samedi 22 mars 2025

A questão árabe-palestina

A questão judaico-palestina

Reivindicações históricas pela terra de Israel

Jorge Pinheiro

 


O terror se levanta em todo o Oriente Médio e se espraia pelo subcontinente asiático. Por que? Por incrível que pareça os motivos estão localizados numa estreita faixa de terra que os judeus chamam “eretz” e afirmam que pertence a eles por direito divino. Será?

 

Assim, para entender um pouco o que acontece hoje no mundo somos obrigados a fazer uma releitura da questão judaico-palestina, ou seja, das reivindicações históricas por esta faixa de terra.

 

O termo Palestina é originário de Philistines ou filisteus, povo Egeu que, no século 12 a.C. se estabeleceu ao longo da planície costeira do Mediterrâneo, conhecida hoje como a Faixa de Gaza. No século dois a.C., após derrotar os judeus, os romanos deram o nome de Palestina à terra. 

 

Em 638, a conquista árabe da planície costeira do Mediterrâneo deu início a 1.300 anos de presença árabe na região. Porém, o país nunca foi exclusivamente árabe. Após as invasões muçulmanas do século sete, o árabe tornou-se gradualmente a língua da maioria da população da região. 

 

A cidade de Jerusalém é considerada a terceira mais sagrada na religião islâmica: as primeiras são Meca e Medina. Acredita-se que Jerusalém seja o local onde o maior profeta islâmico, Maomé, subiu aos Céus. A mesquita al-Aqsa, onde o domo da Rocha foi posteriormente construído, marca este ponto, que é sagrado para os muçulmanos. 

 

Enquanto os muçulmanos lideraram a região, cristãos e judeus viviam em paz, já que eram considerados os povos do Livro. Cristãos e judeus tinham controle autônomo em suas comunidades e era-lhes permitido praticar suas crenças com liberdade e segurança. Tal tolerância religiosa demonstrada pelo povo muçulmano é rara na história humana.

 

Em 1517, os turcos otomanos da Ásia Menor conquistaram a região e, com poucas interrupções, governaram a Palestina, até o inverno de 1917-1918. A região foi então dividida em diversos distritos, dentre eles, Jerusalém. A administração dos distritos foi cedida em grande parte aos árabes palestinos. As comunidades cristãs e judaicas, porém, receberam grande autonomia. A Palestina compartilhou a glória do Império Otomano durante o século 16, mas foi negligenciada quando o império começou entrar em declínio no século 17. 

 

Em 1882, menos de 250.000 árabes viviam no local. Uma parte significante da terra pertencia aos senhores que viviam no Cairo, Damasco e Beirute. Oitenta por cento dos árabes palestinos eram camponeses, nômades ou beduínos. 

 

Em 1917-1918, com apoio dos árabes, os britânicos capturaram a Palestina dos turcos otomanos. Na época, os árabes palestinos não se consideravam como sendo uma nacionalidade em separado. Eram parte de uma Síria árabe. O nacionalismo árabe palestino é, em grande parte, um fenômeno do pós Primeira Guerra Mundial. 

 

Em 1921, o Secretário Colonial britânico Winston Churchill separou quase 4/5 da Palestina – aproximadamente 35.000 milhas quadradas -- para criar um emirado árabe, a Transjordânia, conhecida hoje como Jordânia. Este país, que é uma monarquia árabe, é em sua maioria composto por palestinos que hoje representam aproximadamente 70% da população. 

 

Assim, o conflito árabe-israelense teve origem com a constituição do Estado de Israel nos territórios da antiga Palestina britânica e os movimentos de reação árabe, após um processo que inclui a migração organizada de judeus para a Palestina, a aquisição de terras, a instalação de empresas, colônias agrícolas, escolas e a organização militar dos imigrantes. 

 

A administração britânica na Palestina, recomposta após o fim da 2a Guerra Mundial, adotou uma política de dividir para reinar, apoiando-se ora nos árabes, ora nos judeus. Os dois lados adotaram o terrorismo como forma de luta. 

 

Em 1939, os britânicos anunciaram o White Paper (Carta Branca), um documento relatando que um estado árabe independente e não dividido seria estabelecido na planície costeira do Mediterrâneo dentro de 10 anos. O nacionalismo árabe cresceu com a promessa de um estado forte. Mas, os britânicos não foram capazes de manter sua promessa aos árabes. 

 

O estado de Israel e as guerras na região

 

Em 1947, a Assembleia Geral da ONU e a Agência Judaica aprovam a divisão da planície costeira do Mediterrâneo, mas os árabes a rechaçam. Um exército da Liga Árabe ocupou a Galileia e atacou Jerusalém. Em 14 de maio de 1948, o Conselho Nacional Judeu proclamou o Estado de Israel, enquanto o ataque árabe foi contido pela mediação da ONU e pela superioridade da aviação israelense. Grande parte da população árabe abandonou a Palestina. Em maio de 1948 o Reino Unido renunciou ao mandato sobre a Palestina e retirou suas tropas, deixando a região no caos. 

 

Entre 1948 e 1956 o Estado israelense se consolidou com a migração maciça de judeus, o pagamento de US$ 3,5 bilhões pela Alemanha Ocidental como reparação de guerra, a implantação da agricultura coletivizada nos chamados kibutzim, indústrias de alta tecnologia, serviço militar obrigatório para homens e mulheres e a manutenção de um Exército moderno. Em 1948, foi estabelecido o estado de Israel. 

 

No fim da guerra (1949), Israel ocupou áreas cedidas pela ONU aos palestinos, principalmente na Galileia. Gaza ficou sob domínio egípcio, e a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, sob domínio da Jordânia.

 

A guerra de 1956 teve origem nas tensões fronteiriças geradas pelo projeto de utilização das águas do rio Jordão por Israel, em 1952. Agrava-se com ataques de comandos árabes (fedayin) aos colonos judeus e a nacionalização do Canal de Suez pelo Egito, com apoio soviético, em 1956. Milícias palestinas realizaram ataques contra Israel do Líbano, da Cisjordânia e de Gaza. 

 

Em 1967, após mobilização de tropas árabes contra suas fronteiras, Israel atacou o Egito com o objetivo de manter o canal aberto e controlar o golfo de Ácaba. Em outubro, com o apoio tácito do Reino Unido e da França, os israelenses ocuparam o Sinai e a Faixa de Gaza em uma semana. 

