dimanche 2 avril 2017
Miramundo - Angeli de la notte
Luiz Mura & Miramundo "Brazilian songs blended in Barcelona with mediterranean salt".
"Slitter" by Miramundo.
samedi 1 avril 2017
vendredi 31 mars 2017
Graça e paz!
Chesed veshalom
Graça e paz para os nossos corações
Chesed veshalom
Graça e paz a incendiar de alegria as nossas vidas
Segundo livro de Samuel 23.1-7
“São estas as últimas palavras de Davi, filho de Jessé. Davi foi o homem que Deus tornou importante, que o Deus de Jacó escolheu para ser rei e que compôs as belas canções de Israel. Davi disse: O Espírito do SENHOR fala por meio de mim, e a sua mensagem está nos meus lábios. O Deus de Israel falou, o protetor de Israel me disse: “O rei que governa com justiça, que governa respeitando a vontade de Deus é como o nascer do sol numa madrugada sem nuvens, como o sol que faz a grama brilhar depois da chuva.” É assim que Deus abençoará os meus descendentes, pois ele fez uma aliança eterna comigo, uma aliança bem certa e segura. Isso é tudo o que quero; será essa a minha vitória, e eu sei que Deus fará isso. 23.6 Mas os pagãos são como os espinhos jogados fora: ninguém se atreve a pegá-los com as mãos; para isso é preciso uma ferramenta de ferro ou de madeira; eles serão totalmente queimados no fogo”.
Últimas palavras, primeiras palavras, palavras eternas
- Escolhido/ resgatado pelo Eterno de Israel. Cantor e compositor encantador.
- Cheio do Ruach haKadosh – que fala através do coração do poeta, que fala palavras de salvação.
- Ele governa com justiça, respeita a vontade do Eterno – e por isso é o sol que nasce numa manhã sem nuvens, como o sol que faz a relva brilhar depois da chuva.
- O Eterno abençoará seus descendentes – aqueles que estão debaixo do seu cuidado ...
- Porque estamos a falar de berit / de um acordo, de uma aliança do Eterno.
- É isso o que eu quero. É isso o que nós queremos.
- E o Eterno fará isso no meio do seu povo. Ou como disse o próprio Davi no salmo 121 – “MeAtah VeAd-Olahm … Desde agora e para sempre!”
E por isso nos diz o apóstolo Paulo em sua carta aos Filipenses 1.2 -- “… graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo”.
Chesed veshalom -- Graça e paz para os nossos corações.
Chesed veshalom a incendiar de alegria as nossas vidas.
Do pastor e amigo, Jorge Pinheiro.
Amém.
O Pessach e a Páscoa
O Pessach e a Páscoa cristã
Nosso texto áureo é
Chegou o dia da Festa dos Pães sem Fermento, dia em que os judeus matavam carneirinhos para comemorar a Páscoa. Então Jesus deu a Pedro e a João a seguinte ordem: – Vão e preparem para nós o jantar da Páscoa. Eles perguntaram: – Onde o senhor quer que a gente prepare o jantar? Jesus respondeu: – Escutem! Quando entrarem na cidade, um homem carregando um pote de água vai se encontrar com vocês. Sigam esse homem até a casa onde ele entrar e digam ao dono dela: “O Mestre mandou perguntar a você onde fica a sala em que ele e os seus discípulos vão comer o jantar da Páscoa.” Então ele mostrará a vocês uma grande sala mobiliada, no andar de cima. Preparem ali o jantar. Os dois discípulos foram até a cidade e encontraram tudo como Jesus tinha dito. Então prepararam o jantar da Páscoa. Quando chegou a hora, Jesus sentou-se à mesa com os apóstolos e lhes disse: – Como tenho desejado comer este jantar da Páscoa com vocês, antes do meu sofrimento! Pois eu digo a vocês que nunca comerei este jantar até que eu coma o verdadeiro jantar que haverá no Reino de Deus. Então Jesus pegou o cálice de vinho, deu graças a Deus e disse: – Peguem isto e repartam entre vocês. Pois eu afirmo a vocês que nunca mais beberei deste vinho até que chegue o Reino de Deus. Depois pegou o pão e deu graças a Deus. Em seguida partiu o pão e o deu aos apóstolos, dizendo: – Isto é o meu corpo que é entregue em favor de vocês. Façam isto em memória de mim. Depois do jantar, do mesmo modo deu a eles o cálice de vinho, dizendo: – Este cálice é a nova aliança feita por Deus com o seu povo, aliança que é garantida pelo meu sangue, derramado em favor de vocês. Lucas 22.7-20.
E os textos de apoio são Mateus 26.17-25, Marcos 14.12-21 e João 13.21-30.
1. O que é o Pessach ou a páscoa judaica?
O Pessach é a celebração judaica que recorda a morte dos primogênitos no Egito, a fuga da escravidão e o êxodo dos israelitas para a terra prometida. A palavra pessach significa “passagem”, “travessia”, e Êxodo 12.12-14 Deus conta o que faria. Podemos dizer que o Pessach judaico é a festa da libertação do Egito e a conquista da liberdade em Canãa.
O nome Pessach, Páscoa, foi adaptado pelos cristãos, e como, muito possivelmente, Jesus morreu no dia 14 de Nissan, que é o dia do início de Pessach, se acredita que a última Ceia de Jesus foi um Seder de Pessach, ou seja, um jantar, uma ceia de Páscoa.
2. O que é a Páscoa cristã
Mas, a "páscoa do Senhor", celebrada por Jesus, é diferente da "festa dos pães ázimos" (Levítico 23.6, Lucas. 22.1).
