jeudi 5 janvier 2012

Depois de Mao Tsé-Tung...

A China moderna busca 
diretrizes morais no seu antigo passado
Craig Simons, de Yinchuan, China. WEB: Cox Newspapers


Uma pesquisa patrocinada pelo governo e cujos resultados foram divulgados
em fevereiro de 2008 revelou que até 300 milhões de chineses são religiosos, um número bem maior do que a antiga estimativa oficial de 100 milhões de pessoas.

Dentre os entrevistados pelos pesquisadores da Universidade Normal do Leste da China, em Xangai, 66% disseram que praticam religiões chinesas históricas, incluindo o taoísmo e o budismo, enquanto 12% - ou cerca de 40 milhões de pessoas - se identificaram como cristãos.
"A vida das pessoas se tornou materialmente mais rica na China, de forma que um número cada vez maior de gente está buscando uma espiritualidade mais intensa", explica Tong Shijun, professor de religião da Universidade Normal do Leste da China, em Xangai, e um dos que conduziu a pesquisa.
Com essa nova riqueza, muitos chineses se concentraram na compra de produtos com os quais sequer podiam sonhar sob o governo de Mao Tsé-Tung, o líder que dominou a China durante quase três décadas até a sua morte em 1976, e marcas como Gucci e Ferraris podem ser encontradas no mercado popular.
Segundo os especialistas, não se sabe ao certo se uma maior fundamentação espiritual e cultural implicará em valores morais comunitários mais profundos do que a atual preocupação com o status individual.


A busca por identidade
Seria difícil visualizar Zhang Xianliang, intelectual anticomunista, propondo que se lembrasse o passado. Rotulado de inimigo do Partido Comunista Chinês em 1958, ele foi internado em um campo de trabalhos forçados e lá permaneceu durante 22 anos, muitas vezes comendo pouco mais do que grama cozida para sobreviver.
Mas Zhang, que aos 70 anos de idade é um dos mais famosos escritores vivos da China, faz parte do número crescente de chineses proeminentes que pedem que a nação volte a se conectar com a sua história como forma de fortalecer um sistema de valores desvirtuado pelo Partido Comunista e pelo rápido deslocamento da China em direção ao capitalismo.
"Devido aos danos ao nosso legado cultural provocados pelo Partido Comunista e também à invasão da cultura ocidental nas duas últimas décadas, ficamos culturalmente à deriva", disse Zhang em uma recente entrevista em um estúdio cinematográfico e parque temático que ele administra na província de Ningxia, no norte da China. "Só agora estamos entendendo o quanto é importante cultivar um arcabouço moral comum".
Para Zhang e vários outros chineses, grande parte da intensificação dos problemas sociais em toda a China, incluindo o aumento da criminalidade e da corrupção, se deve ao enfraquecimento dos valores morais.
"Nos últimos anos houve um grande renascimento do interesse pela história e pelo pensamento da China", afirma Xia Xueluan, um sociólogo da Universidade de Pequim. "O nosso sistema de valores foi abalado pela modernização, de forma que as pessoas estão em busca de uma base moral".
Uma interpretação dos Analectos de Confúcio, os ensinamentos do monge chinês que viveu entre 551 e 779 A.C., vendeu 2,3 milhões de cópias entre novembro e fevereiro, e estabeleceu um recorde de 13,6 mil cópias vendidas em um único dia em uma livraria de Pequim.
Um programa de televisão chamado Sala de Leitura se tornou o de maior audiência de um canal da Televisão Central da China no ano passado, após passar a se concentrar em história e filosofia antigas, incluindo os ensinamentos de Zhuangzi e de Lao-Tsé, os mais importantes pensadores taoístas da China.
As universidades estão se beneficiando desse interesse crescente ao oferecerem mais matérias optativas e programas em filosofia tradicional. A Universidade de Pequim passou a oferecer programas em "cultura chinesa tradicional" em 2005, e faz propagandas desses cursos prometendo: "O conhecimento clássico abrirá novas estratégias para a sua vida".
Em abril, a universidade lançou a sua nova estratégia ao fazer uma parceria com uma companhia chinesa de telecomunicações para transmitir frases filosóficas tradicionais por telefones celulares mediante o pagamento de uma mensalidade de US$ 1,25. Um ensinamento confuciano enviado recentemente afirmava que "um cavalheiro deve lutar constantemente para atingir a auto-perfeição".
O Partido Comunista está também buscando os ensinamentos tradicionais para fortalecer o seu domínio. Desde 2005, o presidente chinês Hu Jintao clamou repetidamente pela construção de uma "sociedade harmoniosamente socialista" e em pelo menos um discurso enfatizou esta meta ao citar um ensinamento confuciano segundo o qual "a harmonia é algo de precioso". Mas a harmonia é uma coisa cada vez mais ausente em certos segmentos da sociedade.
O número de processos criminais na China mais do que dobrou entre 1999 e 2006, chegando a 4,65 milhões, enquanto o número de mortes causadas por acidentes de trabalho subiu para mais de 14 mil no ano passado, já que padrões inferiores de segurança acompanharam a rápida industrialização do país.
Ao mesmo tempo, a venda de produtos falsificados por vezes letais se tornou endêmica. No ano passado 11 pessoas morreram na província de Guangdong, no sul da China, após consumirem um remédio falsificado que, segundo o fabricante, combatia infecções da vesícula biliar.
Tais notícias não chegam a provocar escândalo na China. Entre uma série de casos recentemente expostos houve o da venda de ovos contaminados com um corante carcinogênico e o de um leite para recém-nascidos destituído da maioria dos nutrientes e que custou a vida de pelo menos 12 bebês em 2003 e 2004.
"Muita gente não se sente mais responsável pela sociedade, de forma que não pensa duas vezes na hora de vender produtos falsificados", afirma Zhang. "Temos milhares de leis, mas ninguém as obedece".
Assim como Confúcio, cujos Analectos enfatizam os valores da generosidade, da unidade e do respeito pela autoridade, o Partido Comunista publicou no ano passado uma lista de "oito virtudes e oito vícios" - incluindo lembretes para que os cidadãos trabalhem arduamente, amem o país e sirvam ao público - e encorajou os funcionários e cidadãos a aplicarem essas instruções às suas vidas diárias.
"Atualmente pouca gente enfatiza a importância dos ensinamentos morais nas nossas vidas, de forma que o governo está tentando ensinar um conjunto de valores comuns a todos", explica Xia. Ao mesmo tempo, os chineses estão em busca de mais diretrizes morais na religião.


