mardi 21 août 2012

Lições de existência


As pessoas são tocadas pelo amor. Nada sensibiliza mais o ser humano, talvez por isso o rolo bíblico de Cantares compare a paixão à força da morte, já que os dois estados se nos apresentem como definitivos. Caso você já tenha estado apaixonado ou apaixonada sabe como é.

Versão completa, dublada, para você curtir com calma

Num domingo de janeiro preparei este prefácio de manhã a partir daquilo que chamei Lições de amor. Foi um pensar na gratidão ao Eterno, um jeito de dizer a Ele que o amo. E pensando, me remeti a um filme de 2001, Uma lição de amor (veja acima), que conta a história de um pai com deficiência mental e uma filha, de sete anos, que começa a ultrapassá-lo intelectualmente. No filme, uma assistente social quer levar a menina para um orfanato, alegando que o pai não tem condições de criar a filha. Foi nesse momento que me deparei com dois dois textos, o de Cantares (8.6), já citado acima, e outro, também belíssimo, de um profeta mal compreendido e meio abandonado, Oséias (2.14-23). 

Minha leitura de Deus, um delírio, de Richard Dawkins, não fez o efeito que ele esperava. Na verdade, me levou a uma outra leitura: fiz uma ponte entre as lições de amor do Eterno e a minha paixão por Ele. E foi assim que surgiu esse prefácio, num discurso sobre as minhas provas da existência do Eterno, que divido em três: (1) o “Noturno Opus 9, no. 2” de Chopin, (2) a roda e (3) a raiz quadrada de menos 1. Talvez, você, querido leitor do meu amigo Jorge Luiz Sperandio, esteja achando que estou louco, o que pode não ser mentira, mas se tiver curiosidade e paciência, vai entender o caminho que trilhei. E esse caminho, que vai na contramão do que Dawkins disse, nos ajuda a entender porque Sperandio está preocupado com os temas centrais da fé cristã, criação, pecado e salvação. Enfim, as lições de amor e essas minhas provas da existência do Eterno se correlacionaram, e levam a uma teoria da existência. 

Eternidade e amor estão entrelaçados, e vejo isso quando sou obrigado a pensar uma teoria da existência. E, metodologicamente, como teólogo, a primeira coisa que devo me perguntar é se uma coisa existe ou não existe. E isso significa trabalhar com variáveis: (1) uma coisa existe; (2) uma coisa não existe; (3) uma coisa não existe, mas já existiu, deixou de existir e não existe mais, porém poderia existir. 

Devo pensar também, e essa questão é um pouco mais complexa, que a existência existe. E ainda que eu diga que existência é espaço/tempo, como não temos espaço apenas, ou tempo apenas, a existência existe. Não dá para dizer que a existência não existe, ela é realidade no cosmo, produz diferença no mundo. Caso não existisse a existência, então, nada existiria. 

Mas, outra questão deve ser colocada: se posso falar numa teoria da existência, preciso entender que posso apreendê-la enquanto atos de conhecimento. E ato de conhecimento é uma ação consciente sobre algo que existe ou uma realidade. Por isso, os atos de conhecimento nos remetem a pessoas que são conscientes e podem conhecer a existência através de seus processos e modos. 

As pessoas são tocadas pelo amor. Nada sensibiliza mais o ser humano do que o amor, como dissemos acima. E, por isso, o amor e a morte se nos apresentam como estados definitivos. Caso você já tenha estado apaixonado ou apaixonada sabe como é. 

E Oséias contou que o Eterno disse (2.14-18): “Vou seduzir a minha amada e levá-la de novo para o deserto, onde lhe falarei do meu amor. Ali, eu devolverei a ela as suas plantações de uvas e transformarei o vale da Desgraça em porta de esperança. Então ela falará comigo como fazia no tempo em que era moça, quando saiu do Egito. Mais uma vez ela me chamará de “meu marido”, em vez de me chamar “meu senhor” (meu baal). Nunca mais deixarei que ela diga o nome baal, nunca mais ela falará desse deus. Sou eu o Senhor quem está falando. Naquele dia, farei a favor dela uma aliança com os animais selvagens, com as aves, com as cobras, para que não ataquem a minha amada. Quebrarei as armas de guerra, os arcos e as espadas. Não haverá mais guerra e o meu povo viverá em paz e segurança. Israel, eu casarei com você, e para sempre você será minha legítima esposa. Eu tratarei você com amor e carinho, e serei um marido fiel. Então, você se dedicará a mim, o Senhor. Naquele dia, serei o Deus que atende: atenderei o pedido dos céus, os céus atenderão o pedido da terra, dando-lhe chuvas. E a terra responderá produzindo trigo, uvas e azeitonas. Assim, eu atenderei as orações do meu povo de Israel. Plantarei o meu povo na Terra Prometida para que eles sejam a minha própria plantação. E eu amarei aquela que se chama Não-Amada, e para aquele que se chama Não-Meu-Povo eu direi: “Você é meu povo” e ele responderá: “Tu és meu Deus”. 

Agora, vamos desconstruir o texto de Oséias e relacioná-lo com a teoria da existência. 

Deslumbrar e fascinar são desafios da existência e isso está expresso do texto de Oséias, quando o Eterno diz: “Vou seduzir a minha amada e levá-la de novo para o deserto, onde lhe falarei do meu amor”. A travessia do deserto, quando os hebreus fugiram do Egito, foi um tempo de intimidade com a eternidade, uma porta de esperança, diferente do vale da desgraça, onde o soldado Acã foi condenado à morte por traição. 

Assim, nessa correlação entre eternidade e amor, podemos discutir a existência a partir dos noturnos de Frederico Francisco Chopin. Esses noturnos eram cantos livres, que traduziam as experiências pessoais de Chopin e expressavam sua espiritualidade. Diria que os noturnos desse músico são o deserto do profeta Oséias, espaço/tempo de intimidade com a eternidade. 

Particularmente, sou apaixonado pelo Noturno Opus 9 no. 2, que tem a propriedade de ser uma obra de criação e pertença de um humano sensível. É peculiar, diria inédita e exclusiva. E ao dizer essas coisas, afirmo não apenas que existe, mas sou obrigado a falar de sua natureza, de sua essência. Ou seja, saber que o Noturno Opus 9 no. 2 de Chopin existe, significa dizer que não existem outros Noturnos Opus 9 no. 2. Só existe esse. 

Baal e îche são outros dois desafios da existência 

E as lições de amor nos trazem de volta a Oséias, quando o Eterno diz: “Ela me chamará de meu marido”. E Isaías (54:4-5) conta que o Eterno disse: “Não temas, porque não serás envergonhada; não te envergonhes, porque não sofrerás humilhação; pois te esquecerás da vergonha da tua mocidade e não mais te lembrarás do opróbrio da tua viuvez. Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; ele é chamado o Deus de toda a terra”. 

E mais uma vez a correlação entre amor e eternidade me remeteu a outro processo da existência, que vou analisar a partir de uma das mais simples máquinas que construímos: a roda. Todos conhecemos as suas aplicações e sabemos que crescem a cada dia: vão do uso nos transportes à utilização nas mais diferentes máquinas mecânicas. Mas é simples: caracteriza-se pelo movimento de rotação em seu interior. Em mecânica diz-se que o seu fato mais importante é determinado pela a transmissão de força, velocidade e distância, que se dá pela relação entre o diâmetro da borda da roda e o diâmetro do eixo. 

Ora, a roda nos remete ao trocadilho que Oséias fez com a palavra baal, que era o deus da fertilidade dos cananeus, mas cuja palavra significava também senhor e marido. Oséias não quer que sua amada o chame de baal, mas de îche, homem, que por extensão poderia significar também marido e herói. 

Esse exemplo, o da roda, nos ajuda a entender a questão da existência, que não é uma propriedade que pertence, mas é o pertencimento a uma propriedade. Pense na roda, no conceito roda e em todas que existem ou podem existir. A existência da roda consiste em participar de relações de predicados. Assim, a existência da roda significa que pertence a propriedades ou é parte de propriedades. Nesse sentido, a existência é sempre participação na relação de predicados. Como baal ou îche

Celebrar a imagem que transcende é um desafio fundante da existência 

E para sempre você será minha legítima esposa”, disse o Eterno sobre sua amada. Oséias utiliza esse recurso para falar de uma aliança que transcende os predicados definidos pela existência. 

Ou como o Eterno disse ao profeta Jeremias (31.33-34): “Quando esse tempo chegar, farei com o povo de Israel esta aliança: eu porei a minha lei na mente deles e no coração deles a escreverei; eu serei o Deus deles, e eles serão o meu povo. Sou eu, o Senhor, quem está falando. Ninguém vai precisar ensinar o seu patrício nem o seu parente, dizendo: “Procure conhecer a Deus, o Senhor.” Porque todos me conhecerão, tanto as pessoas mais importantes como as mais humildes. Pois eu perdoarei os seus pecados e nunca mais lembrarei das suas maldades. Eu, o Senhor, estou falando”. 

Aqui entra o meu terceiro exemplo dessa correlação entre eternidade e amor e os desafios de uma teoria da existência: a raiz quadrada de menos 1 (√-1). Como vimos, as coisas que existem tem suas propriedades. Quando alguma coisa não tem condições de ter existência comprovada ou não tem pertença/predicados, ela fica fora das leis fundamentais da lógica e da existência dos atos de conhecimento. Por isso, em matemática falamos em unidade imaginária i, enquanto solução da equação quadrática: x2+1=0, da qual decorre x2=−1. 

Ou, dessa séria questão existencial x=√-1, onde a unidade imaginária é i=√-1. Dentro da lógica matemática não posso dizer que este número exista, ele é imaginário porque é um recurso da minha imaginação, pois não há número real cujo quadrado seja negativo. E isso é um fato. Imagina-se, então, que haja números especiais, dotados de propriedades que satisfaçam essa exigência da imaginação. E assim a matemática criou uma classe de números: os imaginários, que não são reais. 

E, agora, voltemos ao filme. O que os amigos do pai deficiente mental entendiam, e a assistente social não, era que havia entre o pai e a filha uma aliança maior, que transcendia em muito suas deficiências intelectuais, uma aliança de amor. 

