mercredi 26 octobre 2022

Carta aos Efésios

Carta aos Efésios


AUTOR. Paulo, o apóstolo. Veja 1:1.

DATA. Provavelmente escrita em Roma, ano 60-64 d.C.


Éfeso hoje


A região do Mar Egeu é uma das regiões mais belas da Turquia. Longas praias de areia, oliveiras verdes, rochas e pinheirais juntamente com águas cristalinas. O clima é ameno e a brisa marítima refresca os dias mais quentes do verão. Uma das regiões mais bonitas é Marmaris, que foi um local destacado na rota comercial que ligava a Anatolia ao Egito. Os arredores de Marmaris estão cheios de locais históricos.


Marmaris situa-se numa baía rodeada de montanhas, no ponto de encontro entre o Mar Egeu e o Mediterrâneo. A dois dias de viagem está a antiga Éfeso e Pamukkale, onde possivelmente morou Maria, a mãe de Jesus. De Éfeso restam ruínas, a casa de Maria e a basílica de São João  As sete igrejas citadas no Apocalipse estavam localizadas em cidades hoje da Turquia. 


A Carta


A Carta aos Efésios "é um hino de adoração proveniente do coração do apóstolo Paulo. Não é um argumento teológico monótono e sim o transbordar de sentimentos ardentes do coração agradecido do apóstolo. No grego esta passagem (1.3-14) constitui uma grande sentença. O espírito de Deus inspirou o apóstolo Paulo a proferir esta profusa adoração ao Deus que o havia salvado”.


É um fato bem atestado e geralmente aceito que Paulo foi o escritor desta epístola, como afirma o prefácio (cfr. 3.1). As circunstâncias do escritor, como são reveladas incidentalmente pelo texto, sugerem que a epístola fosse escrita durante o período em que Paulo esteve preso em Roma (At 28.16; 28.31), visto que fala de si como prisioneiro (4.1) em cadeias (6.20) por amor dos gentios, (3.1). Os amplos conceitos de um habitante do Império que se manifestam nesta epístola confirmam esta idéia. Não se acha revelada nenhuma ocasião especial, nem propósito imediato em escrever a epístola, exceto o fato de que Tíquico levaria outra correspondência para a Ásia (Cl 4.7). O ensejo para escrever se ofereceu, provavelmente, num tempo de lazer, calmo e ininterrupto, que o apóstolo experimentava em sua prisão em Roma -- era pouco mais que detenção em casa (At 28.16 e segs.). Nessa atmosfera sossegada do Império romano, seu pensamento amadureceu e o Espírito lhe revelou, mais claramente que nunca, uma filosofia divina da história do mundo, os altos propósitos de Deus e o destino glorioso da Igreja. Tais pensamentos e revelações haviam de ser expressos; e no tempo vazio de sua longa espera pelo processo (At 28.30), e com a oportunidade de enviar a carta, providenciada pela viagem de Tíquico, Paulo escreve esta nobre obra.


Alguns têm pensado que a epístola foi escrita durante sua prisão em Cesaréia (At 23.33; 27.2), mas Roma é muito mais aceita como o lugar de origem. A data mais provável que podemos dar-lhe é, portanto, 61 A. D.


Duas séries de fatos se combinam para sugerir que esta epístola fosse enviada, não a uma igreja em particular, mas a um grupo de igrejas dentro de uma área limitada. O fato de que as palavras «em Éfeso» não ocorrerem nos manuscritos mais autorizados e o fato de não figurarem as saudações que usualmente acompanham as epístolas de Paulo a uma igreja onde ele fosse conhecido (como era em Éfeso, onde passou mais de dois anos, At 19.10) sugerem que foi dirigida a um círculo de leitores mais amplo do que a uma igreja.


Todavia, há indicações de natureza pessoal que parecem confinar a epístola aos limites de uma área relativamente restrita. Refere-se à fé do grupo que Paulo tinha em mente em 1.15 e menciona o fato de que os destinatários sabiam das condições do apóstolo, e simpatizavam com ele (3.13). Esse grupo de igrejas não era, provavelmente, muito diferente daquele ao qual se dirigiu João, em Ap 1.4. Entre elas, a de Éfeso gozava de uma importância capital e é bem possível que esta epístola se tenha tornado muito conhecida, principalmente por meio da circulação de cópia pertencente aos efésios.


Relação com Colossenses


A relação literária entre esta epístola e a que dirigiu aos Colossenses é tão próxima que as duas têm sido chamadas «epístolas gêmeas». A metade dos versos de Efésios pode ser encontrada, em linguagem ou em substância, em Colossenses. Cerca de 40 coincidências de pensamento e de linguagem podem ser reconhecidas; contudo, as expressões comuns são tão intimamente relacionadas com a estruturação de cada epístola que é impossível crer que sejam fruto de imitação ou de falsificação. Especialmente significante é o fato que, enquanto palavras e frases semelhantes aparecem nas duas cartas, o contexto e a associação de idéias são diferentes. As semelhanças que existem entre as duas podem ser explicadas, razoavelmente, pelo fato de as circunstâncias que cercavam o autor terem sido as mesmas em cada caso; as diferenças se explicam, principalmente, nas condições diferentes das pessoas às quais foram endereçadas. Não há, por exemplo, nenhum assunto de controvérsia na epístola geral aos Efésios, como o que se encontra na carta à igreja individual em Colossos (Cl 2.16-23). Se há qualquer precedência cronológica, parece que a carta aos Colossenses foi escrita antes da aos Efésios, porquanto nesta o pensamento comum a ambas é plenamente desenvolvido.


Efésios e Colossenses são muito parecidas em sua estrutura. Cada uma apresenta uma seção doutrinária (Ef 1.1-4.16; Cl 1.1-3.4) e cada uma conclui com uma aplicação prática. A maneira como os tópicos se sucedem, um ao outro, na mesma ordem é digna de observação: a relação de Cristo com a Igreja aparece no primeiro capítulo de cada epístola: são paralelas a referência de Paulo à sua comissão (Ef 3.1-13; Cl 1.23-29), e o sumário da doutrina no fim das seções doutrinárias (Ef 4.1-16; Cl 3.1-4). Nas seções práticas se vêem exortações paralelas contra certos pecados (Ef 4.17-5.21; Cl 3.5-17) e se encontram passagens notáveis sobre relações humanas dentro do evangelho (Ef 5.22-6.9; Cl 3.18-4.1).


A epístola é “um dos mais notáveis escritos do Novo Testamento, tanto pela consistência teológica, quanto pela praticidade”. Sua ênfase concentra-se no:

 

  1. Projeto divino da salvação, 
  2. Natureza da igreja, 
  3. Senhorio de Cristo sobre todas as coisas. 


A Epístola descreve a igreja como sendo o corpo de Cristo. Ele é a cabeça que dá vida e comanda o corpo. Os aspectos da universalidade e unidade da igreja, bem como sua submissão a Cristo -- revelada através de um novo estilo de vida -- são preponderantes:


  1. bênção da eleição Efésios 1,3-4.
  2. bênção da adoção Efésios 1,5-6
  3. conhecimento de Deus Efésios 1,7-14
  4. graça Efésios 1,15-23
  5. nova sociedade Efésios 2,1-10
  6. universalidade da graça Efésios 2,11-22
  7. unidade da igreja Efésios 3,1-13.
  8. edificação da igreja Efésios 3,14-21.
  9. nova vida Efésios 4,1-6; 4,7-16
  10. plenitude do espírito Efésios 4,17-5,14
  11. relacionamentos cristãos Efésios 5,15-21 Efésios 5,22-6,9
  12. luta espiritual - Efésios 6,10-20. 


A carta aos Efésios “é portadora de uma boa notícia: o universo inteiro forma um só corpo em Cristo, cabeça de tudo. Essa novidade é celebrada na 'grande bênção' que abre o texto (1,3-14) e que espalha suas raízes, ramos, flores e frutos por todo o texto. Neste texto o aluno vai encontrar uma introdução básica para começar a entender Efésios e um comentário breve a cada trecho, mostrando continuamente a ligação que existe entre o grande hino e as partes menores do texto:" 


O Ministério de Paulo 


Sua primeira visita, At 18:18-21; em sua segunda visita, o Espírito Santo foi dado aos crentes, At 19:2-7; continua seu trabalho com êxito extraordinário, At 19:9-20; seu conflito com os artífices, At 19:23-41; sua palavra aos anciãos efésios, At 20:17-35. Os judeus convertidos nas igrejas primitivas se inclinavam a ser exclusivos e a separar-se de seus irmãos gentios. Esta situação na igreja de Éfeso pode ter motivado o apóstolo a escrever esta carta, cuja idéia fundamental é a unidade cristã.