É sacrifício vicário (“o que faz às vezes de outro”) de Jesus, conforme
Depois pegou o pão e deu graças a Deus. Em seguida partiu o pão e o deu aos apóstolos, dizendo: – Isto é o meu corpo que é entregue em favor de vocês. Façam isto em memória de mim. Lc 22.19.
É nova aliança de Deus com seu povo, conforme
Depois do jantar, do mesmo modo deu a eles o cálice de vinho, dizendo: – Este cálice é a nova aliança feita por Deus com o seu povo, aliança que é garantida pelo meu sangue, derramado em favor de vocês. Lucas 22.20.
É promessa da sua volta, conforme
Pois eu digo a vocês que nunca comerei este jantar até que eu coma o verdadeiro jantar que haverá no Reino de Deus. Lucas 22.16.
3. Então, o que é a Páscoa do Senhor?
- É sacrifício do Primogênito de Deus para nossa libertação do pecado.
- É aliança eterna que começa aqui e se projeta na eternidade.
- É a Sua volta, quando celebraremos com Ele a festa eterna da Páscoa, que é libertação pecado, mas também celebração da vida eterna!
Marlene Dietrich - Lili Marleen
Lili Marleen
1. Vor der Kaserne
Vor dem großen Tor
Stand eine Laterne
Und steht sie noch davor
So woll'n wir uns da wieder seh'n
Bei der Laterne wollen wir steh'n
|: Wie einst Lili Marleen. :|
2. Unsere beide Schatten
Sah'n wie einer aus
Daß wir so lieb uns hatten
Das sah man gleich daraus
Und alle Leute soll'n es seh'n
Wenn wir bei der Laterne steh'n
|: Wie einst Lili Marleen. :|
3. Schon rief der Posten,
Sie blasen Zapfenstreich
Das kann drei Tage kosten
Kam'rad, ich komm sogleich
Da sagten wir auf Wiedersehen
Wie gerne wollt ich mit dir geh'n
|: Mit dir Lili Marleen. :|
4. Deine Schritte kennt sie,
Deinen zieren Gang
Alle Abend brennt sie,
Doch mich vergaß sie lang
Und sollte mir ein Leids gescheh'n
Wer wird bei der Laterne stehen
|: Mit dir Lili Marleen? :|
5. Aus dem stillen Raume,
Aus der Erde Grund
Hebt mich wie im Traume
Dein verliebter Mund
Wenn sich die späten Nebel drehn
Werd' ich bei der Laterne steh'n
|: Wie einst Lili Marleen
Lili Marleen
Em frente ao quartel
Diante do portão
Havia um poste com um lampião
E se ele ainda estiver lá
Lá desejamos nos reencontrar
Queremos junto ao lampião ficar
Como outrora, Lili Marlene.(2x)
Nossas duas sombras
Pareciam uma só
Tinhamos tanto amor
Que todos logo percebiam
E toda a gente ficava a contemplar
Quando estávamos junto ao lampião
Como outrora, Lili Marlene. (2x)
Gritou o sentinela
Que soaram o toque de recolher
(Um atraso) pode te custar três dias
Companheiro, já estou indo
E então dissemos adeus
Como gostaria de ir contigo
Contigo, Lili Marlene (2x)
O lampião conhece teus passos
Teu lindo caminhar
Todas as noites ele queima
Mas há tempos se esqueceu de mim
E, caso algo ruim me aconteça
Quem vai estar junto ao lampião
Com você, Lili Marlene ? (2x)
Do tranquilo céu
Das profundezas da terra
Me surge como em sonho
Teu rosto amado
Envolto na névoa da noite
Será que voltarei para nosso lampião
Como outrora, Lili Marlene. (2x)
mercredi 29 mars 2017
O caminho, a verdade e a vida
Odós, aletheia, zoé
λέγει αὐτῷ Ἰησοῦς· ἐγὼ εἰμι ἡ ὁδὸς καὶ ἡ ἀλήθεια καὶ ἡ ζωή· οὐδεὶς ἔρχεται πρὸς τὸν πατέρα εἰ μὴ δι’ ἐμοῦ. ΚΑΤΑ ΙΩΑΝΝΗΝ 14:6
NT Grego: Westcott/Hort. Veja a análise lingüística no final do texto.
“Disse-lhe Jesus: Eu sou o
caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por
mim.”
Odós
Tomé expressou sua
dificuldade e Jesus disse a ele: "Eu
sou o caminho, e a verdade, e a vida".
Uma das linhas-força desta
correlação de idéias teológicas -- caminho, verdade e vida --presente na afirmação de Deus, nos remetem a conceitos presentes nas escrituras hebraico-judaicas, na filosofia e mitologia gregas e pensar latino. Mas vamos começar pela ideia de halakha, que trata das obrigações religiosas às quais devem se submeter os judeus em suas relações com o
próximo e com o Eterno. Ela engloba todos os aspectos da existência. Mas
halakha tem em sentido mais amplo, o de caminho.
Assim, a partir da halakha,
mais do que propor uma adoração estática ao eterno, as Escrituras nos falam de
andar com ele. Daí a idéia de caminho. O ser
humano é colocado a cada momento e a cada dia diante da exigência de exercer sua
liberdade e escolher entre o bem e o mal, ou, como diz Deuteronômio
30.15: “Vejam
que hoje ponho diante de vocês vida e prosperidade, ou morte e
destruição”.
A linha-força do caminho
da lei ou halakha é extensa e profunda nas Escrituras. E se antes repousava na
lei, agora é o próprio Cristo. E é a partir desse conceito teológico
que estrutura o pensamento hebraico-judaico, e depois cristão, que podemos
entender a afirmação de Jesus.