 

Em novembro foi criada uma força de paz da ONU para supervisionar o cessar-fogo. A ocupação da Faixa de Gaza e a consolidação do Estado de Israel aguçaram a questão dos refugiados palestinos, cuja integração é negada tanto por Israel quanto pelos países árabes. 

 

Em 1967 teve início outra guerra, a dos Seis Dias. Surgiu da reação egípcia contra a permanência das tropas da ONU, o bloqueio do porto de Eliat, no golfo de Ácaba, e a assinatura de um acordo militar com a Jordânia, em maio de 1967. Os israelenses, usando como pretexto o bloqueio no golfo de Ácaba e a intensificação do terrorismo palestino contra Israel, atacam o Egito, Síria e Jordânia em 5 de junho. Conquistam toda a península do Sinai até o canal de Suez (Egito), a Cisjordânia e as colinas de Golan (Síria).

 

A guerra do Yom Kippur teve como motivo a ocupação permanente dos territórios conquistados em 1967 por Israel e a instalação de colônias judaicas. Em 6 de outubro (dia do Yom Kippur ou do Perdão, feriado religioso judaico) de 1973, os sírios atacaram as colinas de Golan pelo norte, enquanto os egípcios atacaram pelo sudoeste, a partir do Canal de Suez. Forçam os israelenses a abandonar suas linhas de defesa fortificada (Bar-Lev) e os campos petrolíferos de Balayim e ocupam toda a área do canal. Contra-ataque israelense obriga o recuo egípcio e sírio, bombardeia Damasco e bases de mísseis e artilharia do Egito e ameaça expandir-se. Em 22 de outubro, a intervenção diplomática soviético-americana impõe um cessar-fogo.

 

Em 1977, Israel iniciou conversações com o Egito, que culminaram em um acordo de paz e a devolução do deserto do Sinai.

 

Em 1993, palestinos e israelenses iniciaram um processo de paz que previa retirada gradual de Israel dos territórios em troca de reconhecimento palestino do Estado judeu. Israel passou a se retirar paulatinamente dos centros urbanos palestinos.

 

Mas Israel seguiu expandindo suas colônias em Gaza e Cisjordânia, enquanto palestinos seguiram cometendo atentados.

 

Em julho de 2000, o líder palestino Iasser Arafat rejeitou uma proposta de acordo de paz de Israel, com devolução da quase totalidade de Gaza e Cisjordânia e representação palestina em Jerusalém. A questão da volta dos refugiados palestinos, que acabaria com a maioria judaica em Israel, era o principal entrave. A revolta palestina contra a ocupação israelense começou em setembro do mesmo ano.

 

O moderno estado de Israel está situado em um território que já foi conquistado por muitos povos: assírios, babilônios, persas, gregos, romanos, árabes muçulmanos e turcos otomanos. O país, localizado na costa oriental do Mar Mediterrâneo, é conhecido como a Terra Santa. Para os judeus, a terra é santa porque lhes foi prometida por Deus; para os cristãos, porque Jesus nasceu e viveu lá; para os muçulmanos, porque Jerusalém é o local da subida do profeta Maomé aos Céus.

 

Em 1948, o estado de Israel foi estabelecido e, desde então, esteve envolvido em guerras e conflitos com seus vizinhos árabes. 

 

Resumo da história dos judeus na terra

 

O laço judeu à terra de Israel data de mais de 3.700 anos. De acordo com a Torah – os escritos judaicos -- Deus prometeu que os descendentes do patriarca Abraão herdariam a terra. A Bíblia revela que os hebreus foram escravizados no Egito, até que Deus o libertou. Após sua libertação do Egito, os hebreus foram liderados por Moisés -- o maior profeta da história judaica -- e levado à terra de Israel. No entanto, foi Josué, sob o comando de Deus, que conquistou a terra, iniciando a penetração hebréia na região. 

 

Os judeus não tinham um nome especial para seu país. Chamavam-no simplesmente “eretz” (a terra), “eretz Israel”, “Israel”, “Cana’an”.  O nome Palestina, como vimos, só surgiu com os romanos. É uma corruptela de Filístia e, originalmente, significava apenas o litoral sul daquilo que hoje chamamos Palestina.

 

Não é possível para a mentalidade gentílica apreciar plenamente o sentimento do judeu para com a terra. Para ele, significava o cenário divino para a execução da salvação. A terra do judaísmo era uma parte da religião do judaísmo. A terra por excelência, a dádiva especial de Iaveh ao Israel eleito. 

 

Os hebreus formaram a sua primeira monarquia constitucional por volta do ano 1000 a.C. O segundo rei dos judeus, Davi, estabeleceu Jerusalém como a capital do país e seu filho Salomão liderou a construção do templo de Jerusalém. 

 

Mais tarde, nos anos da ocupação helênica, Israel estava restrito ao distrito de Iahud (Judá), delimitado desde a época do império persa. A capital de Iahud era Jerusalém, mas também pertenciam ao distrito as cidades de Emaús, Belém, Mizpá, Betel e Lida. O distrito de Iahud era uma pálida lembrança da eretz Israel dos tempos de Davi e Salomão.

 

Durante a guerra dos macabeus, Israel foi reconquistando seu território histórico. E sob o governo de Alexandre Ianai (102 a 72 a.C.) voltou a ocupar o máximo de sua extensão territorial. Essa Palestina histórica mede, aproximadamente, 20 mil quilômetros quadrados de área. Ao norte, encontram-se os picos elevados do Líbano e do antilíbano. No leste e sul - durante séculos - estiveram as habitações nômades dos beduínos (árabes) e o reino dos Nabateus. Esses vizinhos eram sinônimos de rixas permanentes. É importante notar que o conceito de limite não era preciso. Não havia uma fronteira legalmente estabelecida, delimitando a Palestina ou separando seus vários distritos. Não podemos, por exemplo, falar com precisão de uma linha demarcatória entre a Judéia e a Samaria.

 

Os diferentes distritos eram separados por uma orla indefinida, com um ou vários quilômetros de largura, reconhecida como terra de ninguém. As “partes de Tiro e Sidom” (Mt 15:21) eram a orla de terra entre a Galileia e a Fenícia, ocupada tanto pelos judeus como pelos gentios. E as “partes de Cesaréia de Filipo” (Mt 16:13) eram as faixas dos domínios de Filipe.