Valores tradicionais
Na província de Ningxia, Zhang, que publicou vários livros sobre a sua experiência nos campos chineses de trabalhos forçados, argumenta que para voltar a se conectar com os valores tradicionais a China precisa entender a turbulência das décadas de 60 e 70.
Especialmente importante é compreender por que os chineses perderam o seu senso de valores comunitários durante a Revolução Cultural, que durou uma década, um período durante o qual incontáveis relíquias e templos foram destruídos como parte de uma iniciativa promovida pelo Partido Comunista no sentido de acabar com os remanescentes daquelas que Mao considerava filosofias atrasadas.
"A Revolução Cultural destruiu a nossa cultura e a substituiu pelo culto a Mao", afirma Zhang. "Quando Mao morreu, ficamos sem nada".
O Partido Comunista ainda proíbe a maioria das pesquisas sobre o governo de Mao por temer que discussões sobre traumas passados possam enfraquecer o controle partidário, e poucos chineses nascidos após 1976, quando Mao morreu, sabem muita coisa sobre a Revolução Cultural ou o Grande Salto Adiante, um movimento para coletivizar a agricultura no final da década de 50 que provocou uma onda de fome responsável pela morte de cerca de 20 milhões de pessoas.
No parque temático de Zhang, Wang Ying, de 23 anos, dá de ombros quando lhe perguntam o que aconteceu durante o Grande Salto Adiante.
"O meu livro escolar só traz meia página sobre isso, de forma que realmente não sei", diz ela.
Segundo Zhang, mais cedo ou mais tarde Pequim terá que permitir mais pesquisas sobre aquele período. Precisamos prestar atenção no nosso passado inteiro para entendermos o que perdemos nos anos 60 e 70", diz ele. "Somente dessa maneira poderemos saber que temos uma rica tradição cultural".


Fonte em português
Blog Controvérsia/Cox Newspapers. Tradução UOL. Esse post foi publicado no dia 25.07.2008. http://www.controversia.com.br/blog/?p=3018 (05.01.2012).

mercredi 4 janvier 2012

O caminho do sucesso


Moisés de Michelangelo

הצלחה
Hatslara
O caminho do sucesso


Salmo 90 – O desafio

(1) [Oração de Moisés, homem de Deus.] Senhor, tu tens sido o nosso refúgio. (2) Antes de formares os montes e de começares a criar a terra e o Universo, tu és Deus eternamente, no passado, no presente e no futuro. (3) Tu dizes aos seres humanos que voltem a ser o que eram antes; tu fazes com que novamente virem pó. (4) Diante de ti, mil anos são como um dia, como o dia de ontem, que já passou; são como uma hora noturna que passa depressa. (5) Tu acabas com a vida das pessoas; elas não duram mais do que um sonho. São como a erva que brota de manhã, (6) que cresce e abre em flor e de tarde seca e morre. (7) Nós somos destruídos pela tua ira, e o teu furor nos deixa apavorados. (8) Tu pões as nossas maldades diante de ti e, com a tua luz, examinas os nossos pecados secretos. (9) De repente, os nossos dias são cortados pela tua ira; a nossa vida termina como um sopro. (10) Só vivemos uns setenta anos, e os mais fortes chegam aos oitenta, mas esses anos só trazem canseira e aflições. A vida passa logo, e nós desaparecemos. (11) Quem já sentiu o grande poder da tua ira? Quem conhece o medo que o teu furor produz? (12) Faze com que saibamos como são poucos os dias da nossa vida para que tenhamos um coração sábio. (13) Olha de novo para nós, ó SENHOR Deus! Até quando vai durar a tua ira? Tem compaixão dos teus servos. (14) Alimenta-nos de manhã com o teu amor, até ficarmos satisfeitos, para que cantemos e nos alegremos a vida inteira. (15) Dá-nos agora muita felicidade assim como nos deste muita tristeza no passado, naqueles anos em que tivemos aflições. (16) Que os teus servos vejam as grandes coisas que fazes! E que os nossos descendentes vejam o teu glorioso poder! (17) Derrama sobre nós as tuas bênçãos, ó Senhor, nosso Deus! Dá-nos sucesso em tudo o que fizermos; sim, dá-nos sucesso em tudo. (17)  Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus; confirma sobre nós as obras das nossas mãos, sim, confirma a obra das nossas mãos.

Vamos aprender com Moisés

1.                  A soberania de Deus

Moisés sabe que Deus é o Deus do passado, do presente e do futuro. Quem define o tempo de vida das pessoas. Mil anos para Ele é como se fosse um dia. Moisés deposita sua fé em Deus. E fé é fundamental -- sem ela não há sucesso. A partir de Deus, nossa mente descobre novas formas de fazer, de resolver problemas. Isso é sabedoria, que nasce do temor diante da autoridade e soberania de Deus. E sem sabedoria não há sucesso.

2.                 As limitações humanas

Moisés sabe que as pessoas são falhas. Somos dominados por desejos da carne, dos olhos e pela soberba que nos levam por caminhos errados, por ira e culpas. Devemos saber contar os dias para ter um coração sábio. Moisés diz que não há sucesso quando não encaramos da forma  certa o que pretendemos fazer. Devemos reconhecer nossa dependência de Deus para ir mais longe, para superar limitaçoes, medos, pois o sucesso não depende apenas da capacidade, mas da visão.

Michelangelo Buonarotti (1564)

3.                 Deus quer seu sucesso

הצלחה significa otimizar resultados. Se você descer ladeira abaixo você está em apuros, porque só existe uma maneira de ter sucesso nessa empreitada é fazendo skating. Você sabe qual é o caminho? Isso é importante, porque nenhuma estrada é um caminho fácil, mas pior ainda é quando se vai na direção contraria ao הצלחה.