Dessa maneira, nessa correlação tresloucada entre eternidade e amor digo que uma teoria da existência parte de três fundamentos: (1) a diferença entre existir e não existir, e que essa diferença não é um atributo, não é uma propriedade; (2) a existência não faz parte da essência de cada coisa, mas cada coisa, todas as coisas mostram diferenças entre natureza e existência; (3) a mente transcende, produz representações que agregam conhecimento e constroem sentido para a existência. É o que Dawkins não entende e que Sperandio, com paciência e amor, explica a ele. 

Assim, na correlação eternidade/amor, a existência deslumbra e fascina; é baal e îche; transcende e cria a imagem que alucina. E faça uma boa leitura. 





lundi 20 août 2012

Aqui e agora

Que relação existe entre o tempo presente e o crítica protestante? Para responder a esta questão é necessário antes que nada entender o tempo presente. Falar da situação espiritual do tempo presente [1] pode significar duas coisas. É dizer que vamos de uma situação contingente em direção a um ponto de vista superior. O tempo presente seria, então, parte de uma situação mais geral. O momento presente estaria enquadrado no caminhar do processo histórico. 



E para fazer a leitura desse tempo presente pode-se recorrer à análise histórica, à avaliação crítica ou à construção filosófica. Algumas vezes, porém, algum desses elementos falha. Por isso, não basta observar o tempo presente. Estamos excessivamente ligados a ele, o que nos pode levar a escorregar para um julgamento do ser enquanto aqui e agora e esquecer que devemos estar voltados para o futuro. 


O momento é importante, mas transformar o exame da situação espiritual do tempo presente em apreciação subjetiva é realizar uma redução, é ver a situação como totalidade e permanência. Olhando assim colocamos a situação num patamar elevado e a perspectiva que temos é aparentemente ampla e global, apesar de seu caráter individual e limitado. 

Tal análise do momento pode levar a uma ampla aprovação e tocar emocionalmente setores expressivos da sociedade e comunidades inteiras. Um exemplo foi o trabalho de Spengler, A decadência do Ocidente, onde o filósofo alemão parte da profunda crise de seu país no primeiro pós-guerra e conclui que a cultura ocidental chegou ao fim. 

Esta é uma maneira de ver. Ela pode ser qualificada como parcial e limitada, mesmo quando apresenta análises de conjuntura e perspectivas para o futuro. Mas por que então parcial? Porque não aceita suas responsabilidades. Porque não reconhece os limites daquele que observa, assim como de seu próprio horizonte. [2] 

Mas se existe um nível mais elevado, mais amplo do que este analisado pelo observador, somos levados a falar da situação espiritual do tempo presente, possibilidade que pode ser qualificada de responsável. E é possível chegar a tal patamar de observação? [3]

Caso exista um ponto de vista mais elevado, a partir do qual se posicione um atalaia do tempo presente, como deve ser este mirante? Deve estar numa altura acima de qualquer comparação. Só o absolutamente inacessível, incomparável, incondicionado, livre das amarras do historicismo, pode ser de fato responsável. 

Partindo dessa realidade, pode-se dizer que existiram pessoas que interpretaram a situação espiritual de uma época dada. Eis aqui o ponto de intersecção entre o tempo presente e a crítica protestante. Seguindo a trilha aberta por Tillich, que cita a paixão de Troeltsch no combate ao historicismo, e que terá seus estudos sobre profetismo reconhecidos inclusive por estudiosos judeus, [4] é possível afirmar que o princípio profético traduz inquietude e descontentamento em relação aos acontecimentos sociais e religiosos concretos. 

Há uma semelhante busca ética de respostas entre aquele que encarna a crítica protestante e a ação consciente do intelectual orgânico [5]. Ambos representam determinada comunidade, têm função superestrutural e, apesar de sua organicidade, precisam exercer autonomia em relação às pressões sociais que sofrem. É dessa postura que nasce a força crítica e a compreensão de que diante da realidade há alternativas diferentes daquelas expressas pelo poder. E um poeta nosso expõe isso muito bem. Vamos ouvir Thiago Grulha. 

Notas
[1] Paul Tillich, Kairós II in Christianisme et Socialisme, Écrits socialistes allemands (1919-1931), Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, 1992, pp. 255-267, tradução francesa do original Kairós. Zur Geisteslage und Geisteswendung, Gesammelte Werke, 1926, VI, pp. 29-41. 
[2] Idem, op. cit., p. 255. 
[3] Idem, op.cit., p. 255. 
[4] León Epsztein, em A Justiça Social no Antigo Oriente Médio e o Povo da Bíblia, São Paulo, Edições Paulinas, 1990, p. 116 cita E. Troeltsch, Das Ethos der hebraischen Propheten, in Log., 191, p. 1:28. 
[5] “Se e a relação entre intelectuais e povo-nação, entre dirigentes e dirigidos - entre governantes e governados - é dada por uma adesão orgânica, na qual o sentimento paixão torna-se compreensão e portanto saber (não mecanicamente, mas de forma viva), é somente então que a relação é de representação e que se produz o intercâmbio de elementos individuais entre governados e governantes, entre dirigidos e dirigentes, isto é: que se realiza a vida conjunta que, só ela, é a vida social, cria-se um bloco histórico”. Antonio Gramsci, Il Materialismo Storico e la Filosofia di Benedetto Croce, Turim, Einaudi, 1966, p. 115. 


Tempo Para Amar
Thiago Grulha

Olhei no relógio e o dia já se foi
E eu não disse te amo pra ninguém
Até tive chances mas deixei pra depois
Quanta coisa na vida eu deixei pra depois também,
Pra depois também
Estava com pressa
Não abracei meus pais
Não escutei a quem pedia atenção
Pra correr e vencer, deixei amigos pra trás
Estou ganhando o mundo
Perdendo meu coração

Quem não tem tempo para amar
Morre por dentro a cada segundo
Nós fomos feitos para amar
O amor de Deus transforma o mundo

Olhei no relógio e ainda é cedo, eu sinto a alma amanhecer
O amor perfeito lança fora o medo
Quem decide amar, decide viver
Decide viver

Quantos esperam o nosso olhar de amor
Palavras que confortem o coração
Em dia de guerra, de ódio e rancor

Só o amor de Deus é que traz salvação

Quem não tem tempo para amar
Morre por dentro a cada segundo
Nós fomos feitos para amar
O amor de Deus transforma o mundo

Quem não tem tempo para amar
Morre com o tempo a cada segundo, a cada segundo
Nós fomos feitos para amar
O amor de Deus transforma o mundo
O amor de Deus transforma o mundo
O amor de Deus transforma tudo.

dimanche 19 août 2012

A dúvida e a situação-limite humana

“A existência humana é a elevação do ser à dimensão da liberdade. O ser se liberta das cadeias da necessidade natural. Torna-se espírito e adquire liberdade de se questionar a si mesmo, o seu ambiente, de questionar a verdade e o bem e de decidir a seu respeito. Entretanto, há nessa liberdade certa falta de liberdade, pois somos todos compelidos a decidir. ‘Essa inevitabilidade da liberdade, de ter que decidir, cria profunda inquietude da existência; é por esse meio que a existência passa a ser ameaçada’. Tudo isso, porque somos confrontados por uma exigência incondicional de escolher o bem e de realizá-lo, na mesma medida em que isso não pode ser alcançado. Conseqüentemente, o ser humano, na sua dimensão espiritual carrega em si uma ruptura, que também se manifesta na sociedade. Não é possível fugir dessa exigência. Ao enfrenta-la jamais se reveste de segurança absoluta. Trata-se pois do que Tillich chama de ‘situação humana limite’: todas as seguranças que construímos são questionadas e as possibilidades humanas alcançam e descobrem seus limites”. James Luther Adams, O conceito de era protestante segundo Paul Tillich, in Paul Tillich, A Era Protestante, SBC, Ciências da Religião, 1992, p. 301.

“Observamos aqui um dos aspectos mais originais e notáveis da doutrina da justificação em Tillich. Lutero aplicava essa doutrina apenas à vida religiosa-moral. O pecador, não obstante ser injusto era ‘justificado’. Tillich aplica a mesma doutrina igualmente à esfera religiosa-intelectual. Nenhuma autoridade tem o direito de exigir, na verdade, a aceitação de qualquer crença ‘correta’ de quem quer que seja. A devoção à verdade é suprema; é devoção a Deus. Existe sempre um elemento sagrado na integridade que conduz à dúvida mesmo sobre Deus e a religião. Na verdade, se Deus é a verdade, Ele é a base e não o objeto das questões a seu respeito. Qualquer lealdade à verdade será sempre religiosa, mesmo quando acabar constatando a falta de verdade. Parafraseando Agostinho, a pessoa que duvida com seriedade terá de dizer: ‘Duvido, logo sou religioso’. O divino se faz presente até mesmo na dúvida. O ateísmo absolutamente sério pode se dirigir ao incondicional; pode ser uma forma de fé na verdade. Vê-se aqui a conquista da falta de sentido pela consciência da presença paradoxal do ‘sentido na própria falta de sentido’. Assim é ‘justificado’ aquele que duvida. A única atitude fundamentalmente irreligiosa é, então, a do cinismo absoluto com sua completa falta de seriedade”. James Luther Adams, idem, op., cit., pp. 302-3.

vendredi 17 août 2012

IDC 106.2 FM, Herzliya, Israel


IDC Radio is a college radio station operated from IDC Herzliya, Israel.
IDC Radio offers varied quality talk and music programs.

Imagem e dignidade


Shelach Lechá
Rabino Ruben Sternschein
17 de agosto de 2012
29 de av de 5772
BY CONGREGAÇÃO ISRAELITA PAULISTA

Nem sempre a vaidade é superficial. Nem sempre o marketing é uma mentira ou uma inflação de uma pequena verdade em prol de um interesse mesquinho e egoísta. Nem sempre promover uma imagem é apenas egolatria e poder.

Na parashá da semana, Deus resolve acabar com uma grande quantidade dos hebreus libertados pois eles temem a liberdade e preferem voltar à escravidão egípcia. “Compram” com facilidade o conto de dez dos doze espiões que foram mandados a analisar a Terra de Israel e seus habitantes, segundo o qual a terra consome seus habitantes e quem resiste são gigantes que jamais permitirão que ninguém se introduza nela.

