jeudi 15 février 2024

Gramsci e Tillich

Rascunhos para uma teologia da vida 

Prof. Dr. Jorge Pinheiro

 

 

A democracia não acredita na harmonia natural, mas crê possível submeter a natureza à razão. Ela crê numa harmonia metafísica, que se instaura necessariamente do processo histórico”. Paul Tillich, “Écrits contre les nazis”.

 


Quando pensamos no Brasil, e por extensão na América Latina, nos vemos obrigados a falar da teologia como alavanca para transformações que confrontem as estruturas de poder que mantêm o status quo da mundialização do capitalismo, gerador de vítimas e de excluídos de bens e direitos. Dessa maneira, entendemos a teologia como geradora de ações culturais, políticas e sociais, desencadeadas pela comunidade de fé, consciente e crítica, com vistas à transformação radical, a fim de produzir mudanças estruturais no regime e construir uma nova ordem social tanto brasileira, como latinoamericana. A teologia tem, dessa maneira, como parceira organizações não-eclesiásticas, partidos e organismos de classe de trabalhadores. E tais ações fazem da teologia praxe que leva o cristianismo para além da comunidade de fé, que a faz confrontar desigualdades, exploração e miséria. Tal teologia terá de enfrentar, assim, a oposição dos inimigos da justiça, da paz e da alegria do povo.

 

O diálogo entre Antonio Gramsci e Paul Tillich possibilita rascunhar uma teologia da vida que, levando em conta as assimetrias, mas também as aproximações das praxes políticas dos dois pensadores, construir uma teologia de liberdade social, pública, para brasileiros e latinoamericanos.  

 

Antonio Gramsci e Paul Tillich têm muito em comum. Ambos foram militantes políticos e fundamentaram parte de suas concepções em Karl Marx. Por isso, consideramos importante ver que aproximações e assimetrias existem em suas elaborações teóricas. Cristianismo, democracia, e vida são temas que atravessam seus estudos, e que aqui vamos confrontar. Desejamos, dessa maneira, acrescentar elementos novos numa discussão cada vez mais acirrada em nossa América Latina: ainda é possível a construção de regimes que favoreçam a plenitude do sentido da vida?

 

Nos últimos anos, como fruto da crise da esquerda mundial, mas também como fruto da instalação de governos nacionalistas no continente, renasceu a busca pela reflexão de pensadores marxianos. Assim, em várias universidades brasileiras, Antonio Gramsci, por exemplo, passou a ser estudado como nunca fora antes.

 

Ora, a busca pelo pensamento de Gramsci situa-se nesse contexto de garimpagem do marxismo marginal, dito também não-ortodoxo. Aqui, nos interessa pensar Gramsci em correlação com um filósofo, nada ortodoxo, Paul Tillich. Aliás, o pensamento social de Tillich é praticamente desconhecido no Brasil, apesar de ter trabalhado quase duas décadas sobre questões políticas analisadas a partir do que ele chamou de socialismo religioso.

 

Gostaríamos de começar essa discussão com uma idéia exposta por Tillich, de que a busca pelo sentido pleno de vida, que ele vai chamar de socialismo, traduz um anseio que brota da consciência crítica, transfomadora, num mundo autônomo e racional. Assim, tal substância profética, ou seja, a consciência crítica e transformadora, se exprime na praxe e, por isso, a relação entre profecia e racionalidade é essencial. 

 

Como a linguagem tillichiana é teológica, ao lê-lo nos vemos na obrigação de traduzi-lo. Assim, o que significariam as expressões profético e profecia? Tillich parte de uma compreensão peculiar do profetismo vétero-testamentário. Vê nele, tanto um clamor, como uma ação, um movimento em prol da justiça, da paz e da alegria, que dariam conteúdo, seriam a essência da religião de Israel e, por extensão, do cristianismo e da Reforma protestante. Por isso, movimento profético é praxe de crítica social, que na modernidade levou à racionalidade da autonomia. Mas, para Tillich, justiça, da paz e alegria, ou seja, socialismo, implica em correlação permanente e necessária entre consciência crítica e racionalidade na autonomia. Assim colocada a questão, vemos que Tillich se afasta das correntes socialistas que repousam exclusivamente no racionalismo, em especial do bolchevismo, como das correntes que vêem a possibilidade de uma expansão crescente da autonomia, via democracia. É essa preocupação de Tillich em correlacionar razão e autonomia que possibilita esse diálogo crítico com Gramsci.  

 

De Gramsci podemos dizer que recriou a linguagem da tradição marxiana e codificou teoricamente seus conceitos, ao falar de estado regulado, filosofia da práxis, grupo social, hegemonia, sociedade civil, estado ampliado, intelectual orgânico e moderno Príncipe. Mas, neste texto, nos interessa analisar suas idéias sobre o cristianismo, o intelectual e a democracia.

 

O desafio cristão

 

Marx partiu do fato de que o pensamento judaico/cristão torna o ser humano estranho a si mesmo e desdobra o mundo em um mundo imaginário. Por isso, considerava que o trabalho do teórico consiste em dissolver o imaginário judaico/cristão em sua base terrena. Vai dizer, então, que Feuerbach não percebe que, findo o trabalho da crítica da herança judaico/cristã, o principal ainda está por fazer. O fato de que a base terrena se separe de si mesma e se estabeleça nas nuvens, como reino independente, só pode ser explicado pela dissociação interna e pela contradição dessa base terrena consigo mesma.

 

O que deve, portanto, ser feito antes de qualquer coisa é compreendê-la em sua contradição e depois remover essa contradição. Assim, por exemplo, após descobrir que a família terrena é o segredo da Sagrada Família, é a família terrena que deve ser criticada teoricamente e revolucionada. Marx explica a fé cristã por meio das contradições da sociedade humana e de suas dissociações, que induzem o ser humano a projetar fora do mundo, em um paraíso, a realidade na qual desejaria viver. Mas como afirma Radice, na quarta tese sobre Feuerbach, Marx afirma de modo explícito que a forma judaico/cristã reflete um conteúdo histórico. Por estar impotente, o ser humano imagina uma potência divina, por estar abandonado cria uma providência.

 

Gramsci verá o pensamento de Marx como herdeiro de dois movimentos culturais, a Reforma protestante e a Revolução francesa:

 

"A filosofia da práxis pressupõe todo este passado cultural, o Renascimento e a Reforma, a filosofia alemã e a revolução francesa, o liberalismo laico e o historicismo; em suma, o que está na base de toda concepção moderna da vida. A filosofia da práxis é o coroamento de todo movimento de reforma intelectual e moral, dialetizado no contraste entre cultura popular e alta cultura. Ela corresponde ao nexo Reforma protestante mais Revolução francesa: trata-se de uma filosofia que é também uma política e uma política que é também uma filosofia". 

 

E por isso dirá que "a religião cristã (...) foi e continua a ser uma necessidade, uma forma necessária de racionalidade do mundo e da vida".  

 

Marx pode, então, ser entendido como desenvolvimento que se dá a partir de três correntes da Reforma protestante: a luterana que legou Hegel, a calvinista que legou Ricardo e a economia clássica, e a huguenote que criou o jacobinismo.

 

"A estas três fontes originais, Gramsci tenta ligar a tradição cultural italiana, principalmente Maquiavel, como precursor do jacobinismo, e Croce como desenvolvimento historicista da filosofia alemã. O marxismo torna-se assim um ponto de convergência destas três correntes sob a forma de crítica radical".

 

Dessa forma, para Gramsci, a Reforma foi não somente uma reforma ao nível da economia, filosofia e política, mas também uma revolução cultural, no sentido de que procurou forjar uma nova humanidade. Para Gramsci a consciência religiosa cristã, que se traduziu em revolução cultural no século XVI, teve um caráter de suma importância na construção do pensamento contemporâneo. Ou, nas suas palavras: "da primitiva rusticidade intelectual do homem da Reforma (leia-se Lutero) decorreu a filosofia clássica alemã e o vasto movimento cultural de onde nasceu o mundo moderno".

 

Podemos dizer que Gramsci, no que se refere ao cristianismo, faz uma ponte entre Émile Durkheim e Max Weber. Durkheim considera a religião a partir da idéia de vínculo social. A religião constituiria uma comunidade moral na os adeptos comungam um mesmo ideal. A palavra chave aí é solidariedade. E a solidariedade leva a uma memória coletiva, que organiza lembranças, ritualiza a crença. Os estudos de Durkheim sobre as sociedades têm o intuito de dar rumo a sua análise na qual a divisão do trabalho foi anteriormente sua preocupação central. Mais tarde, o diálogo com a antropologia será privilegiado e o universo da religião será pensado como consciência coletiva, abordagem que ele estende ao entendimento da nação, enquanto todo no qual os indivíduos partilham a mesma memória coletiva.

 

Weber trabalha em sentido diferente. O cristianismo é instituição, é igreja, que atua como empresa de salvação das almas. É necessário, então, conhecer os meandros de sua doutrina, a organização de seu clero e a disputa entre visões e interesses distintos no quadro das crenças religiosas. Daí a atenção que dá ao pensamento divergentge, as rupturas no interior de uma mesma ordem ideológica, e sua relação com o poder de Estado.

 

Assim, Durkheim busca o que une e Weber realça o que separa. Mas Gramsci está interessado nas duas dimensões, no que une e no que divide. O cristianismo, para ele, é uma concepção de mundo que elabora versões sobre a realidade, o que possibilita aos fiéis atuar segundo determinada ética, mas também os une no interior da mesma comunidade. Essa idéia atravessa as páginas dos Cadernos do cárcere, sintetizada na afirmação de que o catolicismo é o "intelectual orgânico" da Idade Média.

 

A intelectualidade orgânica 

 

Partindo de uma leitura do contexto europeu medieval, Gramsci estuda o papel dos intelectuais católicos: seu cosmopolitismo, incentivado pelo poder de Roma, em relação à fragmentação do poder feudal e sua intolerância diante do pensamento divergente que ameaça a unidade da Igreja. Mas, na qualidade de orgânico, o catolicismo funcionaria como cimento cultural entre diferentes setores de uma sociedade hierárquica. Assim, o catolicismo integra o que se encontra separado por lutas de interesses e discordâncias doutrinárias. O catolicismo, no entanto, é parte de uma superestrutura mais ampla, a ideologia. É uma cosmovisão, tem valor cognitivo, interpreta o mundo ético, orienta a ação, e constrói uma moral que baliza a solidariedade dos fiéis. As ideologias possuem potencialidades diferentes destas, por isso Gramsci faz distinção entre filosofia e cristianismo católico, e entre cristianismo católico e senso comum, mas, ainda assim, todas as ideologias podem ser pensadas a partir dessa mesma matriz teórica.