Reflexões para 2012

Moisés clama por amor, alegria e felicidade. Sabe que essas bençãos pavimentam o caminho do sucesso. De forma prática, pede que Deus abençoe a obra de nossas mãos. O nosso fazer, os nossos modos de fazer, nossos planos e objetivos. Mas, lembre-se: saber fazer é importante, porém mais importante são os valores que movem você, se você acredita que Deus está nesse negócio. Se tem a certeza que está fazendo a coisa certa e de que Deus está com você, então você está na direção certa. Começou a trilhar o caminho do הצלחה.




lundi 2 janvier 2012

Um sermão para 6 de janeiro

Caminhando em direção ao caminhante 
O sermão pode ser acompanhado por solo do negro spiritual “Anunciais pelas montanhas”, de origem desconhecida, mas cuja letra encontramos no Folk Songs of the American Negro publicado em 1907 por John Wesley Work, Jr.

Peregrino a Santiago por Hieronymus Bosch

Introdução

Paulo foi um apóstolo missionário. Em sua terceira e última viagem missionária, passou pela Galácia, Frígia e visitou as igrejas em Derbe, Listra, Icônio e Antioquia. Trabalhou em Éfeso, a capital da província romana da Ásia. 

Depois de três invernos em Éfeso, Paulo passou o seguinte em Corinto. E ali fez preparativos para uma visita a Roma, e pensou antes passar por Jerusalém. 

Corajosamente Paulo arriscou. Deixou de lado os avisos sobre os perigos que pairavam sobre sua cabeça caso voltasse a Jerusalém. E seguiu em frente. Desejava ser o portador das ofertas levantadas para a grande igreja dos judeus. Lucas conta que “os irmãos nos receberam com alegria” (Atos 21.17), mas foi preso... 

"Falai pelas montanhas, nos montes e por todo lugar; falai pelas montanhas que Cristo já nasceu".

1 . O desejo de Paulo 

Romanos 1:11-13 Porque muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum dom espiritual, para que sejais confirmados, isto é, para que, em vossa companhia, reciprocamente nos confortemos por intermédio da fé mútua, vossa e minha. Porque não quero, irmãos, que ignoreis que, muitas vezes, me propus ir ter convosco (no que tenho sido, até agora, impedido), para conseguir igualmente entre vós algum fruto, como também entre os outros gentios

Romanos 15:23-24 Mas, agora, não tendo já campo de atividade nestas regiões e desejando há muito visitar-vos, penso em fazê-lo quando em viagem para a Espanha, pois espero que, de passagem, estarei convosco e que para lá seja por vós encaminhado, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a vossa companhia.
A finalidade da carta de Paulo aos Romanos, assim como sua intenção de visitar Roma, era dar-lhes um fundamento seguro. E Paulo achava que isso seria um bem para ele também. Há aqui a idéia da reciprocidade na comunhão espiritual do Evangelho. 

Atos 23:11 Na noite seguinte, o Senhor, pondo-se ao lado dele, disse: Coragem! Pois do modo por que deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que também o faças em Roma

Jesus aparece a Paulo e diz para ele ter coragem, porque ele vai para Roma. Mas devemos nos perguntar: na vida, o que deve vir primeiro? Nosso propósito, nosso bem ou a alegria de Deus? 

"Nasceu na estrebaria o grande Rei dos céus, o eterno prometido, Jesus, menino Deus".

2. Paulo vai para Roma 

Atos 26:30-32 A essa altura, levantou-se o rei, e também o governador, e Berenice, bem como os que estavam assentados com eles; e, havendo-se retirado, falavam uns com os outros, dizendo: Este homem nada tem feito passível de morte ou de prisão. Então, Agripa se dirigiu a Festo e disse: Este homem bem podia ser solto, se não tivesse apelado para César

Atos 27:1 Quando foi decidido que navegássemos para a Itália, entregaram Paulo e alguns outros presos a um centurião chamado Júlio, da Coorte Imperial

É verdade, Paulo vai para Roma. Mas não como missionário, e sim como prisioneiro. Enfrentou a prisão sob Felix, tempestade, naufrágio e depois se fez caminhante na estrada em direção a Roma. Mas na estrada, em Puzzuoli/Nápoles ... 

Atos 28:11-14 Ao cabo de três meses, embarcamos num navio alexandrino, que invernara na ilha e tinha por emblema Dióscuros. Tocando em Siracusa, ficamos ali três dias, donde, bordejando, chegamos a Régio. No dia seguinte, tendo soprado vento sul, em dois dias, chegamos a Putéoli, onde achamos alguns irmãos que nos rogaram ficássemos com eles sete dias; e foi assim que nos dirigimos a Roma.
... algo acontece...

3. Caminhando em direção ao caminhante 

Atos 28:15 Tendo ali os irmãos ouvido notícias nossas, vieram ao nosso encontro até à Praça de Ápio e às Três Vendas. Vendo-os Paulo e dando, por isso, graças a Deus, sentiu-se mais animado

Paulo escrevera a carta aos Romanos três anos antes. Os irmãos da capital romana sabiam do sofrimento do apóstolo e correram para a Praça de Apio, cerca de 70 quilômetros ao sul de Roma, e para Três Vendas, a 55 quilômetros de Roma. E aconteceu o encontro na estrada. E Lucas nos diz: "ao vê-los, dando graças a Deus, Paulo fica animado". 

"Nos campos os pastores ouviram com temor os anjos que cantavam em glória e resplendor".

Conclusão 

Deus, através de cada irmão e cada irmã, caminha em direção ao caminhante. Por isso, ao final da caminhada podemos ver que: 

1. A alegria de Deus é a nossa força 

2. Jesus sempre faz bem feito. 

3. O gesto, o encontro dos irmãos com aquele que caminha sempre traz alegria e conforto. Não por uma qualidade especial, não pela quantidade de pessoas, mas pela própria presença. 

Os irmãos e irmãs de Roma estavam lá, caminharam em direção a Paulo. 

"E nós, que o conhecemos, devemos proclamar que Cristo veio ao mundo e a todos quer salvar".

Do seu pastor e amigo, Jorge Pinheiro.

samedi 31 décembre 2011

Em 2012

Ainda que a figueira não floresça 
Mesmo assim eu darei graças ao Senhor e louvarei a Deus, o meu Salvador
(Habacuque 3.18). 

Ele é o homem do abraço carinhoso, de coração generoso, que carrega quem sofre no colo. Esse Habacuque procura uma profecia de conforto, que dê ânimo ao povo, como se faz com uma criança que chora. Mas não é isso que acontece.

