destruídas. Abandonaram bens e filhos, que eram proibidos de deixar o país. O catolicismo exigia que fossem reeducados na fé romana.


Mais de 400 mil huguenotes se refugiaram principalmente na Holanda e na Prússia, países que lucraram com isso por receber recursos humanos estratégicos: comerciantes, empresários e intelectuais. A América inglesa também recebeu um número grande dessa elite huguenote em diáspora. 


Poucos irmãos brasileiros sabem que a saga huguenote aportou em nossas terras. Poucos, infelizmente, têm conhecimento dos mártires que testemunharam e foram sacrificados aqui por amor ao Evangelho.


Em 1557, chegou ao Rio de Janeiro um grupo de huguenotes com o objetivo de fundar aqui uma colônia chamada França Antártica, que deveria se caracterizar pela tolerância religiosa. Eram os primeiros protestantes a pisar em terras brasileiras.


Três pastores lideravam o grupo huguenote. Ao aportarem no Rio, depois de brigas e discordâncias com os católicos que integravam a França Antártica, Villegaignon, comandante da frota francesa, entregou os pastores e suas ovelhas às autoridades portuguesas. Alguns conseguiram escapar, mas quatro deles, Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon e André la Fon foram presos e condenados à morte.


Foram condenados não somente por aportarem na terra, que era colônia portuguesa, mas por difundirem o evangelho da graça, que contrariava as doutrinas católicas de salvação por fé e obras.


Antes de serem executados, os huguenotes tiveram a oportunidade de confessar sua crença. Era um direito. E o governador português exigiu dos rebeldes uma confissão de fé. Era uma última chance de renegar suas heresias protestantes. Foi-lhes dado um prazo de 12 horas para que escrevessem num documento tudo quanto criam.


Em doze horas aqueles quatro homens, com ajuda apenas de suas Bíblias escreveram a primeira confissão de fé das Américas, mostrando aos jesuítas aquilo no que criam. Foi um Credo. E sabiam que estavam assinando suas sentenças de morte.


No momento da execução o carrasco, por conhecer a vida piedosa daqueles homens, recusou-se a executá-los. Impaciente, José de Anchieta, o padre que os acompanhava, afastou o carrasco e ele mesmo pôs fim à vida dos huguenotes. Era uma manhã de sexta-feira, 9 de fevereiro de 1558. 


Pai querido, em nome de Jesus, agradeço por teus mártires. São dez e meia da noite. O Sena agora é apenas uma mancha escura que desliza. No meu coração, porém, brilha mais forte o evangelho da graça, que irmãos de outros tempos me entregaram. Devo honrar este evangelho e passá-lo às gerações futuras. Vaux-sur-Seine, 2 de junho de 2003.





A vida ... uma paixão radical

A vida, uma paixão radical


Um dos temas centrais da mídia, hoje, é a violência. Tal fato nos leva a pensar e a viver como se a vida não tivesse a menor importância ou valor. E em nome de doutrinas, políticas e religiões, gentes são transformadas em bombas humanas, assassinos seriais, legais ou não, que espalham a dor, o sofrimento e a morte. Nesse clima de ódio e violência, é importante dizer que a primeira teologia das Escrituras hebraicas, e posteriormente cristãs, construída para o ser humano no bojo da teologia da criação, é a teologia da vida.


O Eterno fez o humano como semelhante, cheio de parecença, para ser como Ele e com Ele, para curtir o mundão criado, fazer sexo, ter filhos, produzir criativamente. E O Eterno contou isso aos humanos e um dia isso foi registrado lá em Bereshit, o livro primeiro das Escrituras. E é interessante que quem registrou a história que ouviu dos antepassados disse que O Eterno curtiu a beça tudo aquilo. Achou genial o que tinha feito, tanto que deu por terminado o seu trabalho e foi descansar.


As histórias se multiplicam. Há histórias que falam da importância da vida nas Escrituras hebraicas, e há histórias sobre a vida e sua singularidade nas tradições de gentes e povos. Na tradição judaica, conta-se que quando os escravos fugiram do Egito com os soldados egípcios correndo atrás deles e já estavam atravessando o Mar Vermelho, anjos resolveram cantar um hino de gratidão a O Eterno, mas o Eterno não permitiu e disse: Eu criei o ser humano, cada um deles é minha criação, como poderei cantar se muitos vão se afogar neste mar? Eis a universalidade da vida: fomos criados por O Eterno, todos somos parecença, quer escravos hebreus ou soldados egípcios. A teologia entende isso: a vida é direito universal porque O Eterno ama a pessoa, todas as pessoas -- foram feitas por Ele e têm o jeitão dele.