 

Dessa maneira, as análises de Gramsci rompem com a tradição marxiana, já que a ideologia, mas do que falsa consciência é entendida como elemento cognitivo, concepção de mundo que brota da vida social. Para ele, como concepção de mundo, o cristianismo não seria alienante, mas deve ser entendido como ideologia presente na história. Exemplo disso foi o catolicismo, que possuía valor positivo, era orgânico, e construiu vínculo social entre as classes e os grupos sociais. Mas, no correr da Idade Média perdeu essa positividade, ao perder sua função de solidariedade, e passou a atuar como força reativa diante das mudanças.

 

E se Gramsci se mantém marxiano no que se refere à crítica da transcendência e, por extensão, da natureza humana, a conclusão que se impõe é que não há sociedade sem ideologia. Gramsci prepara, assim, o caminho para outros teóricos do pensamento marxiano, como Althusser e seu "animal ideológico", e Lévy-Strauss e seu "animal simbólico".

 

Mas Tillich teve uma compreensão diferente daquela de Gramsci, que entende a vanguarda enquanto intelectualidade orgânica, mas não vê o movimento de massas em processo dinâmico que pode levar ao surgimento de uma massa orgânica. Há uma divergência entre os dois pensadores: a crítica intelectual não se limita ao intelectual orgânico, é um processo maior que gera a massa orgânica, com dupla ação: de liderança da sociedade e de transformação da situação-limite.

 

Na perspectiva tillichiana, a passagem da heteronomia à autonomia se deu através de ciclos que atravessaram épocas. Assim, os movimentos dinâmicos das m numassas estão presentes nos movimentos religiosos do jovem cristianismo, no movimento político da migração dos povos, no movimento religioso da Reforma, no movimento anabatista e no movimento socialista. Embora esses movimentos possam ser encontrados em diversas épocas, estão presentes em diferentes esferas da cultura, mas sempre como movimentos de liberdade: as massas dinâmicas são parteiras de escravos, de povos, de trabalhadores.

 

Por isso, segundo Tillich, não podemos ver o pensamento de Marx como algo que já se esgotou, se nos propomos a fazer a crítica consciente e transformadora, pois a justiça não é justificativa ideológica das democracias, nem idealismo progressivo ou sistema de harmonia autônoma. A busca incondicional da justiça dentro do espírito da crítica profética e com os métodos do marxismo transcende o mundo. Mas até que ponto a metodologia marxiana e uma conquista do poder político poderiam dar sentido à vida? Só se a busca incondicional da justiça levar em conta que a corrupção também está localizada nas profundezas do coração humano.

 

O teólogo da vida deve entender que as forças demoníacas da injustiça e da vontade de poder jamais serão plenamente erradicadas da cena histórica. Precisa compreender que a corrupção da situação humana tem raízes mais profundas do que as estruturas históricas e sociológicas. Estão encravadas nas profundezas do coração humano.

 

Como Kierkegaard, Marx fala da situação alienada do homem na estrutura social da sociedade burguesa. Empregava a palavra alienação (entfremdung) não do ponto de vista individual, mas social. Segundo Hegel essa alienação significa a incursão do Espírito absoluto na natureza, distanciando-se de si mesmo. Para Kierkegaard era a queda do homem, a transição, por meio de um salto, da inocência para o conhecimento e para a tragédia. Para Marx era a estrutura da sociedade capitalista”. 

 

Por isso, a regeneração da humanidade não é possível apenas mediante mudanças políticas, mas requer mudanças na atitude das pessoas em favor da vida. De todas as maneiras, para Tillich e para Gramsci há uma busca comum de respostas entre aquele que encarna o espírito crítico e a ação consciente do intelectual orgânico. Ou como diz Gramsci:

 

"Se a relação entre intelectuais e povo/nação, entre dirigentes e dirigidos, entre governantes e governados, é dada por uma adesão orgânica, na qual o sentimento paixão torna-se compreensão e, portanto, saber, não mecanicamente, mas de forma viva, é somente então que a relação é de representação e que se produz o intercâmbio de elementos individuais entre governados e governantes, entre dirigidos e dirigentes, isto é: que se realiza a vida conjunta que, só ela, é a vida social, cria-se um bloco histórico".

 

Para Gramsci, o intelectual quando representa determinada comunidade têm função superestrutural, ou seja, cultural, mas, apesar de sua organicidade, precisa exercer autonomia em relação às pressões sociais que sofre. É dessa postura que nasce a força crítica e a compreensão de que diante da realidade há alternativas diferentes daquelas expressas pelo poder.

 

A partir de Tillich e Gramsci podemos dizer que o princípio da crítica intelectual é expressão humana e verbal do incondicionado, e resgata a tradição do profetismo bíblico, que possuía uma concepção unitária do fato e procurava a síntese entre política e ética. O profetismo era ao mesmo tempo revolucionário, mesmo quando voltado para o passado, e conservador, mesmo quando impulsionado pela paixão do porvir. Nada fazia sem invocar a tradição, no entanto, sua mensagem eram os novos tempos. Os profetas sabiam servir-se do passado para as necessidades do presente. Todos pareciam ter algo em comum: uma atitude realista. A pregação do futuro não constituía o essencial de seus clamores; era antes, o fruto e o resultado final de um conhecimento aprofundado no mundo adjacente, da atualidade e do passado. Ora, essa função profética está presente na compreensão crítica de Gramsci e de Tillich do intelectual orgânico.

 

Mas, não podemos esquecer que para Tillich há limites para a ação do intelectual, pois a razão não é global. Ao contrário, cada criação do espírito é necessariamente afetada pelos limites da situação que a viu nascer. O espírito está sempre ligado a uma classe. No espírito está implícita uma situação particular de luta, de dominação ou de opressão, que conforma a própria consciência. Entendido assim, o espírito não é universalmente o mesmo em cada pessoa, exprime um ser social particular. A passagem à cultura não se faz simplesmente pela transmissão de bens culturais universais, mas pela formação inculcada por uma sociedade e uma situação de lutas determinadas, em meio a obras que exprimem ou exprimiram no passado esta possibilidade humana particular.

 

Numa leitura cristã protestante, Tillich considerou a busca pelo sentido pleno de vida produto do desenvolvimento econômico e espiritual, que preparou e se impõe com a Renascença, a Reforma e o surgimento do capitalismo. Visão compartida por Gramsci. Assim, a busca pelo sentido pleno de vida surge em oposição à cultura autoritária e unitária da Idade Média, sedimenta suas bases nas criações culturais dos últimos séculos, e só pode ser compreendida a partir desta evolução: sua permanência está ligada a esse desenvolvimento. Mas não devemos esquecer, porém, que foi do interior do cristianismo que brotaram as idéias modernas de justiça. 


Para a construção de seu pensamento, Gramsci foge das construções ontológicas, e analisa a sociedade como conjunto de forças, imersas na história e marcada por interesses diversos. Podemos ver isso quando em carta à sua cunhada Tatiana Schucht. de dezembro de 1931, expõe seu conceito de Estado ampliado:

 

“Eu amplio muito a noção de intelectual e não me limito à noção corrente que se refere aos grandes intelectuais. Esse estudo leva também a certas determinações do conceito de Estado, que habitualmente é entendido como sociedade política (ou ditadura, ou aparelho coercitivo para adequar a massa popular a um tipo de produção e a economia a um dado momento); e não como equilíbrio entre a sociedade política e sociedade civil (ou hegemonia de um grupo social sobre a inteira sociedade nacional, exercidas através de organizações ditas privadas, como a igreja, os sindicatos, as escolas, etc.)”.

 

Democracia e sentido pleno de vida

 

Ora, em geopolítica, hegemonia significa a supremacia de uma nação sobre outras, seja por sua presença militar, de coerção, seja pela presença política e cultural. Mas na política, o conceito formulado por Gramsci descreve a dominação ideológica de uma classe sobre outra, no caso da burguesia sobre os trabalhadores.

 

Em Gramsci não é possível o domínio bruto de uma classe sobre as demais, a não ser nas ditaduras, ou seja, no Estado-coerção. Mas uma classe dominante para ser dirigente deve articular um bloco de alianças e obter o consenso passivo das classes e camadas dirigidas. Nessa busca de alianças, necessárias, a classe dominante sacrifica parte dos seus interesses materiais imediatos, vai além do horizonte corporativo, com a finalidade de construir uma hegemonia ética e política.

 

Ao estudar os mecanismos de construção desta hegemonia, Gramsci chega a um conceito fundamental na sua teoria política, a saber, o conceito de Estado ampliado. O Estado moderno na Europa analisada por Gramsci não seria, para ele, apenas instrumento de força a serviço da classe dominante, mas força revestida de consenso, ou seja, combinaria coerção e hegemonia. O Estado ampliado pode, então, ser entendido como sociedade política mais sociedade civil. E, nas sociedades de tipo ocidental, a hegemonia, que se decide nas inúmeras instâncias e mediações da sociedade civil, não pode ser ignorada pelos grupos sociais subalternos que aspiram a modificar sua condição e a dirigir o conjunto da sociedade.

 

O sentido de progresso civilizatório que a teoria gramsciana implica, reside no fato de que todo o movimento deve acontecer no sentido de uma absorção do Estado político pela sociedade civil, com o predomínio crescente de elementos de autogoverno e autoconsciência. A partir dessa teorização, Gramsci formula nos Cadernos do cárcere uma crítica ao stalinismo, a partir dos traços de hipertrofia do Estado soviético, que chama de estatolatria, considerando que tal estado de ditadura sem hegemonia não subsistiria por muito tempo.

