lundi 3 avril 2017

Gênesis Um, a física e a mística judaica (III)

O texto inteiro você encontra em 
Jorge Pinheiro, Imago Dei, a teologia do ser humano, Fonte Editorial, 2016, pp. 126-151.

Ora, o que Gênesis está mostrando é que o universo teve início e construção. “Não há nenhum paralelo bíblico aos mitos pagãos que relatam a morte de deuses mais velhos (ou poderes demoníacos) pelos mais jovens; não se acham presentes nos tempos primevos quaisquer outros deuses. As batalhas de Iavé com monstros primevos, aos quais é feita ocasionalmente alusão poética, não são lutas entre deuses pelo domínio do mundo. As batalhas de Iavé com Raabe, o dragão, Leviatã, no mar, a serpente veloz, etc., não são esclarecidas pela referência ao mito da derrota de Tiamat por Marduque e sua subseqüente tomada do poder supremo”.[1] Assim, para a teoria da relatividade o universo tem começo como singularidade, que ficou conhecida como big bang e deverá ter um final também singular, o colapso total ou big crunch. De certa forma, o big crunch nos remete ao texto de Pedro: “Ora, os céus e a terra estão reservados pela mesma palavra ao fogo. O dia do Senhor chegará como ladrão e então os céus se desfarão com estrondo, os elementos devorados pelas chamas se dissolverão e a terra, juntamente com suas obras, será consumida” (2ª. Pedro 3.7 e 10). Só que, como o espaço-tempo é finito, mas sem limites, o big crunch poderia levar a uma concentração de energia tal, que possibilitaria a formação de um novo universo. E essa hipótese nos leva ao apocalipse de João: “Vi então um céu novo e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra se foram...” (Apocalipse 21.1), mas também a Hawking: 



“De forma semelhante, se o universo explodisse novamente, deveria haver um outro estado de densidade infinita no futuro, o big crunch, que seria o fim do tempo. Mesmo que o universo como um todo não entrasse novamente em colapso, haveria singularidades em algumas regiões determinadas, que explodiriam para formar buracos negros. Essas singularidades seriam o fim do tempo para quem ali caísse. Na grande explosão e demais singularidades todas as leis são inoperantes. Então, Deus ainda teria tido completa liberdade para escolher o que aconteceu e como o universo começou”.[2]

Ora, como a expansão do universo implica em perda de temperatura, que é uma medida de energia, quando o universo dobra de tamanho, sua temperatura cai pela metade. Assim, quando Deus cria o universo, supõe-se que tinha tamanho zero e temperatura infinitamente quente. Mas à medida que se expande, a temperatura cai. Isso explica porque o universo é tão uniforme, e parece igual mesmo nos diferentes pontos do espaço. Uma das consequências, caso consideremos o fiat divino como o big bang, é que a partir da grande explosão não houve tempo de a luz se deslocar por ilimitadas distâncias. É por isso que Gênesis apresenta em primeiro lugar tohu e bohu, as trevas e o abismo, e só no versículo três o surgimento da luz. 

É interessante ver que uma das possibilidades que alguns físicos baralham, um pouco a contragosto, é a de que Deus escolheu a configuração inicial do universo por razões que não temos condições de compreender. Consideram que os acontecimentos do surgimento do universo não se deram de forma arbitrária, mas refletem uma ordem comum. Hawking, que não é teólogo, mas físico, opta por uma variável que chama limitação caótica ou escolha ao acaso. Dentro desse ponto de vista, o universo primordial surgiu como caos. Ora a segunda lei da termodinâmica mostra que há essa tendência no universo, e que a ordem e o equilíbrio, ou seja, a vida, que é a forma mais organizada da matéria, surge como oposição a este caos. Einstein uma vez perguntou que nível de escolha Deus teria tido ao construir o universo? Para Hawking, se a proposta do não limite for correta, ele não teve qualquer liberdade para escolher as condições iniciais. Teria tido a liberdade de escolher as leis a que o universo obedece, mas isso não significaria um grau tão grande de escolha. “Pode ter sido apenas uma, ou um pequeno número de teorias completas unificadas, tal como a teoria do filamento heterótico, que são autoconsistentes e permitem a existência de estruturas tão complexas quanto os seres humanos, que podem investigar as leis do universo e fazer perguntas acerca da natureza de Deus”. [3]