Habacuque reclama da decadência moral dos judeus e lamenta. E quando o Eterno informa que mobilizará os caldeus para exterminar a apostasia, estarrecido Habacuque diz ao Eterno que os caldeus são piores do que os judeus, que são traiçoeiros, e destroem tudo que encontram pela frente. Idolatram sua própria força e capacidade militar, ao invés de dar glória ao Eterno.

Habacuque, porém, sabe que o Eterno é puro de olhos e, por isso, espera a solução que virá dele. No entanto, está perplexo, a justiça do Eterno para com os inimigos caldeus e os judeus apóstatas não virá como fogo do céu, exclusivamente sobre os pecadores, mas como tsuname que avançará sobre inimigos e apóstatas e sobre todos. E o justo não surfará sobre essa maré de destruição -- deverá repousar apenas na sua fé.

Agradecimento, confiança e oração são as chaves espirituais para desvendar os mistérios do governo do Eterno sobre a terra. O espírito de Habacuque e de seus irmãos vacilam entre o medo e a esperança, mas ao final os julgamentos do Eterno triunfarão alegremente.

Muitas vezes, quando falamos de crise entre as nações, ou de dor e sofrimento entre os cristãos, nos perguntamos se o Eterno está preocupado com essas coisas. A resposta para essas questões estão presentes no rolo de Habacuque. O profeta do primeiro testamento ensina que as nações e os povos são julgadas pelo bem e pelo mal que produzem no mundo. E que esses juízos muitas vezes atingem também os filhos de Deus.

Conhecedor da alienação de Judá e consciente de que os caldeus invadiriam seu país, Habacuque sofre diante do que acontecerá ao seu povo. O profeta ora ao Senhor (3.1-19) e pede que Ele tenha misericórdia no exercício da sua justiça.

E foi assim, num momento extremo de dor, que Habacuque compôs o final do seu livro, o capítulo três, que é um dos poemas mais lindos do primeiro testamento. Nele o profeta mostra que toda a glória e todo o louvor pertencem a Deus.
  • Glória pelo que Ele é: misericordioso. O Eterno não vem só para julgar, mas também para livrar. “Mesmo que estejas irado, tem compaixão de nós” (3.2). 
  • Glória por sua majestade. Devemos aceitar a sua justiça, não porque entendemos ou deixamos de entender, mas porque Ele é o Eterno e nós somos pó. “Ele pára e a terra treme. Ele olha para as nações e elas ficam com medo” (3.6). 
  • Glória por nos manter firmes na adversidade. Lembre-se: ainda que a figueira não floresça, que não haja uvas nas parreiras, que os campos não produzam alimentos e que o rebanho seja exterminado, Ele está ao seu lado. “O Deus Eterno é a minha força. Ele torna o meu andar firme”. (3.19). 
Após as manifestações do Eterno no passado da história do povo, Habacuque canta, agora, a libertação antecipada contra o inimigo, através da interposição da majestade sublime do Eterno, de modo que aquele que crê pode regozijar-se no Eterno da sua salvação. Assim, o capítulo três, um salmo composto para ser cantado e acompanhado por instrumentos, fecha o livro com um lirismo cheio de esperança.

A violência aparentemente bem-sucedida dos caldeus, a apostasia dos judeus, e a maré da justiça de Deus, que varre a Palestina, é o pano de fundo para esse profeta de coração generoso falar de esperança e dizer que o justo viverá por sua
 hn"Wma (emuná) por seu posicionamento consciente e fiel diante da vontade soberana do Eterno.

Por isso, querido irmão, querida irmã, como Habacuque não se esqueça: quando tudo parece perdido, com Deus ainda não está perdido. Quando chegamos ao final de nossos recursos, os recursos de Deus ainda estão disponíveis. E quando a crise, a dor e o sofrimento nos encurralam, precisamos olhar para o alto, porque é Ele quem torna o seu andar firme como o de uma corça e quem leva você para as montanhas, onde estará seguro (3.19).

Que a fé de Habacuque sirva de exemplo para você e para mim neste ano de 2012. Do pastor e amigo, Jorge Pinheiro.

jeudi 29 décembre 2011

O paradoxo do arqueiro

Para André & Fernanda, Pablo & Patrícia, Thiago & Dayane

Os filhos da mocidade são como flechas nas mãos de um arqueiro. Projéteis disparados por arco. E sempre foi assim, mas a sabedoria judaica fez questão de registrar, consolando mamães e papais que temem ver os filhos voarem. Mas eles partem como haste longa e fina, de madeira afiada, com ponta armada, mas sem experiência de guerra, porque até o momento do lançamento estavam guardados na aljava. Não os menospreze, pois o Eterno fará de cada um deles, no vôo da sua liberdade, flechas afiadas de arqueiro.

É verdade matemática, o vôo certeiro é possível porque na extremidade da flecha há um princípio de equilíbrio, a ampenagem, que dá estabilidade à trajetória. A ampenagem são três penas dispostas ao redor da haste formando um ângulo de cento e vinte graus entre si. Assim, é normal que no vôo a haste se entorte e se flexione de um lado para o outro, como um peixe debatendo-se fora da água: é o paradoxo do arqueiro. Mas não se preocupe, sob a mira do Arqueiro, o sol e a lua deixam de brilhar diante do brilho das flechas.

Filhos, em nome da fé no Senhor, amem, honrem, obedeçam aos pais, pois vocês foram tirados da sua carne e dos seus ossos, para que vivam bons anos na terra que o Eterno vai dar a vocês.

As três penas da ampenagem

1. A confiança no Eterno a gente vê na menina Miriam, que observava o irmão no cestinho de palha. Essa confiança é a certeza de que aquilo que se espera virá, é a garantia de que aquilo que não se vê será, ainda que no momento pareça improvável: que uma princesa apareça para tirar o menino da margem do Nilo. A fé no Eterno nos leva a confiar e observar.

É a pena que possibilita ir a lugares altos, que conquista o intransponível com êxito. Permite o vôo d
a agilidade mental e viaja longe. É a pena da paixão pela vida. É conselheira e sábia. Esta seria pena de ganso.

2. O amor é irmão gêmeo da fidelidade, virtudes que a gente descobre quando lê que Isaque perguntou a Abraão: Pai, temos o fogo e a lenha, mas onde é que está a oferta para o sacrifício? E Abraão respondeu: Meu filho, o Eterno dará a oferta para o sacrifício no momento certo. E ambos continuaram a caminhar juntos.