 

Assim o Estado se compõe de dois segmentos distintos, porém atuando com o mesmo objetivo, que é o de manter e reproduzir a dominação da classe hegemônica: a sociedade política, estado-coerção, a qual é formada pelos mecanismos que garantam o monopólio da força pela classe dominante, burocracia executiva e policial-militar; e a sociedade civil, formada pelo conjunto das organizações responsáveis pela elaboração e difusão das ideologias, composta pelo sistema escolar, Igreja, sindicatos, partidos políticos, organizações profissionais, organizações culturais: meios de comunicação e de massa.

 

E aqui merecem destaque os meios de comunicação, pois para sua época estavam ainda em sua fase embrionária, e a televisão nem sequer fazia parte dos projetos futuros. Isto só seria possível no início da década de 1950. É exatamente através dos meios de comunicação da alta modernidade, que se dá a canalização da direção intelectual e moral, difundindo as ideologias da classe hegemônica vigente.

 

Assim, o Estado é a sociedade política gramsciana. E esta sociedade civil representa a nova determinação apresentada por Gramsci. Esta sociedade civil assume crescente dimensão no começo do século vinte, com os partidos de massa, sindicatos de trabalhadores e outras formas de organizações sociais. É após seu desenvolvimento histórico que a sociedade civil pôde ser capturada teoricamente. Antes disso, o estado-coerção era muito superior em sua base material para se permitir tal percepção.

 

O que chama a atenção no modelo do Estado ampliado, desde o Leviatã de Hobbes até Marx, é o sentido unitário do Estado. Ou seja, até Marx, o Estado era entendido como algo diferente da sociedade civil, que seria extinto quando se extinguisse a divisão de classes dentro da sociedade, uma vez que era esta divisão que produzia a necessidade do Estado.

 

Em Gramsci, porém, quando agrega a sociedade civil ao Estado-coerção, nada fica de fora do Estado. Este todo, entretanto, não é homogêneo, é rico em contradições e é mantido pelo tecido hegemônico que a cada momento histórico é recriado em processo permanente de renovação.

 

Assim, a luta pela construção de uma sociedade plena de sentido de vida, torna-se mais complexa e difícil do que imaginava Marx. Não basta ser classe dominante, tem que ser também classe hegemônica, dirigente. Desta forma, o campo da luta entre as classes se amplia. E a democracia necessária ao sentido pleno de vida será construída pelo bloco histórico hegemônico. Neste momento, a sociedade civil terá atingido uma base material superior a base material do Estado-coerção, atingindo o que Gramsci chama de sociedade regulada.

 

Com a gradativa absorção da sociedade política pela sociedade civil, que atua através dos seus aparelhos de hegemonia, o estado-coerção será substituído pelo estado-ético. E esta figura remanescente do estado-coerção, torna mais factível o modelo social voltado para a democracia de bens e direitos e menos utópico em relação ao que planejara Marx.

 

Nesta concepção de Estado, as democracias ocidentais possibilitariam o sentido pleno de vida. Mas fica uma questão: se a supremacia da sociedade civil se dará pelo consenso contra a coerção, onde fica o conceito de luta de classes, momento celular do pensamento marxiano?

 

Na verdade, para Gramsci a extinção da coerção do estado se dará pela absorção deste pelo estado-ético, ou seja, pela sociedade civil. Esta sociedade civil está inserida no estado ampliado e, por isso, não se pode falar de extinção do estado, mas de uma reorganização do estado onde um de seus componentes, está atrofiado por disfunção ou necessidade, já que os conflitos passaram a ser administrados pela base material do consenso.

 

Há, porém, dois níveis superestruturais nas sociedades democráticas: o estado ampliado, que é a sociedade civil, ou o conjunto dos aparelhos privados de hegemonia; e a sociedade política, ou o estado no sentido restrito do termo, composto pelos organismos de coerção do aparelho burocrático-militar de dominação política.

 

Nesse espaço a sociedade civil como espaço do domínio da ideologia, portador material da hegemonia, encontra a possibilidade de legitimidade, de consenso, através dos aparelhos privados de hegemonia que propagam valores ideológicos.

 

Assim, o conceito de estado ampliado procura apreender a configuração de forças sociais e políticas resultantes dos estados ocidentais do século vinte, idéia que confronta a proposta de Trotsky de revolução permanente a partir da concepção de hegemonia civil. Tal proposta-conceito parte da idéia de guerra de posição, que exige uma frente de combate no campo cultural, unida às frentes econômicas e políticas para a conquista da hegemonia pelas classes subalternas. A fórmula hegemonia civil propõe a participação das maiorias sociais nos aparelhos privados de hegemonia (sindicatos, partidos, escolas, igrejas, imprensa), que constituem as trincheiras de luta para obter posições de direção no governo da sociedade.

 

A proposta de extinção do estado, no entanto, nunca é plena, pois sempre restará o governo para cuidar da sociedade civil. É claro que se entendermos assim podemos dizer que na distinção de função entre as pessoas que governam e as que vivem a vida da sociedade de consenso está presente ainda a dominação entre as classes e, portanto, os restos da coerção do Estado se farão presentes.

 

Em Gramsci está presente uma utopia que atravessou todo pensamento socialista: sonhar com o bom selvagem de Rousseau, em oposição ao homem é o lobo do homem de Hobbes. Esse Estado ético é uma idealização do ser humano, que poderia viabilizar a construção de uma sociedade ética, igualitária e justa.

 

Mas, mesmo questionando Gramsci, podemos utilizar seus conceitos de estado ampliado e de hegemonia civil como estruturas de pensamento válidas para a análise social, não como proposta da utopia socialista, mas como ferramenta para delimitar e compreender o desenvolvimento das sociedades ocidentais contemporâneas, principalmente aquelas que se propõem democráticas.

 

 

Rascunhos de teologia

 

A busca pelo sentido pleno de vida e os movimentos de liberdade sempre estiveram ligados, mas isso não significa que não existem tensões entre o momento universal e o momento particular. O momento universal pode formular exigências que ameaçam absorver o momento particular. A busca pelo sentido pleno de vida se tornará, então, uma idéia geral, desprovida de raízes sociais e perderá sua força histórica. Este é o perigo de uma luta pela justiça restrita à intelectualidade. Esse perigo provém da situação burguesa e de seu pensamento político particular, que procura elaborar uma ordem social futura fundada sobre a justiça, mas deixando de lado a situação proletária real. Seja qual for o valor que se atribua a esta tentativa, ela não será de fato justiça social. A luta contra o intelectualismo utópico se apóia sobre a ligação indissolúvel que Marx viu entre sentido pleno de vida e proletariado, que não pode ser quebrada por essa harmonia metafísica proposta pela globalidade burguesa.

 

Para Paul Tillich existe na esfera política uma relação entre razão e autonomia. Toda estrutura política pressupõe poder e um grupo que o assume. Mas um grupo de poder é também um conglomerado de interesses opostos a outras unidades de interesses e sempre necessita uma correção. A democracia está justificada e é necessária na medida em que é um sistema que incorpora correções contra o uso errôneo da razão política. Assim, a teologia e a política não são realidades estanques, porque as raízes do pensamento político não são apenas pensamentos. Teologia e política, no mundo ocidental, estão imbricados, mas não existem sem a necessidade de correção, ou seja, da democracia. 

 

Tal compreensão da realidade ocidental no pós-guerra levou Tillich a se debruçar sobre projetos que tiveram início ainda na sua fase alemã, como a sua reflexão sobre a cultura. Mas a maioria de seus companheiros, que esperavam a realização da vida social plena de sentido, diante do visível abandono dos direitos civis e humanos, assim como a descoberta da existência de gulags nos países comunistas, se desiludiu.

 

O movimento marxista não foi capaz de se criticar por causa da estrutura em que caiu, transformando-se no que chamamos agora de stalinismo. Dessa maneira, todas as coisas em favor das quais os grupos originais tanto lutaram acabaram sendo reprimidas e esquecidas. Em nosso século vinte temos tido a ocasião de melhor perceber a trágica realidade da alienação humana no campo social”.

 

Tal política comunista fez com que Tillich, que não se considerava um utópico, constatasse que “o amanhecer de uma nova era criativa” se distanciava da humanidade. Assim, alertou para o perigo, a partir da experiência stalinista de que, em nome da busca pelo sentido pleno de vida, sociedades mergulhassem no totalitarismo, já que não aceitavam a pluralidade de partidos políticos e as liberdades civis, que ele e os socialistas-religiosos defendiam. Mas é interessante ver que descartava qualquer possibilidade de hegemonia permanente, quer por parte do bloco soviético, quer por parte do bloco ocidental:

 

Novos centros de poder podem aparecer, primeiro secretamente, e depois, então, abertamente, levando para a separação de ou para a transformação radical do todo. (...) O poder inicia a luta novamente e o período determinado do império mundial será tão limitado quanto o foi o período augustiniano de paz”. 

 

E afirmou que um mundo sem as dinâmicas do poder, sem a tragédia da vida e da história não é o reino de Deus, nem a finalidade do ser humano, pois o fim está limitado à eternidade e nenhuma imaginação pode atingir o eterno. Mas as antecipações fragmentárias são possíveis. Assim, falar de teologia da vida significa entender que a busca pela incondicionalidade da justiça e, por extensão, da paz e alegria, traduz a defesa do sentido último do significado profundo das raízes do humano e que, no mundo contemporâneo, diante do trovejar dos canhões e da ameaça à existência, deve levantar-se como voz profética de um mundo novo.

 

 

I. BIBLIOGRAFIA ANTONIO GRAMSCI

 

1. Escritos 1910-1926

 A questão meridional. Introdução e seleção de Franco de Felice e Valentino Parlato. Apresentação de Carlos Nelson Coutinho. Trad. Carlos Nelson Coutinho e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. 165p. [Contém 10 textos do período 1916-1926].


Conselhos de fábrica. Introdução de A. Leonetti. Prefácios de Carlos Nelson Coutinho e Maurício Tragtenberg. Trad. Marina B. Svevo. São Paulo: Brasiliense, 1981. 121p. [Contém 6 artigos de Gramsci da época de L'ordine nuovo, escritos entre 1916-1920, bem como outros 6 artigos polêmicos de Amadeo Bordiga].


2. Dos "Cadernos do cárcere" (1929-1935).

Concepção dialética da história. Apresentação de Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder. Orelha de Luiz Mário Gazzaneo. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966 (6a. ed., 1986), 341p.