Os hebreus falaram sobre o
caminho que deviam tomar as pessoas. Deus disse a Moisés: “Cuidareis em
fazerdes como vos mandou o Senhor, vosso Deus; não vos desviareis, nem para a
direita, nem para a esquerda. Andareis em todo o caminho que vos manda o seu
Senhor, vosso Deus” (Deuteronômio 5:32-33). Moisés disse ao povo: “Sei que,
depois da minha morte, por certo, procedereis corruptamente e vos desviareis do
caminho que vos tenho ordenado” (Deuteronômio
31:29). Isaías
havia dito: “Os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele.”
(Isaías 30:21). No mundo novo haveria uma estrada chamada o
Caminho de Santidade. Nela, os caminhantes, por simples que fossem,
não se perderiam (Isaías 35:8). O salmista orou: “Ensina-me, Senhor, o teu
caminho” (Salmos 27:11). Os judeus sabiam muito sobre o caminho do Eterno que deviam seguir. E Jesus
disse: "Eu sou o caminho".
Em grego, halakha
se transforma em hodós, o caminho mais curto. E uma outra ideia se
agrega, meta. μετά, μέt-, nos remete a depois ou que segue e quando se
une a οδός, caminho, temos a ideia de seguir um caminho, para
chegar a um fim. Assim, na filosofia, o método define um caminho para se chegar ao conhecimento.
Aletheia
Jesus afirmou: eu sou a verdade. O autor dos Provérbios disse: “Porque
o mandamento é lâmpada, e a instrução, luz; e as repreensões da
disciplina são o caminho da vida” (Provérbios
6:23). “O
caminho para a vida é de quem guarda o ensino” (Provérbios
10:17). “Tu
me farás ver os caminhos da vida”, disse o salmista (Salmos 16:11). O ser
humano quer conhecer a verdade.
E Jesus responde este
anseio ao dizer, “ninguém vem ao Pai, senão por
mim”.
Aletheia, em grego ἀλήθεια, tem o sentido de desvelamento: de a-, negação; e lethe, esquecimento. Para os
gregos, designava a essência, aquilo que é, e por isso tinha correlação com a arché,
com a origem, quer em relação à auto-manifestação da realidade, quer em relação
à manifestação dos seres humanos.
Em latim temos veritas,
que corresponde a maneira de narrar os fatos acontecidos, e a
maneira de narrar determinará a verdade dos fatos.
Então, lhe disse Pilatos:
Logo tu és rei? Respondeu-lhe Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e
para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve minha voz.
Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? Tendo dito voltou aos
judeus e lhe disse: Eu não acho crime algum nele (João 18: 37-38)
Sobre o diálogo entre
Jesus e Pilatos vemos que Jesus não tem dúvida sobre quem é a
verdade e Pilatos não sabe o que é a verdade.
É importante compreender
que filosoficamente construímos no Ocidente a ideia de verdade a partir de três
concepções
diferentes, vindas da filosofia grega, do latim, e do judaísmo em correlação com a mitologia grega e o cristianismo.
Na concepção grega, aletheia
é o que não mais está oculto, e como tal é verdadeiro, pois se manifesta aos olhos e ao espírito. O
falso é pseudos, o encoberto, o que parece mas não é. De acordo com essa concepção aletheia está na essência,
sendo idêntica a realidade e acessível apenas ao pensamento, e verdade aos
sentidos. Assim um elemento necessário é a visão inteligível, em outras palavras o
ato de revelar, o próprio desvelamento.
Na concepção pragmática latina
veritas significa exatidão, rigor do que se refere à linguagem como expressão de fatos
acontecidos. A concepção latina afirma a capacidade dos seres humanos em
descrever com precisão um acontecimento. Essa concepção depende da forma como os
fatos são narrados. Nesse ponto a veritas trata de descrever com
detalhes o ocorrido no passado.
Observam-se diferenças nas
concepções grega e latina. Para a filosofia grega, a verdade faz parte da essência
que foi desvelada. Na latina é a precisão dos fatos que são contados que
vai determinar se esse fato e verdadeiro ou falso.
Na leitura hebraica, a expressão emunah significa posicionamento, mas também
confiança. Nessa expressão há o sentido de comprometimento, mas quando correlacionado com a
pistis essa confiança se transforma numa verdade que chamamos fé. Ora,
na mitologia grega, Πίστις pistis era a personificação da boa-fé, da confiança e da confiabilidade. Ela
aparece sempre ao lado de outras virtudes como a esperança, a prudência e as
graças, todas associadas à honestidade e à harmonia entre às pessoas. Mas, equivale sobretudo à fides latina. E a carta neo-testamentária aos hebreus nos vai dizer que é certeza e prova do que não podemos ver. Assim, nota-se que a confiança/fé é a base do conceito. A verdade passa então
a ser expressão deste posicionamento e desta confiança/fé, embora pareça
absurdo para quem se coloca fora de tal confiança.
Aletheia, então, se refere ao que as
coisas são ao serem desveladas, veritas de refere aos fatos que foram
relatados, e emunah/pistis se refere àquilo que virá a ser, porque assim
foi prometido. Ou seja, aletheia é, tal como se manifesta
agora ao nosso espírito, veritas mostra os fatos conforme foram
relatados, e emunah/pistis aponta para aquilo que será e que foram
prometidas.
Zoé
No hebraico temos a palavra
hayah, que traduz a ideia de respirar. O substantivo hayah,
no entanto, significa viver, ter vida, sustentar a vida. Se estiver na forma
gramatical hifil, que expressa uma ação causativa, tem o sentido de reanimar, reviver, restaurar à vida, o que aponta para o
conceito de levantar da morte, ressuscitar.
Zoé traduz a ideia de vida
comum a todos os seres vivos. E nesse sentido, a vida animal seria o momento mais simples da
vida Bios. A vida animal está lá embaixo, quando comparada a Bios.
Afinal, o ser humano é escravo de suas necessidades de sobrevivência. Sua servidão remete
a um moto sem fim para atender tais necessidades básicas.