Nesse sentido, a partir da teologia da vida podemos dizer que não há diferença entre judeu e grego, cada pessoa ocupa um lugar especial no coração de O Eterno, para Ele é como se todos fôssemos únicos. 


O respeito pela vida de cada um e de todos e a negação do ódio e da violência: direcionam a teologia da vida. Criar e educar pessoas traduz-se em ensinar, em primeiro lugar, que quem destrói uma única vida destrói todas e a própria criação. E quem cuida e salva uma única vida salva o mundo. Cuidar e salvar pessoas é semear a paz para que ela reine entre os seres humanos. Para que ninguém possa dizer: o meu pai é maior do que o teu pai.


Voltando ao primeiro livro das Escrituras hebraicas, vemos que ele se descreve como o livro da história humana. E é interessante o que esse livro fala da criação e da história do primeiro casal: Da-terra e A-vida. Este é sentido dos nomes Hadam e Hawah. A construção dessas duas pessoas, Da-terra e A-vida, ao se dar no final do processo de surgimento do universo, mostra o valor que têm para O Eterno: são menores, aparentemente pequenos, mas valem muito, pesam tanto quanto todo o universo. A história humana é a história de uma pessoa, de duas pessoas, de todas as pessoas. 


E será que eu posso fazer da minha mulher, escrava. Ou, em outras palavras, posso explorá-la? Não, não posso. Será que posso fazer dos meus pais, escravos. Ou, em outras palavras, posso explorá-los? Não, não posso. Será que posso fazer de meus filhos escravos. Ou, em outras palavras, posso explorá-los? Não, não posso. E por quê? Porque devo amar o humano como semelhante, como igual. Esteja ele ao lado ou distante, é sempre próximo. Este princípio é fundamental na teologia da vida. As relações humanas implicam em reciprocidade, deve levar ao companheirismo, ao fundamento de origem: Da-terra e A-vida estão por trás de toda a humanidade.


As Escrituras hebraicas nos falam da obrigação de amar o estrangeiro, ou seja, aquele que nos parece totalmente diferente. Esse é o princípio da paz entre os povos. Por isso, a teologia da vida propõe que a paz prevaleça, seja formulada como lei a obrigação de cuidar e proteger os diferentes e as minorias. Este é o sentido maior da justiça.


Assim, se perguntarem: um homem pode explorar pai, mãe, mulher, filhos? Sabemos que a resposta é não. E de novo a pergunta: um homem pode explorar aquele que é diferente dele por credo, raça, sexo ou sob qualquer outro aspecto? Muitos acharão que sim. Mas quando tenho em minha frente uma pessoa, tenho um igual e, por mais diferente que seja, é meu irmão. Ser justo é reconhecer a liberdade dele, seus direitos e cuidar para que tenha uma vida digna, como humano que é.


O respeito e o cuidado por tudo aquilo que é humano, pelo ser, por sua terra e vida, é teologia radical, que nasce da compreensão de que somos semelhantes, cheios de parecença com O Eterno. A imagem está em um, em dois, em todas as pessoas.




Suivre le chemin ...

Odos, aletheia, zoé
Jorge Pinheiro, PhD

 « Jésus lui dit : Je suis le chemin, la vérité et la vie.  Nul ne vient au Père que par moi. »

 odos

Thomas a exprimé sa difficulté et Jésus lui a dit : "Je suis le chemin, la vérité et la vie".

L'une des lignes principales de cette corrélation des idées théologiques - chemin, vérité et vie - présentes dans l'affirmation de Dieu, nous renvoie aux concepts présents dans les écritures hébraïques, dans la philosophie et la mythologie grecques et dans la pensée latine.  Mais commençons par l'idée de halakha, qui traite des obligations religieuses auxquelles les Juifs doivent se soumettre dans leurs relations avec les autres et avec l'Éternel.  Il englobe tous les aspects de l'existence.  Mais halakha a un sens plus large, celui de chemin.