Literatura e vida nacional. Seleção, tradução e orelha de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968 (3a. ed., 1986). 273p.


Maquiavel, a política e o Estado moderno. Tradução e orelha de Luiz Mário Gazzaneo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968 (8a. ed., 1987), 444p.


Os intelectuais e a organização da cultura. Tradução e orelha de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968 (5a. ed., 1987), 244p.


3. Dos "Cadernos do cárcere" (1929-1935).

 (Edição em seis volumes)

Volume 1: "Introdução ao Estudo da Filosofia. A Filosofia de Benedetto Croce". Edição de Carlos Nelson Coutinho, em colaboração com Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Orelha de Joseph A. Buttigieg. Quarta capa de Eric Hobsbawm. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 494p.


Volume 2: "Os Intelectuais. O Princípio Educativo. Jornalismo". Trad. Carlos Nelson Coutinho. Orelha de Leandro Konder. Quarta capa de Norberto Bobbio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. 334p.


Volume 3: "Maquiavel. Notas sobre o Estado e a política". Trad. Carlos Nelson Coutinho, Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Orelha de Francisco de Oliveira. Quarta capa de Pietro Ingrao. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, 428p.

Volume 4: "Temas de cultura. Ação Católica. Americanismo e fordismo". Trad. Carlos Nelson Coutinho e Luiz Sérgio Henriques. Orelha de Luiz Werneck Vianna. Quarta capa de Michael Löwy. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. 394p.


Volume 5: "O Risorgimento. Notas sobre a história da Itália". Trad. Luiz Sérgio Henriques. Orelha de Octavio Ianni. Quarta capa de Valentino Gerratana. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. 461p.

 

Volume 6: "Literatura. Folclore. Gramática. Apêndices: variantes e índices". Trad. Carlos Nelson Coutinho e Luiz Sérgio Henriques. Orelha de Alfredo Bosi. Quarta capa de Giorgio Baratta. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. 495p.

 

II. BIBLIOGRAFIA PAUL TILLICH

 

A Era Protestante, São Bernardo do Campo, Ciências da Religião, 1992, p. 274. The Protestant Era, Chicago, Illinois, University of Chicago, 1948. Trad. pt. de Jaci Maraschin. “Die protestantische Ara”, Der Protestantismus als Kritik und Gestaltung, Gesammelte Werke VII, Evangelische Verlag Stuttgart, 1962, pp. 105-123. Trad. al. W. De Gruyter.

 

Écrits contre les nazis, 1932-1935, Paris, Genève, Québec : Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, 1994. Christentum und soziale Gestaltung. Frühe Schriften zum religiösen Sozialismus, Evangelisches Verlagswerk Stuttgart, Gesammelte Werke II, 1962. Trad. fr. Nicole Grondin e Lucien Pelletier.

 

La lutte des classes et le socialisme religieux [artigo publicado no Religiöse Verwirklichung de 1930. Gesammelte Werke, II, pp. 175-192] in Christianisme et Socialisme, Écrits socialistes allemands (1919-1931), Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de l’Université Laval, tradução de Nicole Grondin e Lucien Pelletier, 1992.

 

Perspectivas da Teologia Protestante nos séculos XIX e XX, São Paulo, ASTE, 1999. Texto original: Perspectives on 19th and 20th century protestant theology, New York, Harper and Row Publishers, Inc., 1967. Tradução de Jaci Maraschin.

 

BIBLIOGRAFIA OUTROS

 

Hugues Portelli, Gramsci e a questão religiosa, São Paulo, Edições Paulinas, 1984.

 

João Rego, Reflexões sobre A Teoria Ampliada do Estado em Gramsci, Recife, Caderno Cultural do Jornal do Commercio, 5/04/1991.

 

Lucio Lombardo Radice, "Um marxista diante dos fatos novos no pensamento e na consciência religiosa", Revista Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, Ano III, Número 16, novembro/dezembro de 1967.

 

Renato Ortiz, Notas sobre Gramsci e as ciências sociais, São Paulo, Revista Brasileira de Ciências Sociais, Out. 2006, vol.21, no. 62.




 

Une lettre du Père

 Mes chères filles et fils,


Je vous souhaite un Shanah tovah, une bonne et douce année, mais je veux vous dire certaines choses que je pense que vous devez savoir à tout prix.


Quand je te regarde, je vois des images radicalement différentes de celles que tu vois lorsque tu te regardes dans le miroir. Parce que vous voyez ce qu’il y a ici et maintenant. Alors que moi, quand je te regarde, je vois les personnes que tu peux devenir. Et mon premier objectif est de les aider à quitter leur situation actuelle, et je sais qu’ils peuvent le faire.


Parfois, vous vous testez et vous efforcez de devenir les personnes que j’avais en tête lorsque je vous ai créé. Je vous observe donc avec une joie non dissimulée et je souhaite vous guider en douceur dans cette direction. J'organise des événements et des expériences dans votre quotidien afin que vous puissiez mieux atteindre vos objectifs.


D’autres fois, je dois leur poser des défis et des obstacles pour leur permettre de traduire leur potentiel de grandeur et d’excellence. Je sais que ces moments sont parfois douloureux, mais si je ne vous mets pas à l'épreuve, vous ne développerez jamais le potentiel que vous avez. Je te le demande, souviens-toi que pendant ces moments, je suis plus proche de toi que jamais.


Et je veux vous parler d'un de mes éminents fonctionnaires. Il est vice-président du Département du développement humain. Ça s'appelle le yetzer hara, le mauvais penchant, et ça marche pour moi, 365 jours par an, toute la journée, sept jours sur 7. Le yetzer hara a mauvaise réputation, mais en réalité, c'est votre meilleur allié. Je vous ai donné carte blanche pour lancer les défis constants auxquels vous êtes confrontés, avec un flot incessant de tactiques originales, mais elles ont pour but de vous mettre au défi de progresser. Le yetser hara et moi avons un objectif pour chaque confrontation que vous avez avec lui, nous voulons que vous gagniez et que vous montriez de quoi vous êtes capable. Bien sûr, après chaque triomphe, je permets un obstacle encore plus difficile, car c'est ainsi que l'on devient quelqu'un de spécial.


J'ai de bons conseils à vous donner : parlez-moi. DÈS QUE POSSIBLE. Et je ne comprends pas seulement l'hébreu. Aucune langue n'a de secrets pour moi. Alors n'hésitez pas à me parler dans votre propre langue. Et ne vous attendez pas à ce que ce soit dans une synagogue : vous pouvez me parler à toute heure du jour ou de la nuit, quelle que soit l'activité dans laquelle vous êtes impliqué – que ce soit en voiture ou en pleine guerre. Parle-moi avant de t'endormir. Et surtout, dites-le le jour du Chabbat. Je suis toujours disponible et je sais très bien écouter. En fait, je te comprends mieux que quiconque (mieux que toi-même), car tu m'appartiens et c'est moi qui t'ai créé. Alors ne soyez pas timide, ne vous sentez pas gêné ; épanche ton cœur devant moi et je te promets que je répondrai.


Et n'oubliez pas de profiter du Shabbat ; C'est un cadeau spécial que je leur ai fait. Éteignez votre téléphone portable, votre ordinateur, votre iPad et autres gadgets et prenez le temps de profiter de toutes les relations qui vous tiennent à cœur : la relation avec moi, la relation avec vous-même et la relation avec tous ceux qui vous sont chers. Même si vous ne pouvez pas profiter de ces 25 heures, faites l'effort de passer au moins une partie de cette journée avec moi.


Je vais te confier un secret : je te parle tout le temps, mais je parle à voix basse. Mais avec tous ces sons qui me rivalisent, cette cacophonie de bruits autour de vous, ma voix passe inaperçue. Profitez du moment de calme du Shabbat et écoutez. Vous serez surpris par ce que vous entendrez.


N'ose pas traverser seul le chemin de la vie. Je veux que vous trouviez un mentor qui puisse vous guider, vous apprendre et vous montrer comment me trouver et vous amener à moi. Lorsque vous trouvez une personne comme celle-ci, rejoignez-la et n'abandonnez pas. Demandez-leur de vous enseigner, de vous guider et surtout, prenez à cœur leurs conseils.


En parallèle, il y a la tâche de trouver un compagnon qui les accompagnera tout au long de ce voyage. Il sera plus facile d'entreprendre ce voyage si vous êtes en bonne compagnie. De cette façon, vous pouvez vous assurer de maintenir le cap et d’avancer dans la bonne direction.


Si vous en avez l'occasion, faites un effort pour venir à l'endroit où ma présence se fait le plus sentir. Passez du temps à Jérusalem, ma ville éternelle, et absorbez la sagesse qui émane de ses anciens murs.


Et célébrez Roch Hachana. C'est l'anniversaire de la création de l'être humain, c'est le jour où je me penche sur l'origine cosmique de l'histoire humaine et où j'écris le scénario de l'année à venir. Pensez au rôle que vous assumerez. Je suis prêt à vous laisser choisir le rôle que vous souhaitez jouer. Alors regardez la toile et peignez un tableau plein d’amour de ce que vous voulez pour l’année prochaine. Et Roch Hachana, au lieu de compter les pages restantes de votre vie, sera l'ouverture du livre de prières, et vous me direz quel rôle vous voulez jouer.


Le Livre de Vie sera ouvert aujourd'hui, ce jour-là, et je vous remets la plume entre vos mains. Choisir la vie.


Avec toute votre affection,

Votre Père céleste, qui croit en vous et vous aime inconditionnellement








Noirceur et mémoire ...

  • ... se souvenir des morts


  • Jorge Pinheiro


  • João Alberto Silveira Freitas, 40 ans, a été battu et tué par des agents de sécurité au supermarché Carrefour, à Porto Alegre (RS), à la veille de la Journée de sensibilisation aux Noirs. Le soudeur João Beto, comme l'appelaient ses amis, vivait dans une communauté de Vila Farrapos, au nord de la capitale du Rio Grande do Sul. Marié, il laisse dans le deuil son épouse, la soignante âgée Milena Borges Alves, 43 ans, et quatre enfants.