 

A Judeia, tendo Jerusalém como centro, era o verdadeiro coração da “terra”. Contudo, havia em torno da Palestina uma larga faixa territorial que o judaísmo considerava potencial e legitimamente “a terra de Israel”, Embora realmente não fosse assim. A Palestina está localizada no grande distrito desértico da Ásia sudoeste e, por isso, seu clima deveria ser bem seco. Entretanto, sua vizinhança com o mar Mediterrâneo vem mitigar em grande parte a situação.

 

Ali, o ano na Palestina pode ser dividido em duas estações: a úmida e a seca. A estação úmida começa em outubro e a seca em abril. Daí segue que a maior parte da semeadura acontece nos meses de inverno, a fim de aproveitar as chuvas, que em média são de apenas 50 a 60 centímetros por ano.

 

Quanto à temperatura, o clima da Palestina é temperado. A neve é rara, mesmo na Galileia, exceto nos pontos mais altos. A temperatura média é de 30c, subindo raramente acima dos 42o c no verão, ou caindo abaixo dos 18o c.

 

A topografia da Palestina define-se através de quatro caracteres físicos distintos. São a costa mediterrânea; as montanhas do Líbano, com sua extensão para o sul; o vale do Jordão; e as montanhas do antilíbano, também se estendendo para o sul.

 

A costa da Palestina é regular. Em todo o seu comprimento, a única baía de tamanho algo apreciável é a do Aco (Acre). Ao sul do monte Carmelo, o contorno da costa é praticamente reto, não oferecendo um porto natural. Mas ao norte do Carmelo há numerosas projeções pequenas de terra, que foram amplamente utilizadas pelos fenícios. As montanhas do Líbano e do antilíbano são divisões de uma longa cordilheira, que se ramifica a partir das montanhas do Cáucaso. A cadeia do Líbano desce até a península sinaítica, com duas interrupções: uma na planície do Esdraelom; a outra no deserto de Parã. Do Hermon, os montes antilibaneses mergulham subitamente para a planície de Basã, erguendo-se em seguida para o planalto de Gileade e Moabe, ponto em que a cadeia entra gradativamente em declive, resolvendo-se nuns poucos montes esparsos, situados no centro do deserto arábico.

 

Entre as montanhas do Líbano e antilíbano fica a vasta depressão que forma o vale do Jordão. Tanto o rio, como o vale, principiam no ponto em que a volumosa cadeia se divide, no norte da Palestina. O rio Jordão desce 216 quilômetros em direção ao mar Morto. A partir daí, o rio desliza gradativamente para o golfo de Ácaba.

 

Esta é a “eretz”. A terra da promessa e bênçãos divinas, terra de sagradas tradições e de proezas santas. Uma terra pequena, mas peculiar. 

 

No ano 70 d.C., os romanos destruíram o templo. Tudo o que restou de pé foi sua muralha ocidental, conhecido por todos como muro das lamentações, considerado pelo judaísmo como o local mais sagrado do mundo. Sendo assim, pessoas de vários países, judeus e não-judeus, visitam o muro em Jerusalém. Elas escrevem bilhetes com pedidos a Deus e os colocam entre suas pedras. 

 

Além de destruir o templo de Jerusalém, os romanos expulsaram os judeus de sua terra, dando início à diáspora, que significa a dispersão dos judeus para outros países do mundo. Contudo, apesar de terem sido conquistados pelos romanos, muitos judeus continuaram a viver na região. 

 

Por volta do século IX, comunidades judaicas foram restabelecidas em Jerusalém e Tibérias. No século XI, a população judaica crescia nas cidades de Rafah, Gaza, Ashkelon, Jaffa e Caesarea. Durante o século XII, muitos judeus que viviam na região foram mortos pelas Cruzadas, mas nos séculos seguintes, a imigração para a terra continuou. Mais comunidades religiosas judaicas se fixaram em Jerusalém e em outras cidades.

 

Um dos pontos fundamentais da fé judaica é que todo o povo será liderado de volta à terra e que o templo será restabelecido. Muitos judeus acreditam que o Messias, que será enviado por Deus, irá liderar o retorno de todo o povo judeu à terra. 

 

Contudo, muitos judeus acreditavam que eles próprios deveriam iniciar o retorno à terra. A ideia de estabelecer um estado judeu moderno ganhou grande popularidade no século 19 na Europa. Em parte isso foi fruto do aparecimento do anti-semitismo, que levou ao surgimento de pogroms – massacres organizados de judeus – na Rússia e na Europa Oriental. 

 

Esta violência notória contra judeus europeus ocasionou imigrações maciças para a Terra de Israel. Em 1914, o número de imigrantes vindos da Rússia para a Palestina já alcançava os 100 mil imigrantes. Simultaneamente, muitos judeus vindos do Iêmen, Marrocos, Iraque e Turquia imigraram para a região. Quando os judeus começaram, em 1882, a imigrar para seu antigo território em grande escala, viviam por lá menos de 250.000 árabes. 

 

Um jornalista austríaco chamado Theodor Herzl levou adiante a ideia do sionismo, definido como o movimento nacional de libertação do povo judeu. O sionismo afirma que o povo judeu tem direito ao seu próprio estado, soberano e independente, e cresceu como reação ao anti-semitismo e influenciado pelo nacionalismo na Europa.

 

No início do século 20, viviam na Palestina sob domínio do Império Otomano cerca de 500 mil muçulmanos e 50 mil judeus. Após a Primeira Guerra (1914-1918), a Palestina passou para mãos britânicas, cujo chanceler, Arthur Balfour, declarou, em 1917, apoio à "instalação de um lar nacional judeu" no local.

 

A população judaica na Palestina chegou a cerca de 300 mil na década de 1930, causando reação violenta dos árabes. Pressionada, Londres restringiu a imigração judaica à região, mesmo com o avanço nazista na Europa.

 

Após o Holocausto, que matou cerca de seis milhões judeus europeus, o movimento sionista ganhou força. A ONU aprovou a partilha da região em dois Estados, um judeu e outro palestino, com Jerusalém sob administração internacional. Os sionistas aceitaram a partilha, rechaçada pelos líderes árabes.