É pena que voa firme, aplaina a terra e nivela altos e baixos. Dá o equilíbrio que resiste ao desvio de posição: com ela tudo dura, fica estável, seguro. É a pena das
soluções para os aflitivos da humanidade, da intuição e do trabalho. É pena que limpa o céu, acalma o mar e pára o vento. A lua e as estrelas se aproximam, em silêncio, para vê-la nos ares. Esta seria pena de pato.

3. A honra é irmã gêmea do respeito, e a gente vê isso no discurso de Salomão ao povo, antes de consagrar o Templo de Jerusalém. -- Davi, meu pai, teve a intenção de construir um templo para o Senhor, Deus de Israel,  mas o Senhor disse: Você teve a feliz idéia de me construir um templo,  mas não será você quem vai construí-lo; será o filho que você vai ter quem vai construí-lo. O Senhor cumpriu a sua promessa. Sucedi a meu pai, Davi, como rei de Israel, tal como o Senhor disse, e construí o templo para o Senhor, Deus de Israel.

Honrar e respeitar é agir em direção à justiça e à virtude. Em relação aos pais, é reconhecer que somos madeira que veio deles, cedro, cerejeira, pau-brasil, e, por isso, merecem fama e glória. Somos descendentes, carne e osso, e devemos levar isso para onde quer que sejamos lançados. É cuidado sim, mas cuidado dinâmico, que se expressa na ação de não deixar faltar, de estar ao lado quando necessário, de manifestar respeito pelo que significam: nos deram vida. São, e nisso consiste a sabedoria dos filhos, nossos heróis: devem ser o alvo de nossos aplausos e atenção.

Essa é a pena das riquezas escondidas. Encontra no vôo as qualidades que não estão na superfície. Diante dela são abertos os caminhos da abundância e da fartura. Mas é no encontro da alma que isso acontece, na boa disposição das imagens e na beleza das formas. Esta seria pena de peru.

O paradoxo do arqueiro

É normal que no vôo a haste se entorte e se flexione de um lado para o outro, como um peixe debatendo-se fora da água. Mas esse paradoxo não significa que a flecha não vai acertar o alvo. O Arqueiro lançou a flecha com ampenagem perfeita: confiança no Eterno, amor e obediência, honra e respeito aos pais. Por isso, não se preocupe querido papai, querida mamãe, sob a mira do Arqueiro, o sol e a lua deixam de brilhar diante do brilho das flechas.


Igrejas francesas e brasileiras juntas



A Cruz Huguenote
Convergência para o apoio
e o desenvolvimento de igrejas francesas e brasileiras

O projeto A Cruz Huguenote, neste primeiro semestre de 2012, visa apoiar pequenas igrejas francesas que por diferentes motivos estão sem pastores ou necessitam de apoio ministerial e aceitam construir parcerias com igrejas brasileiras. Essas parcerias partem do fato de que Deus mantem na França um remanescente da histórica tradição reformada, que deseja expandir o Reino e atuar junto ao renascimento protestante que pode ser visto em diferente regiões do país. 

A partir do exposto, neste primeiro semestre de 2012, A Cruz Huguenote propõe:

1. Parceria entre igrejas brasileiras e francesas, que desejam se conhecer e testemunhar juntas do amor de Cristo.
2. Promoção de acampamentos no Brasil e acampamentos de férias na França entre  jovens das igrejas solidárias com o Projeto A Cruz Huguenote.
3. Ida e vinda de pequenos grupos que desejam conhecer as igrejas francesas e as igrejas brasileiras para convívio e troca de experiências.
4. Ida e vinda de equipes esportivas e bandas que possam se apresentar em cidades franceses e brasileiras onde estão localizadas igrejas solidárias com o Projeto A Cruz Huguenote.
5. Ida de estudantes brasileiros para cursarem Mestrado em faculdades francesas, e vinda de estudantes franceses para cursarem graduação ou pós-graduação em faculdades brasileiras.

La Croix Huguenote*
Convergence pour l´appui et le développement des églises françaises et brésiliennes
_____________________________________________________
*A cruz huguenote foi criada em 1688 por um ourives da cidade de Nîmes. Passou a ser referência da fé reformada durante as perseguições dos séculos XVII e XVIII. Hoje é um símbolo do protestantismo francês. Os elementos presentes na cruz têm um claro significado espiritual, onde a pomba representa o Espírito Santo, expressão da relação do cristão com o Deus Eterno.

mercredi 28 décembre 2011

Vejam esta entrevista de um amigo meu

Ricardo Gondim no Canal Futura
Lançamos juntos, em 2010, o livro O que eles estão falando da Igreja. 
Obra organizada por Ricardo Quadros Gouvea, com participação de Alessandro Rocha, 
Paulo Brabo e William de Melo, pela Fonte Editorial.

dimanche 25 décembre 2011

Que o Cristo nasça no seu coração!


Três lições de amor
Reflexões a partir de Paul Tillich e do apóstolo Paulo

Pode-se falar muitos idiomas e mesmo ter o dom das lînguas estranhas, mas se não houver amor, as palavras seräo como o soar de um sino ou o barulho de um chocalho. O amor é voluntário, não pode ser forçado. A ação política é compulsória. Por isso, todo poder está associado com a ação imposta e o ato do amor com a liberdade e a vontade. Pode-se ter o dom de proclamar a palavra de Deus, de conhecer mistérios e saber tudo; e ter uma fé capaz de transportar montanhas, mas se não houver amor, nada valhe. Pode-se dar esmolas, doar tudo, ser queimado vivo, mas se não houver amor, nada disso serve. O amor é companheiro e paciente. Näo é invejoso. Näo se envaidece, nem é orgulhoso.

O amor é pessoalmente mediado. A natureza voluntária do amor necessita que exista a vontade de amar para ser ativada. O amor é sempre pessoal, o tem maus modos, nem é egoísta. Näo se irrita, nem pensa mal. Näo se alegra com uma injustiça causada a alguém, mas alegra-se com a verdade. Acredita, espera, sofre com paciência, suporta.

Primeira lição de amor


Quando se serve ao Eterno, de hoje até o dia da morte, Ele não ama mais do que o ama 
agora. O Eterno não ama por causa do que é feito, Ele ama apesar do que não é feito. 