  • « Se connaître noir, c'est vivre l'expérience d'avoir été massacré dans son identité, confus dans ses perspectives, soumis à des exigences, contraint par des attentes aliénées. Mais c’est aussi et surtout l’expérience de s’engager à sauver son histoire et à recréer son potentiel . Neusa Santos Souza, Devenir noir, Les vicissitudes de l'identité des Brésiliens noirs dans l'ascension sociale , Rio de Janeiro, Graal, 1983, pp.17-18.


  • Il y a quelques années, parmi tant d’autres, un combattant est également tombé. Et ici nous nous en souviendrons, comme un moment de mémoire et un symbole des hommes et des femmes noirs exilés, réduits en esclavage et tués par le racisme.


  • Neusa Santos Souza, psychiatre, ancien militant de la Liga Operária et collaborateur de la rubrique afro/latino-américaine de la revue Versus, s'est suicidé le 20 décembre 2008, dans l'après-midi. Activiste noir, auteur de Becoming Black, était titulaire d'un doctorat en médecine sociale et travaillait dans le domaine de la santé mentale en tant que clinicien, thérapeute et professeur d'université. Personne aimée et admirée.


  • La Terre est toujours ta menotte noire


  • « Tu es le fou de la folie immortelle,/ le fou de la folie la plus suprême./ La Terre est toujours ta chaîne noire,/ le Malheur extrême t'y lie./ Mais cette même chaîne d'amertume,/ Mais ce même Malheur extrême / Fais bourgeonner ton âme suppliante / Et éclate en étoiles de tendresse ». (« O signalado », Cruz e Souza, première et deuxième strophes).


  • En parcourant les chemins des Brésiliens au cours des trois derniers siècles, nous trouvons les racines qui expliquent la misère de la nation. Les drapeaux de l’émancipation, de la démocratie et de la justice sociale restent aussi urgents aujourd’hui que par le passé. Aujourd’hui, 120 ans après le décret reconnaissant le droit des Noirs à la liberté, l’idéologie de la dissimulation est toujours présente.


  • Pour comprendre la culture afro-brésilienne, il est important de comprendre la religiosité africaine des orixás. Malgré sa diversité régionale, la matrice africaine de la religion Orisha reflète, dans son ensemble, la culture de la famille clanique, issue d'un même ancêtre, qui englobe les vivants et les morts.


  • L'orixá est l'ancêtre déifié qui, au cours de sa vie, a établi des liens qui lui garantissaient le contrôle de certaines forces de la nature. Le pouvoir de cet ancêtre, après sa mort, peut s'incarner, pour une courte période, chez l'un de ses descendants par possession provoquée. Il est intéressant de noter que la mort de ces ancêtres ne s’est pas produite naturellement, mais au milieu d’événements impliquant de la passion ou de la colère.


  • Dans ce moment de crise émotionnelle provoquée par la colère et d'autres sentiments violents, ils ont subi des métamorphoses, leurs corps ont été consumés par la passion, ne laissant derrière eux que le pouvoir. Mais, pour que ce pouvoir puisse être approprié par leurs descendants, il fallait que les membres de la famille enfouissent un vase dans le sol, aux trois quarts environ de sa hauteur. Dans ce récipient, ils rassemblaient le pouvoir de l'orixá, qui recevait alors des offrandes et le sang des holocaustes. Ce culte unissait les hommes et les femmes à l'orixá, et ses émanations étaient représentées par une pierre, un galet de rivière ou par des symboles tels que des outils ou un arc et des flèches. Ainsi, le pouvoir de l'orixá n'est devenu perceptible que par l'incorporation, qui a permis à l'orixá de revenir sur terre pour recevoir des preuves de respect de la part de ceux qui l'évoquaient.


  • Dans les cultes des ancêtres, lors de son incorporation, l'orixá retrouvait sa personnalité avec des qualités et des défauts, des goûts, des tendances, un caractère agréable ou agressif. Lors des cérémonies, les orixás dansaient avec leurs descendants, écoutaient leurs plaintes, résolvaient les désaccords et consolaient leurs malheurs. De cette manière, le monde des orixás n’était ni éloigné des fidèles, ni supérieur.


  • Dans les religiosités africaines, les orixás étaient liés aux communautés et aux nations et les cultes étaient régionaux et même nationaux. Les cultes étaient assurés par les prêtres, et les autres membres de la famille ou de la communauté n'avaient d'autres devoirs que de contribuer à l'entretien et au financement du culte, en pouvant participer aux chants, danses et fêtes qui accompagnaient les célébrations. Ils doivent cependant respecter les interdits alimentaires et autres interdits liés au culte de leur orixá.


  • Avec la traite négrière, les orixás ont été amenés au Brésil avec leurs descendants et sont restés liés aux familles venues ou formées ici. Et les prêtres des orixás commencèrent à maintenir un culte pour ces familles et communautés.


  • Aujourd’hui, même si les non-afro-descendants ne peuvent revendiquer des liens de sang avec les orixás, il peut exister des affinités favorisant le culte. Les afro-descendants et les non-afro-descendants, pour les prêtres des cultes orixá, ont des archétypes communs, comme la virilité, la féminité, la sensualité, l'indépendance ou le désir d'expiation, qui correspondent à ceux d'un orixá. C’est ainsi que cette religiosité ancestrale a commencé à occuper son espace dans les terreiros et les communautés d’origine noire, marquant une présence définitive dans le multiculturalisme brésilien.


  • Le travail pour la mort


  • Joaquim Nabuco a été le premier Brésilien à présenter une vision globalisante de la formation historique et du rôle de l'africanité au Brésil. Et il l’a fait dans un petit travail de propagande : l’abolitionnisme. Il y montre que l'esclavage, qui a duré trois siècles, ne constitue pas un phénomène supplémentaire, ce qui signifie qu'il doit être analysé sur un pied d'égalité avec la monoculture et la grande propriété agraire.


  • Pour Nabuco, c’est l’esclavage qui a façonné le Brésil en tant que nation. C'est l'institution qui éclaire la compréhension du passé. Et c’est à partir de là que se sont définis parmi nous l’économie, l’organisation sociale, la structure de classe, l’État, le pouvoir politique et la culture elle-même. L'esclavage a été le protagoniste par excellence de l'histoire du Brésil. L'autoritarisme si typique des élites, la difficulté de construire la citoyenneté et l'exclusion sociale sont étroitement liés à ces trois cent soixante-dix ans d'esclavage et sont l'héritage tragique de la brésilianité. Ainsi, l’esclavage a généré la misère et l’exclusion.


  • Il faut comprendre que nos cultures sont relationnelles, ce qui signifie que les relations entre classes apparaissent de manière diffuse, sur la base de relations sociales apparemment peu interventionnistes face à une société civile naissante, où l'interaction entre public et privé apparaît flexible. .et amorphe. Ainsi, dans ces cultures, les relations au sein des classes et, souvent, entre elles, s’avèrent plus enrichissantes que les raisons et les fins qui ont donné naissance à ces relations. Dans nos cultures relationnelles, les codes doivent être appréhendés dans une double perspective : il faut partir de matrices anthropologiques, mais les pressions globalisantes ne peuvent être oubliées. Et les matrices anthropologiques se sont construites sur la base de la polarité de deux mondes et de deux réalités qui trouvent leur origine dans l'esclavage : la maison, comme dimension sociale imprégnée de valeurs, d'espaces exclusifs et de lieu moral, et la rue, comme mouvement, travail. tripalium.


  • Tripalium a donné naissance au mot travail. Il s'agissait d'un instrument à trois piquets utilisé pour fixer les animaux lors d'interventions vétérinaires ou pour les marquer. Il fut utilisé par les Romains, puis au Moyen Âge et importé plus tard par les colonisateurs portugais. Il était utilisé dans les fermes brésiliennes pour retenir les esclaves lorsqu'ils étaient punis ou marqués par le feu. Cette situation reflète la relation entre maîtres et esclaves. La déclaration anthropologique du père Antonil, notre premier économiste, en 1711, selon laquelle « le Brésil est un enfer pour les noirs, un purgatoire pour les blancs et un paradis pour les mulâtres » n’est pas une découverte biologique. C'était l'enfer pour les Noirs car pour eux il n'y avait pas d'autre espoir que la mort, généralement prématurée. Pour les Portugais, c'était un purgatoire car ils croyaient en la possibilité de faire fortune et de retourner au Portugal. Au milieu de tant de malheurs, c'était un paradis pour les mulâtres car, désormais libérés de l'esclavage, ils pouvaient circuler entre blancs et noirs, gagnant en importance sociale grâce au rôle de médiateur qui leur était confié.


  • Ainsi, le paradis est ici défini comme résultant d’une relation culturelle. Lieu du mulâtre ou du mulet, animal ambigu, hybride, incapable de se reproduire en tant que tel. Malgré la grossièreté raciste du terme, ce seront ces hommes et femmes métis qui briseront la dualité culturelle, si typique des communautés calvinistes de l’autre Amérique.


  • L'expression mulato, raciste et colonialiste, a donné naissance à l'expression pardo, qui a été officiellement adoptée lors du recensement de 1872 dans le but de dénombrer séparément les noirs captifs, qu'ils soient africains ou de descendance, des noirs nés libres ou affranchis, peu importe qu'ils soient noirs ou descendants. Et le terme est entré dans la langue officielle, associé à l’identité métisse, mais pas nécessairement associé à l’afro-descendance.


  • Ainsi, avec la construction de la multiculture afro-brésilienne et avec les afro-descendants, il y a des moments de synthèse qui traduisent des cultures relationnelles. Un bon exemple est Macunaíma, un héros sans caractère, de Mário de Andrade. Dans les pays de culture protestante et bourgeoise, le négatif est ce qui se trouve au milieu. Ici, ce qui est au milieu, c'est la vertu.


  • Antonio Manzatto, en analysant l'anthropologie des personnages d'Amadiano, dit que Jorge Amado va au-delà du régionalisme et réalise une synthèse des identités brésiliennes : il dépasse les repères esthétiques de la littérature, pour formaliser les bases des cultures relationnelles brésiliennes et afro-brésiliennes, bien que il ne critique pas ce qui se cache derrière l'apparente cordialité des Brésiliens. Les cultures relationnelles cachent l’injustice sociale et l’oppression sexuelle. Nous affirmons que le Brésil a été formé de matrices culturelles : blancs, indiens et noirs, qui filtrées à travers des cultures relationnelles conduisent à une illusion, un mensonge, comme si les blancs, les indiens et les noirs avaient choisi de construire le pays. La vérité est que les Portugais blancs et aristocratiques ont exterminé les indigènes et réduit en esclavage les Noirs. Mais de cette macération de peuples, d’ethnies, de couleurs et de cultures, ont émergé des brésilienités présentes aux quatre coins de ce pays, avec des richesses particulières, des diversités qui forment le multiculturalisme afro-brésilien.