 

Argumentos judaicos a favor da terra

 

1. A terra de Israel foi prometida por Deus aos judeus. Esta é a antiga terra dos patriarcas e profetas bíblicos. As principais orações judaicas falam sobre o retorno do povo à sua cidade sagrada. As orações judaicas são feitas em direção a Jerusalém. Durante as festas judaicas, as orações são encerradas recitando a frase “ano que vem em Jerusalém”. 2. Desde que os judeus foram exilados pelos romanos, a terra de Israel nunca foi estabelecida como um estado. A região foi colonizada por diversos impérios, mas nunca voltou a ser um estado soberano. Foram imigrantes judeus que desenvolveram a agricultura e construíram cidades para restabelecer um estado no seu lar histórico. 3. O estado de Israel foi criado pelas Nações Unidas em 1947. É um estado democrático, moderno e soberano. 4. A terra de Israel foi comprada ou conquistada por Israel em guerras de defesa, após o país ter sido atacado por seus vizinhos árabes. 5. Os árabes controlam 99.9% do território no Oriente Médio. Israel representa apenas um décimo de 1% da região. 6. A segurança do povo judeu apenas pode ser garantida através da existência de um estado judeu forte e soberano.

 

A questão palestina e as guerras na região

 

A questão palestina surgiu como resultado do projeto de instauração do Estado de Israel e da decisão da ONU de dividir a Palestina em dois Estados. O Estado judeu ocupa uma área de 10 mil km², incluindo a Galileia oriental, a faixa que vai de Haifa a Telaviv e a região do deserto do Neguev até o golfo de Ácaba. O Estado palestino, associado à Jordânia, ocupa uma área de 11,5 mil km², incluindo a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Jerusalém recebe status internacional. 

 

A guerra de 1948 liquidou a decisão da ONU, já que o acordo de armistício de 1949 resulta na anexação da Cisjordânia pela Jordânia e na ocupação da Faixa de Gaza pelo Egito. Nenhum passo posterior é dado para implementar a decisão da ONU. A constituição de um Estado que representasse os 1,3 milhão de palestinos vivendo na região vira letra morta. 

 

Ao mesmo tempo, organizações extremistas israelenses, estimuladas pela omissão do Estado de Israel, das grandes potências e da ONU, desencadeiam ações terroristas contra os palestinos, visando expulsá-los e deixar o território livre para colonos judeus. O massacre de todos os 254 habitantes de Deir Yassin, em 1948, é o sinal para o êxodo em massa. Cerca de 300 mil palestinos permanecem em Israel após o êxodo para os países árabes vizinhos, mas sua situação é de cidadãos de segunda classe.

 

Argumentos palestinos a favor da terra

 

1. Os árabes muçulmanos viveram no local por muitos anos. 2. O povo palestino tem o direito à independência nacional e à soberania sobre a terra onde viveram. 3. Jerusalém é a terceira cidade sagrada na religião muçulmana, local de elevação do profeta Maomé aos Céus. 4. O Oriente Médio é dominado por árabes. Outras religiões ou nacionalidades não pertencem à região. 5. Todos os territórios árabes que foram colonizados tornaram-se estados completamente independentes, exceto a Palestina. 6. Os palestinos tornaram-se refugiados. Outros países árabes nunca os aceitaram completamente e eles vivem freqüentemente em campos para refugiados tomados pela pobreza. 

 

Algumas considerações finais

 

O conflito entre israelenses e palestinos é acima de tudo uma questão geopolítica e religiosa. Acreditamos que acontecimentos históricos que levaram tanto ao estabelecimento do estado de Israel quanto ao conflito entre palestinos e israelenses envolvem questões geopolíticas e religiosas que exigem a desmilitarização do conflito e a formação de estados leigos e democráticos que possibilitem a convivência pacífica entre os povos, com plena liberdade de expressão religiosa para todas as nacionalidades envolvidas no conflito. 

 

Para isso, é necessário que as grandes potências, em parte responsáveis por esta guerra geopolítica e religiosa, parem de favorecer esta ou aquela parte, esta ou aquela etnia, esta ou aquela religião. Sabemos que tal proposta esbarra na questão do petróleo e no desejo de controle geopolítico da região.

 

De todas as maneiras, não haverá paz na região e muito menos fim do terrorismo se as democracias ocidentais não respeitarem o direito a autodeterminação dos povos, suas culturas e crenças.



lundi 3 mars 2025

A existência e o desafio / 80 anos

Ou, pede-se ser levantado!

 


"Há que ler o desejo: sem terra, sem pátria e sem objeto, ele vaga por um deserto, cujas trilhas conduzem o leitor à experiência limite mais-além do que aparece na imagem”.

 

Betty Fuks no seu livro Freud e a Judeidade, a vocação do exílio [Jorge Zahar Editor, 2000, pp. 127-133, conta que Freud, um dia depois do sepultamento do pai, sonhou com um cartaz onde estava escrito: “Pede-se fechar os olhos”. Mais tarde, em carta a Fliess, o pai da psicanálise falou dos sentidos subjetivos da frase: “era parte da minha autoanálise, minha reação diante da morte de meu pai, vale dizer, diante da perda mais terrível na vida de um homem”.

 

O fazer da existência tem a sua magia. Se alguém estivesse além do tempo, além do espaço, haveria de debruçar-se sobre esse fazer humano, que tem seu próprio tempo e seu próprio espaço. E que integra a existência de cada ser na história dos fazeres humanos. É por isso que Bereshit, o primeiro texto da bíblia hebraica começa por um ponto zero. O tempo zero vai de um mítico entardecer à meia-noite do novo espaço-tempo. Seria aquela decrescência quando o luminar deixasse de brilhar no espaço de forma gradual.

 

Por isso, dizemos que o tempo do não-ser não é uma fratura do tempo, mas é tempo da história. Qohelet, o sábio judeu, não contemplou a passagem do tempo, mas a vinda do tempo. O tempo nada ou pouco significa para aquele que está além do tempo, além do espaço: mas existe um sentido de tempo para o humano. A conclusão de Qohelet é que temos de ser no tempo para dar valor à eternidade que brota do nada do não-ser.

 

Não vou entrar nos detalhes das leituras que o próprio Freud fez da frase que apareceu em seu sonho. Diria ao leitor, apenas, que vale a pena ler "Freud e a Judeidade”.

 

Pretendo aqui levantar o desafio de Fuks: “há que ler o desejo: sem terra, sem pátria e sem objeto, ele vaga por um deserto, cujas trilhas conduzem o leitor à experiência limite mais-além do que aparece na imagem”. É a partir dessa hermenêutica, que vamos ler trechos do final da primeira carta de Paulo aos Coríntios, em tradução minha.

