vendredi 17 avril 2020
Ser protestante
mercredi 15 avril 2020
Eterno, eternamente 3
Em sua carta aos Romanos (5.12), o querido rabino Shaul, o apóstolo Paulo dos cristãos, explicita esse processo de construção do humano ao afirmar que a hamartia entrou na vida humana por um primeiro e com a hamartia, a consciência da morte. Ora, hamartia era uma expressão militar dos gregos que se referia ao ato do arqueiro errar o alvo, quer no treinamento, quer na batalha. Paulo utiliza a expressão no sentido de que vivemos sempre sob a possibilidade de errar os alvos existenciais. Por isso, a compreensão de hamartia está sempre ligada à ausência, separação, alienação, já que implica em distanciamento do objetivo existencial.
Errar o alvo, ou seja, hamartia ou peccatu, reforça este estado da existência, que chamamos alienação, e nos leva à origem da consciência humana. E Paulo fala, então, da consciência matricial da morte. Para o apóstolo, o estado de ausência, separação e alienação na existência produz esta consciência matricial, a consciência da morte.
A partir da consciência da morte temos a consciência do divino, a consciência da diversidade, já que não somos bichos e, por extensão, não somos apenas natureza, a consciência de que podemos escolher, e a consciência de que coisas e ações podem ser boas ou não. Dessa maneira, hamartia implica em consequências: necessidades diante da lei, daquilo que é ou está frente à existência, e possibilidades diante da liberdade, daquilo que não existe, mas pode ser criado.
Devemos ser, todos nós humanos, aqueles que esperam pelo mundo do Espírito. O amor é a chave para a vida, mas a morte a passagem esperada. Amar uns aos outros é reconhecer a centelha divina dentro do outro, e ajudá-lo a entender e a exaltar o sentido pleno da vida. Mas a passagem esperada, para que seja em paz precisa do amor vivido.
Nesse sentido, o amor permite reconhecer a dignidade do humano. Semeia as sementes da revolta contra a injustiça e a opressão, inclusive religiosa. Reconhece o fato de que o sofrimento é um desequilíbrio do mundo. Mas, temos consciência, de que o amor não pode ser rebaixado, enquanto concepção que degrada a dignidade do ser humano. Ou seja, amar uns aos outros, não é fé, não é destino, é ato de encontrar o entusiasmo da partilha com todos e todas.
É isso aí. O judaísmo permanece presente na construção do pensamento ocidental, leigo e religioso.
JP, Kadish, vida, morte e reino, trecho do capítulo 28.
lundi 13 avril 2020
Eterno, eternamente 2
Eterno, eternamente
Parte 2
Jorge Pinheiro, PhD
A comunidade religiosa, enquanto associação de grupo, não deve ser obstáculo para o caminho espiritual, ao contrário, compreendido o conceito de comunidade, de estar junto para repartir o pão, tal comunhão não deve desenvolver ambição, orgulho ou reflexo xenófobo, mas abertura para o mundo. Seu significado não é excluir a fraternidade, mas estendê-la da comunidade em direção a todos os humanos. O objetivo é difícil, mas não há esperança se não perseveramos em direção ao sucesso.
Aprender a liberdade é o primeiro momento dessa construção, comemorada na Páscoa, enquanto caminhar em esperança. Caminhamos em direção ao outro e para cima. Esta tradição foi transmitida aos judeus pela Torá, e está presente nos 613 mandamentos, em que se baseiam a coesão da comunidade judaica.
O caminhar associado a revolução permanente do espírito deve levar a uma espiritualidade sem dogmas. É um caminhar baseado na fraternidade universal. Donde, tradição e progresso pode fazer sentido na existência do humano, enquanto elo da cadeia da vida.
Nesse caminhar descobrimos, conforme nos foi revelado, que o Eterno é impensável, incognoscível, impenetrável, mas presente no universo em todos os seus planos. O Eterno não pode ser nomeado. A única designação autêntica é precisamente a rejeição de qualquer definição é ein Sof, aquele que não tem fim, Eterno. O espírito absoluto é essência por si só. O Eterno é o único, única manifestação visível do invisível. Mas a harmonia universal resulta da complementaridade dos opostos. A vida é um ponto na eternidade.
dimanche 12 avril 2020
Eterno, eternamente
Eterno, eternamente / primeira parte
Jorge Pinheiro, PhD
Para os relatos das origens nos textos antigos da tradição judaica, o humano, construído à imagem e semelhança do eterno é síntese e projeção das forças da criação. E ao ter livre-arbítrio, um atributo da eternidade, tal imagem e semelhança se apresenta enquanto arquétipo conceitual e faz dele humano primordial.
hadam kadmon é uma expressão que traduz a idéia de humano primordial. Faz parte da compreensão de que aquele hadam era matrix, e nele estavam presentes os moveres originais da criação. Assim, hadam kadmon é diferente do hadam ha-rishon, o primeiro. Em hadam kadmon estava a consciência, a-vida, presente a partir daí na espécie. Estes moveres originais de hadam kadmon são os atributos ostensivos que a eternidade deu ao humano, ser coroa da criação, ter vontade específica e atuar no plano da criação a fim de construir seu destino.
