A morte e a construção da espiritualidade
Duas ou três palavras
Jorge Pinheiro, PhD
Em sua carta aos Romanos (5.12), o apóstolo Paulo
explicita esse processo de construção do humano ao afirmar que a hamartia entrou na vida humana por um
primeiro e com a hamartia, a consciência da morte. Ora, hamartia era uma
expressão militar dos gregos que se referia ao ato do arqueiro errar o alvo,
quer no treinamento, quer na batalha. Paulo utiliza a expressão no sentido de
que vivemos sempre sob a possibilidade de errar os alvos existenciais. Por
isso, a compreensão de hamartia está sempre ligada à ausência, separação,
alienação, já que implica em distanciamento do objetivo existencial. Para um
vôo antropológico sugiro o livro de Philippe Ariès, já traduzido para
o português, O Homem diante da Morte.
Errar o alvo, ou seja, hamartia ou peccatu, reforça
este estado da existência, que chamamos alienação, e nos leva à origem da
consciência humana. E Paulo fala, então, da consciência matricial da morte.
Para o apóstolo, o estado de ausência, separação e alienação na existência
produz esta consciência matricial, a consciência da morte.
A partir da consciência da morte temos a consciência
do divino, a consciência da diversidade, já que não somos bichos e, por
extensão, não somos apenas natureza, a consciência de que podemos escolher, e a
consciência de que coisas e ações podem ser boas ou não. Dessa maneira,
hamartia implica em conseqüências: necessidades diante da lei, daquilo que é ou
está frente à existência, e possibilidades diante da liberdade, daquilo que não
existe, mas pode ser criado.
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