 

“... Foi sepultado e foi despertado do sono no terceiro dia, de acordo com o escrito”.

 

A frase acima e a continuação do texto é uma das mais importantes sobre a egeiró e anástasis, duas expressões gregas não substancialmente diferentes, que sintetizam a teologia da anástase dos cristãos do primeiro século. Mas tarde nós criamos a partir delas o conceito de ressurreição, peça fundante da teologia cristã. Tal conceito, ressurreição, criou um padrão de imagem que dificulta a experiência do ir além. Por isso, somos obrigados a fazer a desconstrução histórico-filosófica das expressões gregas.

 

As leituras da anástasis e egeiró remontam a Homero e ao grego antigo e com seus sentidos correlatos axanástasis, anhistémi e anazaó, que podem ser traduzidas por “ficar de pé”, “ser levantado” e “voltar à vida”, foram fundamentais para a construção do conceito cristão.

 

Mas foi com Platão, na literatura filosófica, que vamos encontrar um debate fundamental para a teologia da anástase, quando apresenta a alma enquanto semelhança do divino e o corpo enquanto semelhança do que é físico e temporário.

 

Platão, em Fédon, num diálogo entre Sócrates e seus amigos defendeu a ideia da imortalidade da alma. Sócrates foi condenado à morte por envenenamento, mas não teve medo, por crer ser a alma imortal. Para Platão, as almas possuem semelhanças com as formas, que são realidades eternas por trás do mundo físico, natural. Nesse sentido, para Platão, o corpo morre, mas a alma não. Ele parte do padrão cíclico da natureza, frio, quente, frio; noite, dia, noite. Assim, os mortos despertam numa nova vida depois da morte.

 

E dirá através de Sócrates em Fédon: “perguntemos a nós mesmos se acreditamos que a morte seja alguma coisa? (...) Que não será senão a separação entre a alma e o corpo? Morrer, então, consistirá em apartar-se da alma o corpo, ficando este reduzido a si mesmo e, por outro lado, em libertar-se do corpo a alma e isolar-se em si mesma? Ou será a morte outra coisa?”

 

Paulo conhecia a discussão filosófica grega acerca da anástase, já que isso se evidencia em seus escritos, principalmente no capítulo 15 de sua primeira carta aos coríntios, que estamos analisando. Mas, sem dúvida, construiu seu conceito também levando em conta a tradição judaica, acrescentando novidades ao debate. Existem referências ao ser trazido de volta à vida nas escrituras hebraico-judaicas. Mas a preocupação judaica era existencial. Mais do que remeter a um futuro distante, embora tais leituras estejam presentes na fala de alguns profetas, as histórias de anástase relacionadas aos profetas Elias e Eliseu falam do aqui e agora. Aliás, este último, mesmo de depois de morto, trouxe à vida um defunto que foi jogado sobre sua ossada. Ao tocar os ossos de Eliseu, o morto ficou vivo de novo e se levantou. Esse caminho será a novidade da compreensão cristã-helênica da anástase.

 

“Somos arautos de que o ungido foi levantado do meio dos mortos: como alguns podem dizer que não há o ser erguido dos mortos? E, se não há o despertar do sono da morte, também o ungido não foi levantado. E se o ungido não foi levantado, é inútil o que falamos e também inútil a nossa crença”.

 

Outras fontes de Paulo foram o profeta Daniel e literaturas helênicas do judaísmo, que trabalharam com a ideia de “despertar subitamente do sono”. Durante o período helênico ideias novas afloraram em meio à vida judaica, entre elas a esperança da recompensa escatológica apresentada nas profecias apocalípticas, como em 2Macabeus 7; Daniel 12:2-3 e o Escrito de Damasco 4:4, que remetem concretamente à anástase.

 

Assim, os elementos novos da compreensão paulina da anástase já aparecem delineados no profeta Daniel:

 

“Muitos dos que dormem no pó da terra despertarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente”.

 

Paulo, porém, somará um componente existencial à compreensão de Daniel, dirá que a morte, o maior de todos os odiados pela espécie humana, será privada de força.

 

“Caso o ungido só sirva para esta vida, somos as pessoas mais dignas de lástima. Mas o ungido foi levantado dentre os mortos e foi o primeiro fruto dos que foram colocados para dormir. Porque se a morte chegou pela humanidade, também o ungido dará à luz nova vida. Como morre a espécie, no ungido ela recebe vida. E isso acontece numa ordem: o ungido é o primeiro fruto, depois os que pertencem ao ungido, quando ele aparecer. E veremos o limite, quando o ungido entregar o reino a Deus e Pai, e tornar inoperante o império, os poderes e os exércitos. Convém que seja rei até derrubar os odiados por terra. O último odiado a ser privado de força é a morte, porque o resto já foi colocado debaixo de seus pés”.

 

É interessante que Paulo em seu texto cita o dramaturgo, filósofo e poeta grego Menandro (342-291 a. C.), no texto O Misantropo, que num verso disse: “as más companhias corrompem os bons costumes”.

 

“Que farão os que se batizam pelos mortos, se os mortos não são chamados de volta à vida? Por que se batizam então pelos mortos? Por que estamos a cada hora em perigo? Protesto contra a morte de cada dia. Eu me glorio por vocês, no ungido Iesous a quem pertencemos. Combati em Éfeso contra animais ferozes, mas o que significa isso, se os mortos não podem ressurgir? Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos. Mas não vamos nos enganar: as más companhias corrompem os bons costumes”.

 

Há uma correlação entre Platão e a tradição hebraico-judaica, que podemos ver nesta carta de Paulo. Mas olhar a existência através da leitura significa, como afirma Fuks, que você leitor desconstrói, pois ler não é repetir o texto: é um modo de criação e de transformação. Por isso, digo que ler é um ato de anástase ou, se você preferir, de ressurreição. E Paulo trabalhou de forma brilhante tal idéia, tanto nas suas leituras e estudos, como na reconstrução do próprio conceito.

 

Na sequência da tradição hebraico-judaica, ou como diz Fuks, “os antigos hebreus não estavam trabalhados, como nós, pela necessidade de abstração, de síntese e de precisão na análise conceitual do real, herança dos gregos”. Assim, Paulo está preocupado com a existência, com a vida, com o corpo.