O amor é sacrificial, é um ato não compulsório. Sacrificial traduz radicalidade. É a manifestação que exprime a busca do sentido de separação e reparação diante das possibilidades abertas por realidades sobre as quais há a total ausência de poder.

O amor é livre e vai além da obrigação moral ordinária. Cumprir uma obrigação moral é responder a uma necessidade moral. É um ato do dever mais do que da moral livre. Uma senhora de idade entrega, por exemplo, ao caixa várias moedas de um real para pagar três paezinhos numa padaria. Ao ver que a senhora entregou mais que o devido, o caixa devolve as moedas excedentes. Ao fazer isso, não demonstra nenhum gesto especial de amor. Cumpre sua obrigação moral de não levar vantagem a partir das debilidades de percepção da senhora.

Segunda lição de amor

Homens e mulheres gemem, pessoas de corações partidos e vidas destruídas, gentes sofrem a escravidão do mundo e clamam como Castro Alves em Vozes d'África:

Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...

... e ouvem uma resposta de amor: O Eterno está ao seu lado. 

O amor é voluntário e livre, vai além da obrigação moral, mas por envolver volição moral é humanamente mediado. E por ser sacrificial está limitado pela capacidade de cada um e de cada uma de absorver as conseqüências dos atos de amor. Por isso, quando se é criança, fala-se como criança, sente-se como criança e pensa-se como criança: liberdade e vontade não têm condições de serem plenamente exercidas. Adulto, consciente e livre, deixa-se o modo de ser de criança: ações e atos podem levar ao exercício pleno do amor.

O amor é eterno. As promessas se cumprem, os idiomas morrem, o conhecimento passa. As esperanças, as promessas e o conhecimento são relativos. Por isso, fé e esperança abrem espaço para o amor, pois quando chega aquilo que é pleno de sentido, tudo o que é imperfeito desaparece.

Terceira lição de amor


O Eterno nasceu aqui, caminhou e viveu, foi à cruz do Calvário e, através do túnel de um 
túmulo vazio, saiu em busca de pessoas que tiveram suas almas leiloadas no mercado de escravos deste mundo tenebroso.

Quando as gentes gritam: Onde está o Eterno? A resposta é sempre: O amor do Eterno está aqui. Que o Cristo nasça no seu coração!

jeudi 22 décembre 2011

O Natal chegou! Adoremos!


Cantata Coro Jovem - Natal 2011
Igreja Batista em Perdizes 

Desejo às pessoas com quem tive um momento ou estive por um momento, ainda que apenas, em 2011, um nascimento marcante de Jesus, o Cristo, em seus corações e que isso faça toda a diferença no ano novo que se abre. 
Em Cristo e por Cristo, 
toda a glória!

samedi 17 décembre 2011

Vamos juntos celebrar o Cristo


  É que um menino nos nasceu, um filho nos foi dado. 
Deus colocou a soberania sobre os seus ombros. 
Os seus títulos são: 
Conselheiro maravilhoso, Deus forte, Pai para sempre, Príncipe da paz!
Isaias 9,5.

Natal na Igreja Batista em Perdizes (SP)
Você é o nosso convidado




 18/dez (DOM)
     - 18h45: Cantata O Esplendor da Glória
Com reflexão do Pr. Jorge Pinheiro

 25/dez (DOM)

     - 18h00: Culto de especial Natal

Com sermão do Pr. Nino



Car un enfant nous est né, 
un fils nous a été donné, 
il a reçu le pouvoir sur ses épaules 
et on lui a donné ce nom : 
Conseiller-merveilleux, Dieu-fort, 
Père-éternel, Prince-de-paix!

  Benvenuto nella famiglia, Luigi!

vendredi 16 décembre 2011

Gratos a Ti pelo nascimento do Cristo

Elvis Presley e Martina McBride -- Blue Christmas

Buon Natale          Fröhliche Weihnachten          Merry Christmas
Mo'adim Lesimkha          Feliz Natal          Feliz Navidad 

"Vós é que sois as minhas testemunhas. Palavra do Senhor! Vós é que sois o meu servo, aquele que eu escolhi, para saberem, acreditarem e compreenderem que eu é que sou Deus. Antes de mim não houve nenhum deus e depois de mim também não haverá. Eu, e só eu, é que sou o Senhor. Fora de mim não há ninguém que salve! Sou eu que ofereço a salvação, a anuncio e a proclamo, e não é nenhum deus estrangeiro que esteja no meio de vós. Eu sou Deus e vós sois testemunhas disso! Palavra do Senhor!" Isaías 43.10-12.    

jeudi 15 décembre 2011

O nascimento de uma criança


 
O povo que andava na escuridão viu uma forte luz: 
a luz brilhou sobre os que viviam nas trevas” (Isaías 9.2).

É comum todos os anos ouvirmos estas palavras do profeta Isaías, nas comemorações do nascimento de uma criança judia. E a cada ano, estas palavras têm um novo sabor e fazem reviver o clima de alegria e caminhada, que é típico do nascimento.

Ao povo atribulado e oprimido, que andava em trevas políticas e sociais porque estava sob o jugo do Império romano, apareceu uma luz forte. Sim, esta luz forte, irradiada da humildade de uma criança nascida numa vila sem importância – Beitlehem, em hebraico, A Casa do Pão, em português  -- é a luz do sentido pleno da vida. Se a primeira luz foi a do Big Bang, conforme nos conta o livro das Origens (1.3), mais brilhante é a luz que traz o sentido da vida àquele que reconhece a miserabilidade e clama por justiça!

O nascimento é a festa da luz da eternidade entre nós. Na criança d´A Casa do Pão, a luz primeira volta a resplandecer no céu da existência para dissipar as nuvens da alienação. O brilho do triunfo do que é necessário e perene aparece no horizonte da história para propor um caminho novo, a marcha na construção de um novo mundo de alegria, justiça e paz!

A travessia noturna


“Tu, ó Eterno, aumentaste esse povo e lhe deste muita felicidade. Eles se alegram pelo que tens feito, como se alegram os que fazem as colheitas ou como os que repartem as riquezas tomadas na guerra” (Isaías 9.3).

O anúncio vale também para nós, homens e mulheres do alvorecer do terceiro milênio. A comunidade reúne-se em louvores para escutar a boa nova do nascimento de uma criança. Em meio ao terror do Império presente nas vidas, da noite fria no deserto, o nascimento é momento de memória.