Nesse momento Moshé intervém em favor dos hebreus e convence Deus com um argumento típico de um assessor de imagem: “O que vão dizer os egípcios sobre um Deus que tirou seu povo para matá-lo no deserto por falta de capacidade para levá-lo com vida até o destino final?

Alguns mestres medievais como Rabi Itschak Arama e Rabi Abarbanel reclamaram absortos, dizendo: como é possível que Moshé pense que Deus se importaria com Sua imagem e, acima de tudo, justamente diante de pagãos como os egípcios!

Nachmânides sugere uma solução magistral: não era a Sua imagem em si, pela sua vaidade, pelo seu “ego”, o que preocuparia Deus e Moshé, mas sim o que implicaria para a humanidade e para o mundo um Deus que destrói tudo, uma dinâmica mundo-Deus determinada e caracterizada pela raiva e pelo mútuo afastamento. Ou seja, o cuidado da imagem por motivos altruístas, pelo bem de quem observa a imagem, interpreta-a, incorpora-a e reage a ela.

Nossa imagem tem a ver com o que representamos e não apenas com quem somos. Se um judeu identificado como tal age corretamente em público, cedendo um assento a uma grávida no metrô, ajudando um idoso a atravessar a rua, contribuindo com a campanha do agasalho, fazendo negócios limpos, logo os judeus como coletivo são identificados com esses valores.

Se um judeu liberal, um cipiano, participa de sua comunidade com entusiasmo, aprende, pensa, ensina, se comove e vive uma vida mais significativa, logo o judaísmo liberal e a CIP serão identificados como algo de valor e significado.

Da maneira como falemos com nossos filhos, pais e cônjuges, quem nos vir e ouvir aprenderá como ser adulto.

O israelense Shmuel Yosef Agnon, Prêmio Nobel de Literatura em 1966, escreveu que quando alguém falece dizemos o Cadish porque nos preocupamos com a imagem que fica da vida diante do afastamento desse ser querido. O Cadish tenta continuar sustentando Deus e o mundo e sua dignidade na hora de perda de quem representava tudo isso.

Que possamos nesta semana compreender tudo o que representamos e manter a maior dignidade possível de nossas múltiplas imagens. Em prol dos que delas aprendem a viver e ser.

Shabat shalom,
Rabino Ruben Sternschein



Números 14.13-19
13 E disse Moisés ao SENHOR: Assim os egípcios o ouvirão; porquanto com a tua força fizeste subir este povo do meio deles. 14 E dirão aos moradores desta terra, os quais ouviram que tu, ó SENHOR, estás no meio deste povo, que face a face, ó SENHOR, lhes apareces, que tua nuvem está sobre ele e que vais adiante dele numa coluna de nuvem de dia, e numa coluna de fogo de noite. 15 E se matares este povo como a um só homem, então as nações, que antes ouviram a tua fama, falarão, dizendo: 16 Porquanto o SENHOR não podia pôr este povo na terra que lhe tinha jurado; por isso os matou no deserto. 17 Agora, pois, rogo-te que a força do meu Senhor se engrandeça; como tens falado, dizendo: 18 O SENHOR é longânimo, e grande em misericórdia, que perdoa a iniqüidade e a transgressão, que o culpado não tem por inocente, e visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos até à terceira e quarta geração. 19 Perdoa, pois, a iniqüidade deste povo, segundo a grandeza da tua misericórdia; e como também perdoaste a este povo desde a terra do Egito até aqui.

jeudi 16 août 2012

O cairo e a filosofia da história

Em relação às perspectivas do futuro, cairo é um momento especial, tempo bom, especial.

"C’était une intuition subtile qui incitait l’esprit de la langue grecque à designer le temps formel par le terme chronos, qui est différent de kairós, lequel designe ‘temps opportun’, le moment riche en contenu et en signification. Et ce n’ést pas un hasard si ce mot a trouvé son usage le plus dense et le plus fréquent là où la langue grecque devint le véhicule de l’esprit historique et dynamique du judaïsme et du christianisme primitif, c’est-à-dire dans le Nouveau Testament. On y dit de Jésus que son kairos n’était pas encore venu; et puis qu’à un moment ou l’autre il est venu en kairo, à instant où les temps etaient dans leur plenitude. C’est seulement pour la réflexion abstraite, objective, que le temps est une forme vide, pouvant recevoir n’importe quel contenu. Mais pour celui qui vit et a conscience de ce qu’est un événement créateur, le temps est charge de tension, de possibilités et d’impossibilités; il est qualitatif et riche de contenu; tout n’est pas possible en tout temps, tout n’est pas vrai en tout temps, tout n’est pas exigé à tout moment. Divers ‘maitres’, c’est-à-dire diverses puissances cosmiques, règnent em différents temps, et le ‘Seigneur’ qui triomphe de tous les autres anges et pouvoirs, règne dans le temps plein de destin et de tensios, qui s’étend entre la Résurrection et la Seconde venue; il règne dans le ‘temps présent’ qui, en son essence, est différent de tout autre temps du passe. C’est dans cette vive et très profonde conscience de l’histoire que s’enracine l’idée du kairós; et c’est à partir de là qu’elle doit être élaborée en concept d’une philosophie de l’histoire consciente”. Paul Tillich, Kairos I in Christianisme et socialisme, Écrits socialistes allemands (1919-1931), Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, 1992, pp. 116-117.


Assim, cairo é tempo favorável para a construção de propostas e alternativas sociais. É um tempo carregado de tensão, de possibilidades, qualitativo e rico de conteúdo, mas nem tudo é possível sempre. Isto porque, os poderes são plásticos e se fazem presentes em tempos diferentes. É nessa consciência da história que está enraizada a idéia do cairo e é a partir dela que deve ser elaborado o conceito de uma filosofia da história.

mercredi 15 août 2012

Toninho Mendes e Jorge Pinheiro


Toninho Mendes dá o seu recado: "Inicio uma nova empreitada editorial. No sábado dia 18 de agosto das 17 as 21 horas estarei no estande da editora Sampa na Bienal do Livro, autografando o número 1 de uma série de 3 revistas sobre a história da ditadura militar. A apresentação da pesquisa foi feita por Jorge Pinheiro, colega daquele período do jornalismo que lutou contra a ditadura. A capa está acima. A revista estará nas bancas no final de agosto. Abraços e saudades".
 

mardi 14 août 2012

Organização social, práticas sexuais e religião

Cadernos de Pesquisa
Print version ISSN 0100-1574
Cad. Pesqui. vol.38 no.133 São Paulo Jan./Apr. 2008

http://dx.doi.org/10.1590/S0100-15742008000100012 
RESENHAS

Organisation sociale, pratiques sexuelles et religion: le cas des trois religions monothéistes

Maria José Werebe, Paris : L'Harmattan, 2007, 262p.

Maria José Werebe foi professora livre-docente do curso de Pedagogia da Universidade de São Paulo e pesquisadora do Centre National de la Recherche Scientifique – CNRS–, na França. Especialista em educação sexual, situa o comportamento sexual humano para além de condicionantes de ordem biológica. Para a autora, um amplo conjunto de elementos intervém na sexualidade humana, cujas possibilidades de expressão encontram-se na confluência de fatores biológicos e socioculturais. A sexualidade se constitui também em um saber, aprendido e transmitido: "saber como fazer e como não fazer", conhecer o preço do prazer, as condições de negociação do desejo, as regras sociais quanto às trocas e relacionamentos sexuais.

As religiões constituem um importante elemento na conformação e compreensão da sexualidade. Em primeiro lugar porque as práticas sexuais se inscrevem em um contexto cultural e "a religião representa um fator importante no estabelecimento de normas e preceitos que visam reger o comportamento humano". A despeito do avanço da secularização, da separação entre poder religioso e poder laico, e da evolução das normas morais, "as religiões continuaram a exercer uma influência significativa em quase todas as sociedades". Em segundo lugar porque a sexualidade está fundada em um saber e o homem faz intervir o sagrado no discurso dele sobre ele mesmo, com o fim de legitimá-lo. Assim, a religião pode se constituir esse instrumento de sacralização de normas, mesmo quando as normas são provenientes de fontes externas independentes de prescrições religiosas, como certas tradições culturais ou leis "estabelecidas pelas autoridades no poder, em função de interesses políticos e econômicos".

A Werebe se propõe a analisar as relações entre as três religiões monoteístas – judaísmo, cristianismo e islamismo – e a sexualidade, para o que entende seja necessário situá-las em seu contexto político, econômico e cultural e considerar a sua evolução no espaço e no tempo. Busca compreender as regras por elas enunciadas e "suas implicações na prática sexual, na organização da família e na sociedade de hoje", procedendo ao exame dos textos revelados (a Bíblia – Antigo e Novo Testamento – e Alcorão), dos textos escritos pelas autoridades religiosas e de interpretações dos textos por crentes e não crentes no que concerne à sexualidade.

Na primeira parte do livro examina o judaísmo, sua história, os pontos centrais de sua doutrina e as regras morais e sexuais estabelecidas no texto, procurando levar em conta as diversas correntes e suas normas e atitudes em relação à sexualidade. Destaca que essas normas e atitudes podem variar de acordo com o grau de adesão do crente às tradições religiosas, com a sua classe social e o país em que vive, e conforme se trate de judeu de Israel ou da diáspora. Em relação à sexualidade, comportamento e normas dos judeus sofreram mudanças significativas ao longo da história, em virtude da influência que receberam da cultura das sociedades em que viveram e das diferenças de interpretação dos textos religiosos entre sábios e autoridades religiosas. Enquanto os ortodoxos apregoam uma "moralidade estrita e intransigente", a tolerância e a liberdade de atitudes, inclusive no campo da sexualidade, fazem parte do estilo de vida da maioria dos judeus, particularmente daqueles que vivem fora de Israel.