Prigogine e Stengers acrescentam a esta discussão, o conceito de entropia, que nos guia na compreensão do processo vivido pelo universo – será de expansão ou de retração? --, pois “toda variação da entropia no interior de um sistema termodinâmico pode ser decomposta em dois tipos de contribuição: a entrada exterior de entropia, que mede as trocas com o meio e cujo sinal depende da natureza dessas trocas, e a produção de entropia, que mede os processos irreversíveis no interior do sistema. É essa produção de entropia que o segundo princípio define como positiva ou nula”. [4] O conceito de entropia é mais bem entendido quando nos lembramos que as leis científicas não distinguem entre as direções para frente e para trás do tempo. Embora, segundo Hawking, haja pelo menos três setas de tempo que distinguem o passado do futuro, que são a seta termodinâmica, direção do tempo em que a desordem aumenta; a seta psicológica, direção do tempo na qual se recorda o passado e não o futuro; e a seta cosmológica, direção do tempo em que o universo se expande mais do que se contrai. A seta psicológica é essencialmente a mesma que a termodinâmica, de modo que ambas sempre apontam para a mesma direção. “A proposta do não limite para o universo prevê a existência de uma seta termodinâmica do tempo bem definida, porque o universo deve começar num estado plano e ordenado. E a razão por que se observa esta seta termodinâmica se adequar à cosmologia é que os seres inteligentes só podem existir na fase de expansão”. [5] Assim podemos dizer que há uma adequação das setas termodinâmica e cosmológica, pois podemos olhar para trás e ver tohu e bohu. Somos presentes, o que segundo Hawking significaria que o universo se encontra predominantemente em expansão.

Mas a física não parou aí e outros cientistas a partir do estudo do microcosmo levantaram a hipótese da não causalidade dos movimentos dos elétrons dento do átomo. Ou seja, esses movimentos não teriam causas definidas, donde podemos trabalhar apenas com previsões sobre tais movimentos. Ora, se tal fato for real, todo o universo pode mudar de um estado a outro, ou seja, de expansão à retração num espaço-tempo não previsível por nós. Einstein discordou, e disse que Deus não jogava dados com o universo, ou seja, na física não haveria lugar para a sorte. Einstein dará combate às teses da não causalidade na mecânica quântica, defendidas pelas escolas de Copenhagem e Gottingen, afirmando que não podia suportar a idéia de que “um elétron exposto a um raio de luz possa, por sua própria e livre iniciativa, escolher o momento e a direção segundo o qual deve saltar. Se isso for verdade, preferia ser sapateiro ou até empregado de uma casa de jogos em vez de ser físico”. [6] Mas a física quântica foi conquistando terreno. Em 1944, Einstein voltou à carga: “Nem sequer o grande sucesso inicial da teoria dos quanta consegue convencer-me de que na base de tudo esteja o indeterminismo, embora saiba bem que os colegas mais jovens considerem esta atitude como um efeito de esclerose. Um dia saber-se-á qual destas duas atitudes instintivas terá sido a atitude correta”. [7] E a questão continua em aberto.