 

“Mas alguém pode perguntar: como os mortos são trazidos à vida? E com que corpo? Estúpido! O que se semeia não tem vida, está morto. E, quando se semeia, não é semeado o corpo que há de nascer, mas o grão, como de trigo ou qualquer outra semente. Deus dá o corpo como quiser, e a cada semente o corpo que deve ter. Nem toda a carne é uma mesma carne, há carne humana, de animais terrestres, de peixes, de aves. E há corpos celestes e corpos terrestres, uma é a dignidade dos celestes e outra a dos terrestres. Diferente é o esplendor do sol do esplendor da lua e das estrelas. Porque uma estrela difere em brilho de outra estrela. Assim também o ser levantado dentre os mortos. Semeia-se o corpo perecível; levantará sem corrupção. Semeia-se na desgraça, será levantado em excelência. Semeia-se em debilidade, será erguido vigoroso. Semeia-se corpo controlado pela psiquê, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo controlado pela psiquê, também há corpo espiritual”.

 

Para Paulo, a anástase leva à uma teologia da vida que nasce do corpo. Mas, não é simplesmente ter de volta a vida do corpo material, tanto que em certo momento ele nos diz que “deveremos ser a imagem do homem do céu”.

 

“Assim também está escrito: o primeiro ser humano, terrestre, foi feito ser-que-deseja, o futuro humano será um espírito-cheio-de-vida. Mas o que não é espiritual vem primeiro, é o natural, depois vem o espiritual. O primeiro ser humano, da terra, é terreno; o segundo humano, a quem pertencemos, é celestial. Como é o da terra, assim são os terrestres. E como é o celeste, assim são os celestiais. E, como somos a imagem do terreno, assim seremos também a imagem do celestial”.

 

O pensamento grego, platônico, está presente na anástase paulina, já que a eternidade não é construída em cima da carne e do sangue. Vemos aqui a dualidade entre a realidade física e o mundo das formas. O dualismo metafísico de Paulo admite aqui duas substâncias que regem o ser humano, no mundo natural, a psiquê, e no mundo pós-anástase, o pneuma. E dois princípios, nesse sentido bem próximos a Platão, são o bem e o mal.

 

“E agora digo que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a eternidade. Digo um mistério: nem todos vamos adormecer, mas seremos transformados. Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta, porque a trombeta soará, os mortos serão levantados incorruptíveis, e seremos transformados. Convém que o corrompido seja tornado eterno, e o que é mortal seja tornado imortal. E, quando o que é corruptível se vestir de eternidade, e o que é mortal for transformado em imortal, então será cumprida a palavra que está escrita: a morte foi conquistada definitivamente. Onde está, ó morte, a tua picada? Onde está, ó inferno, a tua vitória? Ora, a picada da morte é o desviar-se do caminho da honra e da justiça, e a força do erro é a lei. Mas a alegria que Deus dá é a vitória por Iesous, o ungido, a quem pertencemos. Sejam firmes e persistentes, abundantes no serviço daquele a quem pertencemos, conscientes de que o trabalho árduo e duro não é desprezado por aquele a quem pertencemos”.

 

Voltemos à análise do conceito anástase no capítulo 15 da primeira carta de Paulo aos Coríntios, tomando como ponto de partida o desafio de Fuks: “há que ler o desejo: sem terra, sem pátria e sem objeto, ele vaga por um deserto, cujas trilhas conduzem o leitor à experiência limite mais-além do que aparece na imagem”.

 

Paulo traduziu para as novas gerações o desejo judaico-helênico, existencial, da anástase: “Pede-se ser levantado”! Esta é uma das ideias-força do cristianismo, todos sonhamos ressurgir!

 

Jorge Pinheiro

São Paulo, 04.03.2025


mercredi 19 février 2025

Paulo, missionário

O paradigma missionário do apóstolo Paulo é o modelo que reflete sua abordagem estratégica, teológica e prática para a proclamação do evangelho. 

Paulo é reconhecido como um dos maiores missionários da história cristã, e seu paradigma pode ser compreendido por meio de vários aspectos.

1. Evangelho cristocêntrico

A missão de Paulo era centrada em Cristo. Ele enfatizou a mensagem do evangelho como a boa-nova da morte e ressurreição de Jesus, que traz salvação para todos os povos (1 Coríntios 15:3-4). Não se preocupava em divulgar uma ideologia, mas uma pessoa: Jesus Cristo.

A missão do apóstolo Paulo era cristocêntrica porque o centro de sua pregação, ensino e vida era Jesus Cristo. 

A. O foco era a pessoa de Jesus

Paulo pregava que Jesus era o Messias prometido, o Filho de Deus, que morreu e ressuscitou para a salvação da humanidade (1 Coríntios 15:3-4). Ele enfatizou que a salvação só era possível por meio da fé em Cristo (Romanos 10:9).

B. A cruz de Cristo.

Paulo colocou a cruz de Jesus no centro de sua mensagem, afirmando que nela estava o poder de Deus para a salvação (1 Coríntios 1:18). Ele via a morte de Jesus como o sacrifício definitivo pelos pecados da humanidade.

C. A vida em Cristo. 

Paulo ensinava que os cristãos deveriam viver "em Cristo", ou seja, em comunhão com Ele, seguindo Seus ensinamentos e exemplo (Gálatas 2:20). Ele via a vida cristã como uma transformação que ocorre por meio da união com Cristo.

Paulo via Jesus como o centro da história da salvação, da vida cristã e da mensagem do evangelho que ele pregava.

2. Chamado e comissão. 
 
Paulo acreditava que sua missão era um chamado divino, que ele foi comissionado por Cristo durante sua experiência na estrada de Damasco (Atos 9:15-16). E via a si mesmo como "apóstolo dos gentios" (Romanos 11:13), enviado para levar o evangelho além do contexto judaico.

3. Universalidade do Evangelho

Um dos pilares do paradigma da missão de Paulo era a verdade de que o evangelho era para todos, judeus e gentios, sem distinção (Gálatas 3:28). Desafiava barreiras culturais, religiosas e sociais, adaptando sua abordagem sem comprometer a mensagem central (1 Coríntios 9:19-23).

4. Plantação de Igrejas

Paulo focava não apenas em evangelizar, mas em estabelecer comunidades de fé. Ele plantou lojas em cidades do Império Romano, como Corinto, Éfeso e Filipos, que se tornaram centros de irradiação do evangelho.