TEXTO CHAVE, 4:13.


CADEIA CHAVE, mostrar a corrente do pensamento, 1:10; 2:6, 14-22; 4:3-16.


TEMA PRINCIPAL. A unidade da igreja, especialmente entre os crentes judeus e gentios.

Percebe-se esta intenção na ocorrência de certas palavras e frases, como:


(1) As palavras com e juntamente; 1:10; 2:6; 2:22.

(2) A palavra um - um só novo homem; 2:14-15; um só corpo, 2:16; um Espírito, 2:18; uma esperança,4:4; um Senhor, uma fé, um batismo, um Deus e Pai de todos, 4:5-6.


OUTRAS PALAVRAS E FRASES REPETIDAS.


(1) Em Cristo, 1:1,3,6,12,15,20; 2:10,13;3:11;4:21.

(2) Nos lugares celestiais, 1:3,20; 2:6; 3:10.

(3) Riquezas de graça, 1:7;2:7. Riquezas de glória, 1:18; 3:16. Riquezas de Cristo, 3:8.


SINOPSE


PARTE I. A igreja e o plano de salvação. Ao discutir o plano de salvação nas diferentes epístolas. Paulo varia a ênfase. Em Romanos, ele o faz sobre a fé sem as obras; em Gálatas, sobre a fé sem as observâncias cerimoniais; em Efésios, sobre a unidade dos crentes.


Cap. Um.


(1) A saudação, vv. 1-2.

(2) A origem divina da Igreja, vv. 3-6.

(3) O plano de salvação.

(a) Por meio da obra redentora de Cristo, vv. 7-8.

(b) Seu alcance é universal, vv. 9-10.

(c) Garante uma rica herança espiritual, vv. 11-14.

(d) Oração para que os crentes possam ser iluminados quanto às riquezas de suas provisões, vv. 15-23.


Cap. Dois.


(e) O plano prevê uma ressurreição espiritual longe do pecado, e a exaltação do crente aos lugares celestiais vv. 1-6.

(f) Esta exaltação depende inteiramente da graça, e não das obras, vv. 7-10.

(g) Inclui os gentios, que estavam apartados de Deus, mas que foram aproximados por causa do sangue de Cristo, vv. 11-13.

(h) Remove todas as barreiras entre judeus e gentios, e os une em um corpo para habitação do Espírito Santo, vv. 14-22.


Cap. Três.


(i) Os mistérios do propósito divino são revelados a Paulo, e sua designação como apóstolo aos gentios, vv. 1-12.

(j) A segunda oração de Paulo pela plenitude espiritual da igreja e sua iluminação acerca do amor incomparável de Cristo, vv. 14-21.


PARTE II. Aplicação prática. Propósito do plano divino no que se refere à igreja.


Cap. Quatro.


(1) A unidade dos crentes.

(a) No Espírito, 1-3.

(b) As sete unidades mencionadas, vv. 4-6.

(c) A diversidade de dons e a unidade do corpo de Cristo, vv. 7-16.

(2) A vida cristã conseqüente, o andar dos crentes:

(a) Não como os pecadores, vv. 17-21.

(b) Em uma nova vida, abandonado os pecados passados, vv. 22-32.


Cap. Cinco.


(c) Andar em amor e pureza, vv. 1-7.

(d) Andar na luz, vv. 8-14.

(e) Andar com cuidado, cheios do Espírito, vv. 15-21.

(3) A vida no lar.

(a) Deveres dos esposos e das esposas, vv. 22-23.


Cap. Seis.


(b) Deveres dos filhos, dos pais, dos servos, e dos senhores, vv. 1-9.

(4) A luta espiritual.

(a) A fonte de fortaleza, v. 10.

(b) A armadura e os inimigos, vv. 11-18.

(5) Palavras finais e bênção, vv. 19-24.


SELEÇÕES ESCOLHIDAS

Orações de Paulo pela igreja, 1:16-23; 3:14-21.

A unidade cristã, 4:3-16.

A armadura espiritual, 6:10-17.


Notas
1.  MACARTHUR, John. Escolhidos desde a eternidade, in Fé para Hoje. Editora Fiel, São José dos Campos/SP, Brasil, 2002. n.15, p.1-9 (Ensaio a partir de Efésios 1,3-14").
2. .A igreja de Cristo - Uma abordagem da carta aos Efésios Estudos Bíblicos Didaquê. In: . Didaquê, Manhumirim/MG, Brasil, 2001. 44p.
3. BORTOLINI, José. Como ler a carta aos Efésios - O universo inteiro reunido em Cristo. In: . Editora Paulus, São Paulo/SP, Brasil, 2001. 64p.

Fonte: Escola Bíblica dominical, Igreja Batista em Perdizes, primeiro semestre de 2009.


YouTube 
Bíblia em Áudio: 
Carta de Paulo aos Efésios, Narrado por Cid Moreira (Completo)
https://www.youtube.com/watch?v=NCRD5eUn2tk






mardi 25 octobre 2022

Adoração e espiritualidade

Antropologia e religião 
Adoratores adorabunt 
patrem in spiritu et veritate 

Jorge Pinheiro 

Prof. Doutor em Ciências da Religião 

“No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”. João 4.23-24. 

Introdução 

A adoração pode ser definida como veneração ou culto que se rende a alguém ou algo que se considera sobrenatural, divino e sagrado, bem como rituais e códigos morais que expressam a ação de adorar. 

A palavra portuguesa adorar deriva do latim adoratìo, ónis. No mundo helênico, anterior ao nascimento do cristianismo, adoração referia-se a realização de um serviço sacerdotal, no grego leitourgeo. Mas, depois, no cristianismo passou a ser visto como um estilo de comportamento marcado pelo amor, veneração, ou mesmo idolatria por alguém ou alguma coisa que se considerava excepcional, singular. Donde adorar passou a ser entendido como uma forma de paixão. 

A palavra adoração foi usada durante séculos no contexto cultural da Europa, marcado pela presença do cristianismo que se apropriou do termo latino. E tanto na antropologia, como na sociologia, foi compreendida como expressão de um tropismo humano em direção ao transcendente, ou seja, como expressão de espiritualidade. 

Se tomarmos, por exemplo, o filme “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, vemos que tanto os críticos como milhões de espectadores não notaram que o filme tratava de um dos temas centrais do cristianismo: a questão da espiritualidade cristã. E é esse tema que pretendo abordar, adoração/ espiritualidade, a partir de um texto clássico, o diálogo entre Jesus e a samaritana. 

Para os povos semitas, o que nós hoje entendemos por adoração era traduzido nos gestos de curvar-se, prostrar-se, colocar a cabeça no chão, num ato de total submissão, de entrega, já que aquele diante de quem a pessoa se prostrava poderia decepar-lhe a cabeça. Mas havia um outro gesto, o do beijo, que significava o abrir-se ao espírito e ser por ele possuído. Assim, adorar foi entendido através desses gestuais como submissão e possessão. 

Mas a adoração não é exclusiva dos povos semitas. Os hindus têm, por exemplo, o culto ao rio Ganges, pois acreditam que é mais antigo que a terra e que jorrou do céu e, por isso, pode libertar o homem de seus pecados em vidas anteriores, curar e purificar o corpo e a alma. E eles adoram o Ganges. A adoração é chamada puja e consiste de orações e oferendas. Assim, a idéia de adoração é enriquecida também pelo ato de entregar algo, algo vital, que pode ser alimento, bebida ou mesmo riquezas. 

Entendidos esses três componentes do conceito adoração, vamos à discussão do texto onde Jesus conversa com a samaritana e trata da adoração/ espiritualidade cristã. E pensar os versículos 23 e 24. De forma abrangente podemos dizer que espiritualidade é aquela relação do ser com a transcendência, que dá sentido à vida. E exatamente por isso intercalo na nossa reflexão o belo poema de Ada Negri, Atto d´amore. 