A vida Zoé
retrata a
simplicidade da vida não qualificada, que por não ser inferior têm como
destino ficar oculta. Mas ficar oculta significava ter hábitos moderados no comer, beber, na sexualidade e na não violência. Não havia punições para
quem não fosse moderado, mas a moderação na vida Zoé mostrava que a pessoa
poderia exercer o Bios político.
Na vida Zoé dos
gregos há assim uma desqualificação do corpo (soma) na definição da
vida, sem representação política, como no caso dos escravos.
A vida Bios é a vida racional, própria de pessoas ou comunidades. A vida política é a Bios política
como uma vida qualificada. Um tipo de vida de pessoa que é admirada por suas ações
e condutas. Por sua práxis, pelo que ele faz, e por sua léxis, pelo que ele
diz. Práxis e léxis nas pessoas e comunidades possibilitam a existência da polis
democrática,
e por extensão da liberdade.
Mas quando compreendida a
partir do hayah, da vida que ressurge, os cristãos vão além da compreensão
grega. Veem Zoé, que tem nela o hayah bíblico, como a vida eterna, dom do Deus Eterno entregue àqueles que aceitam Iesous, como
senhor. E a vida Bios passa de fato a ser a vida terrena, que renasce no
permanente ciclo de nascimento e morte.
Por isso, Jesus
respondeu a
Tomé: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão através de
mim.”
Análise linguística-gramatical
λεγει verbo - presente ativo indicativo – terceira pessoa do singular lego [leg'-o]: dizer, clamar.
αυτω pronome pessoal – dativo singular masculino autos [ou-tos’]: pronome reflexivo
ο artigo indefinido - nominativo singular masculino ho [ho]: o, esse, aquele, ele, ela [geralmente omitido, havendo a necessidade de acrescentar em português].
ιησους substantivo - nominativo singular masculino Iesous [i-ei-sue’]: Jesus (i.e. Jehoshua), o nome do Senhor e de três outros personagens bíblicos.
εγω pronome pessoal – primeira pessoa nominativo singular ego [eg-o’]: Eu, me.
ειμι verbo - presente indicativo – primeira pessoa do singular eimi [i-mi’]: Uma forma prolongada de um verbo primário e defectivo; Eu existo (usado apenas quando enfático) sou, tenho sido, era.
οδος substantivo - nominativo singular feminino hodos [hod-os’]: Um caminho; por implicação, um progresso; fig. Um modo ou meio.
και conjunção kai [kái]: e.
αληθεια substantivo - nominativo singular feminino aletheia [al-ei’-thi-a]: verdade, verdadeiro.
ζωη substantivo - nominativo singular feminino zoe [dzo-ei’]: vida.
ουδεις adjectivo - nominativo singular masculino oudeis [oo-dice’]: ninguém.
ερχεται verbo - presente médio ou passivo depondente indicativo – terceira pessoa do singular erchomai [er’-kom-ahee]: vir, entrar.
προς preposição pros [pros]: uma preposição de direção; para.
πατερα substantivo - acusativo singular masculino pater [pat-er’]: um pai, fig. lit. parente.
ει conditional ei [i]: se.
μη partícula - nominativo me [mei]: ninguém exceto, sem.
δι preposição dia [dee-a’]: através.
εμου pronome pessoal – primeira pessoa do genitivo singular emou [em-oo’]: de mim.
lundi 27 mars 2017
Estudos sobre a Decisão Socialista de Paul Tillich
Primeira leitura: Introdução
Estudos sobre A Decisão Socialista de Paul Tillich
Por Jorge Pinheiro
Para Paul Tillich [A Decisão Socialista, Introdução:
As duas raízes do pensamento político, Potsdam 1933, Gesammelte Werke,
II, pp. 219-365], nem sempre é necessário perguntar pelas raízes de um fenômeno
espiritual ou social. Muitas vezes tal pergunta mostra-se supérflua,
principalmente quando um testemunho saudável revela a integridade das raízes.
Mas quando se apresentam distorções ou desvios, quando o testemunho congela ou
a vida principia a desaparecer, então se torna necessário perguntar: quais são
suas raízes?
Em 1993, Tillich considerava que esta era a
situação do socialismo e, em particular, do socialismo alemão. Para ele, os
eventos que preanunciavam a ascensão do nazismo, revelavam o estado de profunda
crise do socialismo. E esse estado não só se explicava pelos eventos dos
últimos anos, mas deviam ser pesquisadas a partir da segunda metade do século
de 19, pois faziam parte de sua constelação histórica de origem. Por isso,
acreditava Tillich, a tarefa mais urgente dos anos futuros seria um exame das
razões do debilitamento do socialismo. E tal tarefa seria impossível de ser
realizada se não se achasse uma resposta à pergunta das raízes.
Porém,
afirmava Tillich, assim que se levanta a pergunta das raízes do pensamento socialista,
faz-se necessário ir mais fundo, porque o socialismo é um movimento de
oposição, de mão dupla, um movimento de oposição à sociedade burguesa, mas
enquanto mediação, uniu-se à sociedade burguesa na oposição às formas feudais e
patriarcais de sociedade. Entender esta raiz do socialismo, ajudaria a entender
as raízes do pensamento político que lhe deu origem.
É necessário procurar pelas raízes do pensamento
político no próprio do homem[1], declara Tillich. Para
ele, sem uma imagem do homem, de suas forças e tensões, não se pode dizer nada
sobre as fundações políticas do pensamento e do ser político. Sem uma teoria do
homem, não se pode construir uma teoria
das orientações políticas.
A antropologia
política de Paul Tillich
O homem, afirma o teólogo, diferente da natureza, é
um ser dividido. Não importa saber onde termina a natureza e onde começa o
homem, não importa que a passagem entre os dois se faça através de lentas
transições ou por um salto. O importante é que em determinado momento, a diferença
ficou clara.
