jeudi 29 novembre 2018

Deus ... para principiantes

O ideal de objetividade dos iluministas e a compreensão da mente como simples cópia do real foram colacados em cheque no século vinte. Para a psicanálise, o campo das representações simbólicas não pode ser compreendido segundo a razão empírica, que aos símbolos correspondência imediata a conteúdos sensíveis objetivos. Os sonhos não podem ser interpretados segundo essa lógica, porque os símbolos, ao contrário dos signos que simplesmente apontam para certos objetos da experiência consciente, são maneiras pelas quais o ser humano representa para si mesmo as relações vividas de forma inconsciente com o mundo. 

A partir do teólogo Soren Kierkegaard, a existência mostra que a consciência revela o como de sua relação com a realidade.

Para a ciência, o olhar objetivo está condicionado pelas atitudes de valor que se encontram na vida consciente. O ser humano não vê o mundo de forma desinteressada: sua visão é determinada por sua vida mental, que gira em torno de uma matriz emocional. Essa perspectiva, que é leitura da alta Modernidade, recupera o conceito Deus como símbolo carregado de significação. Não mais como signo que se coloca fora da experiência, mas como símbolo cujo conteúdo é a própria condição do humano. O estudo do significado de Deus se coloca, agora, como necessidade que traduz sentido para a vida humana.  

Feuerbach na A essência do cristianismo, 1841, via Deus como o diário secreto em que o ser humano colocava suas mais altas ideias sobre si mesmo.  

Hoje vemos diferente. Deus é a razão de ser da teologia, já que esta necessita de uma centralidade antropológica, porque a revelação é um diálogo entre Deus e o humano, e sem antropologia é impossível saber quem é este humano a quem Deus fala.

Friedrich Schleiermacher já havia chegado a uma conclusão semelhante em A fé cristã, ao afirmar que o símbolo Deus não se refere a um objeto, mas antes a uma forma de sentimento:

"Estar em relação com Deus é o mesmo que a consciência de absoluta dependência".

O mesmo critério antropológico é ainda encontrado em Paul Tillich, quando identifica Deus com a preocupação última do ser humano, e em Rudolph Bultmann, quando diz que cada afirmação sobre Deus é, ao mesmo tempo, uma afirmação a respeito do humano e vice-versa. Esse critério, no entanto, implica total subjetivismo. 

Como Rudolf Otto observa na sua fenomenologia do divino, em O sagrado, a consciência tem sempre um ponto objetivo de referência. A consciência não existe em si, mas é sempre uma forma de relação: "consciência de". A consciência de Deus, portanto, se é essencialmente um fato antropológico, não pode confundir-se com uma produção ou ilusão da consciência. Deus é o nome de uma relação realmente vivida.


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