"Não sei dizer-te quanto te amo Deus no qual creio, Deus que é a vida vivente, aquela já vivida e aquela que é para ser vivida além dos confins do mundo e onde não existe o tempo." 

O ser humano, unidade multiforme, tem em seu espírito não uma dimensão parcial da vida, mas irredutível, conforme afirma Lossky. Nesse sentido, o espírito é a totalidade da vida. Nas situações de perda, falta de sentido e de ameaça à vida há sempre experiência com a transcendência, pois mesmo na negação dela há um sentido transcendente. 

Na reconstrução da Europa, depois da Segunda Guerra mundial, o teólogo teuto-americano Paul Tillich disse que a desintegração espiritual da sociedade ocidental já tinha sido prevista por teólogos e estudiosos, no século XIX, mas a necessidade de compreender este fenômeno exigia que nos aprofundássemos em seu estudo. 

Assim, para Tillich, “se não houver espírito, as construções humanas não poderão produzi-lo. Ele, o espírito age ou não age nos indivíduos e nos grupos. E quando age cria seu próprio meio de comunicação. Assim, o espírito se manifesta por meio das palavras, das formas de vida, das instituições sociais e dos símbolos religiosos”. 

A idéia espírito, de que nos fala Jesus, nos leva a uma compreensão abrangente de espiritualidade, que não pode ser entendida apenas como sinônimo de piedade ou como conhecimento dos princípios de que se compõe a piedade. 

Partindo do senso comum da igreja brasileira, a espiritualidade pode ser vista como uma interpretação particular do ideal evangélico, mas se partimos do que Jesus nos transmite e da contextualização realizada por Tillich podemos dizer que há uma espiritualidade comum à espécie humana, que ela se expressa existencialmente por sermos todos imago Dei. 

Quando multidões assistem a um filme como A Paixão de Cristo e são despertadas, cada qual a sua maneira, acerca da miserabilidade humana, constatamos que as pessoas têm atributos potenciais para a espiritualidade. Esses atributos, presentes na imagem de Deus que somos, e que chamo de tropismo à transcendência, nos leva à questão da adoração. 

“Eu não soube; mas a Ti nada escondo daquele que está no profundo. Cada ato da vida, em mim, foi amor. E eu acreditei/ que fosse pelo homem, ou a obra, ou a pátria terrena, ou nascido do meu próprio peso, ou das flores, das plantas, das frutas que caem no chão, da substância, alimento e luz mas foi o Teu amor, que em cada coisa e criatura estás presente. E agora que um a um caíram ao meu lado, os companheiros de estrada, e submissas sopram as vozes da terra, a tua face refulge de esplendor mais forte e tua voz é cântico de glória”. 

A espiritualidade e o sagrado 

Otto, um dos teóricos que se debruçou sobre esta questão, diz que a experiência humana diante do sagrado tem sempre algo intenso e profundo, que ele chama de mysterium tremendum, que traduz o numinoso, o que é transcendente para a realidade do crente, que diante daquilo que o esmaga desenvolve senso de temor. Esse temor é um medo qualitativo, motivo para reflexão e energia que transformado em poder faz dele um adorador. 

Tais experiências com o sagrado encorajam e incorporam no adorador aquilo que lhe é distinto. Apesar dessa relação de aparente intimidade de relacionamento, permanece o abismo entre adorador e sagrado. Dessa maneira, este desejo de saltar sobre o abismo que separa humano e sagrado é em última instância o móvel que dará origem à espiritualidade. 

Se por um lado a crise ocidental pode ser traduzida como uma crise espiritual, por outro essa busca frenética de bens materiais e de consumo aumenta o vazio humano e favorece a busca da espiritualidade como experiência de vida coerente e recomendável. Assim, vivemos numa sociedade em crise espiritual, que procura encontrar a espiritualidade perdida. 

A espiritualidade cristã 

A espiritualidade cristã foi construída ao redor da cruz. A paixão de Cristo sempre foi entendida por teólogos e crentes como o derramar do dom da vida de Deus sobre os seres humanos. E porque a morte de Jesus Cristo não é derrota, mas sacrifício livremente aceito, a espiritualidade cristã tem sempre dois movimentos: 

1. Um movimento em relação ao outro, ao próximo, ao desvalido, àquele que sofre, que é um chamado ao compromisso. Este movimento da espiritualidade em relação ao próximo nós chamamos de serviço. 

A partir desse momento em que a espiritualidade torna-se caminho para Deus através do serviço ao próximo, a espiritualidade tem algo a dizer a todos os nossos relacionamentos, tanto pessoais, como sociais e políticos. 

Pode parecer desconcertante relacionar espiritualidade e relacionamentos pessoais, sociais e políticos, mas ao falar de espiritualidade estamos falando do exercício do amor e por relacionamentos pessoais, sociais e políticos entendemos a transformação da sociedade na direção do reino de Deus, para que se faça justiça aos excluídos de tal forma que encontrem vida e salvação. Nesse sentido, a espiritualidade dá sentido à vida pessoal, social e política e torna-se além de profética, transformadora. 

2. Mas a espiritualidade tem um outro movimento, que se por um lado está ligado ao rigor da fé, como vemos na oração e nos momentos de contrição, ela se realiza existencialmente, enquanto encontro com Deus. Esse encontro, conforme no diz Jesus, é a adoração e está na raiz da conversão e de todo processo de santificação. É um processo místico, no sentido que mostra nossa miserabilidade diante do insondável mistério de Deus. 

Considerações finais 

Por isso, a espiritualidade e, por extensão, a sua expressão de submissão, possessão e entrega, que é a adoração, é profética e transformadora no encontro com o outro, com o humano, e um ato de adoração diante da majestade de Deus. 

Ou, conforme nos diz Galilea, a contemplação de Jesus Cristo no irmão que sofre e a contemplação de Deus no Cristo ressurreto são sempre frutos da ação do Espírito em nossas vidas. Esses dois encontros devem ser a base da espiritualidade cristã na alta modernidade e fundamentam todo ato de adoração daquele que crê. 

“Ora, Deus que sempre amei – te amo sabendo amar-te; com a inefável certeza que tudo foi justiça, mesmo a dor, tudo foi bem, mesmo o meu mal, tudo para mim Tu foste e sei, me faz temente de uma alegria maior que a morte. Permanece comigo, pois a noite desce sobre minha casa com misericórdia de sombras e estrelas. Que Tu participas, à mesa humilde, o pouco pão e a água pura da minha pobreza. Permanece Tu apenas junto de mim a tua serva; e no silêncio dos seres, o meu coração te entende único”. 

Notas
1. Ada Negri nasceu em Lodi, na Lombardia, em 1870, filha de camponeses. Seus primeiros livros refletiam uma consciência social que se opunha às tendências dominantes no fim do século. Mais tarde, a sua poesia incluiu uma afirmação de sexualidade feminina, diferente das tradicionais poesias de amor (Il Libro di Mara, 1919). Ada Negri faleceu em 1945.
2. Tradução do italiano para o português por Jorge Pinheiro.
3. Vadlimir Lossky, A l’image et la ressemblance de Dieu, Paris, 1967, p. 118.
4. Paul Tillich, A Era Protestante, São Paulo, Ciências da Religião, 1992, pp. 275-276.
5. Rudolf Otto, O Sagrado, Lisboa, Edições 70, 1992, pp. 21-22.
6.  Segundo Galilea, Espiritualidade da Libertação, Petrópolis, Vozes, 1975, pp. 15-16.







samedi 22 octobre 2022

A França protestante

Primeiro tour
A Paris protestante

Vamos descobrir juntos lugares simbólicos do protestantismo no coração de Paris. Entre as 5.000 ruas e avenidas de Paris, quase uma centena leva o nome de um protestante importante ou de uma personalidade proeminente de origem protestante. Cada arrondissement da capital inclui pelo menos um / https://museeprotestant.org/parcours/paris-protestant/

Nesta caminhada através das ruas que marcam a história da Reforma protestante em Paris, vamos ver não somente arquitetura e geografia, mas a presença dessa fé tão presente na história da França. 