Há no entanto, para Tillich, um processo vital
indiviso, que desdobra natureza sem interrogar nem requerer, um processo que
está ligado àquilo que se encontra nele e faz parte do que ele é. Assim, existe
um processo vital que deseja saber sobre o homem, e que coloca algumas questões
para ele: já não é indiviso, mas também dividido. É idêntico a si mesmo quando
diante de si mesmo, no ato de pensar e de conhecer. Mas não apenas isso.
Segundo Tillich, o homem tem consciência de si
mesmo, ou em outras palavras, distingue-se da natureza enquanto ser que se
desdobra, tornando-se um ser consciente de si mesmo. A natureza ignora esta
divisão. Por isso, o homem não é uma combinação de duas partes autônomas, tais
como natureza e mente ou corpo e alma, mas um só ser, porém fendido em sua
unidade.
Estas determinações gerais, considera Tillich,
levam a algumas considerações no que se refere à pesquisa do pensamento
político. Elas negam qualquer dedução do pensamento político enquanto puro
movimento de pensamento, de exigências ético-religiosas, ou considerações
ditadas por determinada cosmovisão. O pensamento político vem do homem enquanto
unidade. Está enraizada no ser e na sua consciência, mais precisamente em sua
unidade indissolúvel. É por isso que não se pode entender um sistema de
pensamento político sem contextualizar seu enraizamento no ser humano enquanto
ser social, ou seja, o imbricamento de pulsões e interesses, os constrangimentos e as aspirações
constituintes do ser social.
Mas também é impossível separar o ser de sua
consciência, ou ver o pensamento político como simples subproduto do ser.
Assim, para Tillich, a consciência estrutura todo o ser do homem, todo o ser
social, em cada um de seus elementos, inclusive as sensações pulsantes mais
primitivas[2].
Quando tenta desfazer laços, explica Tillich,
passa-se ao largo da primeira e mais importante característica da essência
humana, o que produz uma distorção no quadro geral que ele faz de si próprio,
de que há uma consciência inadequada ao ser, uma falsa consciência, mas que não
invalida a unidade do ser e da consciência. Isto porque, afirma, o conceito de
falsa consciência não é possível quando a coisa que se designa é não
conhecível. Assim, a consciência justa é uma consciência que emerge do ser e ao
mesmo tempo o determina. Não pode ser uma coisa sem ser a outra, porque o homem
é uma unidade na divisão, e desta unidade nascem as duas raízes de todo
pensamento político.
A origem do
pensamento político conservador
O homem se encontra enquanto realidade dada, assim
como seu ambiente. Mas estar no mundo enquanto realidade significa aquele não
vem da si mesmo, que ele não é sua própria origem. Para Tillich, que cita a
expressão de Martin Heidegger, o homem é um “ser lançado”. Esta situação leva o
homem a colocar-se a questão da fonte (Woher). O que mais tarde vai aparecer
como questão filosófica. Mas tal discussão é uma construção, e o mito apresenta
a primeira resposta, enquanto determinante para a discussão de conjunto.
A origem (Ursprung) é o que faz emergir
(entspringen). Este aparecimento (Sprung) dá lugar a algo novo, que não existiu antes, que
produz uma consciência própria, diferente da origem. A realidade que somos está
colocada, mas também é algo próprio. É uma tensão entre o ser-posto e o
ser-próprio.
Para Tillich, a origem não nos liberta. Não se pode
dizer que era e que não é mais. Constantemente somos puxados pela origem: ela
nos faz emergir, nos segura firme. É ela que nos estabelece como algo, enquanto
essência. Dessa maneira, ser-posto no mundo supõe caminhar para a morte.
Assim, para Tillich, a concepção conservadora admite o surgimento do
eterno no tempo, que repousa no passado. Por essa razão nega toda mudança,
presente ou futura[3].
A força dessa concepção repousa no fato de que considera o eterno como dado e
não como resultado da ação cultural e religiosa do ser humano.
A concepção conservadora também reconhece o kairós[4],
mas o situa no passado. Desconsidera que se aconteceu no passado como
acontecimento único, é ele quem se revela em todos os sim e não
do passado, do presente e futuro. Sob tal visão repousa o pensamento político
conservador. Perdeu o sentido supratemporal do kairós[5].
O mito expressou com profunda riqueza este estado
de coisas, com o testemunho de objetos e
eventos nos quais o grupo humano percebe sua origem. Em todos os mitos ressoam
a lei cíclica do nascimento e da morte. Todo o mito é mito da origem, responde
à pergunta da providência e conta porque somos segurados na origem e estamos debaixo
de seu império. A consciência mítica original é a raiz de todo o pensamento
político conservador e romântico[6].
Embora
haja pontos de contado entre os conceitos expressos por Paul Tillich e o
pensamento marxista, principalmente no que se refere à construção de um
pensamento político conservador, é interessante ver semelhanças e diferenças.
Assim, para Marilena Chauí, “um mito fundador é
aquele que não cessa de encontrar novo meios para exprimir-se, novas
linguagens, novos valores e idéias, de tal modo que, quanto mais parece ser
outra coisa, tanto mais é a repetição de si mesmo”[7].
Para a filósofa brasileira, teórica do Partido dos
Trabalhadores, o mito deve ser entendido enquanto conceito antropológico, no
qual a narrativa é a solução imaginária para tensões, conflitos e contradições
que não encontram caminhos para serem resolvidos no nível da realidade. Dessa
maneira, o mito é sempre falsa consciência.