Na segunda parte, ressalvando a impossibilidade de contemplar toda a sua história, transformações e ramificações, mesmo no interior das principais confissões, a autora analisa o cristianismo em seus principais momentos históricos no que concerne às reciprocidades de interesses políticos e influências culturais mútuas entre religião e sociedades nas quais se instala e para as quais se expande, na forma das três principais confissões: católica romana, oriental-ortodoxa e protestante. Do ponto de vista da moral sexual o cristianismo é "herdeiro dos preceitos hebraicos e greco-romanos" que, contudo, evoluíram e sofreram transformações ao longo do tempo.

O catolicismo romano é a mais importante dentre as confissões cristãs em face do número de adeptos, da sua expansão e presença em inúmeros países, e da influência que sempre exerceu nos domínios "religioso, político e moral". Prescreve uma moralidade sexual estrita em muitos aspectos, com os renovadores opondo-se aos conservadores nesse campo. Para estes, as relações sexuais têm por finalidade única a procriação, de modo que os métodos contraceptivos, o aborto e o homossexualismo são condenados. No entanto os preceitos morais da Igreja Católica não são totalmente seguidos pela maioria dos seus adeptos: "a contracepção e o aborto são aceitos pela maioria dos católicos, assim como a relação sexual fora do casamento".

No que se refere ao cristianismo oriental-ortodoxo, a autora destaca que, embora haja diferenças entre as suas diversas correntes, este se mostra também muito conservador em relação às questões sexuais. É contudo mais liberal do que o catolicismo romano, uma vez que não prioriza um moralismo estrito, mas sim "o ser humano e a comunhão entre as pessoas". A adoção de métodos contraceptivos cabe à consciência individual e se admite o divórcio, assim como o novo casamento em caso de adultério ou esterilidade.

Quanto ao protestantismo, os preceitos morais de cada uma das correntes no seu interior variam significativamente conforme estejam mais ou menos ligados a tendências liberais ou fundamentalistas. Entre os pentecostais as posições de algumas correntes não são muito rígidas, "mesmo se a Assembléia de Deus, dentre outras, preconiza um certo rigor"; na França, os protestantes adotam posições majoritariamente liberais quanto à moralidade, sendo favoráveis ao uso de métodos contraceptivos, tolerantes quanto à relação sexual pré-conjugal e mesmo quanto ao homossexualismo, e admitem o aborto em alguns casos; contudo, ainda na França, as correntes denominadas evangélicas não chegam a ser tão liberais. No entanto, "os conservadores americanos de direita pregam uma moral extremamente retrógrada, contra o aborto e os homossexuais", chegando até, em alguns casos, a propor a proibição de salas de aula mistas nas universidades.

Na terceira parte do livro, a autora trata do islamismo, a "mais jovem" das religiões estudadas, de sua evolução e expansão desde que foi criado, suas correntes e as normas e regras morais e sexuais que lhes correspondem, fazendo também uma rápida abordagem do feminismo árabe-muçulmano, assim como da situação das mulheres em alguns países muçulmanos. Chama a atenção para a "grande diversidade étnica e cultural do mundo muçulmano" (islã negro, árabe, iraniano etc.) e para a tendência de considerar certas regras associadas ao Islã "como sendo universais", quando na verdade essas são interpretadas de modo diferente de acordo com o país, categorias sociais, e comunidades imigradas. Nos países em que o islamismo é a religião principal ou oficial, obviamente a tendência é que as regras sejam mais estritas, embora algumas delas sejam mais "determinadas por tradições culturais do que pela religião". Mesmo nesses países é possível verificar progressos em direção à maior liberalidade quanto à moral sexual e aos direitos das mulheres. Exemplos nesse sentido são a Turquia (estado laico) e a Tunísia, onde o aborto e a adoção de métodos contraceptivos são admitidos, e a poligamia e o repúdio de mulheres é proibido (o divórcio é permitido na Turquia).

Nas comunidades imigradas, alguns grupos integristas – minoritários – "tentam impor regras morais rígidas, às vezes por meio de métodos violentos", mas a maioria dos imigrantes muçulmanos se integra à cultura local, adotando um islamismo "moderado, compatível com as liberdades democráticas". De modo geral apenas os grupos "radicais" são favoráveis a uma moral sexual rígida. Contudo, de acordo com a autora, ao contrário do que ocorre com os cristãos e judeus, não se constata queda da prática religiosa entre os muçulmanos, principalmente nos países em que eles são majoritários.

Para além da riqueza de dados e informações, um dos méritos desta obra está no próprio fato de voltar o olhar para as relações entre religião, sociedade e sexualidade. A análise transversal não dá margem a que se corra o risco de limitar e/ou excluir da problemática de gênero parcela considerável de mulheres, uma vez que o fator religioso incide sobre as relações sociais de sexo tanto de forma indireta, pelos imbricamentos existentes entre cultura, saberes e poderes laicos e religiosos, quanto de forma direta, em face da forte presença de mulheres nas religiões.

Outro elemento de destaque está na abordagem do fenômeno religioso como processo mais dinâmico e amplo do que as representações acerca das religiões ou de suas manifestações dominantes poderiam fazer crer. A autora evita uma abordagem simplista1 mas comum, mesmo nos meios acadêmicos, que tende seja a afirmar uma "missão redentora" da ciência, da república laica, de todas as instâncias que representariam, enfim, a libertação da religião, da falsa consciência de si para a "real" racionalidade e liberdade, seja a exaltar um pretenso papel "libertário" da religião. Como se as religiões tivessem sempre e apenas uma face– ou libertadora ou de reforço do patriarcado – e jamais as mulheres, dentro de uma visão religiosa, pudessem aceder ou se beneficiar da condição de sujeito em contraposição à sociedade laica, que sempre lhes favoreceria esse acesso.

Na perspectiva da autora, a realidade ou as realidades dessa relação entre religião, sujeito e sociedade é bem mais complexa. O processo de crescente autonomização dos sujeitos se consolida também no (e talvez mesmo a partir do) campo religioso, possibilitando aos "crentes modernos" comporem as suas crenças e exercerem a sua fé, sem necessariamente "respeitar todas as regras impostas pela sua religião" ou pelas autoridades religiosas. De fato os dados indicam que "o retorno do sentimento religioso não impediu uma queda [na observação] das práticas religiosas, em particular entre os cristãos e os judeus". Se, no entanto, há um retorno do sentimento religioso, ele é explicável em parte pelas desigualdades e injustiças sociais, pelo confronto de etnias e dificuldades de aceitação da alteridade. Cenário no qual reivindicações étnicas, políticas ou identitárias, estão ou são, em muitos casos, associadas a um pertencimento religioso, ao mesmo tempo em que se verifica crescimento de integrismos e fundamentalismos, que tanto se podem configurar em "solução de desespero" quanto em afirmação ou desejo de poder.

Com essa perspectiva sensível e lúcida a autora conclui que o problema não está na religião em si, mas no que se faz dela, ou com ela. Não se trata, no caso, de 'resgatar' as religiões ou de justificá-las, mas de reconhecer a complexidade de fatores envolvidos na adesão e nas formas de manifestação religiosa, tanto do ponto de vista dos sujeitos religiosos, quanto no que se refere às relações entre religião e sociedade e das implicações destas sobre as relações de gênero no âmbito interno e externo ao contexto religioso.

Naira Carla Di Giuseppe Pinheiro dos Santos
Núcleo de pesquisa em gênero
e religião Mandrágora/NETMAL
Doutora em Ciências da Religião
pela Universidade Metodista de São Paulo
nairapinheiro@gmail.com

1. Woodhead, L. Mulheres e gênero: uma estrutura teórica. Revista Eletrônica Rever , v.2, n.1. Disponível em: www.pucsp.br/rever.         [ Links ]  ]

Teologia humana, pra lá de humana


O humano é responsável pelo ontem, pelo hoje e pelo amanhã. É na construção escolhida ou imposta, mas aceita, e na sequência dela, que cada um, que cada uma, faz a comunidade humana. As realidades imanentes e transcendentes são vaidades e correr atrás do vento quando é descartado o papel humano de cada dia. Por isso, a teologia exorta à crítica do espírito de religiosidade e chama à liberdade do livre espírito: pensar a imposição para construir além dela.

Os batistas



Os batistas são, depois do pentecostalismo, a ramificação mais numerosa do protestantismo evangélico, compreendido como um cristianismo biblicista, conversionista e militante. É a principal confissão protestante norte-americana e tem um crescimento significativo no Brasil. Em termos gerais, desenvolveu-se a partir de três traços distintivos: uma teologia de inspiração calvinista, uma eclesiologia congregacionalista e de proclamação – com autonomia da assembleia local e composta de militantes engajados – e a prática do batismo por imersão do convertido, o coração da especificidade batista. Esse protestantismo evangélico se caracteriza, ao mesmo tempo, por uma referência à tradição confessional e por uma plasticidade marcante. É essa construção confessional, no caso brasileira, com suas tradições, que um grupo de especialistas analisa nesta obra.

lundi 13 août 2012

Casa Grande, de Gladir Cabral

Gladir Cabral


A casa grande é branca e branda como a seda, 
Acolchoada, fina e nobre como a renda, 
Mas aqui fora reina a lei da reprimenda, 
Da palmatória, nossa paga, nossa prenda. 

Doutores, caros, fortes, ricos e senhores 
Que suspirais pelas janelas dos amores, 
Olhai por nós marcados por terríveis dores, 
De vós vêm nossas esperanças e temores. 

Os nossos corpos sendo mortos pouco a pouco, 
Os nossos sonhos já desfeitos, todos loucos. 
Na casa grande há uma cruz numa parede. 

No coração de um negro há uma casa nova 
Sem palmatória, sem corrente obrigatória, 
Sem mais senhores, todos são de todo amigos 
E nas paredes não há cristos esquecidos. 

Nessa fazenda Deus é gente aproximada, 
É tempo inteiro, tarde, noite e madrugada, 
Motiva encontro, comunhão e caminhada, 
Faz liberdade ser bem mais que uma palavra. 

