A alma da unidade espiritual na comunidade é a religião. O fracionamento espiritual característico de determinadas épocas traduz fracionamento econômico, distanciamento e choque entre classes. E naquelas épocas em que temos um processo cultural de unidade temos também uma base espiritual de unidade e solidariedade social e econômica.
Nesse sentido, há um processo de desenvolvimento que se realiza de forma desigual na história, mas que combina mudanças espirituais e transformações econômicas e sociais.
Seja qual for a opinião ética sobre as relações entre cristianismo, capitalismo e movimentos politicamente divergentes, um fato deve ser ressaltado: é possível e necessário para o cristianismo manter um relacionamento com todas as formações econômicas e sociais.
E se o cristianismo não somente pode, mas deve manter um relacionamento com o pensamento político divergente, devemos nos perguntar se o contrário da premissa é verdadeiro: podem e devem os movimentos com propostas políticas divergentes ter um relacionamento construtivo com o cristianismo?
Quanto à parte das organizações que se opõem ao capitalismo financeiro é necessário ver a atitude que têm em relação ao evangelicalismo protestante e também em relação às igrejas de hierarquia estruturada. A história das igrejas, tanto no que se refere ao catolicismo, como em relação ao protestantismo, é passível de críticas. Suas opções e alianças, ao longo da história, fizeram com que se afastassem e dificultassem seu relacionamento com parte da população excluída de bens e possibilidades.
Tal situação potencializou a crítica da religião instituída. Mas, ao contrário do que parece, o ateísmo e o materialismo são heranças da cultura burguesa crítica e cética. Essas heranças foram adotadas como oposição ao caminho escolhido pelas igrejas européias nos séculos XVIII e XIX. A idéia era extirpar a cosmovisão cristã, medieval e autocrática, a fim de abrir o caminho para um novo mundo, justo e digno.
Embora haja razões históricas para criticar as igrejas, os movimentos de pensamento divergente, à partir da revolução francesa, erraram ao negar a base solidária e comunitária do ideal cristão, tal como pode ser percebida nos Evangelhos. Tal herança errática ainda permanece em movimentos políticos divergentes e está presente em alguns agrupamentos que se mostram hostis ao cristianismo. Hostilidade esta que fere a ética do solidarismo que, na verdade, sempre esteve próxima às propostas das comunidades cristãs dos primeiros séculos.
Assim, se movimentos de pensamento divergente não traduzem oposição essencial com o cristianismo e com as comunidades de fé que vivem o princípio protestante da justiça, os cristãos podem ter uma atitude positiva em relação a esses movimentos.
Aqui, atitude positiva é a realização dos princípios da solidariedade e da ação cristã a favor da justiça, que entende a necessidade de eliminar as condições que geram miséria e exclusão. Tal atitude traduz a urgência de combater os fundamentos do egoísmo econômico do capitalismo financeiro e de ações para a construção de uma ordem social que, sem deixar de ser globalizada, inclua periféricos e excluídos. Isto porque pensar na contra-corrente do que aí está não é só tarefa de trabalhadores fabris, mas necessidade ética que deve traduzir anseios e esperanças dos mais variados setores da sociedade.
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