A. A expansão do evangelho.

A missão de Paulo era levar o evangelho de Cristo aos gentios (não judeus), mostrando que a salvação em Jesus era universal (Efésios 3:6-8). Ele passará extensivamente, fundando compras e fortalecendo a fé em Cristo.

B. Uma teologia centrada em Cristo. 

Nas cartas de Paulo, ele desenvolve uma teologia cristocêntrica, abordando temas como a graça, a justificação pela fé, a ressurreição e o retorno de Cristo. Tudo isso gira em torno da pessoa e obra de Jesus.

4. Trabalho em equipe

Paulo não trabalhou sozinho. Formou parcerias com outros missionários, como Barnabé, Timóteo, Tito, Priscila e Áquila. Também valorizou as contribuições das comunidades locais, que apoiaram suas viagens e pregação com recursos e orações.

5. Flexibilidade Cultural
Embora Paulo fosse judeu, ele se adaptou às culturas locais para se comunicar de forma mais eficaz. Respeitava os costumes dos povos que evangelizavam, desde que não contradissessem os princípios do evangelho. Um exemplo disso foi seu discurso no Areópago, em Atenas (Atos 17:22-31), onde usou elementos da cultura grega para apresentar uma mensagem de Cristo.

A. Sofrimento e Perseverança. 

Paulo entendeu que a missão envolvia sacrifícios. Enfrentou perseguições, prisões e privações, mas comprometeu-se com o evangelho (2 Coríntios 11:23-28). Ele via o sofrimento como parte de sua identificação com Cristo e do avanço do reino de Deus.

B. Ênfase na Doutrina e no Comunhão

Paulo investia no ensino e discipulado das comunidades que fundava. Escrevia cartas para corrigir doutrinas, fortalecer a fé  e promover a unidade entre os crentes. Para ele, uma igreja saudável era fundamental para a continuidade da missão.

C. Esperança Escatológica.  

A missão de Paulo era alimentada pela sua expectativa da volta de Cristo. Ele acreditava que o tempo era curto e, por isso, pedia que as pessoas se reconciliassem com Deus.

O paradigma missionário de Paulo continua sendo uma inspiração para a obra missionária contemporânea, destacando a centralidade de Cristo, a inclusão de todas as culturas e a importância de formar comunidades enraizadas na fé e na prática cristã.

Uma ideia rápida de quem foi Paulo.

O apóstolo Paulo, ou seja, Saulo de Tarso, foi uma figura central no Cristianismo primitivo.

Nascido em Tarso, na região da Cilícia (atualmente parte da Turquia), Paulo era judeu da tribo de Benjamim e cidadão romano, o que lhe conferia direitos e privilégios importantes. Foi criado como fariseu e atuoso como perseguidor dos cristãos.

Paulo se converteu ao Cristianismo enquanto viajava para Damasco, com a intenção de prender seguidores de Jesus. Segundo o relato no livro de Atos dos Apóstolos, ele teve uma visão de Jesus ressuscitado, que lhe perguntou: "Saulo, Saulo, por que eu persegue?". Após esse evento, Paulo ficou temporariamente cego, mas recuperou a visão após ser curado por Ananias, um discípulo cristão. A partir daí, tornou-se missão.

Paulo realizou diversas viagens missionárias pela Ásia Menor, Grécia e Roma, pregando a mensagem de Jesus Cristo tanto para judeus quanto para gentios (não judeus). Fundou comunidades cristãs em várias cidades e escreveu cartas (epístolas) que compõem parte do Novo Testamento, como Romanos, Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses e Tessalonicenses. Estas cartas são fundamentais para a teologia cristã e abordam temas como a fé, a salvação pela graça e a unidade da Igreja.

Paulo foi preso várias vezes devido à sua pregação. Segundo a tradição cristã, ele foi martirizado em Roma por volta do ano 67 dC, durante o reinado do imperador Nero. Como cidadão romano, teria sido decapitado em vez de crucificado.

Paulo é reconhecido como "apóstolo dos gentios" por sua contribuição em levar o Cristianismo além do mundo judaico. Sua teologia e escritos moldaram a fé cristã.


mardi 18 février 2025

Venha saciar sua sede

Isaías 55 é um dos capítulos mais belos e inspiradores do livro de Isaías, trazendo uma mensagem de graça, convite e restauração. Ele faz parte da seção conhecida como "Segundo Isaías" (capítulos 40–55), que trata do consolo e da redenção do povo de Israel após o exílio babilônico.


  1. Convite à Graça de Deus (vv. 1-5)


«O Senhor Deus diz: “Escutem, os que têm sede: venham beber água! Venham, os que não têm dinheiro: comprem comida e comam! Venham e comprem leite e vinho, que tudo é de graça. Por que vocês gastam dinheiro com o que não é comida? Por que gastam o seu salário com coisas que não matam a fome? Se ouvirem e fizerem o que eu ordeno, vocês comerão do melhor alimento, terão comidas gostosas. Escutem-me e venham a mim, prestem atenção e terão vida nova. Eu farei uma aliança eterna com vocês e lhes darei as bênçãos que prometi a Davi. Eu fiz Davi chefe e líder dos povos, e por meio dele viram o meu poder. E agora vocês darão ordens a povos estrangeiros, povos que vocês não conheciam, e eles virão correndo para obedecer-lhes. Isso acontecerá porque eu, o Senhor, seu Deus, o Santo Deus de Israel, tenho dado poder e honra a vocês.”»

Isaías 55:1-5


O capítulo começa com um chamado aberto: "Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas". Aqui, Deus oferece gratuitamente aquilo que sacia verdadeiramente: água, pão e vinho, símbolos de vida e satisfação espiritual.


A salvação não pode ser comprada por dinheiro ou esforço humano; é um dom gratuito de Deus.


2. Chamado ao Arrependimento e ao Caminho de Deus (vv. 6-9)


«Procurem a ajuda de Deus enquanto podem achá-lo; orem ao Senhor enquanto ele está perto. Que as pessoas perversas mudem a sua maneira de viver e abandonem os seus maus pensamentos! Voltem para o Senhor, nosso Deus, pois ele tem compaixão e perdoa completamente. O Senhor Deus diz: “Os meus pensamentos não são como os seus pensamentos, e eu não ajo como vocês. Assim como o céu está muito acima da terra, assim os meus pensamentos e as minhas ações estão muito acima dos seus.»

Isaías 55:6-9


Deus convida Seu povo a buscá-Lo enquanto Ele está acessível e a abandonar seus caminhos maus.