Os nossos corpos redimidos num momento 
Bem mais veloz que a luz de todo o pensamento, 
A nossa casa é muito mais que uma fazenda (1ª) 
A nossa vida é bem mais que uma fazenda (2ª)

mardi 7 août 2012

Estudo Interreligioso -- programa para o segundo semestre de 2012

EMENTA O Estudo Interreligioso, enquanto estudo racional da experiência cristã e das religiões mundiais. Conceitos, cosmovisão e metodologia do Estudo Interreligioso. Abordagens e leituras das correlações com outras cosmovisões. OBJETIVOS O estudo das correlações entre as religiões mundiais e o cristianismo é importante porque possibilita ao aluno abordar outras leituras da realidade. Isso permite aos futuros profissionais da teologia, sejam pastores, professores ou missionários, construir uma concepção de mundo que permita o diálogo com outras formas de pensar, mas ao mesmo tempo permitir ao aluno balizar teologicamente sua vida ministerial.
3. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO O propósito básico da apologética foi expresso por Pedro: “estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1ª. Pedro 3.15). A apologética, então, é a resposta para perguntas e questões sobre a fé cristã, tanto as questões levantadas pelos próprios cristãos, como os questionamentos apresentados pelos não-crentes. Agosto O Deus trino e os argumentos cosmológico, teleológico, axiológico e suas avaliações. Leituras Pinheiro, Jorge, Teologia Bíblica e Sistemática, o ultimato da práxis protestante, São Paulo, Fonte Editorial, 2012, cap. 3 e 4. STOTT, John, A Missão Cristã no Mundo, São Paulo, Candeia, 2008, cap. 3. 
Setembro A coerência do teísmo: necessidade, onipresença, onisciência, onipotência e suas avaliações. Leituras Pinheiro, Jorge, op. cit, cap. 4. Outubro/ Novembro O problema do mal e as doutrinas cristãs: Trindade, encarnação e o particularismo cristão e suas avaliações. Leituras Pinheiro, Jorge, op. cit., caps. 10, 11 e 12. STOTT, John, op. cit., caps. 4 e 5. METODOLOGIA Optamos por uma abordagem temática dos assuntos, sem descuidar da referência necessária à história dessa área da Teologia, que permita estabelecer o fio condutor da exposição dos temas. Isto porque fazer apologética não deve ser visto como atividade solitária, mas que se faz através do diálogo entre pensadores, igreja e fiéis quando expõem suas diferenças. RECURSOS Audiovisuais. AVALIAÇÃO Os alunos serão avaliados por sua participação em classe (peso 3), pelos seminários apresentados (peso 4) e por uma prova final (peso 3). BIBLIOGRAFIA BÁSICA BECKWITH, francis J., CRAIG, William L., e MORELAND, J. P., Ensaios Apologéticos, São Paulo, Hagnos, 2006. Pinheiro, Jorge, Teologia Bíblica e Sistemática, o ultimato da práxis protestante, São Paulo, Fonte Editorial, 2012. STOTT, John, A Missão Cristã no Mundo, São Paulo, Candeia, 2008. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR Pinheiro, Jorge, “A doutrina da eleição – calvinismo, arminianismo e o equilíbrio da doutrina batista” in Revista Teológica, São Paulo, Ano 4, no. 5, 2008. Santo Anselmo, Livre arbítrio e predestinação, uma conciliação entre a presciência e a graça divina, São Paulo, Fonte Editorial, 2006.

Filosofia II -- segundo semestre de 2012

EMENTA A compreensão da correlação entre a filosofia e a teologia é essencial para que se possa romper com as leituras rasas da fé cristã, que descartam as influências de épocas, culturas e pensadores na construção do pensamento teológico. Acreditamos que o estudo da Filosofia Cristã oferece condições teóricas para a superação da consciência ingênua e o desenvolvimento de uma consciência crítica, pela qual a experiência vivida é transformada em consciência compreendida, ou seja, em conhecimento a respeito dessa experiência. OBJETIVOS Optamos por uma abordagem temática dos assuntos, sem descuidar da referência necessária às histórias da filosofia e da teologia, que permitam estabelecer os fios condutores da exposição dos temas. Isto porque teologizar filosoficamente não deve ser visto como atividade solitária, mas como diálogo entre os pensadores escolhidos para tais debates e a capacidade crítica de professor e alunos.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Agosto / Setembro O círculo teológico O círculo em que se situa o teólogo é diferente daquele do filósofo. Ele acrescenta aos “a priori do mistério” o critério da mensagem cristã. Enquanto o filósofo procura permanecer geral e abstrato em seus conceitos, o teólogo é consciente e intencionalmente específico e concreto. Assim, o teólogo entra no círculo teológico com um compromisso concreto, como membro da igreja cristã para cumprir suas funções essenciais, sua interpretação teológica da revelação e da realidade. A filosofia e a teologia formulam a pergunta pelo ser. Mas elas o fazem de perspectivas diferentes. A filosofia lida com a estrutura do ser em si mesmo; a teologia lida com o sentido do ser para nós. Dessa diferença surgem tendências convergentes e divergentes entre teologia e filosofia. Textos: Pinheiro, Jorge, Deus é brasileiro, as brasilidades e o Reino de Deus, São Paulo, Fonte Editorial, 2008, Introdução e capítulo 1. STOTT, John, A Missão Cristã no Mundo, São Paulo, Candeia, 2008, Introdução e caps. 1 e 2. Tillich, Paul, Teologia Sistemática, São Leopoldo, Sinodal, 2005, Introdução, B 3-7. Outubro A razão e a pergunta pela revelação Quando falamos de razão podemos trabalhar com dois conceitos, um ontológico e outro técnico. O primeiro predomina na tradição clássica e o segundo principalmente a partir do empirismo inglês. Mas como estes conceitos nos levam à pergunta pela revelação? Textos Pinheiro, op. cit., capítulo 2. Stott, op. cit., capítulo 3. Tillich, op. cit., parte 1, item 1A-C. Novembro A vida e suas ambigüidades O conceito ontológico de vida e sua aplicação universal nos levam aos dois tipos de considerações, a essencialista e a existencialista. Essas considerações, em última instância, falam da unidade multidimensional da vida. O que nos leva aos processos e ambigüidades existenciais da vida e a perguntar pela vida sem ambigüidades, a vida eterna. Textos Pinheiro, op. cit., capítulo 3. Stott, op. cit., capítulo 3. Tillich, op. cit., parte 4, item 1.A-C. METODOLOGIA Aulas expositivas Debates em classe Apresentação de seminários Realização de leituras RECURSOS Quadro negro / Data-show Audiovisuais (filmes, vídeos) Textos para leituras AVALIAÇÃO Apresentação de Seminário/Grupos (peso 4) Monografia sobre um dos temas tratados na disciplina (peso 4) Presença e participação em sala de aula (peso 2) BIBLIOGRAFIA PINHEIRO, Jorge, Deus é brasileiro, as brasilidades e o Reino de Deus, São Paulo, Fonte Editorial, 2008. STOTT, John, A Missão Cristã no Mundo, São Paulo, Candeia, 2008 TILLICH, Paul, Teologia Sistemática, São Leopoldo, Sinodal, 2005. BIBLIOGRAFIA AUXILIAR Severino, Antonio Joaquim, Filosofia, São Paulo, São Paulo, Cortez, 1992. Pinheiro, Jorge, Teologia Bíblica e Sistemática, o ultimato da praxis protestante, São Paulo, Fonte Editorial, 2012. Chauí, Marilena e outros, Primeira filosofia: lições introdutórias, São Paulo, Brasiliense, 1984. DICIONÁRIOS DE FILOSOFIA Japiassu, Hilton e Marcondes, Danilo, Dicionário Básico de Filosofia, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1989. Abbagnano, Nicola, Dicionário de Filosofia, São Paulo, Mestre Jou, 1970.

lundi 6 août 2012

Laicidade e teologia, os primórdios dos Batistas na América

Roger Williams
Da Wikipedia, l'enciclopedia libera.




Roger Williams

Roger Williams (Londra, 21 dicembre 1603 – Providence, 1º aprile 1684) è stato un teologo inglese. Divenne famoso in quanto fautore della separazione fra Chiesa e Stato e primissimo fautore dell'assoluta libertà di pensiero e di pratica religiosa. Fu anche sostenitore per instaurare rapporti più giusti con i Nativi Americani. Fu fondatore dello stato di Rhode Island e della città di Providence. Fu fondatore della prima e della seconda Chiesa Battista stabilitasi in America e soprattutto fu il primo vero padre del concetto di laicità dello Stato.

Primi anni

Williams nacque in una famiglia Puritana, suo padre, James Williams (1562-1620), fu un agiato mercante a Smithfield, in Inghilterra; sua madre si chiamava Alice Pemberton (1564-1634).

Sotto la protezione di sir Edward Coke (1552-1634), il famoso giurista, che gli fece ottenere una borsa di studio alle scuole superiori del monastero cartesiano della Charterhouse (Casa di Cartesio) a Londra, poi si laureò (Bachelor of Arts), all'università di Pembroke Cambridge nel 1627. Sembrava avere un dono naturale per le lingue e acquisì presto familiarità con latino, greco, olandese e francese. Diede lezioni a John Milton in olandese in cambio di lezioni di lingua ebraica [1].

Dopo la laurea a Cambridge, Williams divenne cappellano della ricca famiglia di Sir William Masham, a Otes nell'Essex, dove conobbe persone influenti. Malgrado il loro aiuto, rinunciò al sacerdozio, per la sua avversione alla chiesa di stato anglicana. Il 15 dicembre 1629, sposò una cameriera, Mary Barnard (1609-1676), nella chiesa di High Laver, Essex, Inghilterra ed emigrati in America, ebbero sei figli.

Prima della fine del 1630, Williams adottò un punto di vista dissidente e capì che non avrebbe potuto lavorare in Inghilterra sotto la rigorosa gestione dell'arcivescovo William Laud. Girò per cercare altre offerte nelle università e nella chiesa ufficiale finché decise di cercare nella Nuova Inghilterra (New England) quella libertà di coscienza che gli veniva negata nel suo paese.


Arrivo in America

Nel 1630, Mary e Roger Williams arrivarono Boston sulla nave Lyon (Leone). Il 5 febbraio 1631, la comunità religiosa lo invitò a sostituire il precettore, che stava ritornando in Inghilterra ma Williams trovò che era una "chiesa anglicana" e non officiò in essa. Fu spinto a dare espressione alle sue convinzioni, formatesi in Inghilterra, che la legge non potesse punire nessuna specie di infrazione ai 10 comandamenti, l'idolatria, l'interruzione del Sabba, il culto falso e la blasfemia e che ogni individuo dovrebbe essere libero di seguire, negli argomenti religiosi, le sue proprie convinzioni.