Após longa espera, irrompe o esplendor do dia novo. Nasceu a criança, a eternidade conosco! Nasceu aquela que foi anunciada pelos profetas e invocada pelos que andavam nas trevas. Na escuridão e silêncio da vida clandestina, a luz faz-se mensagem de novo caminho.

Mas não contrasta esta certeza do novo caminhar com a realidade histórica em que vivemos? Diante dos fatos que ouvimos, esta palavra de um novo caminho parece sonho. Mas é nisso mesmo que se encerra o desafio do caminho, tornando este anúncio simultaneamente consolador e exigente. O caminhar novo nos envolve na exigência solidária do que é necesário e perene e ao mesmo tempo nos leva a apoiar o diferente e o igual, sempre gente como nós.

Solidários no caminhar


“Deus revelou a sua graça para dar salvação a todos”. (Tito 2, 11).

Nesta memória do nascimento, nossos corações estão inquietos e preocupados com a persistência, em diversas regiões do mundo, de guerras, penosas carências, tensões sociais. Procuramos uma resposta que mobilize e transforme.

O texto da carta de Paulo a Tito recorda-nos que o nascimento da criança traz a liberdade aos extremos da terra e aos momentos da história. Para todo homem e mulher nasce a criança que tem os títulos de conselheiro, forte, eterno, príncipe da paz. (Isaías 9.6). Ela traz a resposta que necessitamos, que desfaz temores e dá coragem para a ação do caminhar em direção ao novo aparentemente impossível.

Nesta noite de memória torna-se mais firme a confiança na força redentora da palavra que se fez carne e habitou entre nós. Quando as trevas parecem prevalecer, a criança nos diz para ir em frente! Ela derrota o poderio do mal, liberta da escravidão da morte e nos convida ao banquete da vida.

Sou chamado a me mobilizar em força solidária, assumir a parceria pelo mundo novo. Sou chamado a vencer o mistério da iniqüidade, ser testemunha de solidariedade e construtor da paz. Vamos, a partir da memória, aos campos d`A Casa do Pão para encontrar a criança, mas também para com ela encontrar outras gentes, irmãos e irmãs feridas no corpo e oprimidas no espírito. A festa da luz é travessia noturna em direção ao sentido pleno da vida!

Teologia e política (3)

Reflexões sobre a construção 
histórica do Partido dos Trabalhadores 

Terceira parte 
Algumas questões teóricas 
sobre o movimento de massas 
Paul Tillich

A palavra massa, para Paul Tillich [Masse et Esprit, Études de philosophie de la masse[1]], transformou-se em slogan político e social. Expressão esta que conota superioridade e idolatria. Por isso, quando se deseja discutir seriamente o conceito massa é necessário definir seus contornos e esfriar um pouco a fervura do slogan[2]. 

Segundo Tillich, há dois conceitos de massa, um formal e outro material, o primeiro de ordem psicológica e sociológica e o segundo de ordem histórica e social[3]. Em termos formais, a massa consiste numa associação de pessoas que, na associação, deixam de ser indivíduos. Sua individualidade se perde e ele se submete à coletividade. A pessoa se torna um átomo, desprovido de suas qualidades, seu movimento próprio, e se transforma em pura quantidade subordinada ao movimento da massa. Através da psicologia das massas pode-se ver como a alma perde sua forma individualizada uma vez que toma a forma da massa e como o indivíduo entra em contradição com ele próprio, já que é um átomo da massa ou um ser bem singularizado.[4]

Tillich considera que no movimento psíquico da massa alguns elementos se separam e se isolam, adquirindo eficiências por eles próprios. Isto porque um indivíduo é o resultado de uma longa evolução interior e sua alma está ligada a milhares de liames à vida da alma em sua totalidade, que assim torna-se autônoma [5]. Na massa, as forças de inibição, de reflexão e de matizações caducam. Tudo se transforma. Assim, podemos resumir essas transformações em duas leis. A lei da imediaticidade, segundo a qual a massa não reflete, mas é. Ela tem uma existência objetiva, não subjetiva como afirmou Hegel, ela é em si, não para si [6]. 

A massa não sabe porque ela faz aquilo que faz. Quando acede a ela própria é sempre através de certos indivíduos, um orador ou chefe. A massa é imediata, vive inteiramente o presente, sem ligações com o passado ou o futuro, sem lembranças ou reflexões. Suas motivações são irracionais. Mas para Tillich, a lei da imediaticidade explica o desabrochar dos instintos biológicos imediatos, que estavam inibidos. Também mostra a existência de um princípio espiritual imediato que se faz presente, que pode ser traduzido como o abandono ao instinto do momento em direção à disponibilidade da revelação espiritual do presente, revelação de uma espiritualidade subjetiva impura [7]. 

Ou seja, a irracionalidade das motivações pode dirigir ao irracional de baixo, à demência, ou ao irracional de cima, à novidade criadora. A outra lei da psicologia das massas, segundo Tillich, é a lei da amplificação. Se a vida espiritual do indivíduo perde suas inibições, se tal fato se repete em cada indivíduo presente, como num alternador, o vivido por um, suscita em outro experiência idêntica, porque a massa vivencia ela própria o ser massa. Essa lei nos leva a dois aspectos da vida da alma, o aspecto emocional e o aspecto intelectual. 

Em todo movimento da massa podemos observar a força do entusiasmo, a amplificação das paixões, da coragem, que podem levar ao seu sacrifício e destruição. Do lado intelectual, a lei da amplificação age de forma mais discreta, porque o processo de reflexão não convém à massa por causa de sua complexidade[8]. De certo ponto de vista, explica Tillich, o indivíduo está mais alerta que a massa, mas a massa pode se elevar bem acima das consciências subjetivas, com suas intuições mais simples, mas também maiores e também com sua clarividência disso, que prepara o espírito objetivo no momento presente[9]. A amplificação pode levar ao monumental e ao heroísmo, mas também ao demoníaco e à destruição. E as intuições da massa podem se conformar ao espírito ou lhe ser refratário.[10]

As leis da psicologia das massas são leis naturais, afirma Tillich. Elas são sempre válidas e necessárias onde uma pluralidade se encontra reunida. Elas têm valor para todos os estamentos sociais, para um grupo de marginais, assim como para uma assembléia de nobres. Com ironia superior, elas regem uma reunião de convencidos individualistas, assim como explicam o sentimento de superioridade existente na palavra massa, quando usado como slogan [11]. Segundo Paul Tillich, no conceito material de massa, a essência de um grupo de homens determinado é ser essencialmente formado conforme a psicologia das massas[12]. 