  • La vie comme utopie


  • Claude Lévi-Strauss dans Le Cru et le Cuit nous amène à découvrir, à travers une approche structuraliste, à quel point le passage de l'alimentation crue à l'alimentation cuite a été décisif dans le développement de l'humanité. Du titre d'inspiration culinaire, Lévi-Strauss fait référence aux exigences du corps et aux liens élémentaires que l'être humain entretient avec le monde. À travers l’opposition apparemment triviale entre le cru et le cuit, il présente la force logique d’une mythologie culinaire telle que la conçoivent les peuples indigènes d’Amérique du Sud. Ensuite, il met en lumière les propriétés générales de la pensée mythique, où l'on découvre une philosophie de la société et de l'esprit. Et il est intéressant de noter que cette pensée mythique va submerger le multiculturalisme relationnel brésilien.


  • Au Brésil, il existe des codes relationnels qui traduisent l'équivalence entre alimentation et sexualité, basés sur le plaisir, et présentent de nouveaux paramètres pour le cru et le cuit, qui relient l'alimentation, la nourriture et le sexe. Pour le multiculturalisme brésilien, la nourriture est ce qui maintient les êtres en vie, la nourriture est ce qui donne du plaisir et le sexe est toujours un type de nourriture. La nourriture est générale et universelle, mais la nourriture donne une identité et, par conséquent, le consommateur a le contrôle. L'aliment cru par excellence est la salade, quelque chose avec peu de saveur, sans attraits majeurs, contrairement aux aliments bien cuits, comme le porridge ou la bouillie. La nourriture est ce qui est difficile à avaler, alors que la nourriture est du riz et des haricots, une des synthèses des Brésiliens. Nous sommes les héritiers des cultures des différentes communautés indigènes et des Angolais, Benguelas, Jejes, Nagôs et autres, où le soin de préserver la vie de la communauté incombait aux femmes, dans la multiculture afro-brésilienne c'est elle qui fait le mélange et qui fournit la nourriture. Ainsi, pour Amado, une femme est Dona Flor, une moquequeira, une organisatrice d'assaisonnements, de lit et de table. Ou Gabriela, avec des clous de girofle et de la cannelle.


  • Dans le multiculturalisme relationnel afro-brésilien, le temps vécu entre en compétition avec le temps remémoré. Le temps vécu, c'est la rue, le mouvement, c'est le tripalium. Le temps dont on se souvient est le rêve, c’est ce qui était et ce qui devrait continuer d’être. Le temps vécu est sueur et fatigue. Et la fête, c'est la rupture du temps vécu. C'est le moment où le corps cesse d'être dépensé par le tripalium et se dépense par le plaisir. C’est peut-être pour cette raison que le plus grand événement relationnel de l’afro-brésilianisme est le Carnaval. Il est temps pour le contraire. Le jour cède la place à la nuit, la maison à la rue. La règle est la démesure. Il ne s'agit pas d'une soirée masquée, mais d'une soirée costumée. C'est une lecture de la liberté considérée comme la fin des règles et des conventions. Nous vivons la fin de la pauvreté, la fin de l’esclavage, la fin du pilori. C’est l’utopie socialiste dans une version afro-brésilienne, où nous sommes tous égaux face à la possibilité du plaisir.


  • Ces codes afro-brésiliens vont de pair avec la question raciale. La solution relationnelle à l’injustice sociale était le métissage et à l’oppression sexuelle, le syncrétisme. L’opposition entre cultures latines, cultures indigènes et cultures noires n’est pas devenue inconciliable, mais a donné naissance à une diversité de synthèses, la multiculture populaire afro-brésilienne. Ce multiculturalisme métisse s'entend comme la façon dont les Afro-Brésiliens vivent leur vie, leur goût pour la fête, la musique, la danse, la nourriture et le sexe. Il montre une manière de vivre dans laquelle la vie n'est pas quelque chose de fini et de défini, mais qui se construit dans le concret du quotidien. Il s’agit d’une caractéristique très particulière du multiculturalisme afro-brésilien, dans lequel la vie doit être repensée chaque jour. Il ne s’agit pas de formes multiculturelles figées, mais elles évoluent au fur et à mesure que les gens vivent. Ces données sont fondamentales pour comprendre la question de l’identité afro-brésilienne. Votre identité n’existe pas comme une donnée. L'identité se construit également et des éléments externes ainsi que des pressions plus récentes, c'est-à-dire des pressions globalisantes, sont avalés et vécus dans le monde d'aujourd'hui.


  • Le caractère concret et immédiat de la vie de l'Afro-Brésilien l'amène à être une personne relationnelle. Plus que de se situer face aux choses et à la nature, la réalisation de l'Afro-Brésilien en tant que personne se fait par la relation. Ainsi, il ne se considère pas prisonnier du destin, des forces des choses ou de la nature. C'est un être qui cherche des alliés, que ce soit pour réaliser ses plaisirs ou pour affronter les défis imposés par des éléments ou des réalités extérieures à sa vie quotidienne. Les Afro-Brésiliens appellent cette recherche d’alliances amitié et camaraderie. Et s’il peut s’identifier à ses pairs, il peut aussi s’identifier à la transcendance. Pour les Afro-Brésiliens, se rapporter au transcendant ne signifie jamais un déni de l’humain. D'où l'intimité qu'il semble entretenir avec la divinité. Et les religiosités afro-brésiliennes, nées du syncrétisme, sont plus qu’un mécanisme d’adaptation des personnes exilées et esclaves au milieu urbain. Ces religiosités sont le résultat des transformations survenues dans le pays.


  • De cette manière, l’idéal de liberté et d’autres caractéristiques des Afro-Brésiliens reflètent une profonde dimension collective. Cela n’élimine ni ne massacre votre personnalité, mais, dans la plupart des cas, permet de la réaffirmer. Et le massacre de leur identité ne se produit pas parce que les Afro-Brésiliens sont collectifs et communautaires, mais parce qu’ils ne survalorisent pas les structures sociales. En faisant abstraction des structures, en niant toute réduction au rôle de simple rouage, elle réaffirme l'amitié et la solidarité comme constituant le collectif. Pour lui, la liberté, l'amitié et la solidarité se produisent dans la communauté. Il est difficile d’imaginer l’Afro-Brésilien solitaire. Au contraire, l'image culturelle et sociale que nous avons de lui, et que reflète toute culture populaire multiculturelle, est celle d'un homme et d'une femme entourés d'amis, de connaissances et de parents. Leur religiosité est toujours collective. Et leur spiritualité a une tonalité communautaire, qu’il s’agisse d’Umbanda ou de pentecôtisme populaire.


  • Pour les Afro-Brésiliens, la religion ne peut être vécue individuellement. L’idée selon laquelle la religion est une affaire intime est une abstraction blanche, calviniste ou tridentine. Au contraire, dans le multiculturalisme afro-brésilien, chacun discute de la religion de chacun, donne son avis et souhaite se voir ensemble dans la même communauté. Et lorsqu’il s’agit de fêtes, il ne pourrait en être autrement. Et une fête implique de la nourriture, de la musique et de la danse. Dans des conditions normales, les Afro-Brésiliens ne mangent ni ne boivent seuls. La communauté est l’espace où votre personnalité et votre créativité atteignent les plus hauts niveaux.


  • Des raisons géographiques, historiques et raciales ont conduit, au cours des trois derniers siècles, à la plongée dans l'inconnu et ont façonné cette attirance pour l'aventure et le risque chez les Afro-Brésiliens. Les Afro-Brésiliens aiment le défi, non pas comme un avenir planifié, mais comme un espace de créativité. Pour lui, le défi est toujours de se lancer dans l’aventure de briser les règles, de dire non aux conventions et de survivre grâce au courage. Face à ces défis, qui vont de survivre dans le trapèze de l'économie informelle à devenir Mané Garrincha sur les pelouses du monde, il façonne en fait son identité. Il n’a pas peur de se pencher sur les défis de la culture blanche mondialisée.


  • L'aventure implique la possibilité d'un échec. Et l’échec fait partie du risque. Mais en vivant la dialectique de ce mouvement, les Afro-Brésiliens construisent leur identité, au prix toutefois très élevé. En fait, c’est en faisant cela qu’il se sent libre et laisse libre cours à sa créativité, sans se soucier de construire l’avenir. Et si ce n’était pas le cas, nous n’aurions pas affaire à des Afro-Brésiliens. La difficulté de mondialiser les Afro-Brésiliens réside là : dans la vision du monde selon laquelle la vie humaine doit être comprise comme une aventure et un risque. Comme quelque chose qui ne peut pas être planifié, organisé, mis à l’échelle, mais vécu. De cette manière, vivre, c'est s'ouvrir au nouveau, au défi, à ce qui n'a pas encore été vécu, ni même prévu de le faire. L’action anthropologique des Afro-Brésiliens naît de la possibilité de choisir la vie1 qu’ils rêvent de vivre, qu’ils ont la liberté de choisir de vivre.


  • Nous vivons les aventures et les possibilités de l’utopie. Neusa, peut-être épuisé par tant de combats, choisit le moment de s'en retirer. Une femme noire qui a mené son combat est tombée ! João Beto a été massacré par le racisme. Symboles de ces peuples exilés, réduits en esclavage hier et aujourd'hui, demeure le sombre rêve de liberté : le sauvetage de l'histoire, de la citoyenneté et de la plénitude des droits.


19 anos ... desde a chegada do casal em Montpellier!



Amanhã / 11.12.2004 / fazem 19 anos que nós chegamos a Montpellier para morar aqui.

Fomos várias vezes ao Brasil e combinamos o estar aqui e o estar lá. Depois mudamos de vez. 

Montpellier é terra que eu amo e o centro histórico repousa no meu coração. Não concordo com Gonçalves Dias, mas eu o entendo.