Por isso, para Chauí, a diferença é definida por
formação versus fundação. E explica que quando se fala em formação, refere-se
não só às determinações econômicas, sociais e políticas que produzem um
acontecimento histórico, mas também se pensa em transformação e, portanto, em
continuidade ou descontinuidade dos acontecimentos. Assim, o registro da formação
é a história propriamente dita, aí incluídas suas representações, sejam aquelas
que conhecem o processo histórico, sejam aquelas que o ocultam (isto é, as
ideologias).
Já a fundação, considera Chauí, se refere a um
momento passado imaginário, tido como originário que se mantém vivo e presente
no curso do tempo. A fundação visa a algo tido como perene (quase eterno) que
trava e sustenta o curso temporal e lhe dá sentido. A fundação pretende
situar-se fora do tempo, fora da história, num presente que não cessa nunca sob
a multiplicidade de formas ou aspectos que pode tomar. A marca peculiar da
fundação é a maneira como ela situa a transcendência e a imanência do momento
fundador[8].
Assim, as ideologias, que necessariamente
acompanham o movimento histórico da formação, alimentam-se das representações
produzidas pela fundação, atualizando-as para adequá-las à nova quadra
histórica. É exatamente por isso que, sob novas roupagens, o mito pode
repetir-se indefinidamente.
O mito, uma
crença desvelada
Paul Tillich vê diferente. Para ele, a exigência
que o homem faz na experiência diante do incondicionado não é estranha a ele.
Se fosse estranha à sua essência, não lhe seriam concernentes e ele não poderia
discernir tal coisa como exigência. Se ela lhe toca é porque coloca diante de
seus olhos gás sua essência enquanto exigência. Funda-se a incondicionalidade,
a irrevogabilidade com que o dever-ser aborda o homem e exige ser afirmado por
ele.
Se a exigência é a própria essência do homem, então
ela encontra seu fundamento na sua
origem, e então a providência e o destino não pertencem a mundos
diferentes. Ainda, diante do original, o que é requerido é o incondicionalmente
novo. Assim, para Tillich, a origem é ambígua. Há nela uma separação
entre origem verdadeira e a origem real.
O que é realmente original não é o
que é original de verdade[9].
A realização da origem é esta exigência e este
dever-ser pelo qual o homem é confrontado. O “por que” do homem é a realização
da sua providência. A origem real é
negada pela origem verdadeira; mas certamente, não é uma pura e simples
negação. A origem real tem que levar à real verdadeira, ela é sua expressão,
mas também disfarce e distorção. A pura consciência mítica original ignora
todas as ambigüidades da origem. É por isto que esta consciência está presa à
origem e considera sacrilégio toda a ultrapassagem da origem. Só a consciência
que, fazendo a experiência da exigência da incondicionalidade, se livra dos
laços de origem e se apercebe da ambigüidade da origem.
A exigência quer a realização da origem verdadeira.
Porém o homem não recebe uma exigência incondicionada de outros. É no
reencontro do "eu e você" que a exigência torna-se concreta. Seu
conteúdo é reconhecido no você com a dignidade do "eu", a dignidade
para ser livre, portador da realização daquilo que apontada à origem. Reconhecer no você uma
dignidade igual ao do eu, isto é justiça. A exigência que nos arrasta à
ambigüidade da origem é a exigência de
justiça[10].
A origem não rompida conduz a poderes em tensão que procuram a dominação e
destroem um ao outro. Quando a origem é rompida vem o poder do ser, o declínio
dos poderes que "expiam e são julgados por seu sacrilégio, de acordo com a
ordem do tempo", como já evocou a filosofia grega.
A exigência incondicional eleva acima deste ciclo
trágico. Diante do poder e da impotência do ser, opõe a justiça, que provém do
dever-ser. Portanto, para Tillich, não há uma simples oposição, porque o
dever-ser é a realização do ser. A justiça é o verdadeiro poder do ser.
Nisto se torna realidade o que é apontado na origem. Na relação entre os dois
elementos da existência humana e as duas raízes do pensamento político, a
exigência predomina sobre a pura origem, e a justiça, sobre o puro poder do
ser. A pergunta do “por que” é superior à da providência. O mito original
não deve representar no pensamento político mais do que uma crença rompida, uma
crença desvelada[11].
Esse é o caminho da utopia. Sem o espírito utópico
não há protesto, nem espírito profético[12].
Isto é exato na medida em que cada tensão orientada
para adiante comporta uma representação daquilo que deve vir e de como se
entende a realização desse ideal. Eis porque o espírito da utopia está presente
em todo agir incondicionalmente decidido, em todo agir orientado à
transformação do presente [13].
A utopia quer realizar a eternidade no tempo, mas
esquece que o eterno abala o tempo e todos seus conteúdos. É por isso que a
utopia leva, necessariamente, à decepção. Progresso mitigado é o resultado da
utopia revolucionária desencantada.
A idéia do kairós nasce da discussão com a
utopia. O kairós comporta a irrupção da eternidade no tempo, o caráter
absolutamente decisivo deste instante histórico enquanto destino, mas tem a
consciência de que não pode existir um estado de eternidade no tempo, a
consciência de que o eterno é, em sua essência, aquele que faz a irrupção no
tempo, sem contudo fixar-se nele.
Assim, a realização da visão profética se encontra
além do tempo, lá onde a utopia desaparece, mas não a sua ação[14].
Metodologicamente, Tillich mostra que toda mudança,
toda transformação exige uma compreensão do momento vivido que vá além do
meramente histórico, do aqui e agora. Deve projetar-se no futuro, deve entender
que há no espírito profético da responsabilidade inelutável um choque entre
este kairós[15] e a
utopia, que pensa poder fixar a eternidade no tempo presente. Tal desafio não
pode ser resolvido por um homem, por mais que encarne o espírito da profecia. O
sujeito da transformação será, em última instância, a massa.