Alguns lugares. como 

A Paris de Calvino (https://museeprotestant.org/notice/paris-de-calvin), 

O DEFAP (https://fr.wikipedia.org/wiki/Service_protestant_de_Mission, 

A Maisons des Missions (https://museeprotestant.org/notice/maison-des-missions), e a Faculté de Théologie Protestante (https://museeprotestant.org/notice/faculte-de-theologie-protestante-de-paris), há 130 anos fazendo missões e formando pastores. 

E a Bibliothèque de la Société de l’Histoire du Protestantisme Français (https://www.shpf.fr/bibliotheque) com seus acervos e exposições vão enriquecer nossa compreensão do que significou e significa hoje ser protestante. 

No bairro de Saint-Germain-des-Prés, centro cultural do protestantismo, passaremos pela igreja de Saint-Germain-L'Auxerrois, localizada ao lado do Palácio do Louvre, onde na noite de 23 para 24 de agosto de 1572, seu sino tocou, soando o alarme para o assassinato de centenas de nobres huguenotes, que tinham vindo a Paris assistir ao casamento de Henri de Navarra e Marguerite de Valois no Louvre. Despertado pelo sino, o povo de Paris massacrou centenas de protestantes.

Mas bairros como Saint-Germain des Prés desempenharam um papel importante no nascimento do protestantismo. Jacques Lefèvre d’Étaples, teólogo e humanista, que viveu ali, traduziu o Novo Testamento para o francês e por isso foi perseguido. Teve que fugir da cidade, mas não abandonou a fé e se tornou um dos grandes comentaristas dos textos do apóstolo Paulo.

Mas como vimos acima, Paris viveu o mais terrível dia da história do protestantismo. Na noite de São Bartolomeu foi impetrado o massacre de protestantes, que teve inicio no dia 24 de agosto de 1572, prolongado por vários dias na capital. Cerca de 30 mil protestantes foram mortos, e depois o massacre foi estendido a mais de vinte cidades das províncias durante as semanas e meses seguintes.


No quadro, a topografia parisiense da época, manipulada, adapta-se ao desejo de mostrar em conjunto os principais locais desta tragédia. À esquerda, pode-se ver a igreja do convento dos Grands-Augustins (agora desaparecido) onde soou o sino que desencadeou os assassinatos, o Sena e a Pont des Meuniers. Ao centro, ao fundo, o Louvre e, em frente ao prédio, Catarina de Médici, a viúva negra, principal instigadora dos massacres. 

Ao centro, ao fundo, a mansão em que o almirante de Coligny, líder do partido protestante, foi morto e depois decapitado e castrado. Reunidos em torno de seu cadáver, os líderes do partido católico, os duques de Guise e Aumale e o Chevalier d'Angoulême. Ao fundo à direita, a Porte Saint-Honoré e, na colina de La Villette, a forca de Montfaucon, onde o corpo do almirante foi pendurado de cabeça para baixo. Reunindo mais de 150 figuras, a obra é um verdadeiro catálogo da crueldade em tempos de guerra civil. Grávida estripada (à direita da pintura ao fundo), crianças arrastando um bebê na ponta de uma corda (ao fundo ao centro, à direita da ponte Meuniers), mulher espetada em um espeto de assar (apenas atrás das crianças arrastando a criança), cadáveres nus e empilhados (principalmente aos pés de Catarina de Médici), casas saqueadas (atrás dos líderes católicos). 

O rei Carlos IX dispara um arcabuz contra seus próprios súditos de uma janela no Louvre (provavelmente da torre esquerda do prédio). Esta pintura é bastante excepcional pela qualidade de sua execução, mas também porque as representações contemporâneas dos massacres de São Bartolomeu são muito raras. Tem a assinatura do pintor François Dubois, protestante de Amiens que se refugiou em Genebra após os massacres. 

(https://fr.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_la_Saint-Barthélemy#/media/Fichier:La_masacre_de_San_Bartolomé,_por_François_Dubois.jpg).

Este evento das Guerras de Religião foi fruto de um emaranhado de fatores, tanto religiosos e políticos quanto sociais. Foi a consequência dos conflitos entre católicos e protestantes da nobreza francesa. Aconteceu dois anos após a paz de Saint-Germain, quando o almirante de Coligny, líder do partido protestante, retornou ao conselho real. Agravada pela severa reação parisiense, católica e hostil à política de apaziguamento, reflete também as tensões internacionais entre os reinos da França e da Espanha, agravadas pela insurreição anti-espanhola na Holanda.

Segundo a tradição histórica, o rei Carlos IX e de sua mãe, Catarina de Médici, foram os principais responsáveis ​​pelo massacre.


No dia 13 de abril de 2016, numa cerimônia pública foi inaugurada a primeira placa em homenagem às vítimas do massacre de São Bartolomeu, próxima à Pont Neuf, praça du Vert Galant, pela prefeita de Paris, Anne Hidalgo (https://fep.asso.fr/2016/04/devoilement-de-la-plaque-en-hommage-aux-victimes-du-massacre-de-la-saint-barthelemy/).

Mas visitaremos também as Catacumbas de Paris ( https://www.youtube.com/watch?v=3QCQwSssuf8 ) que datam de 1700, quando o ossário foi formado a partir de uma antiga pedreira subterrânea. Ao longo dos anos, mais e mais restos mortais foram trazidos de cemitérios superlotados para dar lugar ao desenvolvimento da cidade, até 1860. Hoje, ali estão expostos ceca de 6 milhões de esqueletos, sendo o maior ossário do planeta. Apesar de chocante, permite um olhar fascinante sobre esta antiga prática funerária.

Mas Paris na superfície ainda é uma festa. Assim, vamos passear pelo Sena ( https://www.getyourguide.fr/la-seine-l2601/paris-croisiere-de-1-h-sur-la-seine-t193940/?partner=true ) e subir à torre Eiffel ( https://www.toureiffel.paris/fr ) num final de tarde.

Segundo Tour

Les Cévennes dos camisards

Nesta viagem à França vamos ver como a fé reformada reagiu, não somente militarmente com os camisards de Les Cévennes e em outras regiões da França, mas também social e politicamente à intenção católica de acabar com os protestantes, que em 1560 eram cerca de 7 milhões de fiéis. numa população de 18 milhões de franceses. 

A partir de Paris, vamos à região de Les Cèvennes e ao Museu do Deserto ( http://www.museedudesert.com/article5684.html ).

E visitaremos a Tour de Constance (https://museeprotestant.org/notice/aigues-mortes-gard-la-tour-de-constance/ ) famosa por ter-se tornado uma prisão de mulheres, onde Marie Durant se tornou símbolo da resistência e da fé. Para entender: em 1685, o rei Luís XIV (1638-1715) revogou o Édito de Nantes que havia estabelecido a paz religiosa entre protestantes e católicos. A partir de então, o exercício do culto protestante foi proibido, os pastores eram presos, lançados às galeras ou mesmo mortos. E as crianças eram batizadas à força na fé católica. Milhares de protestantes deixaram o reino às pressas, mas a resistência se tomou conta do país.


Prisioneiras huguenotes na Tour de Constance. Tela de Michel Maximilien Leenhardt

Terceiro tour

Montpellier e a cultura protestante

Passearemos pela Montpellier protestante, onde visitaremos a Faculté de théologie de Montpellier / https://www.iptheologie.fr/facultes/montpellier/ herdeira de várias instituições, a Academia Protestante de Montpellier (fundada em 1596), e a Academia de Montauban e Puylaurens (fundada em 1598), bem como a Faculdade de Teologia Protestante de Montauban (1808-1919).

Na França, a Reforma Protestante teve uma dupla fonte: humanista (Cercle de Meaux, Lefèvre d’Étaples…),L uterana e Reformada (Guillaume Farel, Martin Bucer…).

A síntese e estruturação da Igreja se deve a Jean Calvin (1509-1564).

A Igreja Reformada da França (ERF) foi a primeira Igreja Protestante na França. O 1º Sínodo Nacional ocorreu em 1559. Visitaremos então a catedral de Maguelone /https://www.eglise-protestante-unie.fr/montpellier-centre-ville-p2021A/histoire/histoire-du-protestantisme-5, reconstruindo assim, juntos, uma história de fé e luta que nos ajudam a entender a França de hoje.

