O ideal de objetividade dos iluministas e a compreensão da mente
como simples cópia do real foram
colacados em cheque no século vinte. Para a psicanálise, o campo das
representações simbólicas não pode ser compreendido segundo a razão empírica, que dá aos símbolos
correspondência imediata a
conteúdos sensíveis objetivos. Os
sonhos não podem ser interpretados segundo essa lógica, porque os símbolos, ao
contrário dos signos que simplesmente apontam para certos objetos da
experiência consciente, são maneiras pelas quais o ser humano representa para
si mesmo as relações vividas de forma inconsciente com o mundo.
A partir do teólogo Soren Kierkegaard, a existência mostra que a consciência
revela o como de sua
relação com a realidade.
Para
a ciência, o olhar objetivo está condicionado pelas
atitudes de valor que
se encontram na vida consciente. O ser humano não vê
o mundo de forma desinteressada: sua visão é determinada por sua vida mental,
que gira em torno de uma matriz emocional. Essa perspectiva, que é leitura da alta Modernidade,
recupera o conceito Deus
como símbolo carregado de significação. Não mais como signo que se coloca fora da experiência,
mas como símbolo cujo
conteúdo é a própria condição do humano. O estudo do significado de Deus se coloca, agora, como necessidade
que traduz sentido para a vida humana.
Feuerbach na A essência do cristianismo, 1841,
via Deus como o diário secreto em que
o ser humano colocava suas mais altas ideias
sobre si mesmo.
Hoje vemos
diferente. Deus é a razão de ser da teologia, já que esta necessita de uma
centralidade antropológica, porque a revelação é um diálogo entre Deus e o humano, e sem
antropologia é impossível saber quem é este humano a quem Deus fala.
Friedrich Schleiermacher já havia chegado a uma conclusão
semelhante em A
fé cristã, ao afirmar que o símbolo Deus não se refere a um objeto, mas
antes a uma forma de sentimento:
"Estar em relação
com Deus é o mesmo que a consciência de absoluta dependência".
O mesmo critério antropológico é ainda encontrado em Paul
Tillich, quando identifica Deus com a preocupação última do ser humano, e em
Rudolph Bultmann, quando diz que cada afirmação sobre Deus é, ao mesmo tempo,
uma afirmação a respeito do humano e vice-versa. Esse critério, no entanto,
implica total subjetivismo.
Como Rudolf Otto observa na sua fenomenologia do
divino, em O sagrado, a consciência tem sempre um ponto
objetivo de referência. A consciência não existe em si, mas é sempre uma forma
de relação: "consciência de". A consciência de Deus, portanto, se é
essencialmente um fato antropológico, não pode confundir-se com uma produção ou
ilusão da consciência. Deus é o nome de uma relação realmente vivida.
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