Que Deus me dê condições de continuar realizando minha missão aqui.

Demain cela fera 19 ans que nous sommes arrivés à Montpellier pour y vivre.  

Nous sommes allés au Brésil plusieurs fois et avons combiné être ici et là-bas.  Puis nous avons changé pour de bon.
 
Montpellier est une terre que j'aime et le centre historique repose dans mon cœur. Je ne suis pas d'accord avec Gonçalves Dias, mais je le comprends.

Que Dieu me donne les conditions pour continuer à accomplir ma mission ici.

Demain cella fera 19 ans que nous sommes arrivés à Montpellier pour y vivre.  Nous sommes allés au Brésil plusieurs fois et avons combiné être ici et là-bas.  Puis nous avons changé pour de bon.

Le chemin ....

Le chemin de la spiritualité et de la liberté
Pasteur Jorge Pinheiro, PhD


Il y a trois questions qui brûlent l'esprit de ceux qui se concentrent sur les choses de Elohim: pourquoi dois-je existe? Qui je suis? J'ai un destin? Nous passons à une réflexion de ces questions à partir d'un concept juif, l’halakha, en utilisant la tradition juive, en particulier la pensée hassidique comme herméneutique, mais aussi le concept de chemin dans la révélation chrétienne et sa sagesse. 

En guise d'introduction 

Dans la tradition juive, on peut parler d'interlignes théologiques formés par sept lignes d'idées force : Elohim, être humain, l’alliance, le péché, la repentance, l'histoire et le mode de vie. 

Bien qu'il ne soit pas notre intention ici de faire une théologie de les écritures hébraïque, on peut dire que le concept Elohim dans l'Écriture est propre et aligne la compréhension qu'elles sont corrélées, ont un particulier que l’Elohim est unique, éternel, créatif et personnel. 

L'être humain peut aussi dire qui est apprécié parce qu'il ne vient pas par hasard, ont l'universalité, la liberté de construire son propre chemin. Ainsi, après ces deux concepts, nous avons des concepts, l'alliance, le péché et la repentance. Et pour le tradition hassidique, les textes de la Torah ne prétendent pas que l'être humain est bon ou mauvais, mais agit de cette polarité. 

Il semble clair dans le dialogue de l’Elohim avec Caïn, quand il dit qu'il est enclin au mal, qui ce mal est devant lui comme un animal sauvage, mais Caïn doit le maîtriser. Cette conversation présente une façon humaine, la tendance au mal. On peut donc comprendre les affirmations dans la Genèse 6.5 et Deutéronome 8:21 et :,21. 

Fait intéressant, aucun de ces textes ne parle pas de l'être humain comme essentiellement corrompu, mais enclin au mal. Le mot yetzer, qui vient de la racine yzr utilisée lorsque les textes parlent de mauvais penchant, signifie la mise en forme, de proposer. L'idée est que nous sommes guidés par nos penchants, notre imagination, que ce soit bon ou mauvais. En ce sens, nous sommes des animaux totalement différents. Et c'est exactement yetzer qui, combinée à la liberté humaine rend la repentance possible. Où, comme au Deutéronome dit 11,26 à 28b 

" Attention aujourd’hui, je vous soumets la bénédiction et la malédiction Vous aurez la bénédiction si vous obéissez aux commandements du Iahvé, ton Elohim, que je donne vous, mais ! Ils maudiront si vous désobéissez aux commandements du Iahvé, ton Elohim, et se détourner de la voie que je vous commande, de suivre des Elohim inconnus ".

Étant donné que ces lignes sont étroitement liés et forment une toile, l'idée de l'histoire est présente dans les Écritures quand il voit la vie humaine et la réalité actuelle et future en tant que structures ouvertes, qui sont nés de cette relation et le dialogue entre l’Iahvé et l'être humain. Il est la dichotomie existentielle, soit la nature et la transcender, il faut l'être humain la possibilité de la révolution, à savoir la construction de l'histoire. Cela peut être mieux comprise dans les histoires de libération de l'esclavage égyptien. Mais ce communiqué ne constitue pas une libération nationale, qui ne comprend qu'un seul groupe ethnique, mais la révolution sociale. 

Maintenant, c'est là commence l'histoire d'Israël, tels que la liberté d'action, comme la révolution et de l'histoire de la construction. Autrement dit, l’Iahvé a entendu les gémissements et les cris du peuple juif sous l'esclavage et a vu leur situation (Ex 2,23 à 25), leurs souffrances, et a décidé d'aider. Bibliquement, la construction de l'histoire humaine est toujours une corrélation entre la souffrance et le courage d'opter pour la liberté. Et ce fut le défi présenté à l'esclave hébreux, l'histoire et la construction de choisir le chemin de la liberté, ce qui signifie prendre des risques, car il y a souvent la sécurité dans l'esclavage. Et bien, quel est le rôle du Iahvé dans cette construction proposée dans l'histoire d'Israël?

Afficher l'hébreu que l'objectif de l'être humain est d'être des options, montrent entièrement humains dans les choix humains. Elohim en désaccord aussi quand l'hébreu prend le mauvais chemin, mais ne l'abandonne pas, parce que sa préoccupation est la liberté individuelle et collective de l'hébreu, et par extension de l'être humain, la construction d'une communauté régie par l'amour, la justice et la joie.

L’une de ces lignes force d'idées théologiques présentes dans les Écritures hébraïques juives est l’halakha, qui est devenu la branche de la littérature rabbinique. Il traite avec les obligations religieuses qui doivent soumettre les Juifs dans leurs relations avec les autres et avec le Iahvé. Elle englobe tous les aspects de l’existence. Mais dans cette classe, nous utiliserons halakha dans son sens le plus large, dans le chemin de sens. 

Ainsi, à partir de l’halakha, plutôt que de proposer un culte statique de Elohim, les Écritures nous disent de marcher avec lui. D'où l'idée de chemin. Ainsi, l'être humain est placé à chaque instant et chaque jour sur l'obligation d'exercer leur liberté et de choisir entre le bien et le mal, ou, comme Deutéronome 30:15: 

« Voir que je mets devant toi la vie et la prospérité, ou la mort et la destruction ". 

La vie est le plus grand bien, le modèle de choix, car Elohim est vivant et nous sommes également en vie. Le bon choix est alors ceci: choisir la vie, ce chemin est entre croissance et décroissance. La façon dont la ligne-force de loi ou halakha est vaste et profonde dans l'Écriture, et sans elle serait incomplète. Et il est de cette structure théologique que l'hébreu pensée et juive, nous voulons étudier la théologie de la voie. 

Le chemin

« Pour ce peuple tu diras: Ainsi dit Iahvé: Voici, je mets devant vous le chemin de la vie et la voie de la mort ». (Jeremiah 21: 8)

« Car mes pensées ne sont pas vos pensées, vos voies ne sont pas mes voies, dit Iahvé ». (Isa 55: 8)

Théodore Monod a dit que nous ne sommes pas juste milieu, mais le complément. Nous ne sommes pas gris, mais le spectre des couleurs. En fait, les écrits juifs de l'ère chrétienne nous disent que l’Iahvé a construis l'être humain puis retiré à cet humain pourrait construire leur liberté et leur place. Ainsi, l'être humain est potentiellement autonome dans les limites de l'existence, construit le libre arbitre et donc la responsabilité. 

Les écrits juifs livrés à marcher sur la diaspora, comprendre que l'engagement éternel à la construction permanente de l'être humain. La création, vu de cette façon, n'a pas complète, l'être humain, en tant que personne et communauté, continue à créer. Par conséquent, la construction de la spiritualité est la clé de l'avenir humain. C'est ce qui conduit à la création permanente. Les textes de la mystique juive, en parlant de l'accès au monde de l'Esprit, demandez: 

« Tu deviens ce que tu es? » 

L'être humain, en tant que personne et communauté, est le créateur de lui-même. Sa vie est un voyage dans le but de devenir. Il devrait rebondir de « connais-toi » à « devenir qui il est » et « de trouver sert. » Il est le voyage de l'existence humaine et la liberté est un voyage en soi, une communion qui embrasse le cosmos, et doit être réalisé en coupant la pierre, symbole de l'être humain, le matériel vers le spirituel. 

Mais cette chemin dans la vie, met sa propre vie comme la raison de notre existence. Nous existons à la vie et cette vie doit être vécue avec une intensité et une direction. Ou une expression humoristique de rabbin Baal Shem Tov « crainte de Elohim sans joie est pas peur, il est la dépression. »

Le mâle et soupir

Le récit de l'histoire de Caïn et Hebel montre que la théologie du chemin est présente dans les Écritures depuis ses débuts. C'est, depuis l'aube du défi humain d’halakha est placé devant lui. Ainsi, la lutte entre les deux frères se traduisent deux modes de vie et incarnent la fracture de l’imago Dei et par conséquent l’aliénation humaine dans leur diversité, à savoir la distance de l'Eternel, et les cessions psychologiques, sociologiques et même écologiques.

" Adam a eu des rapports avec Eve, sa femme, et elle est tombée enceinte Eva a donné naissance à un fils et dit: -. Avec l'aide de Elohim, le Iahvé, avait un fils et elle appela son nom Caïn en lui alors ... avait un autre fils nommé frère d'Hebel Caïn. Hebel était un gardien de moutons, mais Caïn était un fermier. Le temps passait. Un jour, Caïn a pris des produits de la terre et leur a offert à Elohim, le Iahvé. Hebel, à son tour, a le premier agneau né dans son troupeau, l’a tué et a offert les meilleures parties au Iahvé. Iahvé était satisfait Hebel et son offrande, mais il a rejeté Caïn et son offrande. Caïn est devenu enragé et grimaça. Le Iahvé il a dit: - Pourquoi êtes- vous ? colère en marchant fronçant les sourcils si l'on avait fait la bonne chose, vous sourirez, mais vous avez tort, et si le péché est à la porte, en attendant , il veut maîtriser mais vous devez le battre Caïn dit à Hebel son frère: - .. Venez sur le terrain quand les deux étaient sur le terrain, Caïn a attaqué Ab el, son frère, et le tua ». (Genesis 4: 1-8)

Quand Caïn est né, Eve - l'hébreu חַוָּה, Hava, la vie - la Mère, heureux dit l’Iahvé a atteint un homme. Ce qui est un jeu de mots sur le mot qanah, l’achat, qui donnera mot Caïn, mais fait également référence à la virilité du garçon. En ce qui concerne Hebel son nom Hevel en hébreu signifie souffle, soupir, une brise légère, en ce sens que la vie était courte et sans laisser d'enfants.