Por isso, no sentido histórico do termo, a massa, quer sejam classes ou ordens, raças ou círculos, partilha do destino de ser excluído de toda formação espiritual individual. Vemos, então, que para Tillich a imediaticidade da massa faz com que desabroche nela instintos biológicos que estavam inibidos no indivíduo, o que traz à tona um princípio espiritual imediato: a disponibilidade à revelação espiritual do momento presente. 

Essa imediaticidade é o que leva a massa ao irracional de baixo, à demência, ou ao irracional de cima, à novidade criadora. Ao lado da imediaticidade, os aspectos emocional e intelectual são amplificados. As forças do entusiasmo e da coragem são amplificadas de tal modo que podem levá-la ao sacrifício e destruição. Assim, a massa se eleva acima das consciências individuais com intuições simples, mas com clarividência disso. Este processo prepara o espírito objetivo no momento presente. Quando objetivamente a massa vive esse processo de espiritualização, nela, religião e cultura se misturam. A esse primeiro momento de evolução da massa Tillich chama de massa mística. 

No contexto geral de uma análise do socialismo, não se pode deixar de levar em conta que a evolução histórica dá nascimento a diferentes tipos de massa, conforme o modelo de desenvolvimento das relações entre religião e cultura.[13] O primeiro estado consiste em uma unidade onde os dois ainda não se distinguem. Uma segunda etapa é marcada pela autonomia da cultura: assim, ela se diferencia mais e mais da religião, a ponto de gerar a secularidade moderna. Mas esta ruptura e separação são catastróficas tanto para a cultura como para a religião. E serão então superadas pela etapa final da teonomia, caracterizada pela presença de conteúdo religioso em todas as formas autônomas da cultura[14]. 

Podemos facilmente reconhecer os elementos desse esquema na descrição que Tillich faz dos diferentes tipos de massa. A massa mística corresponde à religião de origem: é a fusão dos indivíduos numa única comunidade que engloba tudo. Vem em seguida a etapa da autonomia, onde os indivíduos se diferenciam cada vez mais da comunidade de origem, até tornarem-se completamente independentes e separados. Mas ainda é massa sem forma e cultura, que não se colocou em movimento e caminhou para um estado de individualização. Essa é o estado de massa técnica ou mecânica, característico da moderna sociedade industrializada[15]. 

A partir daí surge a perspectiva de uma etapa final onde a massa e a individualidade pessoal formarão uma nova união, uma síntese nova, chamada massa orgânica, que corresponderá ao ideal da teonomia. Logicamente, nem sempre se caminhará em direção a este ideal: mas o tempo histórico que orienta nessa direção é o da massa dinâmica[16]. Dessa maneira, para Tillich, a massa dinâmica é sempre revolucionária, não unicamente no sentido político do termo – inclusive este é o sentido menos freqüente --, mas sempre em um sentido de fé espiritual e social. É necessário que ela seja revolucionária, porque o sentido de seu movimento é precisamente ir além do estado de massa e todas as formas que são responsáveis por este regulamento [17]. 

Assim, para Tillich o movimento da massa dinâmica parte da massa mecânica e é essencialmente um movimento de libertação: o movimento da massa dinâmica parte da massa mecânica, já existente ou em perigo de aparecer, e visa a supressão da massa, visa à massa orgânica, não importando que esse começo seja ou não atendido.[18]

Vemos aqui que Tillich tem uma compreensão diferente daquela de Gramsci, que entende a vanguarda enquanto intelectualidade orgânica, mas não vê a massa em processo dinâmico que pode levar ao surgimento de uma massa orgânica. Sem desejar fazer um confronto entre os dois pensadores, tocamos apenas no ponto que metodologicamente nos interessa: a vanguarda não se limita ao militante ou intelectual, é um processo maior que tem na massa orgânica uma dupla ação, de liderança da sociedade e de transformação da situação-limite. 

Uma tal visão abre perspectivas interessantes na análise e compreensão de diferentes situações históricas, em especial do momento vivido pelo Brasil no final dos anos 1970. A questão da transformação da sociedade, a luta pela democratização e a formação do Partido dos Trabalhadores são compreendidos melhor através do caminho metodológico construído por Paul Tillich em seus escritos socialista. E como ele afirmou, todas as questões convergem para uma mesma resposta: a humanidade deve ter origem nas profundezas de um novo conteúdo, onde será superada a oposição entre massa e personalidade. Onde um novo conteúdo será produto da graça e do destino.[19]

Notas
[1] Publicado em Berlim e Frankfurt por Edições da Comunidade Operária, em 1922, e mais tarde em Christianisme et Socialisme, Écrits socialistes allemands (1919-1931), Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de L’Université Laval, 1992, pp. 48-112. 
[2] Idem, op.cit., p. 75. 
[3] Idem, op.cit., p. 75. 
[4] Idem, op.cit., p. 76. 
[5] Idem, op.cit., p. 76. 
[6] Idem, op.cit., p. 76. 
[7] Idem, op.cit., p. 76. 
[8] Idem, op.cit., p. 77. 
[9] Idem, op.cit., p. 77. 
[10] Idem, op.cit., p. 77. 
[11] Idem, op.cit., p. 77. 
[12] Idem, op.cit., p. 77. 
[13] Jean Richard, Introduction au Tillich Socialiste, La masse prolétarienne, in Paul Tillich, Christianisme et Socialisme, Écrits socialistes allemands (1919-1931), Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de L’Université Laval, 1992, p. XLI. 
[14] Idem, op.cit., p.XLI. 
[15] Idem, op.cit., pp. XLI-XLII. 
[16] Idem, op.cit., p. XLII. 
[17] Idem, op.cit., p. XLV. 
[18] Paul Tillich, Masse et Esprit in Christianisme et Socialisme, Écrits socialistes allemands (1919-1931), Les Éditions du Cerf, Éditions Labor et Fides, Les Presses de L’Université Laval, 1992, p. 81. 
[19] Idem, op. cit., p.72.