Observação: Para entender a história do protestantismo na França nos remetemos a um texto de Sébastien Fath, historiador e sociólogo, batista, e professor da Universidade de Paris ( https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-03100463/document ). 

Nossa visita tem como duração três dias em Paris e três dias em Montpellier e a região de Cévennes. As caminhadas e visitas incluirão está fotos, textos e vídeos, assim mapas de orientação. Esta visita a França protestante vai comover e surpreender. Venha mergulhar em nossa história.



Jean de Léry, meu irmão

A Confissão de fé da Guanabara

A Confissão de Fé da Guanabara 

de Jean de Bourdel, Matthieu Verneuil, 

Pierre Bourdon e André la Fon


Anglada, Paulo R. B., Sola Scriptura: A Doutrina Reformada das Escrituras, São Paulo, Editora Os Puritanos, 1998, pp. 190-197. Vide: Crespin, Jean: L' Histoire des Martyres, 1564. A Tragédia da Guanabara: História dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, tradução de Domingos Ribeiro de On the Church of the Believers in the Country of Brazil, part of Austral America: Its Affliction and Dispersion, do texto original atribuído a Jean Lery, Histoire des choses mémorables survenues en le terre de Brésil, partie de l' Amérique australe, sous le governement de N. de Villegaignon, depuis l' an 1558, publicado em 1561. 


A Confissão de fé aqui transcrita tem como fonte primeira Crespin, Jean, A Tragédia da Guanabara; História dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, pp. 65-71.

 

Os huguenotes vindos para a França Antártica foram acusados de heresia. Alguns fugiram, outros foram presos e condenados à morte por Villegaignon. Foram enforcados e seus corpos atirados morro abaixo, em 1558. Antes da execução, porém, professaram por escrito sua fé. Quatro deles, Jean de Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon e André la Fon escreveram, assim, a primeira Confissão de fé protestante das Américas.



Texto da Confissão de fé da Guanabara


Segundo a doutrina de S. Pedro Apóstolo, em sua primeira epístola, todos os cristãos devem estar sempre prontos para dar razão da esperança que neles há, e isso com toda a doçura e benignidade, nós abaixo assinados, Senhor de Villegaignon, unanimemente (segundo a medida de graça que o Senhor nos tem concedido) damos razão, a cada ponto, como nos haveis apontado e ordenado, e começando no primeiro artigo: 


I. Cremos em um só Deus, imortal, invisível, criador do céu e da terra, e de todas as coisas, tanto visíveis como invisíveis, o qual é distinto em três pessoas: o Pai, o Filho e o Santo Espírito, que não constituem senão uma mesma substância em essência eterna e uma mesma vontade; o Pai, fonte e começo de todo o bem; o Filho, eternamente gerado do Pai, o qual, cumprida a plenitude do tempo, se manifestou em carne ao mundo, sendo concebido do Santo Espírito, nasceu da virgem Maria, feito sob a lei para resgatar os que sob ela estavam, a fim de que recebêssemos a adoção de próprios filhos; o Santo Espírito, procedente do Pai e do Filho, mestre de toda a verdade, falando pela boca dos profetas, sugerindo as coisas que foram ditas por nosso Senhor Jesus Cristo aos apóstolos. Este é o único Consolador em aflição, dando constância e perseverança em todo bem. Cremos que é mister somente adorar e perfeitamente amar, rogar e invocar a majestade de Deus em fé ou particularmente. 


II. Adorando nosso Senhor Jesus Cristo, não separamos uma natureza da outra, confessando as duas naturezas, a saber, divina e humana nele inseparáveis. 


III. Cremos, quanto ao Filho de Deus e ao Santo Espírito, o que a Palavra de Deus e a doutrina apostólica, e o símbolo, nos ensinam. 


IV. Cremos que nosso Senhor Jesus Cristo virá julgar os vivos e os mortos, em forma visível e humana como subiu ao céu, executando tal juízo na forma em que nos predisse no capítulo vinte e cinco de Mateus, tendo todo o poder de julgar, a Ele dado pelo Pai, sendo homem. E, quanto ao que dizemos em nossas orações, que o Pai aparecerá enfim na pessoa do Filho, entendemos por isso que o poder do Pai, dado ao Filho, será manifestado no dito juízo, não todavia que queiramos confundir as pessoas, sabendo que elas são realmente distintas uma da outra. 


V. Cremos que no santíssimo sacramento da ceia, com as figuras corporais do pão e do vinho, as almas fiéis são realmente e de fato alimentadas com a própria substância do nosso Senhor Jesus, como nossos corpos são alimentados de alimentos, e assim não entendemos dizer que o pão e o vinho sejam transformados ou transubstanciados no seu corpo, porque o pão continua em sua natureza e substância, semelhantemente ao vinho, e não há mudança ou alteração. Distinguimos todavia este pão e vinho do outro pão que é dedicado ao uso comum, sendo que este nos é um sinal sacramental, sob o qual a verdade é infalivelmente recebida. Ora, esta recepção não se faz senão por meio da fé e nela não convém imaginar nada de carnal, nem preparar os dentes para comer, como santo Agostinho nos ensina, dizendo: "Porque preparas tu os dentes e o ventre? Crê, e tu o comeste." O sinal, pois, nem nos dá a verdade, nem a coisa significada; mas Nosso Senhor Jesus Cristo, por seu poder, virtude e bondade, alimenta e preserva nossas almas, e as faz participantes da sua carne, e de seu sangue, e de todos os seus benefícios. Vejamos a interpretação das palavras de Jesus Cristo: "Este pão é meu corpo." Tertuliano, no livro quarto contra Marcião, explica estas palavras assim: "este é o sinal e a figura do meu corpo." S. Agostinho diz: "O Senhor não evitou dizer: — Este é o meu corpo, quando dava apenas o sinal de seu corpo." Portanto (como é ordenado no primeiro cânon do Concílio de Nicéia), neste santo sacramento não devemos imaginar nada de carnal e nem nos distrair no pão e no vinho, que nos são neles propostos por sinais, mas levantar nossos espíritos ao céu para contemplar pela fé o Filho de Deus, nosso Senhor Jesus, sentado à destra de Deus, seu Pai. Neste sentido podíamos jurar o artigo da Ascensão, com muitas outras sentenças de Santo Agostinho, que omitimos, temendo ser longas. 


VI. Cremos que, se fosse necessário por água no vinho, os evangelistas e São Paulo não teriam omitido uma coisa de tão grande conseqüência. E quanto ao que os doutores antigos têm observado (fundamen­tando-se sobre o sangue misturado com água que saiu do lado de Jesus Cristo, desde que tal observância não tem fundamento na Palavra de Deus, visto mesmo que depois da instituição da Santa Ceia isso aconteceu), nós não podemos hoje admitir necessariamente. 


VII. Cremos que não há outra consagração senão a que se faz pelo ministro, quando se celebra a ceia, recitando o ministro ao povo, em linguagem conhecida, a instituição desta ceia literalmente, segundo a forma que nosso Senhor Jesus Cristo nos prescreveu, admoestando o povo quanto à morte e paixão do nosso Senhor. E mesmo, como diz santo Agostinho, a consagração é a palavra de fé que é pregada e recebida em fé. Pelo que, segue-se que as palavras secretamente pronunciadas sobre os sinais não podem ser a consagração como aparece da instituição que nosso Senhor Jesus Cristo deixou aos seus apóstolos, dirigindo suas palavras aos seus discípulos presentes, aos quais ordenou tomar e comer. 


VIII. O santo sacramento da ceia não é alimento para o corpo como para as almas (porque nós não imaginamos nada de carnal, como declaramos no artigo quinto) recebendo-o por fé, a qual não é carnal. 