A diferença entre os pensamentos de Deus e os do homem é enfatizada: "Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos". Isso destaca a soberania e a grandeza divina.


3. A Eficácia da Palavra de Deus (vv. 10-11)


«A chuva e a neve caem do céu e não voltam até que tenham regado a terra, fazendo as plantas brotarem, crescerem e produzirem sementes para serem plantadas e darem alimento para as pessoas. Assim também é a minha palavra: ela não volta para mim sem nada, mas faz o que me agrada fazer e realiza tudo o que eu prometo.»

Isaías 55:10-11 NTLH


Assim como a chuva e a neve cumprem seu propósito na terra, a palavra de Deus sempre se cumpre e não volta vazia.


Este trecho enfatiza a fidelidade de Deus em cumprir Suas promessas.


4. A Promessa de Alegria e Restauração (vv. 12-13)


«“Vocês sairão alegres da Babilônia, serão guiados em paz para a sua terra. As montanhas e os morros cantarão de alegria; todas as árvores baterão palmas. Onde agora só há espinheiros crescerão ciprestes, murtas aparecerão onde agora só cresce o mato. Isso será para vocês uma testemunha daquilo que eu fiz, será um sinal eterno, que nunca desaparecerá.”»

Isaías 55:12-13 NTLH


O capítulo termina com uma visão de júbilo e renovação da criação. O povo sairá em alegria, e até a natureza celebrará essa redenção.


Em vez de espinhos, crescerão árvores frutíferas, um símbolo da restauração completa que Deus traz.


Jesus mata a sua sede


Isaías 55 é um convite para todos que têm sede espiritual. Ele ressalta que Deus está acessível, que Seu plano é superior ao nosso e que Sua palavra tem poder transformador. A mensagem final é de esperança e restauração, apontando para a plenitude da salvação em Cristo.




jeudi 13 février 2025

A fé e a força dos curadores medievais

Por que a Igreja Protestante Deve Debruçar-se Sobre os Curadores Medievais?

A tradição protestante, nascida no século XVI com a Reforma, enfatiza a autoridade das Escrituras, a justificação pela fé e o sacerdócio universal dos crentes. No entanto, em sua ênfase na ruptura com a Igreja Católica Romana, muitas vezes negligenciou aspectos da espiritualidade cristã anterior à Reforma, incluindo a rica tradição dos curadores medievais. Essas figuras, que uniam fé, conhecimento médico rudimentar e práticas de cuidado comunitário, oferecem insights valiosos para a igreja contemporânea. Examinar sua obra pode enriquecer a teologia protestante em três aspectos fundamentais: a recuperação da dimensão terapêutica da fé, a valorização da ciência e da medicina como dons divinos e o fortalecimento do papel pastoral na assistência aos necessitados.

1. A Dimensão Terapêutica da Fé

A Bíblia está repleta de narrativas em que a cura e o cuidado dos enfermos são sinais do Reino de Deus. Jesus curava os doentes não apenas como um ato de compaixão, mas como manifestação da restauração integral do ser humano. A Igreja Primitiva seguiu esse exemplo, e os curadores medievais, especialmente monges e eremitas, continuaram essa tradição, combinando oração, conhecimento de ervas medicinais e assistência social.

O protestantismo, ao longo da história, enfatizou a pregação e a salvação espiritual, mas em alguns contextos deixou de lado o ministério da cura como uma expressão concreta do Evangelho. No entanto, um olhar mais atento aos curadores medievais pode lembrar a Igreja Protestante de que a fé cristã não se limita à esfera espiritual, mas se estende ao cuidado físico e emocional dos indivíduos. Redescobrir essa tradição pode fortalecer o ministério de misericórdia nas igrejas locais e inspirar novas abordagens pastorais para lidar com o sofrimento humano.

2. A Valorização da Ciência e da Medicina como Dons Divinos

Embora o protestantismo tenha promovido a educação e o progresso científico, algumas correntes mais fundamentalistas tendem a ver a medicina com desconfiança, promovendo a ideia de que a fé deve ser suficiente para a cura. Contudo, os curadores medievais, mesmo em um contexto de conhecimento médico limitado, não viam oposição entre fé e ciência. Pelo contrário, acreditavam que a criação de Deus oferecia recursos naturais para a cura e que o conhecimento humano deveria ser empregado para aliviar o sofrimento.

Ao estudar essas figuras, a Igreja Protestante pode reafirmar uma visão equilibrada da relação entre fé e medicina. A ciência médica não deve ser vista como concorrente da fé, mas como um instrumento divino para o bem-estar humano. Esse entendimento pode fortalecer o envolvimento das igrejas com hospitais, clínicas comunitárias e iniciativas de saúde pública, promovendo uma abordagem mais holística da missão cristã.

3. O Fortalecimento do Papel Pastoral na Assistência aos Necessitados

Os curadores medievais desempenhavam um papel crucial na assistência aos marginalizados. Muitos atendiam os pobres, viajantes e doentes rejeitados pela sociedade. Essa prática ressoa profundamente com o chamado bíblico para cuidar dos necessitados e se alinha com a tradição protestante de engajamento social, vista em movimentos como o Pietismo e o Evangelicalismo social.

Contudo, em tempos de crescente individualismo e desvalorização do serviço comunitário, a Igreja Protestante pode aprender com esses exemplos históricos para revitalizar seu compromisso com o cuidado pastoral. Isso inclui não apenas a oração e o aconselhamento espiritual, mas também o envolvimento ativo em obras sociais, clínicas missionárias e projetos de assistência à saúde.

Conclusão

O estudo dos curadores medievais oferece à Igreja Protestante uma oportunidade de reencontrar dimensões importantes da fé cristã que podem fortalecer sua missão no mundo contemporâneo. A redescoberta da dimensão terapêutica da fé, a valorização da ciência e da medicina como dons divinos e o fortalecimento do cuidado pastoral são lições que podem enriquecer a prática protestante hoje. Longe de ser um exercício meramente acadêmico, essa reflexão pode levar a uma igreja mais engajada, sensível e preparada para lidar com o sofrimento humano de maneira integral.

-- Com o apoio de minha IA ChatGPT. São Paulo, 12 fevereiro de 2025.

De Nelson Bavaresco, pinto e escultor, coleção particular do mesmo. Se você quiser adquirir, entre em contato com ele.