Ainsi, dès la halakha, plus que de proposer un culte statique de l'Éternel, les Ecritures nous disent de marcher avec lui.  D'où l'idée de chemin.  L'être humain est placé à chaque instant et chaque jour devant l'exigence d'exercer sa liberté et de choisir entre le bien et le mal, ou, comme le dit Deutéronome 30.15 : " Voici qu'aujourd'hui je mets devant vous la vie et la prospérité, ou la mort et la ruine".

La ligne de force de la voie de la loi ou halakha est étendue et profonde dans les Écritures.  Et si auparavant il se reposait sur la loi, maintenant il est le Christ lui-même.  Et c'est à partir de ce concept théologique qui structure la pensée hébraïque-juive, et plus tard chrétienne, que nous pouvons comprendre la déclaration de Jésus.

Les Hébreux ont parlé de la voie que les gens devraient suivre.  Dieu dit à Moïse : « Tu auras soin de faire comme l'Éternel, ton Dieu, t'a commandé ;  vous ne vous détournerez ni à droite ni à gauche.  Tu marcheras dans toute la voie que ton Seigneur ton Dieu te commandera » (Deutéronome 5 :32-33).  

Moïse a dit au peuple : « Je sais qu'après ma mort, vous ferez certainement des actes de corruption et vous vous détournerez de la voie que je vous ai prescrite » (Deutéronome 31 :29).  

Isaïe avait dit : « Tes oreilles entendront derrière toi une parole disant : Voici le chemin, marchez-y.  (Ésaïe 30:21).  

Dans le nouveau monde, il y aurait une route appelée la Voie de la Sainteté.  Dans celui-ci, les marcheurs, aussi simples soient-ils, ne seraient pas perdus (Isaïe 35:8).  

Le psalmiste a prié : « Enseigne-moi ta voie, ô Seigneur » (Psaume 27 :11).  

Les Juifs en savaient beaucoup sur la voie de l'Éternel qu'ils devaient suivre.  Et Jésus a dit : « Je suis le chemin.

En grec, halakha se transforme en hodós, le chemin le plus court.  Et une autre idée est ajoutée, objectif.  μετά, μέt-, nous renvoie à après ou qui suit et lorsqu'il est joint à οδός, chemin, nous avons l'idée de suivre un chemin, pour arriver à une fin.  Ainsi, en philosophie, la méthode définit une manière d'accéder à la connaissance.

lundi 26 septembre 2022

Baptistes pour débutants

Baptistes pour débutants

Une lecture de la théologie de la vie

Jorge Pinheiro, PhD


Première partie


En ce moment où les baptistes occupent les gros titres des journaux en raison de divergences politiques, il est important de comprendre leurs origines et leurs particularités en tant que mouvement protestant.


Aux XVIe et XVIIe siècles, dans diverses régions d'Europe, de petits groupes de chrétiens se rassemblent clandestinement, fuyant la persécution des puissances liées à l'Église de Rome. Ils savaient qu'ils faisaient partie de la communauté du Christ, qui avait émergé là-bas, suite à la prédication du prophète Jean-Baptiste, qui travaillait sur les rives du Jourdain. Ces chrétiens connaissaient des histoires de communautés de foi qui les avaient précédés et qu'au cours des siècles, de nombreux disciples de la bonne nouvelle avaient été persécutés, emprisonnés et tués. Et ils n'ont pas établi leurs communautés avec visibilité.


Et ils croyaient que depuis le prophète Jean-Baptiste jusqu'en ce moment de persécution, ils étaient des pèlerins et avaient été appelés à être des témoins des enseignements du Christ nazaréen.


Cette lecture des origines, ayant Jean-Baptiste comme référence pour la prédication prophétique, le Jourdain comme référence géographique et Jérusalem comme siège de la première communauté de foi, est devenue la théorie Jean, Jourdain, Jérusalem.


Mais au cours du XVIe siècle, en Allemagne, et plus tard dans d'autres pays européens, des groupes de chrétiens, qui cherchèrent à revenir aux textes des deux testaments et qui n'acceptèrent que des personnes dites converties par l'esprit de l'Éternel , ont été baptisés et ont formé de petites communautés de foi. . Elle grandit ainsi et marqua sa présence sur le continent européen. Ces chrétiens ne reconnaissaient pas le baptême administré dans la petite enfance, car ils disaient que les nouveau-nés ne sont pas conscients de l'aliénation, du besoin de régénération, de foi et de salut.