Guardadas as devidas proporções, Agostinho, pai e mestre da igreja cristã, também considerou que o caos transcendia o tempo. “E por isso o Espírito, Mestre do vosso servo, quando recorda que no princípio criaste o céu e a terra, cala-se perante o tempo. Fica em silêncio perante os dias. O céu dos céus, criado por Vós no princípio, é, por assim dizer, uma criatura intelectual, que apesar de não ser coeterna convosco, ó Trindade, participa, contudo, da vossa eternidade. Sem movimento nenhum desde que foi criada, permanece sempre unida a Vós, ultrapassando por isso todas as volúveis vicissitudes do tempo. Porém, este caos, esta terra invisível e informe não foi numerada entre os dias. Onde não há nenhuma forma nem nenhuma ordem, nada vem e nada passa; e onde nada passa, não pode haver dias nem sucessão de espaços de tempo”. [8] O bispo de Hipona faz uma separação, não somente neste texto, entre os céus dos céus, uma dimensão além dos limites da ciência, e “o nosso céu e a nossa terra” (universo), que segundo ele é terra. Para ele é totalmente compreensível que essa terra fosse “invisível e informe”, pois estava reduzida a um abismo sem luz, exatamente porque não tinha forma. Diríamos hoje, não há espaço-tempo. E tenta uma definição, apesar de alertar para suas limitações: “certo nada, que é e não é”. Interessante, Nissi ben Noach disse praticamente a mesma coisa. E Hawking concorda: “O conceito de tempo não tem significado antes do começo do universo. O que foi apontado pela primeira vez por Agostinho, quando indagou: O que Deus fazia antes de criar o universo?” [9]

Consideramos que existem três grandes teorias cristãs sobre a criação: tudo é criação original; teoria da brecha; e teoria do caos. A partir dos caminhos percorridos, gostaria de fazer alguns acréscimos à teoria do caos que prefiro chamar de teoria do caos e da complexidade: 

1. O versículo primeiro de Gênesis Um está fora do espaço-tempo. Nesse sentido refere-se à dimensão divina do céu dos céus conforme explicita Agostinho. A criação do espaço-tempo começa com o próprio caos, que não deve ser entendido como negação ou pura ausência, mas como entropia. É ex nihilo enquanto universo espaço-temporal que surge enquanto realidade de Deus que repousa naqueles quatro conceitos enumerados por Noach: determinação, proclamação, trabalho e ordem.

2. O tempo dos primeiros versículos de Gênesis Um não é cronológico no sentido que conhecemos hoje. Antes, é o tempo da ordem/organicidade de Deus, ou se quisermos kairós. Isso é explicável porque não há um tempo, mas diversos tempos. A criação implica na expansão do espaço-tempo. Assim o espaço-tempo de Gênesis 1.3 é totalmente diferente do espaço-tempo de Gênesis 1.12. 

3. Toda discussão que tente uma polaridade entre evolução ou criação de seis dias de vinte e quatro horas não procede. Isto porque o espaço-tempo entre os seis dias não são iguais. Há criação e expansão dinâmica, o que na Bíblia traduz-se em criação e sustentação. “És tu, Iavé, que és o único! Fizeste os céus, os céus dos céus, e todo o seu exército, a terra e tudo o que ela contém, os mares e tudo o que eles encerram. A tudo isso és tu que dás vida, e o exército dos céus diante de ti se prostra”. Neemias 9.6.

Concluímos estas travessias de Gênesis Um na certeza de que os leitores fizeram a construção da importância de novas leituras hermenêuticas, em especial duas delas, a hermenêutica da complexidade e a hermenêutica crítica das ideologias, para análises e compreensões da teologia do ser humano. 


Observação
As notas e referências completas você encontra no livro de Jorge Pinheiro citado.







vendredi 31 mars 2017

Graça e paz!

Chesed veshalom 
Graça e paz para os nossos corações

Chesed veshalom 
Graça e paz a incendiar de alegria as nossas vidas

Segundo livro de Samuel 23.1-7

“São estas as últimas palavras de Davi, filho de Jessé. Davi foi o homem que Deus tornou importante, que o Deus de Jacó escolheu para ser rei e que compôs as belas canções de Israel. Davi disse: O Espírito do SENHOR fala por meio de mim, e a sua mensagem está nos meus lábios. O Deus de Israel falou, o protetor de Israel me disse: “O rei que governa com justiça, que governa respeitando a vontade de Deus é como o nascer do sol numa madrugada sem nuvens, como o sol que faz a grama brilhar depois da chuva.” É assim que Deus abençoará os meus descendentes, pois ele fez uma aliança eterna comigo, uma aliança bem certa e segura. Isso é tudo o que quero; será essa a minha vitória, e eu sei que Deus fará isso. 23.6 Mas os pagãos são como os espinhos jogados fora: ninguém se atreve a pegá-los com as mãos; para isso é preciso uma ferramenta de ferro ou de madeira; eles serão totalmente queimados no fogo”.

