jeudi 18 février 2016

Religião, uma construção maior do viver humano (I)

"Deus! Ó Deus! Onde estás que não me respondes? 
Em que mundo, em qu'estrela, tu t'escondes, 
embuçado nos céus?" Castro Alves.


Jorge Pinheiro, PhD

A vida se vive, vivendo. O ser humano, a principio, se constrói no aprendizado do viver. E ele faz isso a milênios. O que significa que todos humanos vivemos mais ou menos de forma parecida, mesmo se levarmos em conta as diferenças culturais e de épocas.

Ora, então por que a religião cumpre um papel tão importante? Por que nesse aprendizado do viver o ser humano busca o apoio da religião? 

Em primeiro lugar, e essa é a matriz fundante da religião, porque existe a morte. E a morte é a construtora primeira, o alicerce da busca do transcendente no coração humano. Logicamente, e todos intuímos isso, a morte nos coloca diante de perguntas que o dia-a-dia  da construção do viver não nos fornece informações. E tais perguntas são mais ou menos essas: e depois dela? nunca mais verei os meus queridos? puxa, foi tão difícil aqui, será que não existe um outro lado? onde eu possa ser mais feliz? E cada um de nós pode acrescentar uma pergunta, bem nossa, que aponta para o transcendente. Fazer isso, faz parte da construção do viver, mesmo quando não haja respostas ou mesmo quando respondemos a tais perguntas com um sonoro não. Não há depois dela, não verei os meus queridos, não existe outro lado, e assim sucessivamente.





Navio Negreiro de Castro Alves


Mas o certo é que o ser humano no correr da história preferiu, embora sempre tenha havido exceções, crer na possibilidade do sim para o desafio da morte e dos questionamentos que construímos a partir dela.

O importante aqui é compreender duas coisas, a vida se constrói na própria construção dela, e a religião tem como primeiro fundamento a morte, que é a matriz de todos os porquês das religiões.

Quando compreendemos isso, começamos a entender o papel primeiro, fundamental, da religião, nos dar uma espécie de alívio, de esperança, diante do imponderável. E a religião vai dizer sim, a vida continua depois. Cronologicamente, a ideia de deus e de deuses não nasce antes, mas nesse processo, já que deus e deuses não morrem, ao menos como nós, e podem transitar nos dois mundos. Ora, a morte é, em última instância, a criadora dos deuses. 

Para você entender este processo, sem ferir suas crenças, tem que se lembrar que o homo sapiens tem cerca de cem mil anos, e que as nossas religiões diante disso são novas. As mais antigas tem cerca de três mil anos. Ou seja, nessa novidade em relação aos anos de estrada do homo sapiens, construíram como metalinguagem leituras da morte, dos deuses e da vida. Ou seja, foram construindo o caminhar do transcendente. E logicamente modificaram a ordem de apresentação do caminhar transcendente -- deus/ deuses, vida, morte -- morte, vida, deus/deuses.

Esse processo levou à construção cultural das grandes religiões mundiais, dos seus continuados fracionamentos, fruto da necessidade de atualizar metalinguagem, e também está presente em todas as seitas que conhecemos. 


De acordo com The World Factbook, elaborado pela CIA com dados de 2012, os sistemas religiosos com maior número de adeptos em relação a população mundial são: cristianismo (28%); islamismo (22%); hinduísmo (15%); budismo (8,5%); pessoas sem religião (12%) e outros (14,5%). Estudos conduzidos pela Pew Research Center em 2009 mostram que, geralmente, nações mais pobres têm maior proporção de cidadãos que consideram a religião muito importante do que em nações ricas, com exceção aos Estados Unidos e Kuwait. A irreligiosidade e o ateísmo respondem por 14,27% e 3,97% da população mundial, seguidos pelas religiões étnicas indígenas.


"Diz o tolo em seu coração: 'Não há Deus! ' Corromperam-se e cometeram injustiças detestáveis. Não há ninguém que faça o bem". Salmo de Davi 

Este primeiro texto tem como finalidade levar a outros, que fluem naturalmente das questões colocadas aqui. Um forte abraço, Jorge Pinheiro.

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