Pour défendre ces positions, ils se sont appuyés sur les évangiles. L'exigence du baptême par immersion a attiré l'attention du peuple et des autorités et on les a appelés anabaptistes et plus tard baptistes, parce qu'ils ont amené dans les eaux ceux qui s'étaient repentis de leur aliénation et avaient accepté le Nazaréen comme sauveur et seigneur des leurs vies.


Ainsi, la désignation des baptistes s'est imposée au XVIIe siècle. Ces chrétiens croyaient être spirituellement connectés à tous ceux qui, à travers les siècles, ont essayé de vivre selon, les enseignements du Nazaréen, disant non, au péril de leur vie, aux autres lectures de la bonne nouvelle du Christ.


C'est au XVIIe siècle en Angleterre qu'une communauté de foi se donna officiellement le nom de Baptist. Cette communauté a été fondée par John Smyth (1570-1612), un pasteur qui prônait la liberté religieuse, condamnée par l'Église d'Angleterre. Aujourd'hui, Smyth est considéré comme le fondateur des dénominations baptistes modernes.


Mais nous ne pouvons pas oublier qu'il existe pour ces baptistes une unité qui s'ajoute aux mouvements historiques que nous venons de présenter et que nous pouvons résumer ainsi : Baptiste est une appellation qui s'appliquait à différentes communautés chrétiennes au XVIIe siècle en Angleterre. Ces baptistes se considéraient comme les représentants de la résistance chrétienne, d'un christianisme du Nouveau Testament qui traversait l'histoire.


Alors, ils ont dit que si dans n'importe quelle partie du monde, quelles que soient les circonstances, une communauté de foi pratiquait les doctrines du nouveau testament, nous aurions là une communauté baptiste.


À travers les âges, les baptistes ont été connus pour avoir défendu les écritures judéo-chrétiennes comme règle de conduite et de foi ; la conception de l'Église comme communauté locale, démocratique et autonome, composée de personnes libérées de l'aliénation et baptisées par immersion ; la séparation de la communauté confessionnelle et de l'État; de la liberté de conscience ; de la responsabilité individuelle devant l'Éternel ; et la tradition apostolique des communautés de foi.


Il est important de comprendre que pour les baptistes, l'être humain a été formé par l'Éternel à son image et selon, sa ressemblance et de là dérivent sa valeur et sa dignité. Son corps a été fait de la poussière de la terre et à la poussière il retournera. Notre esprit procède de l'Éternel et à Lui il retournera. Le créateur a ordonné à la personne de développer et de conserver l'œuvre créée. Construit pour la glorification de l'Éternel, son but est de connaître et d'être en communion avec son bâtisseur, ainsi que d'accomplir sa volonté. Étant personnel et spirituel, chaque être humain a la capacité de connaître et de comprendre, intellectuellement et expérimentalement, le texte révélé et de prendre des décisions en matière religieuse, sans  médiation, l'ingérence ou l'imposition d'aucune puissance humaine, qu'elle soit civile ou religieuse.


Et ils se caractérisent également par la coopération entre leurs communautés. Aucun pouvoir ne peut contraindre cette communauté locale, si ce n'est la volonté de l'Éternel. Les baptistes, basés sur ce principe de coopération des communautés de foi, réalisent des œuvres missionnaires ; d'évangélisation, d'éducation théologique, religieuse et laïque ; d'action sociale et de bienfaisance.


Pour l'exécution de ces fins, ils organisent des associations régionales et des conventions étatiques et nationales, celles-ci n'ayant cependant aucune autorité sur les communautés confessionnelles ; leurs résolutions doivent être comprises comme des suggestions ou des appels.


Pour les baptistes, les textes, en particulier le Nouveau Testament, constituent la règle de conduite et de foi, mais, de temps à autre, les circonstances exigent que soient prononcés des énoncés doctrinaux qui éclairent les esprits, dissipent les doutes et réaffirment les positions.