Últimas palavras, primeiras palavras, palavras eternas 

  1. Escolhido/ resgatado pelo Eterno de Israel. Cantor e compositor encantador.
  2. Cheio do Ruach haKadosh – que fala através do coração do poeta, que fala palavras de salvação.
  3. Ele governa com justiça, respeita a vontade do Eterno – e por isso é o sol que nasce numa manhã sem nuvens, como o sol que faz a relva brilhar depois da chuva.
  4. O Eterno abençoará seus descendentes – aqueles que estão debaixo do seu cuidado ...
  5. Porque estamos a falar de berit / de um acordo, de uma aliança do Eterno.
  6. É isso o que eu quero. É isso o que nós queremos.
  7. E o Eterno fará isso no meio do seu povo. Ou como disse o próprio Davi no salmo 121 – “MeAtah VeAd-Olahm … Desde agora e para sempre!”
E por isso nos diz o apóstolo Paulo em sua carta aos Filipenses 1.2 -- “… graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo”.

Chesed veshalom -- Graça e paz para os nossos corações.

Chesed veshalom a incendiar de alegria as nossas vidas.

Do pastor e amigo, Jorge Pinheiro.

Amém.





Djelem Djelem - Barcelona Gipsy Klezmer Orchestra

Shalom Alechem - Barcelona Gipsy Klezmer Orchestra

O Pessach e a Páscoa

O Pessach e a Páscoa cristã


Nosso texto áureo é 

Chegou o dia da Festa dos Pães sem Fermento, dia em que os judeus matavam carneirinhos para comemorar a Páscoa. Então Jesus deu a Pedro e a João a seguinte ordem: – Vão e preparem para nós o jantar da Páscoa. Eles perguntaram: – Onde o senhor quer que a gente prepare o jantar? Jesus respondeu: – Escutem! Quando entrarem na cidade, um homem carregando um pote de água vai se encontrar com vocês. Sigam esse homem até a casa onde ele entrar e digam ao dono dela: “O Mestre mandou perguntar a você onde fica a sala em que ele e os seus discípulos vão comer o jantar da Páscoa.” Então ele mostrará a vocês uma grande sala mobiliada, no andar de cima. Preparem ali o jantar. Os dois discípulos foram até a cidade e encontraram tudo como Jesus tinha dito. Então prepararam o jantar da Páscoa. Quando chegou a hora, Jesus sentou-se à mesa com os apóstolos e lhes disse: – Como tenho desejado comer este jantar da Páscoa com vocês, antes do meu sofrimento! Pois eu digo a vocês que nunca comerei este jantar até que eu coma o verdadeiro jantar que haverá no Reino de Deus. Então Jesus pegou o cálice de vinho, deu graças a Deus e disse: – Peguem isto e repartam entre vocês. Pois eu afirmo a vocês que nunca mais beberei deste vinho até que chegue o Reino de Deus. Depois pegou o pão e deu graças a Deus. Em seguida partiu o pão e o deu aos apóstolos, dizendo: – Isto é o meu corpo que é entregue em favor de vocês. Façam isto em memória de mim. Depois do jantar, do mesmo modo deu a eles o cálice de vinho, dizendo: – Este cálice é a nova aliança feita por Deus com o seu povo, aliança que é garantida pelo meu sangue, derramado em favor de vocês. Lucas 22.7-20. 

E os textos de apoio são Mateus 26.17-25, Marcos 14.12-21 e João 13.21-30. 