A origem do
pensamento democrático e socialista
Mas o homem vai além do colocar-se como realidade
dada, vai além do saber colocar-se diante do ciclo do nascimento e a morte. Faz
a experiência de uma exigência que separou o imediato da vida e o leva a
colocar-se diante da pergunta da providência uma outra pergunta: "por
que?”
Esta pergunta quebra o ciclo de uma maneira
fundamental, eleva o homem acima da esfera do simples viver. Porque é a
exigência de algo que não está aí, que tem que se tornar realidade. Quando se
faz a experiência desse tipo de exigência não se está mais colado à origem.
Vai-se além da afirmação do que já está. A exigência nomeia o que deve ser. E o
que deve ser não é determinado com a afirmação daquilo que já é, disso que é,
significa que tal exigência impôs ao homem o incondicionado.
O “por que” não está dentro dos limites da fonte. É
o incondicionalmente novo. É através do “por que” que o homem deve alcançar
algo do incondicionalmente novo. Este é o sentido da exigência, quando o homem,
por ser dividido, faz esta experiência. Ele detém um conhecimento próprio, por
isso é possível ir além da realidade, além daquilo que o cerca.
Tal é a liberdade do homem: não que ele tenha uma
vontade livre, mas não está preso, enquanto homem, ao que está dado. O ciclo do
nascimento e morte foi quebrado, sua existência e sua ação não estão amarradas
na simples propagação de sua origem. Quando esta consciência se impõe, são rasgados os laços da origem, o
mito original está quebrado. A ruptura do mito original pelo incondicionado de
exigência é a raiz do pensamento político liberal, democrático e socialista.
Mas, a concepção progressista considera o eterno um
alvo infinito, existente em cada época, mas que não se apresenta enquanto
irrupção. Assim, os tempos tornam-se vazios, sem decisão, sem responsabilidade.
Na concepção progressista existe uma tensão diante do que foi. Mas a
consciência de que o alvo é inacessível a debilita e produz um compromisso
continuado com o passado. A concepção progressista não oferece nenhuma opção ao
que está dado. Transforma-se em progresso mitigado, em crítica pontual
desprovida de tensão, onde não há nenhuma responsabilidade última [16].
Este progressismo mitigado é a atitude
característica da sociedade burguesa. É um perigo que ameaça constantemente, é a
supressão do não e do sim incondicionados, a supressão do anúncio da
plenitude dos tempos. É o verdadeiro adversário do espírito profético
[17].
Ser, consciência
e socialismo
Para Tillich, as duas raízes do pensamento político
mantêm entre elas uma relação que é mais do simples justaposição. A exigência
predomina na origem. Considerando as várias tendências políticas, não se pode
supor que elas sejam atitudes humanas justificadas. Onde são requeridas
decisões, o conceito tradicional de realidade não é aplicável. Outro, no
entanto, é quando estamos diante de uma exigência do incondicionado.
As raízes do pensamento político não são apenas
pensamentos. O pensamento político é a expressão de um ser político, de uma
situação social. Não se pode entender o pensamento quando se subestimam as
realidades sociais das quais vem o pensamento político. As raízes do pensamento
político não podem agir com uma força igual em todo momento e em todo grupo. Um
ou outro pode predominar, depende de uma situação social, grupos ou formas de
dominação determinadas. Depende de estruturas sócio-psicológicas, da interação
com a situação social objetiva.
A
consciência está ligada ao ser, mas esta ligação é funcional, não de ordem
biográfica. Existem pensamentos que têm por função expressar o ser burguês, não
importa se são de fato aristocratas ou burgueses. E há pensamentos que têm por
função expressar o ser proletário, não importa se são expressos por burgueses
ou proletários. O fato é que foram os aristocratas que lançaram as bases para
sociedade burguesa e que foram burgueses aqueles que deram ao proletariado consciência deles próprios, o que demonstra
que a questão biográfica tem pouca importância.
Pode-se dizer que a distância que separa ser e
consciência é necessária para que o ser se eleve à consciência. A
consciência supõe não somente uma ligação ao ser, mas também uma distancia que
permita reflexão. Assim, o que é abalado em sua ligação original com um
grupo ou com uma classe é chamado a dar consciência a outra classe que não é a
sua. Marx e Lênin são o exemplo mais evidente disto. Eles mostram que a relação
entre a situação social e o pensamento político deve se elevar da esfera
biográfica para aquela das relações funcionais.
A palavra princípio serve para caracterizar
de maneira global os grupos políticos. O pensamento tem como tarefa extrair uma
multiplicidade de fenômenos que constitui a característica comum a todos os
indivíduos. Normalmente, se cumpre esta tarefa com ajuda do conceito de
essência. Desde Platão, a relação entre essência e o fenômeno domina no
Ocidente a teoria do conhecimento. Porém a lógica da essência não é suficiente
para explicar as realidades históricas. A essência de um fenômeno histórico é
uma abstração vazia, de onde se expulsou a força viva de história.
Por isso, não se pode entender o socialismo se não
experimentar a exigência de sua justiça como uma exigência do incondicionado. Quem
não é confrontado pelo socialismo não pode falar do socialismo, a não ser
enquanto expressão que vem do exterior[18]. Não podem falar dele em verdade, porque é
contrário às tendências políticas que defendem. Aí está o nó da origem.
Algumas
conclusões
Neste
texto, Paul Tillich traduz uma confiança no progresso humano. Parte de uma
filosofia política onde seu referencial primeiro é o ser. Nesse sentido,
podemos dizer que faz uma fenomenologia política quando analisa questões como o
ser, a origem do pensamento político, enquanto mito, e a partir daí procura
trazer à tona os elementos não reflexivos do pensamento político conservador.