Aujourd'hui, les baptistes sont, après le pentecôtisme, la branche la plus nombreuse du protestantisme dit évangélique, entendu comme un christianisme bibliciste, de conversion et militant. C'est la principale confession protestante nord-américaine et elle a connu une forte croissance au Brésil.


Ce protestantisme se caractérise par la référence à la tradition confessionnelle, mais aussi par une remarquable plasticité. Globalement, ils totalisent environ 35 millions.


Idéologiquement, ils reflètent une partie de la pensée des anabaptistes au temps de la Réforme. Les congrégations anabaptistes du début du XVIIe siècle et les groupes de puritains indépendants ou congrégationalistes, qui ont fui l'Angleterre pour la Hollande, font partie de cette construction historique. Influencés par les anabaptistes, les puritains indépendants sont devenus convaincus que le baptême n'est approprié que pour les adultes convertis.


De retour en Angleterre, ce groupe forme la première communauté baptiste en 1611. Deux décennies plus tard, Roger Williams (1639) forme la première communauté baptiste à Providence (Rhode Island / USA). Dès lors, les baptistes, déjà influencés par la théologie calviniste, se développent rapidement aux États-Unis. La démocratie informelle centrée sur les Écritures est devenue une référence politique dans la construction de communautés frontalières dans les conditions rurales instables du sud, du Midwest et du Far West américains. Ainsi, ces régions étaient peuplées de baptistes.


Les chrétiens baptistes considèrent la vie chrétienne comme une foi, un service et un témoignage personnels. Cela fait des militants de la cause protestante. Chaque personne doit naître de nouveau, se convertir à une nouvelle vie et à partir de là se rassembler dans une communauté locale. Pour les baptistes, la communauté de foi locale est le résultat de la conversion et de la grâce, une communauté de croyants réunis : elle n'est pas la mère de l'expérience chrétienne, ni la source de la grâce.


La communauté locale est sainte, séparée de l'aliénation, parce que la foi et la vie de ses fidèles sont saintes. La communauté confessionnelle locale, du moins en principe, n'a aucune autorité sur ses membres, dans leur liberté de conscience ou en matière ecclésiastique.


En raison de leur plasticité, les baptistes ont montré des caractéristiques opposées dans l'histoire. En raison de leur accent sur les textes faisant autorité, la compréhension puritaine, l'éthique victorienne et une compréhension du besoin de foi et de sainteté personnelle, la plupart des baptistes sont conservateurs, à la fois sur les questions de foi et de morale. Ils avaient peur face au monde moderne et à la post-modernité d'aujourd'hui. L'évangile et les textes sont interprétés littéralement. Pour lui, la conduite et l'éthique sont les principes fondamentaux de l'Écriture. Pour cette raison, de nombreuses conventions baptistes refusent de rejoindre le mouvement œcuménique et ignorent l'évangile social et son souci de justice économique, politique et sociale.


Cependant, en raison de l'accent mis sur la liberté de conscience et de croyance personnelle et de l'importance de la vie loin de l'autorité ecclésiastique, des dogmes et des rites, les baptistes sont des leaders du libéralisme tant au niveau politique que théologique.


De nombreux séminaires et communautés baptistes sont connus pour leur style de culte, leurs attitudes sociales et leurs théologies libérales. Les baptistes ont joué un rôle important dans la création du mouvement œcuménique au début du XXe siècle. Et ils étaient présents dans les controverses qui ont dominé le siècle dernier aux États-Unis entre la théologie moderne et l'intégrisme, l'évangile social et l'évangile individuel, l'œcuménisme et l'exclusivisme.


Mais, ils ont toujours eu des rôles de premier plan dans les deux pôles, bien que contraires, un exemple de cela était Walter Rauschenbusch, pasteur baptiste et théologien et l'un des théoriciens de l'Évangile social. Et au Brésil, on peut citer le Manifeste des ministres baptistes de 1963, avec un contenu politique et social clair en faveur de réformes structurelles dans le pays.


Le XXIe siècle s'affronte. Dès lors, de nouvelles questions entrent à l'ordre du jour : l'avortement, le genre, la pluralité sexuelle, en termes politiques, droite contre gauche, par exemple. Nous savons plus ou moins ce qu'étaient les baptistes, quelque chose de ce qu'ils sont, mais peu de ce qu'ils seront.