1. O que é o Pessach ou a páscoa judaica?

O Pessach é a celebração judaica que recorda a morte dos primogênitos no Egito, a fuga da escravidão e o êxodo dos israelitas para a terra prometida. A palavra pessach significa “passagem”, “travessia”, e Êxodo 12.12-14 Deus conta o que faria. Podemos dizer que o Pessach judaico é a festa da libertação do Egito e a conquista da liberdade em Canãa.

O nome Pessach, Páscoa, foi adaptado pelos cristãos, e como, muito possivelmente, Jesus morreu no dia 14 de Nissan, que é o dia do início de Pessach, se acredita que a última Ceia de Jesus foi um Seder de Pessach, ou seja, um jantar, uma ceia de Páscoa.

2. O que é a Páscoa cristã

Mas, a "páscoa do Senhor", celebrada por Jesus, é diferente da "festa dos pães ázimos" (Levítico 23.6, Lucas. 22.1). 

É sacrifício vicário (“o que faz às vezes de outro”) de Jesus, conforme 

Depois pegou o pão e deu graças a Deus. Em seguida partiu o pão e o deu aos apóstolos, dizendo: – Isto é o meu corpo que é entregue em favor de vocês. Façam isto em memória de mim. Lc 22.19.

É nova aliança de Deus com seu povo, conforme 

Depois do jantar, do mesmo modo deu a eles o cálice de vinho, dizendo: – Este cálice é a nova aliança feita por Deus com o seu povo, aliança que é garantida pelo meu sangue, derramado em favor de vocês. Lucas 22.20. 

É promessa da sua volta, conforme 

Pois eu digo a vocês que nunca comerei este jantar até que eu coma o verdadeiro jantar que haverá no Reino de Deus. Lucas 22.16.

3. Então, o que é a Páscoa do Senhor?

  •  É sacrifício do Primogênito de Deus para nossa libertação do pecado.
  •  É aliança eterna que começa aqui e se projeta na eternidade.
  •  É a Sua volta, quando celebraremos com Ele a festa eterna da Páscoa, que é libertação pecado, mas também celebração da vida eterna!

E é por isso que são cristãos e não judeus. E é por isso que celebram a Páscoa do Senhor e não o Pessach judaico.












Jewish Sephardic - Ladino - live in Norway - Yamma Ensemble

Israeli song - 'Someone' (israeli music israeli songs hebrew beautiful j...

Marlene Dietrich - Lili Marleen



Lili Marleen

1. Vor der Kaserne
Vor dem großen Tor
Stand eine Laterne
Und steht sie noch davor
So woll'n wir uns da wieder seh'n
Bei der Laterne wollen wir steh'n
|: Wie einst Lili Marleen. :|
2. Unsere beide Schatten
Sah'n wie einer aus
Daß wir so lieb uns hatten
Das sah man gleich daraus
Und alle Leute soll'n es seh'n
Wenn wir bei der Laterne steh'n
|: Wie einst Lili Marleen. :|
3. Schon rief der Posten,
Sie blasen Zapfenstreich
Das kann drei Tage kosten
Kam'rad, ich komm sogleich
Da sagten wir auf Wiedersehen
Wie gerne wollt ich mit dir geh'n
|: Mit dir Lili Marleen. :|
4. Deine Schritte kennt sie,
Deinen zieren Gang
Alle Abend brennt sie,
Doch mich vergaß sie lang
Und sollte mir ein Leids gescheh'n
Wer wird bei der Laterne stehen
|: Mit dir Lili Marleen? :|
5. Aus dem stillen Raume,
Aus der Erde Grund
Hebt mich wie im Traume
Dein verliebter Mund
Wenn sich die späten Nebel drehn
Werd' ich bei der Laterne steh'n
|: Wie einst Lili Marleen
Lili Marleen