Lembramos aqui, em passant, a crítica de
Ernst Bloch[19]
a Freud – conforme exposto por Etienne Higuet --, quando apresenta a
Psicanálise como uma volta à origem, que resultaria em conformidade às normas
sociais. Assim, o mito não é transformador. Só a utopia, enquanto sonho
acordado, é progressivo e pode se apresentar como revolucionário.
Tillich não é tão radical como Bloch ou Marilena
Chauí. Ele parte do mito, entendendo que devemos rompe-lo passando através
dele, a fim de resgatá-lo. Nesse sentido, os símbolos devem ser atravessados
para que se possa conhecer aquilo que ele evoca. E isso é o que deve acontecer
em relação ao mito de origem, ele não pode ser abandonado, mas atravessado.
Assim, a questão existencial, presente nessa
filosofia política, leva a uma antropologia existencial.
É importante, também, entender que o pensamento
político liberal, a que Tillich se refere no texto, fala da experiência liberal
européia, que teve sua origem no Iluminismo, na Revolução Francesa e nas
constituições do século XIX. Essas constituições foram criticadas por Marx, que
não as via como fruto das reais necessidades da sociedade.
Perguntas
1. Até que ponto a Teologia da Cultura pode dizer algo a respeito da ação
social e humana?
2. Qual a pertinência do discurso teológico?
3. O que Paul Tillich está produzindo neste texto? Uma história da
religião, sociologia da religião ou filosofia da religião?
4. Qual é o estatuto epistemológico e teórico da análise de Paul Tillich?
5. Quais os referenciais de Paul Tillich? Uma filosofia da vida? Qual a
validade desses referenciais?
Notas
[1] Paul Tillich, La décision
socialiste, Introduction: Les deux racines de la pensée politique,
L´être humain et la conscience politique, p. 26 [do original publicado em
alemão: Potsdam 1933, Gesammelte Werke, II, pp. 219-365].
[2] Paul Tillich, La décision
socialiste,op. cit., p. 27.
[3] Paul Tillich, Kairós II
in Christianisme et Socialisme, Écrits socialistes allemands
(1919-1931), Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de
l’Université Laval, 1992, pp. 255-267, tradução francesa do original Kairós.
Zur Geisteslage und Geisteswendung, Gesammelte Werke, 1926, VI, pp. 29-41.
[4] Paul Tillich ao
falar da plenitude do tempo no evento Jesus, explica a construção de sua
concepção de kairós: um tempo carregado de tensão, de possibilidades e
impossibilidades, qualitativo e rico de conteúdo. Nem tudo é possível sempre,
nem tudo é verdade em todos os tempos, nem tudo é exigido em todo momento.
Diversos mestres, diferentes poderes cósmicos, reinam em tempos diferentes, e o
Senhor que triunfa sobre anjos e poderes, reina no tempo pleno de destino e de
tensões, que se estende entre a Ressurreição e a Segunda vinda. Ele reina no tempo
presente que, em sua essência, é diferente dos outros tempos do passado. É
nessa viva e profunda consciência da história que está enraizada a idéia de kairós,
e é a partir dela que deve ser elaborado o conceito de uma filosofia consciente
da história. [Kairos I in Christianisme et socialisme, Écrits
socialistes allemands (1919-1931), Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et
Fides, Les Presses de l’Université Laval, 1992, pp. 116-117].
[5] Paul Tillich, Kairós
II, op.cit., p. 260.
[6] Paul Tillich, La
décision socialiste,op. cit., p. 28.
[7] Marilena Chauí,
Brasil, mito fundador e sociedade autoritária, São Paulo, Editora
Fundação Perseu Abramo, 2000, p. 9.
[8] Marilena Chauí, Brasil...,
op. cit., p. 10.
[9] Paul Tillich, La décision
socialiste, op. cit., p. 29.
[10] Paul Tillich, La
décision socialiste, op. cit., p. 30.
[11] Paul Tillich, La
décision socialiste, op. cit., p. 30.
[12] Para Tillich, o espírito profético está envolvido na
situação histórica concreta, tem a coragem de decidir e colocar-se sob
julgamento, ao nível do particular. Sem esquecer que sua relação aponta ao
incondicionado, e que o ponto mais elevado que é possível alcançar no tempo
está submetido ao não. Mas não deverá, por temer o não, perder a audácia do não
e do sim concretos. [Kairós II, idem, op.cit., p. 259].
[13] Paul Tillich, Kairós II, op.cit., p. 260.
[14] Paul Tillich, Kairós II, op. cit., p.261.
[15] E é a partir dessa compreensão do que significa o
espírito de profecia no tempo presente, que voltamos ao kairós, mas agora com
novos conteúdos, construído enquanto responsabilidade inetulável. [Paul
Tillich, História do pensamento cristão, Kairós, São Paulo, ASTE, 2000,
p. 24]. Kairós significa tempo concluído, o instante concreto e, no sentido
profético, a plenitude do tempo, a irrupção do eterno no tempo. Kairós não é um
qualquer momento pleno, uma parte ou outra do curso temporal: kairós é o tempo
onde se completa aquilo que é absolutamente significativo, é o tempo do
destino. Considerar uma época como um kairós, considerar o tempo como aquele de
uma decisão inevitável, de uma responsabilidade inelutável, é considerá-lo
enquanto espírito da profecia. [Kairós II, idem, op. cit., p. 259].
[16] Paul Tillich, Kairós
II, op.cit., p. 260.
[17] Paul Tillich, Kairós
II, op.cit., p. 260.
[18] Paul Tillich, La
décision socialiste, op. cit., p.31.
[19] Ernst Bloch, The Principle of Hope, três
volumes (Cambridge, Mass.: The MIT Press, 1986). Considerado o principal trabalho de Bloch,
nele o filósofo marxista faz a crítica da cultura e da ideologia no século XX.
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