IX. Cremos que o batismo é sacramento de penitência, e como uma entrada na igreja de Deus, para sermos incorporados em Jesus Cristo. Representa-nos a remissão de nossos pecados passados e futuros, a qual é adquirida plenamente, só pela morte de nosso Senhor Jesus. De mais, a mortificação de nossa carne aí nos é representada, e a lavagem, representada pela água lançada sobre a criança, é sinal e selo do sangue de nosso Senhor Jesus, que é a verdadeira purificação de nossas almas. A sua instituição nos é ensinada na Palavra de Deus, a qual os santos apóstolos observaram, usando de água em nome do Pai, do Filho e do Santo Espírito. Quanto aos exorcismos, abjurações de Satanás, crisma, saliva e sal, nós os registramos como tradições dos homens, contentando-nos só com a forma e instituição deixada por nosso Senhor Jesus. 


X. Quanto ao livre arbítrio, cremos que, se o primeiro homem, criado à imagem de Deus, teve liberdade e vontade, tanto para bem como para mal, só ele conheceu o que era livre arbítrio, estando em sua integridade. Ora, ele nem apenas guardou este dom de Deus, assim como dele foi privado por seu pecado, e todos os que descendem dele, de sorte que nenhum da semente de Adão tem uma centelha do bem. Por esta causa, diz São Paulo, o homem natural não entende as coisas que são de Deus. E Oséias clama aos filho de Israel: "Tua perdição é de ti, ó Israel." Ora isto entendemos do homem que não é regenerado pelo Santo Espírito. Quanto ao homem cristão, batizado no sangue de Jesus Cristo, o qual caminha em novidade de vida, nosso Senhor Jesus Cristo restitui nele o livre arbítrio, e reforma a vontade para todas as boas obras, não todavia em perfeição, porque a execução de boa vontade não está em seu poder, mas vem de Deus, como amplamente este santo apóstolo declara, no sétimo capítulo aos Romanos, dizendo: "Tenho o querer, mas em mim não acho o realizar." O homem predestinado para a vida eterna, embora peque por fragilidade humana, todavia não pode cair em impenitência. A este propósito, S. João diz que ele não peca, porque a eleição permanece nele. 


XI. Cremos que pertence só à Palavra de Deus perdoar os pecados, da qual, como diz santo Ambrósio, o homem é apenas o ministro; portanto, se ele condena ou absolve, não é ele, mas a Palavra de Deus que ele anuncia. Santo Agostinho, neste lugar diz que não é pelo mérito dos homens que os pecados são perdoados, mas pela virtude do Santo Espírito. Porque o Senhor dissera aos seus apóstolos: "recebei o Santo Espírito;" depois acrescenta: "Se perdoardes a alguém os seus pecados," etc. Cipriano diz que o servo não pode perdoar a ofensa contra o Senhor. 


XII. Quanto à imposição das mãos, essa serviu em seu tempo, e não há necessidade de conservá-la agora, porque pela imposição das mãos não se pode dar o Santo Espírito, porquanto isto só a Deus pertence. No tocante à ordem eclesiástica, cremos no que S. Paulo dela escreveu na primeira epístola a Timóteo, e em outros lugares. 


XIII. A separação entre o homem e a mulher legitimamente unidos por casamento não se pode fazer senão por causa de adultério, como nosso Senhor ensina (Mateus 19:5). E não somente se pode fazer a separação por essa causa, mas também, bem examinada a causa perante o magistrado, a parte não culpada, se não podendo conter-se, deve casar-se, como São Ambrósio diz sobre o capítulo sete da Primeira Epístola aos Coríntios. O magistrado, todavia, deve nisso proceder com madureza de conselho. 


XIV. São Paulo, ensinando que o bispo deve ser marido de uma só mulher, não diz que não lhe seja lícito tornar a casar, mas o santo apóstolo condena a bigamia a que os homens daqueles tempos eram muito afeitos; todavia, nisso deixamos o julgamento aos mais versados nas Santas Escrituras, não se fundando a nossa fé sobre esse ponto. 


XV. Não é lícito votar a Deus, senão o que ele aprova. Ora, é assim que os votos monásticos só tendem à corrupção do verdadeiro serviço de Deus. É também grande temeridade e presunção do homem fazer votos além da medida de sua vocação, visto que a santa Escritura nos ensina que a continência é um dom especial (Mateus 15 e 1 Coríntios 7). Portanto, segue-se que os que se impõem esta necessidade, renunciando ao matrimônio toda a sua vida, não podem ser desculpados de extrema temeridade e confiança excessiva e insolente em si mesmos. E por este meio tentam a Deus, visto que o dom da continência é em alguns apenas temporal, e o que o teve por algum tempo não o terá pelo resto da vida. Por isso, pois, os monges, padres e outros tais que se obrigam e prometem viver em castidade, tentam contra Deus, por isso que não está neles o cumprir o que prometem. São Cipriano, no capítulo onze, diz assim: "Se as virgens se dedicam de boa vontade a Cristo, perseverem em castidade sem defeito; sendo assim fortes e constantes, esperem o galardão preparado para a sua virgindade; se não querem ou não podem perseverar nos votos, é melhor que se casem do que serem precipitadas no fogo da lascívia por seus prazeres e delícias." Quanto à passagem do apóstolo S. Paulo, é verdade que as viúvas tomadas para servir à igreja, se submetiam a não mais casar, enquanto estivessem sujeitas ao dito cargo, não que por isso se lhes reputasse ou atribuísse alguma santidade, mas porque não podiam bem desempenhar os deveres, sendo casadas; e, querendo casar, renunciassem à vocação para a qual Deus as tinha chamado, contudo que cumprissem as promessas feitas na igreja, sem violar a promessa feita no batismo, na qual está contido este ponto: "Que cada um deve servir a Deus na vocação em que foi chamado." As viúvas, pois, não faziam voto de continência, senão porque o casamento não convinha ao ofício para que se apresentavam, e não tinha outra consideração que cumpri-lo. Não eram tão constrangidas que não lhes fosse antes permitido casar que se abrasar e cair em alguma infâmia ou desonestidade. Mas, para evitar tal inconveniência, o apóstolo São Paulo, no capítulo citado, proíbe que sejam recebidas para fazer tais votos sem que tenham a idade de sessenta anos, que é uma idade normalmente fora da incontinência. Acrescenta que os eleitos só devem ter sido casados uma vez, a fim de que por essa forma, tenham já uma aprovação de continência. 


XVI. Cremos que Jesus Cristo é o nosso único Mediador, intercessor e advogado, pelo qual temos acesso ao Pai, e que, justificados no seu sangue, seremos livres da morte, e por ele já reconciliados teremos plena vitória contra a morte. Quanto aos santos mortos, dizemos que desejam a nossa salvação e o cumprimento do Reino de Deus, e que o número dos eleitos se complete; todavia, não nos devemos dirigir a eles como intercessores para obterem alguma coisa, porque desobedeceríamos o mandamento de Deus. Quanto a nós, ainda vivos, enquanto estamos unidos como membros de um corpo, devemos orar uns pelos outros, como nos ensinam muitas passagens das Santas Escrituras. 


XVII. Quanto aos mortos, São Paulo, na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, no capítulo quatro, nos proíbe entristecer-nos por eles, porque isto convém aos pagãos, que não têm esperança alguma de ressuscitar. O apóstolo não manda e nem ensina orar por eles, o que não teria esquecido se fosse conveniente. S. Agostinho, sobre o Salmo 48, diz que os espíritos dos mortos recebem conforme o que tiverem feito durante a vida; que se nada fizeram, estando vivos, nada recebem, estando mortos. Esta é a resposta que damos aos artigos por vós enviados, segundo a medida e porção da fé, que Deus nos deu, suplicando que lhe praza fazer que em nós não seja morta, antes produza frutos dignos de seus filhos, e assim, fazendo-nos crescer e perseverar nela, lhe rendamos graças e louvores para sempre. 


Assim seja. 

Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André la Fon. 





"Monumento ao Pregador", dedicado em memória ao primeiro culto protestante, conduzido pelos huguenotes. Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, Praça Rev. Mattathias Gomes dos Santos




vendredi 14 octobre 2022

Le chemin de la sanctification

Bonjour à tous et à toutes. Que la grâce et la paix de Jésus soient avec nous tous. C'est une grande joie d'être avec vous pour adorer notre Dieu en communauté. En pensant au moment de défis dans lequel nous vivons, j'ai choisi de réfléchir avec vous sur 


Le sermon sur la montagne 
Le chemin de la sanctification 
Pr. Jorge Pinheiro 


Alors que nous commençons à lire les premiers chapitres de l'Évangile de Matthieu, une question nous est posée : qu'est-ce que le sermon sur la montagne ? Nous allons réfléchir sur cette question ce matin. 