La prima idea fu che il magistrato non dovesse punire l'infrazione religiosa e di conseguenza significava che l'autorità civile non doveva essere la stessa dell'autorità ecclesiastica. La seconda idea fu che la gente dovrebbe avere libertà d'opinione in materia religiosa che Williams chiamò la "libertà dell'anima". Queste idee sono rimaste uno dei fondamenti per le garanzie della costituzione degli Stati Uniti di non istituire una religione ufficiale di stato e della libertà di scegliere e praticare la propria religione. [Vedere il 1° emendamento della Carta dei diritti degli Stati Uniti.]

La Chiesa di Salem, nel Massachusetts che riempiva di sentimenti Separatisti i coloni di Plymouth, invitò Williams a diventare il loro maestro ma il suo insediamento fu prevenuto da un rimostranza indirizzata al governatore Endicott da sei dirigenti bostoniani. La colonia di Plymouth allora gradì riceverlo, come precettore associato ed insegnante. Qui rimase circa due anni e, secondo il governatore Bradford, i suoi insegnamenti furono bene approvati.


Rapporti con i Nativi Americani

Acquaforte del XIX secolo, su disegno di A. H. Wray

Il rispetto del Williams per la dignità della popolazione nativa americana e la sua compiacenza nel trattare con loro su una base di uguaglianza gli attirarono la loro durevole amicizia. Insistette sempre che qualsiasi terra colonizzata da Europei avrebbe dovuto essere comprata ad un prezzo ragionevole dalla tribù locale.

Mentre impiegava molto tempo a Plymouth, fra i nativi americani, il suo "desiderio dell'anima" divenne "fare dei buoni nativi". Scrisse: "Dio era compiaciuto di darmi uno spirito indulgente e paziente, per alloggiare con loro, nei loro ripugnanti e fumosi buchi... per imparare i loro dialetti". Durante i suoi primi anni in Nuova Inghilterra, acquisì padronanza in grado notevole, della lingua dei nativi.

Durante quel tempo, la sua mediazione su richiesta del Massachusetts impedì una coalizione dei Pequot con i Narragansetts e i Mohicani (Mohegans). Scrisse di questo servizio durante gli anni seguenti: "La mia mediazione mi ha forzato tre giorni e tre notti ad alloggiarmi e a mescolarmi con i sanguinari ambasciatori Pequot, le cui mani ed armi erano coperte del sangue dei miei conterranei assassinati e massacrati da loro sul fiume Connecticut". Williams servì numerose volte come mediatore ad altri coloni. Quando le difficoltà dei coloni con i Nativi Americani aumentarono, fu chiamato per fare da intermediario fra questi due differenti modi di vivere.

Vita a Salem, distinte visioni

La casa di Roger Williams a Salem (chiamata "Witch House", la Casa della Strega)

Verso la fine del suo ministero a Plymouth, secondo Brewster, Williams cominciò "a promuovere... persone entusiaste dei suoi propri singolari pareri" e "cercare di imporla ad altri". La gente di Plymouth si rese rapidamente conto che avevano trovato il proprio modo di pensare, ugualmente avanzato, non solo riguardo ai Nativi Americani, ed egli lasciò l'incarico per tornare di nuovo a Salem.

Anche qui la sua intransigenza sulla questione della tolleranza, in contrasto con l'opposizione, gli procurò dissidi e controversie. Divenuto assistente ufficioso della guida spirituale Skelton, quando questo morì, nell'agosto 1634 e divenuto suo sostituto, iniziò quasi immediatamente le polemiche con le autorità del Massachusetts che in alcuni mesi dovevano condurre al suo esilio. Williams fu rimosso da Salem nell'estate del 1633 ed esiliato dalle colonie della baia del Massachussetts.

Residenza a Providence

Williams scelse la sua nuova residenza nella Narragansetts Bay, presso la tribù di Nativi Americani omonima, nel Rhode Island, "ad un sito dove due fiumi dolci si versano in uno salato" e il 1º Giugno 1636, lo battezzò Providence (Provvidenza) per l'ispirazione che Dio aveva dato ai nativi di ospitarlo, che ammise avere uguali diritti con i dodici "amici e vicini" (molto erano venuto da lui dal Massachusetts fin dall'inizio della primavera). Fu stabilito che tutti avessero lo stesso diritto di voto, anche quelli che di tanto in tanto diventavano membri della loro comunità. Fu promessa da tutti obbedienza al sindaco, ma "soltanto negli affari civili". In 1640, un altro accordo fu firmato dai 39 uomini liberi, nel quale essi esprimevano la loro determinazione "di adempiere sempre alla libertà di coscienza". Un simile governo unico fu creato nello stesso giorno, un governo che espressamente prevedeva che la libertà religiosa e la separazione fra autorità civile ed ecclesiastica (chiesa e stato).

Nel 1637, alcuni seguaci di Anne Hutchinson visitarono Williams per avere un consiglio su come andare via dal Massachusetts. Come Williams, questo gruppo era in difficoltà con i teocrati puritani. Raccomandò loro di comprare la terra sull'isola di Aquidneck dai Nativi Americani. Presero posto a Pocasset, che ora è chiamata Portsmouth, a Rhode Island. Fra loro erano il marito William di Anne Hutchinsons, William Coddington e John Clarke (1609-1676) [2].

Nel 1643, Williams fu mandato dai suoi cittadini in Inghilterra dal suo collega per assicurarsi un riconoscimento della colonia. I puritani erano allora in contrasto con l'Inghilterra ed attraverso i buoni uffici di sir Henry Vane fu prontamente ottenuto il riconoscimento completamente democratico, chiamato "Providence Plantations".

Nel 1647, la colonia che era stata piantata a Rhode Island fu unita a Providence sotto un singolo governo e la libertà di coscienza fu di nuovo affermata.

Il 18 maggio 1652, Rhode Island approvò la prima legge in America del Nord per rendere illegale la schiavitù.

La zona che ora è il Rhode Island si trasformò in un porto sicuro per la gente perseguitata per i loro credo, i Battisti, i Quaker, gli Ebrei ed altri andarono là per seguire la loro coscienza in pace e sicurezza.

Sorsero disaccordi fra le città del continente di Providence e di Warwick da un lato e le città dell'isola di Aquidneck d'altro. C'era inoltre disaccordo (sull'isola) fra i seguaci di John Clarke e quelli di William Coddington. Coddington era andato in Inghilterra e, nel 1651, aveva ottenuto dal consiglio di stato l'incarico di fare le regole nelle isole del Rhode Island e di Conanicut. Questa disposizione lasciò Providence e Warwick a sé stesse. Lo schema del Coddington fu molto disapprovato da Williams e Clarke ed i loro seguaci, in particolare poiché sembrava coinvolgere una federazione del dominio di Coddington con il Massachusetts e il Connecticut e conseguente messa in pericolo della libertà della coscienza, non solo sulle isole, ma anche nel Providence e in Warwick, che sarebbero lasciati non protetti.

Molti degli avversari di Coddington erano, in quel tempo, battisti. Successivamente, durante lo stesso anno, Williams e Clarke andarono in Inghilterra a nome dei loro amici per assicurarsi che il governo di Oliver Cromwell annullasse la lettera del Coddington e riconoscesse la colonia come repubblica, dipendente soltanto dall'Inghilterra. Riuscito ad ottenere ciò Williams ritornò a Providence. Fino alla fine della sua vita, continuò a interessarsi in modo profondo agli affari pubblici.

Rapporti con i battisti

Prima Chiesa Battista in America. Williams fondò la prima congregazione battista in America, nel 1638

Nel 1638, parecchi cristiani del Massachusetts, che erano stati indotti ad adottare i punti di vista dei credenti battisti e si trovarono soggetti alla persecuzione, furono rimossi da Providence. La maggior parte di questi probabilmente erano stati sotto l'influenza di Williams mentre era nel Massachusetts ed alcuni di loro possono essere stati influenzati dagli anticredentibattisti inglesi prima che lasciassero l'Inghilterra.

John Smyth (1570-1612), Thomas Helwys e John Murton erano fondatori (1609) e della ricca letteratura nella legislatura della libertà della coscienza prodotta da questo partito dopo il suo ritorno in Inghilterra. Egli avrebbe potuto appena evitare di imparare qualcosa del partito di antibattista infantile Calvinista che sorse a Londra nel 1633, poco dopo la sua partenza, guidata da Spilsbury, da Eaton e da altri.

Tuttavia, Williams non adottò i punti di vista antibattisti infantili prima del suo esilio dal Massachusetts, dato che gli antibattisti infantili non sono stati posti al suo posto dai suoi avversari. Il puritano Winthrop attribuisce i punti di vista "Anabattisti" di Williams all'influenza di Katherine Scott, una sorella di Anne Hutchinson, Antinomiana. È probabile che Ezekiel Holliman sia arrivato a Providence come antibattista infantile e si sia unito con la sig.ra Scott nell'impressionare Williams sull'importanza della credenza battista.

Circa a marzo del 1639, Williams fu battezzato da Holliman ed immediatamente si procedette a battezzare Holliman ed undici altri. Così fu costituita una chiesa battista che ancora sopravvive come la prima chiesa battista in America. Quasi allo stesso tempo, John Clarke, compatriota di Williams nella causa della libertà religiosa nel nuovo mondo, stabilì una chiesa battista in Newport, Rhode Island. "C'è molto dibattito durante i secoli se la chiesa di Newport o di Providence hanno meritato il posto "della prima" congregazione battista in America. Le annotazioni esatte per entrambe le congregazioni sono carenti",[3] di conseguenza, sia Roger Williams che John Clarke sono variamente accreditati per essere il fondatore della fede battista in America. Williams rimase con la piccola chiesa a Providence soltanto alcuni mesi. Si convinse che le ordinanze perse nell'apostasia non avrebbero potuto essere ristabilite bene senza una speciale commissione divina, che rilasciasse la seguente dichiarazione sulla sua partenza dal settore [4]:
« Non c'è chiesa di Cristo regolarmente costituita sulla terra, né alcuna persona qualificata per amministrare qualsiasi ordinanza della chiesa; né può esserci finché nuovi apostoli siano mandati a trasmettere dal gran capo della chiesa per cui venendo, io stanno cercando. »

Egli assunse l'atteggiamento "di un cercatore" (Seeker) o di un "Arrivato-esterno" (Come-outer), sempre profondamente religioso ed attivo nella propagazione della verità cristiana, tuttavia di non ritenere soddisfacente che tutto il corpo dei cristiani avesse avuto tutti i contrassegni della chiesa vera. Egli continuò le condizioni amichevoli con i battisti, essendo in accordo con loro nel loro rifiuto del battismo infantile come nella maggior parte degli altri argomenti.