Em frente ao quartel
Diante do portão
Havia um poste com um lampião
E se ele ainda estiver lá
Lá desejamos nos reencontrar
Queremos junto ao lampião ficar
Como outrora, Lili Marlene.(2x)
Nossas duas sombras
Pareciam uma só
Tinhamos tanto amor
Que todos logo percebiam
E toda a gente ficava a contemplar
Quando estávamos junto ao lampião
Como outrora, Lili Marlene. (2x)
Gritou o sentinela
Que soaram o toque de recolher
(Um atraso) pode te custar três dias
Companheiro, já estou indo
E então dissemos adeus
Como gostaria de ir contigo
Contigo, Lili Marlene (2x)
O lampião conhece teus passos
Teu lindo caminhar
Todas as noites ele queima
Mas há tempos se esqueceu de mim
E, caso algo ruim me aconteça
Quem vai estar junto ao lampião
Com você, Lili Marlene ? (2x)
Do tranquilo céu
Das profundezas da terra
Me surge como em sonho
Teu rosto amado
Envolto na névoa da noite
Será que voltarei para nosso lampião
Como outrora, Lili Marlene. (2x)

mercredi 29 mars 2017

Família











O caminho, a verdade e a vida

Odós, aletheia, zoé
Jorge Pinheiro, PhD

λέγει ατ ησος· γ εμι δς κα λήθεια κα ζωή· οδες ρχεται πρς τν πατέρα ε μ δι’ μο. ΚΑΤΑ ΙΩΑΝΝΗΝ 14:6 NT Grego: Westcott/Hort. Veja a análise lingüística no final do texto.

Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.

Odós

Tomé expressou sua dificuldade e Jesus disse a ele: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida".

Uma das linhas-força desta correlação de idéias teológicas -- caminho, verdade e vida --presente na afirmação de Deus, nos remetem a conceitos presentes nas escrituras hebraico-judaicas, na filosofia e mitologia gregas e pensar latino. Mas vamos começar pela ideia de halakha, que trata das obrigações religiosas às quais devem se submeter os judeus em suas relações com o próximo e com o Eterno. Ela engloba todos os aspectos da existência. Mas halakha tem em sentido mais amplo, o de caminho.

Assim, a partir da halakha, mais do que propor uma adoração estática ao eterno, as Escrituras nos falam de andar com ele. Daí a idéia de caminho. O ser humano é colocado a cada momento e a cada dia diante da exigência de exercer sua liberdade e escolher entre o bem e o mal, ou, como diz Deuteronômio 30.15: “Vejam que hoje ponho diante de vocês vida e prosperidade, ou morte e destruição”.

A linha-força do caminho da lei ou halakha é extensa e profunda nas Escrituras. E se antes repousava na lei, agora é o próprio Cristo. E é a partir desse conceito teológico que estrutura o pensamento hebraico-judaico, e depois cristão, que podemos entender a afirmação de Jesus.

Os hebreus falaram sobre o caminho que deviam tomar as pessoas. Deus disse a Moisés: “Cuidareis em fazerdes como vos mandou o Senhor, vosso Deus; não vos desviareis, nem para a direita, nem para a esquerda. Andareis em todo o caminho que vos manda o seu Senhor, vosso Deus(Deuteronômio 5:32-33). Moisés disse ao povo: “Sei que, depois da minha morte, por certo, procedereis corruptamente e vos desviareis do caminho que vos tenho ordenado(Deuteronômio 31:29). Isaías havia dito: “Os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele.(Isaías 30:21). No mundo novo haveria uma estrada chamada o Caminho de Santidade. Nela, os caminhantes, por simples que fossem, não se perderiam (Isaías 35:8). O salmista orou: “Ensina-me, Senhor, o teu caminho” (Salmos 27:11). Os judeus sabiam muito sobre o caminho do Eterno que deviam seguir. E Jesus disse: "Eu sou o caminho".

Em grego, halakha se transforma em hodós, o caminho mais curto. E uma outra ideia se agrega, meta. μετά, μέt-, nos remete a depois ou que segue e quando se une a οδός, caminho, temos a ideia de seguir um caminho, para chegar a um fim. Assim, na filosofia, o método define um caminho para se chegar ao conhecimento.

