dimanche 13 octobre 2024

Profetizando

 Ano novo, vida velha ... profetizando



O ano de 2025 surge carregado de esperanças. E de insegurança também, de um receio indefinido. O que nos trará o ano novo? Há poucos meses, com as eleições, os brasileiros sonharam e vibraram, na verdade, nem todos, mas de todas as maneiras os sonhos de fim de ano pareciam ao alcance das mãos. 


Mas... e agora? Agora, olhamos 2025 e nos sentimos tão velhos, como se a vida já tivesse sido vivida por inteiro, escoada nos dedos do tempo. 


Cada um de nós deveria viver intensamente os dias que temos. Agir no presente! Arregimentar forças para construir o futuro. Colocar mãos à obra! Transformar a vontade interior, exteriorizar pensamentos, criar palavras, produzir ações, já que o pensamento, as palavras e as ações são os tijolos com que construímos o futuro. 


Mas estamos cansados: seres velhos num ano novo! Será isso possível? 


Sim, infelizmente, é possível. Por isso, um seguidor de Cristo, Paulo, o apóstolo, nos dá um conselho: abandone a velha natureza, que faz com que você viva uma vida de alvos errados, vida que está sendo destruída por desejos enganosos. 


Vida traduz uma realidade, a realidade das necessidades fundamentais e imprescindíveis da condição humana, que ao não serem preenchidas por Deus produz anti-vida: alienação, individualismo, descrença, ignorância, idolatria.


Um sorriso para anjos


Não sei porque meu tio Ary sempre me lembrou Gregório Fuentes, o  pescador que inspirou Ernest Hemingway, quando escreveu O  Velho e o Mar. Gregório foi capitão do barco de Hemingway durante os trinta anos em que o escritor viveu em Cuba.

 

Seriam os olhos, a sabedoria, a tenacidade? Ou seriam as rugas? Para Hemingway "tudo nele era velho exceto os seus olhos, e estes eram da mesma cor do mar e eram alegres e invencíveis".

 

Não sei a razão, talvez porque Ary fosse tio herói. Não era marinheiro, era fazendeiro, não era capitão de barco, era mineiro de Perdões. Sabia fazer pernas de pau, estilingue de forquilha de jabuticabeira, caçar e pescar. Sabia quando ia chover e olhando para o céu dizia onde estavam o norte e o sul. 

 

Com o passar dos anos virou o patriarca da família. Cuidava de todos: tinha ouvidos para os que atravessavam momentos difíceis e sabia dar conselhos.

 

Posso traduzir tio Ary em três palavras: alegre, sábio, tenaz.

 

Quando estava para morrer, com 85 anos e já com metástase, passei junto com ele sua última tarde. Estava em casa, na cama. Os olhos, para variar, continuavam alegres e invencíveis. 

 

Sentei ao lado dele, perguntei como estava e orei. Depois ele me perguntou como ia o Alex, meu irmão. Contei que estava bem, que tinha uma pequena empresa e estava sendo bem sucedido. Perguntou por Maria, minha mãe. E assim foi perguntando por todos os membros da família que fazia tempo não via.

 

Depois de ouvir sobre todos, disse:

 

-- Estou feliz.

 

E eu fiquei impressionado com aquele homem, que sabia estar vivendo suas últimas horas, mas estava ocupado com os outros. E que podia ser feliz porque outros estavam bem.

 

À noite, voltei para São Paulo. No dia seguinte, de manhã, minha prima Raquel me ligou e disse que tio Ary tinha morrido de madrugada. E contou como foram os seus últimos minutos.

 

Ele disse:

 

-- O quarto está cheio. Todos de branco...

 

Parou um pouco, sorriu, e continuou:

 

-- ... vieram me levar.

 

Olhos alegres e invencíveis, um sorriso para anjos. A cabeça pendeu. 


O fim da vida velha


Nosso destino, enquanto processo de crescimento e amadurecimento daquilo que é humano, consiste em termos nossas vidas saciadas pelo Criador e a partir daí corações e mentes renovados.


Uma vida saciada por Deus produz equilíbrio com Ele, com o universo, com nossos semelhantes e conosco mesmos. Uma vida em equilíbrio, plena do Espírito de Deus, se traduz em integridade, pluralidade social, sabedoria, conhecimento e abertura à transcendência. A ruptura dessa integridade produz desencontro.


Esse desencontro, que Etienne de la Boétie, um cristão do século 16, chamou de mau encontro, deve ser visto como conceito teológico que traduz as disfunções da espiritualidade na natureza humana, ou alienações: espiritual, psicossomática, social e ecológica.


O nosso amigo, o apóstolo Paulo, cheio de otimismo, diz que é possível ter uma vida nova. Diz que nossa vida velha e nossos alvos errados podem morrer na cruz de Cristo e deixarmos de ser escravos de projetos caducos.


E faz um apelo: não vivam como velhos, deixem que Deus os transformem por meio de uma completa mudança da mente de vocês. E, assim, conhecerão a vontade de Deus e tudo aquilo que é bom, perfeito e agradável. Isto está na sua carta aos Romanos 12.2.


A natureza humana dispõe de liberdade para seu desenvolvimento. E é por meio dessa liberdade que podemos escolher caminhos, ficando, porém, sujeitos às conseqüências das escolhas. Por isso, somos, por escolha ou omissão, construtores de nosso destino. Desistir da vida velha, da antivida, com projetos caducos, não é simples resolução de ano novo, mas decisão que abrange a existência. Vida plena, saciada por Deus, está em nossas mãos.


O ano de 2025 será o fim da vida velha, pois o presente que Deus nos deu é a vida plena, nova, através da união com Cristo, nosso Senhor.


Feliz ano novo, feliz vida nova em Cristo Jesus!


Do pastor e amigo, Jorge Pinheiro.




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