La pensée baptiste plonge ses racines dans la Révolution libérale anglaise du XVIIe siècle, mais elle est aussi héritière de la Réforme radicale et de la Réforme magistrale. Mais c'est au XVIIIe siècle, sous les Lumières, que la pensée baptiste européenne s'enracine et se répand. Et il a joué un rôle dans l'histoire de la pensée en Angleterre, en Europe continentale et aux États-Unis. Il a combiné l'écriture judéo-chrétienne et la spiritualité et au XIXe siècle a donné au monde des penseurs d'avant-garde en construisant ce que l'on a appelé l'évangile social.


Être baptiste brésilien aujourd'hui n'est pas quelque chose de défini et de précis, surtout quand on entre dans la discussion pour savoir s'il est ou non protestant et s'il appartient ou non à la souche des chrétiens rebellés du Moyen Âge. Pour cette raison, pendant de nombreuses années, ils ont été considérés comme des sectes autonomes sans représentation civile et opposées à toute expression de l'État. Une idée en partie justifiée du point de vue d'Ernst Troeltsch et de Max Weber. Et comme il est difficile de définir la diversité, puisque l'on trouve des mouvements baptistes fondamentalistes, libéraux et rationalistes, il est important de suivre le chemin de ce qui lui est propre, c'est-à-dire les caractéristiques qui se croisent et demeurent dans toutes les lectures baptistes.


Sans doute, ayant été lié aux Lumières, il recherche une foi intelligente. Il nie le divorce entre la foi et la raison, bien qu'il reconnaisse l'importance des courants chrétiens qui voient dans la foi une rupture de la logique, un éloignement de la raison et un saut dans l'irrationalité du mystère insondable. La pensée baptiste qui recherche la cohérence et les corrélations entre la foi et la raison interagit avec la culture. Sans nier que l'insondable existe, il conçoit la pensée comme une construction qui ne peut se passer ni de la foi ni de la raison.


Le Brésil en ces temps post-modernes lutte contre la pensée qui se veut autonome, car elle préfère la massification des idées. La société brésilienne de la post-modernité a choisi de reproduire la mondialisation de l'industrie du divertissement et de la communication de masse. La vie proposée par la postmodernité, au-delà des problèmes structurels de la société brésilienne, nous rendons inquiets et superficiels. Il regarde le spectacle et est troublé par des questions qui cherchent des raisons. Mis au défi d'aller de l'avant, les baptistes comprennent que ce qui ressemble n'est pas, et ce qui ne ressemble pas, est.


La foi exige une pensée qui ne s'atrophie pas et la spiritualité n'est pas un adversaire, mais un allié indispensable dans la construction du sens de la vie. La raison sans foi, bien que vraie, n'est pas raisonnable, elle devient rationalisme. La raison doit reconnaître qu'il y a des choses au-delà d'elle et qu'elle est incapable de pénétrer de manière satisfaisante dans le mystère de la vie et de l'univers. Elle doit accepter ses limites et par conséquent, l'existence de dimensions au-delà. Cependant, l'ouverture et l'esprit critique sont nécessaires. Cela empêche d'avoir la foi de dire ou de faire quoi que ce soit.


Nous avons une piété émotionnelle exubérante et chaude ces jours-ci. Il cultive les affections, mais craint la pensée. Nous avons donc le dogmatisme, l'intégrisme, qui apprend à regarder, à faire, à dire, que forme des opinions bloquées sur le monde. Il offre des certitudes et, par extension, du confort et de la paresse. Fuyez les problèmes et les questions douloureuses. Cette forme de piété repose sur le réalisme littéraliste. Mais nous avons un autre versant, la vie en questionnement permanent, qui doute de la possibilité de la vérité, bien qu'elle recherche frénétiquement la découverte. Elle repose sur un scepticisme nihiliste. Or, la foi implique croyance, passion et sentiments, c'est une expérience avec l'insondable de l'Éternel.


Les écritures judéo-chrétiennes interpellent l'amour humain à se réaliser devant l'Éternel avec le cœur, la force, mais aussi avec la pensée. Et c'est cette pensée qui approfondit, fonde et dirige la foi. Cette compréhension s'oppose au réalisme littéraliste et au scepticisme nihiliste.




dimanche 4 septembre 2022

L'assemblée du désert

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