Aletheia

Jesus afirmou: eu sou a verdade. O autor dos Provérbios disse: “Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução, luz; e as repreensões da disciplina são o caminho da vida” (Provérbios 6:23). O caminho para a vida é de quem guarda o ensino” (Provérbios 10:17). Tu me farás ver os caminhos da vida”, disse o salmista (Salmos 16:11). O ser humano quer conhecer a verdade.

E Jesus responde este anseio ao dizer, “ninguém vem ao Pai, senão por mim”.

Aletheia, em grego λήθεια, tem o sentido de desvelamento: de a-, negação; e lethe, esquecimento. Para os gregos, designava a essência, aquilo que é, e por isso tinha correlação com a arché, com a origem, quer em relação à auto-manifestação da realidade, quer em relação à manifestação dos seres humanos.

Em latim temos veritas, que corresponde a maneira de narrar os fatos acontecidos, e a maneira de narrar determinará a verdade dos fatos.

Então, lhe disse Pilatos: Logo tu és rei? Respondeu-lhe Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve minha voz. Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? Tendo dito voltou aos judeus e lhe disse: Eu não acho crime algum nele (João 18: 37-38)

Sobre o diálogo entre Jesus e Pilatos vemos que Jesus não tem dúvida sobre quem é a verdade e Pilatos não sabe o que é a verdade.

É importante compreender que filosoficamente construímos no Ocidente a ideia de verdade a partir de três concepções diferentes, vindas da filosofia grega, do latim, e do judaísmo em correlação com a mitologia grega e o cristianismo.

Na concepção grega, aletheia é o que não mais está oculto, e como tal é verdadeiro, pois se manifesta aos olhos e ao espírito. O falso é pseudos, o encoberto, o que parece mas não é. De acordo com essa concepção aletheia está na essência, sendo idêntica a realidade e acessível apenas ao pensamento, e verdade aos sentidos. Assim um elemento necessário é a visão inteligível, em outras palavras o ato de revelar, o próprio desvelamento.

Na concepção pragmática latina veritas significa exatidão, rigor do que se refere à linguagem como expressão de fatos acontecidos. A concepção latina afirma a capacidade dos seres humanos em descrever com precisão um acontecimento. Essa concepção depende da forma como os fatos são narrados. Nesse ponto a veritas trata de descrever com detalhes o ocorrido no passado.

Observam-se diferenças nas concepções grega e latina. Para a filosofia grega, a verdade faz parte da essência que foi desvelada. Na latina é a precisão dos fatos que são contados que vai determinar se esse fato e verdadeiro ou falso.

Na leitura hebraica, a expressão emunah significa posicionamento, mas também confiança. Nessa expressão há o sentido de comprometimento, mas quando correlacionado com a pistis essa confiança se transforma numa verdade que chamamos fé. Ora, na mitologia grega, Πίστις pistis era a personificação da boa-fé, da confiança e da confiabilidade. Ela aparece sempre ao lado de outras virtudes como a esperança, a prudência e as graças, todas associadas à honestidade e à harmonia entre às pessoas. Mas, equivale sobretudo à fides latina. E a carta neo-testamentária aos hebreus nos vai dizer que é certeza e prova do que não podemos ver. Assim, nota-se que a confiança/fé é a base do conceito. A verdade passa então a ser expressão deste posicionamento e desta confiança/fé, embora pareça absurdo para quem se coloca fora de tal confiança.

Aletheia, então, se refere ao que as coisas são ao serem desveladas, veritas de refere aos fatos que foram relatados, e emunah/pistis se refere àquilo que virá a ser, porque assim foi prometido. Ou seja, aletheia é, tal como se manifesta agora ao nosso espírito, veritas mostra os fatos conforme foram relatados, e emunah/pistis aponta para aquilo que será e que foram prometidas.

