jeudi 1 mars 2012

É possível um Irã nuclear, pacífico?


Irã, um perigo para a Europa?
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Por Jorge Pinheiro, de Paris



Enquanto o mundo discute a legitimidade e a eficácia das sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU, cresce a pergunta: é possível crer num Irã nuclear para fins meramente pacíficos? Aqui ninguém acredita nisso.

Hoje, podemos ver que a comunidade europeia, apesar de algumas abstenções naturais frente às pressões norte-americanas, procura um caminho próprio nas relações com o Irã. E, acompanhando a mídia, deduz-se que a comunidade levanta uma pergunta simples e objetiva: o que devemos pensar da atitude do governo iraniano, que tem a audácia de desafiar a comunidade internacional? E, por outro lado, a comunidade europeia tem o direito de intervir na política interna do Irã?

Essa é uma questão presente na imprensa francesa, que questiona seus leitores: devemos intervir militarmente no Irã? Será que a atual situação não torna a intervenção militar muito arriscada? E, em caso de intervenção militar, não nos arriscamos a um novo choque do petróleo?

Está claro que a intervenção militar no Irã está na pauta das conversações dos governos europeus. Mas, estes têm bem presente que as operações militares no Iraque não foram exatamente um sucesso, assim como no Afeganistão não levaram à captura de Bin Laden. O resultado dessas operações trouxe o terrorismo para dentro das fronteiras da comunidade e, se é que isso é uma vitória, permitiu aos Estados Unidos estabelecer um governo títere no Iraque. Mas, de forma nenhuma a Europa se viu favorecida.



Por isso, a imprensa europeia se questiona se não seria melhor, para resolver os problemas da guerra civil no Iraque e da própria questão palestina, ajudar a proporcionar uma capital digna desse nome para o povo palestino.

Da mesma maneira, perguntam até que ponto a intervenção no Iraque serviu para levar o Irã a buscar o caminho nuclear. Afinal, assistiu seu inimigo e ex-aliado dos Estados Unidos ser abandonado, execrado e invadido. Caso pensemos na relação de confronto entre o Irã e o Iraque é de notar que antes da guerra, e mesmo durante ela, nenhum dos dois países teve condições de acesso a armas nucleares. E, agora, destruído militarmente, o Iraque não se coloca como perigo para o Irã. Na verdade, após a saída das tropas norte-americanas do Iraque, a questão militar Irã-Iraque se resolverá no campo religioso: a maioria xiita ocupará o governo central e, mais ainda, os governos locais. Ou seja, o que as armas não conseguiram, os xiitas farão: dar-se-á uma aproximação ao governo iraniano.

Donde a pergunta: então, para que o governo iraniano deseja fazer o caminho nuclear? Por sua relação com o mundo muçulmano não é, pois já é líder aceito e temido. O certo é que a comunidade europeia não se recorda com alegria dos mísseis Scud usados por Sadam Hussein contra Israel. Nesse sentido, os pronunciamentos contra Israel e por sua destruição, presentes em discursos e na propaganda iraniana, dificulta profundamente toda e qualquer negociação. Afinal, ameaçar com armas nucleares soa como escalada terrorista, ainda que seja apenas propaganda ou discurso eleitoral. Mas quem garante? Ou como disse o deputado socialista Pierre Schapira: “Como não fazer ligação entre as declarações do presidente Ahmadinejad, que falou em varrer Israel do mapa e a decisão do Irã de retomar as atividades de conversão de urânio? Esta coincidência pode ser acidental? Eu acho que não''. 

Por isso, a comunidade europeia se encontra numa situação difícil: fará tudo para evitar uma intervenção militar, mas não deseja ver um Irã nuclear na região. Daí ter descartado as propostas turco-brasileiras e aderido de forma algo tímida às sanções norte-americanas. No fundo, a comunidade pensa em isolar o Irã, o que evitaria a intervenção militar. Depois de neutralizado o governo do presidente Ahmadinejad – será que isso é possível? –, seria o momento de concentrar esforços sobre a questão palestina. Ou seja, ajudar os palestinos, econômica e politicamente – e aí entra a dívida política de Israel à Europa –, a construir “uma capital digna desse nome”. Mas sabemos que a realidade não necessariamente segue projetos geopolíticos e estratégicos, ainda que elaborados por ótimas cabeças pensantes.

Cabe então o questionamento: é possível crer num Irã nuclear para fins meramente pacíficos? Aqui ninguém acredita nisso.

16/6/2010

Fonte: ViaPolítica/O autor

Jorge Pinheiro nasceu no Rio de Janeiro em 1945, foi dirigente estudantil secundarista e universitário. Ligou-se ao Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), de inspiração brizolista. Exilou-se no Chile, onde foi preso após a queda do governo de Salvador Allende. Ligou-se às correntes trotskistas internacionais, viveu em Portugal e, clandestinamente, no Brasil, sob a ditadura. Foi processado pelo regime militar e, em 1979, beneficiado pela Lei da Anistia. Exerceu o jornalismo na revistaManchete e no jornal Folha de S. Paulo, e foi um dos editores do jornal alternativo Versus, em sua última etapa, em São Paulo. É cientista da religião e teólogo. É doutor e mestre pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Metodista de São Paulo. 

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