L'atteggiamento religioso ed ecclesiastico di Williams è espresso bene nelle seguenti frasi (1643):
« I due primi principi e fondamenti della vera religione, o culti del vero Dio in Cristo, sono rifiuto dei lavori guasti e fede verso Dio, prima delle dottrine battista o del battesimo e dell'imposizione delle mani, che continuano le ordinanze e la pratica del culto; il desiderio che concepisco è il bene di milioni di anime in Inghilterra e tutte le altre nazioni che si professano essere nazioni cristiane, che sono supportate dalla pubblica autorità al battista e dall'unione con Dio nelle nell'ordinanza di culto, prima di salvaguardare il lavoro dal rifiuto e di convertirsi a Dio »

Morte, sepoltura e memoriali

Williams morì all'inizio del 1684. Fu sepolto nella sua proprietà. Successivamente nel diciannovesimo secolo i suoi resti furono spostati nella tomba di un discendente nel Cimitero della Terra del Nord (North Burial Ground). Infine, nel 1936, sono stati disposti all'interno di un contenitore di bronzo e sono stati posti nella base di un monumento sul Prospect Terrace (Terrazzo della Prospettiva) a Providence. Quando i suoi resti furono riesumati per risepellirli, erano sotto un melo. Le radici dell'albero si erano sviluppate nel punto in cui il cranio del William riposava e seguito il percorso delle sue ossa decomposte e si era sviluppato approssimativamente nella figura del suo scheletro. Soltanto una piccola quantità di osso è stata ritrovata per essere riseppellita. "La radice di Williams" ora fa parte della collezione della società storica del Rhode Island, in cui è montata su un piedistallo nello scantinato del museo la Casa di John Brown. [5] [6]

Il memoriale nazionale di Roger Williams, stabilito in 1965, è un parco nei quartieri poveri di Providence. Il parco di Roger Williams è un parco cittadino sul bordo meridionale di Providence. Williams è stato scelto nel 1872 per rappresentare il Rhode Island nella National Statuary Hall Collection (sala di collezione statuaria nazionale) nel United States Capitol (Campidoglio degli Stati Uniti).

Scritti

La carriera di Williams come autore cominciò con A Key into the Language of America (Londra, 1643), scritto durante il suo primo viaggio in Inghilterra. La sua successiva pubblicazione fu Mr. Cotton's Letter lately Printed, Examined and Answered in pubblicazioni del Club di Narragansett, volume II).

Seguì presto The Bloudy Tenent of Persecution, for Cause of Conscience (Londra, 1644). Questo è il suo lavoro più famoso e fu la dichiarazione e la difesa più abile del principio della libertà assoluta della coscienza che è stampata in tutte le lingue. È sotto forma di dialogo fra la Verità e la Pace e ben illustra il vigore del suo stile.

Durante lo stesso anno un opuscolo anonimo fu pubblicato a Londra che è attribuito comunemente a Williams, intitolato: Queries of Highest Consideration Proposed to Mr. Tho. Goodwin, Mr. Phillip Nye, Mr. Wil. Bridges, Mr. Jer. Burroughs, Mr. Sidr. Simpson, all Independents, etc. Questi Indipendenti erano membri dell'Assemblea di Westminster e la loro Apologetical Narration, in cui supplicano per la tolleranza, è arrivato molto lontano dopo l'insegnamento alla libertà della coscienza del Williams.

Nel 1652, durante la sua seconda visita in Inghilterra, Williams pubblicò The Bloudy Tenent yet more Bloudy: by Mr. Cotton's Endeavor to wash it white in the Bloud of the Lamb; of whose precious Bloud, spilt in the Bloud of his Servants; and of the Bloud of Millions spilt in former and later Wars for Conscience sake, that most Bloudy Tenent of Persecution for cause of Conscience, upon, a second Tryal is found more apparently and more notoriously guilty, etc. (Londra, 1652). Questo lavoro copre gran parte dei temi coperti dal Bloudy Tenent ma presenta il vantaggio di essere scritto in risposta alla elaborata difesa del A Reply to Mr. Williams his Examination(pubblicazioni del Narragansett Club, Volume II).

Altri lavori di Williams sono:

The Hireling Ministry None of Christ's (London, 1652)
Experiments of Spiritual Life and Health, and their Preservatives

(London, 1652; reprinted, Providence, 1863)
George Fox Digged out of his Burrowes (Boston, 1676).

Un volume delle sue lettere è incluso nell'edizione Narragansett Club edizione di Williams Works (7 vol., Providence, 1866-74) e un volume è stato pubblicato dal J. il R. Bartlett (1882).

mercredi 25 juillet 2012

Le commandement de la grâce

[O professor Andre Loverini é um biblista conhecido no meio academico evangéliico francês. Especialista em grego bíbllico, é um dos tradutores da Biblia Semeur. Estivemos juntos, o que acontece sempre que vou à Montpellier. Ele aceitou escrever para o nosso blog. Muito obrigado, querido mestre de Teologia, vida e ministerio. Jorge Pinheiro].