C’est l'histoire de l'affrontement entre les deux frères, entre deux spiritualités. L'Éternel reçu volontairement l’offrant de Hevel parce qu'il « a offert les meilleures parties à Iahvé. » Alors que Caïn « jour a pris des produits de la terre », à savoir, offert négligemment qui ne lui donne pas le travail, il a dû épargner. 

L'Éternel apprécie la sincérité des sentiments qui génère l'offre et non l'inverse, alors il a dit: 

« Je déteste, je déteste vos fêtes religieuses, je ne peux pas supporter vos réunions solennelles ne pas accepter les animaux qui sont brûlés en sacrifice ou des offrandes. … les céréales ou les animaux gras que vous offrez comme offrandes de paix Arrêtez le bruit de leurs chants religieux, ne veulent pas entendre la musique au lieu de harpes, veulent qu'il y ait autant de justice que les eaux d'une inondation et que. L’honnêteté est comme un fleuve qui ne cesse de courir ». (Amos 5: 21-24).

Ainsi, l'histoire des deux frères présente la métaphore de la fracture psychologique, sociale, écologique et spirituelle de l’humanité.

La promenade en mission

La marche avec l’Iahvé ne peut pas être séparé de la place sous la mission de l'Esprit, pour la construction de la liberté humaine est né de l'Esprit et la révolution confronte la solitude de ses propres moyens. 

Deux notions fondamentales, l'être et le devenir, sont étroitement liés aux idées de halakha et la révolution permanente de l'Esprit. Seul l’Iahvé est un. Dans la tradition juive, quand on parle de « être », nous parlons de l'Éternel. Mais les humains marchent en vue de devenir l’être. Ils ont besoin de marcher son voyage, symbolique du matériel vers le spirituel, afin d'intégrer, internaliser la simplicité sublime de l'Eternel. Il est en ce sens que la marche devrait générer l’harmonie, la paix qui mène à la coexistence de la tradition et du progrès. 

Ainsi, l'histoire des deux frères a la métaphore de la fracture psychologique, sociale, écologique et spirituelle.

1. Au niveau psychologique, le point Caïn et Hevel au conflit entre le bien et le mal, entre répondre aux désirs de la nature humaine et de vivre la construction de la liberté humaine dans la marche avec le Iahvé. Et dans ce conflit, quand la nature humaine est en train de gagner les résultats de clash dans le fractionnement, à Split humain que nous sommes.

En tuant Hevel, Caïn devient un paria lui-même, un nomade marqué par l'absence de ce qui constitue une vie pleine de personnalité libre de culpabilité. Devient une personne sans nord loin de son intégralité en tant qu'être humain. Il doit être divisé, fracturé.

2. Sur le plan social, Caïn et Hevel symbolisent deux lettres, divisés, confrontés au cours de l'histoire.

Il est un conflit permanent entre l'humanité, symbolisée par Caïn, marchant dans le sens contraire à la vie, en tue frère et par la violence il assemble la nature, ce qui conduit au déséquilibre et la destruction. Mais il y a une autre humanité, symbolisée par Hevel, qui cherche la communion avec le Créateur, avec son frère, et avec la nature elle-même.

3. Au niveau spirituel, ce qui est le principal centre de l'histoire, le point Caïn et Hevel à une fracture dans l'âme humaine sur son chemin de relier avec l'Eternel. Une dualité qui a défini deux types de recherche - un formel, stéréotypé dans leurs propres valeurs, et une autre à mettre en mission à la volonté éternelle.

Spirituellement, il y a une scission au cœur de l'âme humaine dans l'histoire du conflit entre Caïn et Hevel. Il est une parabole de l'être humain qui sacrifie une partie de son être. Le Caïn fermier passe à promeneur puis devenir un constructeur de villes. Et pasteur Hevel devient un symbole de foi en mission et dans un contexte spirituel, pour la livraison à martyr de l’Eternel.

Caïn est la métaphore d'une humanité qui tue en lui-même la livraison d’Hevel, de la vie pleine en harmonie avec la volonté de l'Eternel. Et de vivre comme un vagabond, dans la solitude de lui-même. Caïn fonda une ville. Il est sa façon de dire non à la volonté éternelle, qui considère injuste.

La liberté de la fraction du pain

La communauté de la foi en tant que communion, ne devrait pas être un obstacle à la marche spirituelle. Au contraire, compris le concept de communauté, vivre ensemble pour rompre le pain, cette communion ne doit pas développer l'ambition, l'orgueil ou de réflexe xénophobe, mais l'ouverture à l'être humain. Son sens n’exclut pas la fraternité, mais l'étendre de la communauté envers tous les êtres humains. L'objectif est difficile, mais il n'y a pas d'espoir à moins que nous persévérions vers le succès.

Apprendre à la liberté est la première fois ce bâtiment, célébrée à Pâques, en marchant dans l'espoir. Nous avons marché vers le côté et vers le haut. Cette tradition a été transmise aux Juifs par la Torah, et est présent dans les commandements sur lesquels fonder la cohésion de la communauté juive. 

La promenade associée à la révolution permanente de l'Esprit doit conduire à une spiritualité qui vole au-dessus des dogmes et la formalisation. Il se trouve sur la base de la fraternité universelle. Lorsque, le progrès et la tradition peuvent donner un sens à l'existence des droits humains, tout maillon de la chaîne de la vie. 

Dans cette promenade nous avons trouvé, comme cela a été révélé que l'Eternel est impensable, inconnaissable et impénétrable, mais présent dans l'univers dans tous ses plans. L'Éternel ne peut pas être nommé. La seule désignation authentique est précisément le rejet de toute définition, est « ein Sof » celui qui n'a pas de fin, l’Eternel. Ein Sof ou Ayn Sof, (en hébreu אין סוף), dans la mystique juive, on entend Elohim avant son auto -manifestation dans la production de tout royaume spirituel, probablement dérivé de terme ibn gabirol « le seul infini ». Esprit absolu est essentiellement seul. L'Éternel est la seule, la seule manifestation visible de l'invisible. Mais l'harmonie universelle se traduit par la complémentarité des contraires. La vie est un point dans l’éternité. 

Nous devrions nous tous des êtres humains, ceux qui attendent le monde de l'Esprit. Et marcher dans la liberté de l'Esprit nous conduit à l'amour, qui est la clé de la communion. Par conséquent, l'amour de l'autre est de reconnaître qu'il a également été créé pour la liberté de l'Esprit. Et il marche vers la pleine signification de la vie. 

« Il devrait y avoir rien à personne, sauf l’amour pour l'autre, car celui qui aime les autres a accompli la loi les commandements : » Ne pas commettre d’adultère « » Tu ne tueras pas « » Tu ne voleras pas « » Tu ne convoiteras point « et tout autre commandement, sont résumés dans cette une règle: » Tu aimeras ton prochain comme toi - même ". L’amour ne fait pas de mal à un voisin. L’amour est donc l'accomplissement de la loi ». (Romains 13: 8-10)

L'amour donne dignité à l’acte de marcher. Semez les graines de la révolte contre l'injustice et l'oppression, y compris religieuse. Il reconnaît le fait que la souffrance est un déséquilibre dans le monde. Mais la liberté de l'Esprit nous donne conscience que l'amour ne peut pas être rétrogradé à des conceptions qui dégradent la dignité humaine. À-dire l'amour de l'autre n'est pas la foi, n'est pas destinée, il est l'acte de construire l'esprit et la liberté avec tout et tous.

Et la halakha est construit sur pied

Voilà pourquoi nous disons, Hebel, un être humain en mission a été le premier martyr de l’humanité spirituelle - souligne Jésus, le Christ.

« Jésus alla avec ses disciples à un endroit appelé Gethsémani, et leur dit : Asseyez- vous ici pendant que je vais là - bas et prier Jésus alla, emportant avec lui Pierre et les deux fils de Zébédée Puis il a commencé à ressentir une grande tristesse et. Affliction et leur a dit: - la tristesse que je ressens est si grand, qui est capable de me tuer Restez ici en me regardant, il a été un peu plus loin, se mit à genoux, mettre son visage sur le sol et a prié: - . Mon Père s'il est possible, que cette coupe de moi la souffrance! Mais cela ne se fait ce que je veux, mais ce que tu veux ". (Matthieu 26,36 à 39)

« Il avait la nature de Elohim, mais ne pas essayer d'être égal avec Elohim. Au lieu de cela, il a renoncé à tout ce qui était la sienne et a pris le serviteur de la nature, devenant ainsi égale à l’homme. Et vivre la vie ordinaire d'un être humain, il se humilia obéissant jusqu'à la mort - la mort sur une croix » (Philippiens 2: 6-8)

Tel est le défi de halakha, suivant la voie ouverte par Hebel - de l’humanité en mission à l'Éternel sera. 

Tel est le défi de halakha, marcher avec Jésus, le Christ - qui en renonçant à la détérioration apparente, nous a appris à construire la spiritualité et la liberté qui rend chaque humain nous fait. Et cette chemin qui nous amène à dire: ne pas faire ce que je veux, mais ce que vous voulez. 

On peut dire, alors, que j'existe parce que je mis au défi de marcher la halakha de la vie. Je ne me connais pas, je construis ce que je suis déjà. Et que seulement en faisant découvrir si mon destin, ma mission. Et donc nous sommes allés à halakha. Marcher dans halakha. Et lui, le Christ, le Messie est l’halakha. 

Et si nous avons terminé cette refléxion avec le de mots demi-frère de Jésus: 

« Celui qui est capable de les empêcher de tomber et de vous présenter devant sa glorieuse présence sans faute et avec une grande joie, à Elohim seul, notre Sauveur être gloire, majesté, force et autorité, par Jésus - Christ notre Iahvé, avant tous les siècles, maintenant et à jamais! Amen. » (Jude 1: 24-25)



JP/ Montpellier, Janvier 2024.