Matthieu 5.3 

Heureux les pauvres en esprit, car le Royaume des cieux est à eux ! En hébreu, on peut lire comme ça ... les pauvres en respiration, les humbles de cœur sont heureux! Oui, le Royaume des cieux est à eux ! 

Nous pensons normalement que le sermon sur la montagne est limité aux béatitudes, mais c’est l'introduction de cette Constitution, de cette Déclaration majeur de la bonne nouvelle de Jésus, le Messie. 

Lorsque nous parlons de Sermon sur la montagne, notre attention se tourne vers ces trois chapitres (5, 6 et 7) de la bonne nouvelle présentée par l'évangéliste Matthieu. Nous pensons aux béatitudes présentées dans ce discours de Jésus, pensant qu'il propose le chemin du bonheur. Mais ce n'est pas tout à fait comme ça: si l'on se souvient que Jésus a prononcé le discours en araméen, il faut aller vers l'hébreu et la culture de l'époque, pour mieux comprendre ce qu'il a dit. 

1. En marchant 

Dans la culture juive, Jésus décrit ici la personne marchant sur le chemin qui mène au Royaume des Cieux. Pour cette raison, il répète ashréi, en hébreu - en marchant - plusieurs fois et Matthieu utilise l'expression makarius, en grec, que nous traduisons par bienheureux, heureux, béni. Expression qui, parmi les anciens Grecs, était utilisée en référence aux dieux. Et plus tard aux humains qui ont marché sur le chemin des dieux. 

Ainsi, ce discours parle de la marche de celui qui est fidèle à Dieu. Ce sont des leçons pour notre voyage. Pour tous les jours de notre vie. Et dans ce voyage, les lois de l'amour entrent, y compris les ennemis. Et aussi le Notre Père, une prière qui nous apprend à s'adresser au Créateur. 

Mais il y a quelque chose ici qui attire l'attention : Jésus se présente comme le nouveau Moïse en commentant la loi délivrée par le prophète fondateur de la religion d'Israël. Il commente la loi et présente de nouvelles lectures qui devraient guider ceux qui marchent sur le chemin qui mène au Royaume des Cieux. 

Il y a une fascination pour le sermon sur la montagne. Augustin (354-430), évêque d'Hippone, que les catholiques appellent Saint Augustin, a vu ce sermon comme un résumé de l'Évangile. Et Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704), l'un des plus grands prédicateurs français, considérait le Sermon sur la montagne comme le premier et le plus puissant discours de Jésus. 

Quand nous lisons le sermon sur la montagne sans temps de réflexion et de prière, cela semble intrigant. Et plus que cela, cela semble radical, car comment pouvons-nous suivre le conseil d'aimer les ennemis, de ne pas juger, d'être parfaits comme notre Père céleste, d'entrer par la porte étroite qui mène à la vie. Ou encore, comment ne pas être perplexe face à l'hyperbole, quand Jésus dit de tendre l'autre joue quand on reçoit une gifle, ou de couper la main droite et de la jeter, ou de ne pas s'inquiéter pour demain? 

Cependant, lorsque nous regardons lentement et dans la prière le Sermon sur la montagne, nous découvrons des trésors inattendus, car cette Constituition, cette Déclaration majeur du Royaume des Cieux doit être vécue à tout moment et dans toutes les situations culturelles et sociales de notre vie. En parlant sur la montagne, Jésus a dit que chaque personne possédant les qualités décrites sont humble d'esprit et pur de cœur, douce et miséricordieuse, elle pleure, elle a faim et soif de justice, elle est des artisans de paix, elle subit des blessures et des persécutions pour la justice et l'amour au Maître. Alors, marchant sur cette route qui mène au Royaume des Cieux, le chrétien est makarius, béni, heureux. 

Il est très important de comprendre que Jésus ne présentait pas de théorie du bonheur humain. Comme Moïse, il a présenté un modèle de comportement pour la construction réelle du caractère du croyant, qui produit des bénédictions immédiates et futures. 

Ainsi, comme nous l'avons dit, Jésus se présente comme législateur, un nouveau Moïse supérieur, promulguant une nouvelle loi, la loi de l'amour, qui est née de l'Esprit. Jésus condamne non seulement l'archaïsme de la législation rituelle, mais indique clairement qu'une nouvelle alliance est en train de naître. Ainsi, nous faisons face à un nouveau peuple. Cet Israélit spirituel aura un nouveau caractère, différent par essence des standards mondiaux. 

Commentant les béatitudes, Augustin, l'évêque d'Hippone, a vu dans l'exposition de Jésus marches d’escalier, comme si nous grimpions vers la perfection. La première étape est l'humilité, la soumission à l'autorité divine et la deuxième étape, la douceur. Ces deux premières étapes placent le disciple, dans un esprit de piété, avant la connaissance de Dieu. C'est alors que, de là, il découvre les liens « auxquels les habitudes de la chair et des péchés soumettent ce monde ». Ainsi, pour Augustin, les troisième, quatrième et cinquième étapes sont liées à la lutte contre le siècle actuel et ses diktats. La sixième étape, au contraire, conduit le croyant, auparavant victorieux, à contempler le “ bien suprême, qui ne peut être vu que par une intelligence pure et sereine ». La septième étape est la sagesse, qui naît de la contemplation de la vérité, qui pacifie le chrétien et lui imprime la ressemblance avec Dieu. Et le dernier pas en arrière vers le premier, comme tous deux appellent le Royaume des Cieux, la perfection. 

Bien que la vision augustinienne soit trop allégorique pour notre herméneutique baptiste, elle nous apporte la compréhension des pères de l'Église au sujet du Sermon sur la montagne. 

D'après ce que nous avons vu jusqu'à présent, il est clair que le Sermon sur la montagne parle des qualités, des caractéristiques des disciples du Christ. Et le texte de Galates 5 : 22 et 23 résume la même préoccupation. 

Mais le fruit de l'Esprit est : l'amour, la joie, la paix, la patience, la bonté, la bénignité, la fidélité, la douceur, la tempérance. Contre un tel, il n'y a pas de loi. 

Il y a des femmes et des hommes qui ont lutté pour la paix. Ici je pense à remémoré un chrétien que je respecte beaucoup: Desmond Tutu (né le 7.10.1931 à Klerksdorp, en Afrique du Sud) un archevêque anglican sud-africain qui a reçu le prix Nobel de la paix en 1984. Auteur d'une théologie ubuntu de la réconciliation, il fut ensuite le président de la Commission de la vérité et de la réconciliation, chargée de faire la lumière sur les crimes et les exactions politiques commises, durant l'apartheid, au nom des gouvernements sud-africains, mais également les crimes et exactions commises au nom des mouvements de libération nationale. 

Nous devons tous, chacun à sa place, lutter pour la justice et la paix. On peut donc dire que Desmond Tutu est un exemple. 

C’est ça. L’apôtre Paul en son texte parle du fruit d'un arbre sain. Et il ne décrit qu'un seul fruit, car l'idée ici est celle d'une chaîne, qui n'existe que par des maillons entrelacés. Si un seul maillon est fragile, toute la chaîne sera fragile. 

Ces neuf vertus peuvent être cataloguées dans (1) les habitudes mentales - l'amour, la joie, la paix - qui inspirent le disciple à aimer Dieu et les gens, génèrent une profonde joie du cœur, qu'aucune œuvre de la chair ne peut pas produire et créent un sentiment d'harmonie en ce qui concerne Dieu et les gens. (2) Les qualités sociales - la patience, la bonté, la bénignité - qui conduisent à la patience, face aux blessures et aux persécutions, donnent une bonne disposition envers les autres et conduisent à la bienfaisance active. (3) Principes généraux de conduite - la fidélité, la douceur, la tempérance -, qui traduisent des attitudes comportementales, c'est-à-dire être digne de confiance, ne pas défendre ses intérêts avec des ongles et des dents et avoir des désirs et des passions sous contrôle. 