["Quelle joie c’est encore pour nous de vous avoir revus tous deux! Nous en savourons encore le bonheur avec une grande reconnaissance! Puisque tu m’as  proposé d’envoyer quelques études ou articles, je t’envoie celui-ci, qui a été publié dans le Lien Fraternel de notre Association. Il dit l’essentiel de ce que je pense. J’ai d’autres envois possibles... Je serais reconnaissant d’avoir ton avis, si, du moins, tu as le temps de me lire!
Colette se joint à moi pour vous dire toute notre affection en Christ." André Loverini].
Le titre de cet article aura peut-être surpris. Quand on parle de commandement, en effet, on pense loi. On ne pense pas grâce. Et pourtant... La grâce au commencement
Le commandement n’est pas premier. Les deux récits de la Création disent, chacun à sa manière, que l’œuvre de Dieu n’a d’autre source que son amour. Le point de départ, ce à partir de quoi tout commence, c’est donc la grâce, si nous entendons par là l’œuvre absolument gratuite de Dieu en faveur de sa créature. Il a préparé la Terre, pour en faire la demeure de l’humanité. En celle-ci, il a voulu trouver son « image », non pour jouir du plaisir égoïste que peut procurer un reflet, mais pour donner à des êtres qu’il a appelés à la vie la joie de lui ressembler. L’histoire de la création se conclut sur le verbe donner. « Je vous donne toute herbe qui porte sa semence... et tout arbre dont le fruit porte sa semence » (Gn 1,28). Ce don ne s’arrête pas au présent de l’herbe et de l’arbre, il s’ouvre sur l’avenir de la semence. Promesse de fidélité, sans autre motif que la grâce ! C’est toute la terre, enfin, que Dieu a confiée à l’homme comme à la femme, en leur disant : « dominez sur elle ». Grâce, évidemment : rien n’a été mérité, gagné ou conquis, tout a été donné.
Grâce encore au septième jour ! Le quatrième l’annonce : situé à égale distance du premier et du dernier, entre la lumière initiale et la paix qui clôt le récit, Dieu le choisit pour placer dans le ciel ces « lampes » dont l’un des rôles est de « marquer les fêtes ». Ainsi s’exprime son désir d’offrir à l’humanité, non seulement la régence terrienne, mais la relation aimante avec son créateur. La conclusion est ce jour sans fin, le septième, qui englobe notre histoire entière, y compris notre aujourd’hui, où ne cesse de retentir l’appel qu’a si bien compris l’auteur de la Lettre aux Hébreux : « aujourd’hui, si vous entendez sa voix, n’endurcissez pas votre cœur ! » (Hé 3,7.15 ; 4,7).
Grâce toujours, dans ce merveilleux récit de Gn 2 ! Quel soin Dieu ne prend-il pas de l’homme, en lui offrant le jardin d’Éden, et, déjà, en le pétrissant à partir d’une poussière inerte à laquelle il donne, par son souffle, la vie. Quelle attention que de l’avertir d’un danger possible, alors que tous les fruits du merveilleux jardin lui sont largement offerts! Quelle déférence que de lui laisser le soin de discerner, parmi tous les animaux, s’il est parmi eux quelque créature capable de lui être une « aide et un vis-à-vis » ! Et quel don que cette femme ! si proche et si différente, qui lui apporte ce qui lui manquait, et qui lui offre davantage et mieux encore : la possibilité d’aimer et d’être aimé. Et donc de ressembler à Dieu !
Grâce enfin, jusque dans la tragédie du troisième chapitre ! D’abord dans la délicatesse avec laquelle sont abordés les coupables, ensuite dans la promesse du libérateur (Gn 3,15b), enfin dans le don des fourrures (Gn 3,21) ! Ici apparaît la grâce dans des dimensions qu’elle ne présentait pas auparavant. À la bonté du projet, à la grandeur de la vocation, à la générosité des dons, viennent s’ajouter la compassion − le don des fourrures − et le pardon − la promesse faite à Ève. Au commencement, la Parole
« Au commencement était la Parole ». Par ces mots, Jean signale la participation du « Fils Unique » à l’œuvre de la Création. Il souligne, en même temps, un des points de notre « ressemblance » à Dieu : la parole. Cette ressemblance est une grâce au-delà de toute mesure. Car « Dieu est amour », beauté et bonté inégalables ! Lui ressembler : quel programme ! Mais comment pourrait-on lui ressembler sans aimer, sans aimer comme Lui ? Et comment aimer sans parler ?
Parler, c’est s’exprimer, et donc se dire soi-même, s’offrir en quelque sorte aux autres. Ainsi Dieu, qui « se nomme » à Moïse, s’est déjà nommé dans sa création, pour finir par se nommer en Christ. Jean ne nous dit-il pas, à propos de celui-ci, qu’il est « la Parole de la vie », et qu’en lui « la vie s’est manifestée » (1 Jn 1,1.2) ?
Dieu, le Vivant, a créé l’homme pour que celui-ci puisse vivre devant lui, et donc avec lui. Accordée à l’humanité, la parole va bien plus loin que les échanges utilitaires, si nécessaires soient-ils, qu’elle rend possibles. Elle nous permet en outre de dire le monde, à la louange de son Créateur. Elle est l’instrument de notre pensée, l’outil de notre savoir et de notre sagesse. Elle nous élève sur les ailes de la poésie. Grâce à elle, nous nous rencontrons les uns les autres, nous nous découvrons, et nous pouvons dire notre amour les uns pour les autres. Parler n’est pas seulement s’offrir aux autres, c’est s’ouvrir à eux : aimer, et pouvoir être aimé. Plus encore, la parole rend possible le dialogue avec Dieu. Ici apparaît l’un des aspects les plus extraordinaires (et pourtant nous le vivons dans l’ordinaire de nos jours) de la grâce divine. Non seulement nous pouvons entendre Dieu − s’il n’y avait rien de plus, notre rapport à lui ne pourrait être que celui de subordonnés à un chef, ou d’esclaves à un maître – mais nous pouvons lui parler. Le comble, c’est qu’il nous écoute. Si étonnant que cela puisse paraître, il se met, lui, à notre écoute ! Grâce encore, grâce toujours ! La grâce avant la Loi
La grâce est antérieure à la Loi. C’est « par la foi », et donc par grâce, qu’Abraham a été reconnu comme juste et cela bien avant qu’intervienne la Loi (Rm 4,13 et passim). Rien d’autre ne motive l’appel adressé au patriarche, pas plus que les promesses qui l’accompagnent (Gn 12,1-3). L’amour que Dieu lui porte est entièrement gratuit.
La Loi est venue avec Moïse. Elle est en elle-même une grâce. Elle devait aider le peuple élu à vivre. Mais, après la chute, la nature humaine en fait l’occasion du péché. Dès lors, la Loi peut faire naître en nous le désir de ce qu’elle interdit, nous plonger dans le désespoir de l’impardonnable culpabilité, devenir au contraire l’instrument qui nous permet de nous absoudre tout en condamnant les autres, ou bien nous priver de la liberté que nous a acquise le Christ. Certes, elle « est sainte et le commandement est saint, juste et bon ». Mais elle est impuissante : seule la grâce peut. La Loi nous condamne : seule la grâce pardonne. La Loi « qui devait nous conduire à la vie nous donne la mort » (Rm 7,10). Seule la grâce donne la vie. Nous ne pouvons vivre que par elle. Le commandement suprême.
À un Pharisien qui lui demande : « quel est, dans la Loi, le grand commandement ? » Jésus répond : « Tu aimeras le Seigneur ton Dieu de tout ton cœur, de toute ton âme, de toute ta force et de toute ta pensée : c’est là le grand, le premier commandement. Mais un second lui est semblable : ‘‘tu aimeras ton prochain comme toi-même’’ et il ajoute : « à ces deux commandements sont suspendus toute la Loi, et les prophètes » (Mt 22,35-40). C’est là le grand commandement. Ici se découvrent le cœur, le fond, la réalité à la fois première et dernière. Car de lui dépendent « toute la Loi et les prophètes », autrement dit : tout le message de l’A. T. et son accomplissement en Christ. Ce qui a inspiré la Loi et les prophètes, c’est l’amour de Dieu qui aboutit à la croix.
Ce commandement ne nous dit pas ce que nous devons faire. Il affirme ce que Dieu veut que nous soyons. Non pas des esclaves qu’on ne distingue guère des animaux ; non pas des serviteurs qui obéissent par peur ou par intérêt ; ni des mécaniques privées de toute liberté. Dans le commandement d’aimer, nous entendons, non pas la voix d’un souverain qui exige, comme il en a le droit, l’obéissance, mais celle du Dieu qui, toujours « a aimé le premier » (1 Jn 4,19) et qui veut que nous lui ressemblions.
Serait-ce à dire que nous hésitons à reconnaître la souveraineté de Dieu ?. Loin de nous une telle pensée ! Sans doute existe-t-il des exemples de souverains aimés par leurs sujets. Ce qui caractérise la relation entre un souverain et ses sujets, cependant, c’est le pouvoir, la force, la distance. L’amour n’y est pas nécessaire. Encore moins devrait-il être exigé. Or c’est lui qu’exige le commandement suprême. On pourrait même dire : il n’exige que l’amour. La plus haute exigence
À l’amour vertigineux de Dieu, on ne peut vraiment répondre que par l’amour, et par quel amour ! Nos textes nous le disent, qui convoquent « tout notre cœur, toute notre âme, toute notre force et toute notre pensée ». Un amour absolu, sans limite : le plus haut, le plus désintéressé, le plus intelligent, le plus énergique, le plus exigeant.
Pourquoi une telle exigence ? Parce que l’amour de Dieu a exigé davantage encore de lui-même. Parce qu’il est absolument gratuit, immérité, et ne trouve aucune justification dans les personnes qui en sont les objets. Dieu a aimé ceux qui ne l’aimaient pas, pardonné ceux qu’il aurait dû condamner. Il a accepté la mort du Fils bien-aimé en faveur de ceux-là mêmes qui étaient responsables de son supplice.
Aussi le commandement « tu aimeras le Seigneur » a-t-il plus de force que n’aurait simplement (si l’on peut dire) un ordre souverain. Il nous élève au rang de fils. Il nous introduit dans l’intimité même de Celui qui est amour. Il nous bouleverse, parce que nous découvrons ce qu’est l’amour dans sa vérité. Il nous place devant la croix, ou plutôt devant le crucifié. Crucifié pour nous. Ressuscité pour nous. Et qui a vécu pour nous. Nous sommes les bien-aimés de Celui qui est amour ! Sous le commandement, nous entendons l’appel de celui qui nous aime. La grâce pour vivre
Au légiste qui vient de lui citer « le grand commandement », Jésus déclare : « fais cela et tu vivras » (Lc 10,28). Tu vivras, en effet, parce que tu ne vis pas encore ! Et pour que tu vives vraiment, il faut que tu changes dans « tout ton cœur, toute ton âme et toute ta pensée ». Mais comment s’élever à une telle hauteur ? Comment devenir tels que nous ne sommes pas, tels que Jésus seul a été, tels qu’il est. Nous qui savons si mal aimer, comment pourrions-nous aimer ainsi ? Quel effort de la pensée, du cœur, de l’âme en serait-il capable ? Le commandement nous écrase, l’appel nous paralyse.
S’ouvre alors la porte d’or sur tous les possibles. Car ce que ni la chair ni le sang ne pouvaient, ce dont la loi était incapable, voici que cela nous est « donné ». L’amour, objet suprême du commandement, peut naître dans nos cœurs, non comme le résultat de nos pauvres efforts, mais comme le fruit de l’Esprit. Celui-ci n’habite-t-il pas en nous désormais ? Qui sommes-nous pourtant pour être les hôtes de Dieu ? Incapables, insuffisants, indignes ! Mais tellement aimés !
Le Saint-Esprit œuvre en nous, transformant notre intelligence, rectifiant nos erreurs, débusquant nos illusions, nous introduisant à la pensée de Dieu. Il éclaire à nos yeux les réalités du monde et le projet du Créateur. Il nous rend sensibles à la misère de notre prochain (fût-il le plus riche des humains !), il nous ouvre à l’amour fraternel (fût-ce pour le plus petit de nos frères). Il nous délivre de toutes nos idoles, même de celles que nous ne connaissions pas comme telles. Surtout, il nous découvre toute la profondeur de l’amour que Dieu nous porte, toutes les richesses de sa Parole, toute la noblesse de notre vocation. Ce qui nous était impossible, voici que nous apprenons, peu à peu, à le vouloir, à le désirer, à l’accomplir. Telle est l’œuvre du Saint-Esprit. Mais nous ne sommes pas encore parvenus à la perfection. Sous le poids de vieilles habitudes, devant les révoltes de notre « nature » et la pression du monde, nous nous tournons vers notre Père : « renouvelle-nous la grâce de ton Saint-Esprit ! renouvelle en nous un esprit bien disposé ! Apprends-nous à aimer ! Apprends-nous à t’aimer ! » La grâce pour finir
Tout est grâce dans nos vies en Jésus-Christ ! Et tout, dans nos vies, a pour but ultime de célébrer la grâce, de la manifester, d’en illustrer la suprême beauté. « Nous avons été choisis », en effet, « dès avant la fondation du monde, pour servir à la louange de la gloire de sa grâce ». Plus que la puissance, plus que l’intelligence, plus que la sagesse, plus que l’autorité – qui certes, chacune en son rang, méritent notre admiration −, plus que tout ce qui est au monde, la grâce de Dieu, qui a vaincu le péché, nos ignorances et nos révoltes, la grâce, généreuse jusqu’au sacrifice du Fils Bien-Aimé, peut inspirer nos vies et notre adoration. Elle est, par excellence, la gloire de Dieu.
C’est pourquoi le chrétien se sait libre ; libre de la liberté la plus belle : libre d’aimer vraiment. Aussi ne suit-il pas les principes du monde : il ne cherche ni les honneurs, ni le pouvoir, ni même la reconnaissance. Il donne sans esprit de retour, renonce aisément à ses droits, aime ceux qui le haïssent et bénit ceux qui le maudissent. Il vit selon la générosité de la grâce. Son modèle, c’est, évidemment, Jésus, l’agneau de Dieu, le Sauveur, le Seigneur. La grâce est la source et le couronnement de toute vie vraiment chrétienne. André Loverini

Escute mensagens do professor Loverini em tresorsonore.com