Zoé

No hebraico temos a palavra hayah, que traduz a ideia de respirar. O substantivo hayah, no entanto, significa viver, ter vida, sustentar a vida. Se estiver na forma gramatical hifil, que expressa uma ação causativa, tem o sentido de reanimar, reviver, restaurar à vida, o que aponta para o conceito de levantar da morte, ressuscitar.

Zoé traduz a ideia de vida comum a todos os seres vivos. E nesse sentido, a vida animal seria o momento mais simples da vida Bios. A vida animal está lá embaixo, quando comparada a Bios. Afinal, o ser humano é escravo de suas necessidades de sobrevivência. Sua servidão remete a um moto sem fim para atender tais necessidades básicas.

A vida Zoé retrata a simplicidade da vida não qualificada, que por não ser inferior têm como destino ficar oculta. Mas ficar oculta significava ter hábitos moderados no comer, beber, na sexualidade e na não violência. Não havia punições para quem não fosse moderado, mas a moderação na vida Zoé mostrava que a pessoa poderia exercer o Bios político.

Na vida Zoé dos gregos há assim uma desqualificação do corpo (soma) na definição da vida, sem representação política, como no caso dos escravos.

A vida Bios é a vida racional, própria de pessoas ou comunidades. A vida política é a Bios política como uma vida qualificada. Um tipo de vida de pessoa que é admirada por suas ações e condutas. Por sua práxis, pelo que ele faz, e por sua léxis, pelo que ele diz. Práxis e léxis nas pessoas e comunidades possibilitam a existência da polis democrática, e por extensão da liberdade.

Mas quando compreendida a partir do hayah, da vida que ressurge, os cristãos vão além da compreensão grega. Veem Zoé, que tem nela o hayah bíblico, como a vida eterna, dom do Deus Eterno entregue àqueles que aceitam Iesous, como senhor. E a vida Bios passa de fato a ser a vida terrena, que renasce no permanente ciclo de nascimento e morte.

Por isso, Jesus respondeu a Tomé: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão através de mim.

Análise linguística-gramatical

λεγει verbo - presente ativo indicativo – terceira pessoa do singular lego [leg'-o]: dizer, clamar. 
αυτω pronome pessoal – dativo singular masculino autos [ou-tos’]: pronome reflexivo 
ο artigo indefinido - nominativo singular masculino ho [ho]: o, esse, aquele, ele, ela [geralmente omitido, havendo a necessidade de acrescentar em português].
ιησους substantivo - nominativo singular masculino Iesous [i-ei-sue’]: Jesus (i.e. Jehoshua), o nome do Senhor e de três outros personagens bíblicos.
εγω pronome pessoal – primeira pessoa nominativo singular ego [eg-o’]: Eu, me.
ειμι verbo - presente indicativo – primeira pessoa do singular eimi [i-mi’]: Uma forma prolongada de um verbo primário e defectivo; Eu existo (usado apenas quando enfático) sou, tenho sido, era. 
οδος substantivo - nominativo singular feminino hodos [hod-os’]: Um caminho; por implicação, um progresso; fig. Um modo ou meio. 
και conjunção kai [kái]: e.
αληθεια substantivo - nominativo singular feminino aletheia [al-ei’-thi-a]: verdade, verdadeiro.
ζωη substantivo - nominativo singular feminino zoe [dzo-ei’]: vida. 
ουδεις adjectivo - nominativo singular masculino oudeis [oo-dice]: ninguém. 
ερχεται verbo - presente médio ou passivo depondente indicativo – terceira pessoa do singular erchomai [er’-kom-ahee]: vir, entrar. 
προς preposição pros [pros]: uma preposição de direção; para.
πατερα substantivo - acusativo singular masculino pater [pat-er’]: um pai, fig. lit. parente.
ει conditional ei [i]: se.
μη partícula - nominativo me [mei]: ninguém exceto, sem.
δι preposição dia [dee-a’]: através.
εμου pronome pessoal – primeira pessoa do genitivo singular emou [em-oo’]: de mim.