Revenant au Sermon sur la montagne, nous trouvons dans Matthieu 5 : 20, que si notre justice ne va pas au-delà de celle des scribes et des pharisiens, nous n'entrerons pas dans le Royaume des cieux. 

Cette déclaration, qui est un ordre pour tous les disciples, réunit les deux textes étudiés dans une chaîne d'or. Et pourquoi Jésus présente-t-il les scribes et les pharisiens comme de mauvais exemples ? 

Les scribes et les pharisiens ont vécu une religiosité formelle et apparente, sans réelle transformation de la vie, sans conversion. En ce sens, le chrétien doit dépasser cette norme, aller au-delà, changer d'essence, avoir un cœur de chair. 

Selon John Stott (1921-2011), théologien et évangéliste anglais, la grandeur du Royaume n'est pas seulement évaluée par la justice conforme à la loi, car l'entrée dans le Royaume devient impossible s'il n'y a pas de comportement qui dépasse la loi elle-même. 

En fait, l'apôtre Paul dans Galates 5 : 23 est radicalement clair, disant que contre les vertus exprimées dans le fruit de l'Esprit il n'y a pas de loi. Les scribes et les pharisiens ont dit que la loi contenait 248 commandements et 365 interdictions et ont convenu qu'il était impossible de tout faire. Comment alors dépasser les rabbins ? Simplement parce que nous ne sommes pas limités à la loi de Moïse, mais à la loi de l'Esprit. La justice chrétienne dépasse parce que c'est une justice qui naît du cœur régénéré, est interne et a pour source l'Esprit de Dieu qui habite en nous. C'est le fruit de l'Esprit. 

2. La vie du disciple 

Ainsi, nous pouvons dire que le caractère du chrétien exprimé dans le Sermon sur la montagne et dans Galates 5 : 22 et 23, traduit la vie du disciple depuis sa nouvelle naissance. Et, Jésus nous a appris que personne n'entrera pas dans le Royaume des Cieux s'il n'est pas né de l'Esprit. 

Le but de cette Constitution de la bonne nouvelle du salut est de parler aux esprits et au cœur; marquer le chemin et alerter sur l'impasse lorsque le chrétien choisit d'entrer par la grande porte. Et donc, dans cette Constituition, nous sommes interpellés par la Parole de Jésus sur le mont. Et lorsque nous la recevons et la vivons avec foi, nous sommes transformés dans ce voyage de notre vie vers le Royaume des cieux. 

Jésus nous a dit en Matthieu 7 : 21-23. Pas tous ceux qui me disent: Seigneur, Seigneur! il entrera dans le Royaume des cieux, mais celui qui fait la volonté de mon Père, qui est aux cieux. Beaucoup me diront ce jour-là: Seigneur, Seigneur, n'avons-nous pas prophétisé en ton nom? Et, en votre nom, nous n'expulsons pas les démons? et en votre nom n'avons-nous pas fait beaucoup de merveilles? Et alors je leur dirai ouvertement : je ne vous ai jamais connus; éloignez-vous de moi, vous qui pratiquez l'iniquité. 

La condition pour que nous soyons acceptés par Jésus est la vérité de ce qui est professé. Vivez ce qui est prêché. En ce sens, ce qui caractérise le disciple n'est pas l'extériorité de ses actions, si puissantes, expressives ou miraculeuses soient-elles, mais l'obéissance qui traduit une vie moralement féconde et authentique. 

Regardons quelque chose d'important, la signification de la sanctification dans l'Ancien Testament, le Nouveau Testament et le développement de ce concept. 

Bien que le commandement ait été clairement exprimé dans Lévitique 19 : 2, vous serez saints, parce que moi, le Seigneur votre Dieu, je suis saint. Le kaddish (sanctification) était et est pour les Juifs un cérémonial. Le kaddish a lieu à certains moments de la vie, lors de célébrations et de rituels. Ainsi, dans la cabalat sabat (entrée du sabbat), la sanctification se fait dans le culte familial, dans la nourriture casher, pure, dans les ustensiles utilisés par les prêtres, autrefois dans le temple, aujourd'hui dans les synagogues. 

La sanctification chrétienne vient d'une autre perspective : nous sommes définis par Dieu comme des saints. Nous devons alors vivre ce que nous sommes déjà : séparés par Dieu pour le servir, le glorifier, le refléter devant le monde. Nous sommes des saints et nous devons sanctifier toute la réalité environnante avec notre vie sanctifiée et de plus en plus sanctifiante. Ce nouveau concept est clairement expliqué dans 1 Pierre, chapitre 1 : 13-25, mais la deuxième partie du verset 15, nous donne la clé de la réflexion chrétienne sur la sanctification : vous soyez aussi saints dans toute votre conduite. 


3. Un exemple 

Mais, nous pouvons dire que toute sainteté vient de l’Esprit de Dieu, toute sainteté procède de Dieu. Tous nous, les saints sont les saints de Dieu, les frères de Jésus, les frères en sainteté de notre Seigneur Jésus Christ même. C’est vrai : toute sainteté vient de Dieu, qui en est la source éternelle. 

Un exemple pour nous tous. Polycarpe né vers l’anné 70 et mort soit en 155 ou 167, était un disciple direct de l'apôtre Jean et second évêque de Smyrne, aujourd'hui Izmir en Turquie. Un récit de la tradition nous raconte: 

À l'entrée de ce saint vieillard dans l'amphithéâtre, tous les chrétiens présents entendirent une voix mystérieuse qui lui disait : 

-- Courage, Polycarpe, combats en homme de cœur ! 

Le proconsul lui demanda : Es-tu Polycarpe ? 

-- Oui, je le suis. 

-- Aie pitié de tes cheveux blancs, maudis le Christ, et tu seras libre. 

-- Il y a quatre-vingt-six ans que je Le sers et Il ne m'a fait que du bien; comment pourrais-je Le maudire ? Il est mon Créateur, mon Roi et mon Sauveur. 

-- Sais-tu que j'ai des lions et des ours tout prêts à te dévorer ? 

-- Fais-les venir ! 

-- Puisque tu te moques des bêtes féroces, je te ferai brûler. 

-- Je ne crains que le feu qui brûle les impies et ne s'éteint jamais. Fais venir tes bêtes, allume le feu, je suis prêt à tout. 

De toutes parts, dans l'amphithéâtre, la foule sanguinaire s'écrie : -- Il est digne de mort. Polycarpe aux lions ! 

Mais les combats des bêtes féroces étaient achevés ; on arrêta qu'il serait brûlé vif. Comme les bourreaux se préparaient à l'attacher sur le bûcher, il leur dit : -- C'est inutile, laissez-moi libre, le Ciel m'aidera. 

Le saint lève les yeux au Ciel et prie. Tout à coup la flamme l'environne et s'élève par-dessus sa tête, mais sans lui faire aucun mal, pendant qu'un parfum délicieux embaume les spectateurs. À cette vue, les bourreaux lui percent le cœur avec une épée. 

Nous sommes tous, chacun à sa place, Polycarpe, qui dans son témoignage émane le doux parfum du Christ. 

Ainsi, nous pouvons dire que le Sermon sur la Montagne constitue un tout qui vise à nous sanctifier au cours de notre cheminement vers le Royaume des Cieux. Et ainsi, étonnés comme les auditeurs de Jésus, sur la montagne, dans Matthieu 7 : 28-29, nous lisons : 

Et il arriva que, alors que Jésus terminait son discours, la foule s'émerveillait de sa doctrine, parce qu'il enseignait avec autorité et non comme les scribes. 

Tel est le défi posé par Jésus, nous sommes appelés à marcher et à vivre en chrétiens! 

Amen. 





Velhice, pensando ...

Velho, você é feliz porque se esforça para ter o coração puro. Você verá com alegria o Deus eterno.

Se você é um velho, agradeça a Deus por três coisas: pela vida, você poderia não existir; pelos anos trilhados na existência, porque foi neles que você foi construído; pelas pessoas que atravessaram e compartilharam o seu caminho, mesmo aquelas que se opuseram a você. Medite, sua vida, mesmo que tenha sido pesada, não foi queimada na fogueira das vaidades. Agradeça.

A santidade é a sabedoria do velho. Busque, viva a santidade. O mundo precisa de velhos, precisa de santos.