A leitura dos textos antigos da tradição judaica não tem como função ou meta a compreensão científica do mundo físico, mas a construção da consciência. Dessa maneira, a revelação do Eterno ao ser humano, através dos textos antigos da tradição judaica, não é de como funciona o mundo e sua realidade, mas como devemos, enquanto pessoas e comunidades, colocar-nos sob missão do Eterno.
Os códigos culturais e de linguagem hoje são diferentes daqueles das épocas onde os relatos das origens surgiram. Assim, a melhor aproximação é analisarmos os relatos das origens nos textos antigos da tradição judaica em comparação com os relatos e tradições presentes nas culturas antigas das épocas referidas.
Existe uma leitura humana de seus relatos arquetípicos, onde se considera as metáforas das suas tradições religiosas como fatos. E como os relatos arquetípicos fundamentam a cultura e a linguagem, passamos a ter então culturas e linguagens que demonizam e segregam pessoas, grupos de pessoas, segundo a origem nacional, raça-etnia, religião e sexo, entre outros características.
Uma dessas grandes metáforas é a de hawa, que conhecemos como Eva. E a metáfora hawa traduz os encontros e desencontros de hebreus e povos palestinos nos séculos que antecederam à era comum. E mais tarde, os primeiros cristãos deram sequência a este movimento quando viveram, eles também, encontros e desencontros com as religiões de mistério do mundo greco-romana, com seus cultos à mãe-terra.
O primeiro cristianismo, que surgiu como facção do judaísmo, por questões de inserção e sobrevivência absorveu elementos da cultura e linguagem do mundo helênico. Estes cultos greco-romanos se inseriam em contextos religiosos e sociais muito antigos e, entre outros elementos, exprimiam a veneração da cor vermelha associada ao sangue menstrual. Na mitologia grega, a mãe dos deuses, Reia, Cibele para os romanos, traduzia a veneração ao próprio conceito de reia, que significa terra ou fluxo. Assim, dentro desta compreensão arquetípica, o humano fora formado a partir do barro vermelho.
A identidade da religião com a mãe-terra, a fertilidade, a origem da vida, aparece enquanto santidade da terra. Assim, ao formar o humano, nas leituras sincréticas cristãs a eternidade parte do vermelho da terra e sopra a vida no corpo formado. A eternidade não é corpo, não está presente na forma, mas a mãe-terra está dentro e, também, na totalidade do mundo existente. O corpo de cada um, de cada uma, então, seria feito do corpo dela. Nessas leituras arquetípicas dá-se o reconhecimento da identidade universal de todos humanos.
No capítulo um do livro das origens, macho e fêmea são criados à imagem do eterno. Algumas interpretações rabínicas consideram esta primeira criação um andrógino, porque a eternidade criou o humano à sua imagem, macho e fêmea. Na maioria das traduções ocidentais lemos que "o eterno criou o homem à sua imagem, à imagem do eterno o criou; ele criou homem e mulher (Gênesis 1:27). De fato, no texto hebraico a passagem está no plural: o eterno criou da-terra à sua imagem, no sentido genérico de humano. Em seguida, o texto diz macho e fêmea foram criados. Não temos aí os pronomes próprios hadam/Adão e hawa/Eva, mas macho e fêmea.
Só no texto seguinte, no segundo capítulo do livro das origens, outro relato da criação, é que hawa, que tem vida, aparece. E a metáfora se fez relato factual, histórico, que ganhou força no judaísmo e, posteriormente, entre cristãos e muçulmanos. Assim, a metáfora arquetípica, lida a partir de hermenêuticas patriarcais, no correr dos últimos dois mil anos transformou-se em fato fundante das culturas monoteístas. E hawa passou a ser um pedaço de hadam.
“Então o haShem Adonai fez cair um sono pesado sobre hadam, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar. E da costela que o haShem Adonai tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a hadam. E disse hadam: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma só carne”. (Gênesis 2: 21-24).
Os estudos da psiquê, desenvolvidos a partir do século vinte, trabalham com a idéia de que a humanidade, em certa medida, guarda em seu psiquismo os arquétipos das origens enquanto espécie. E as metáforas das origens e de seus desdobramentos calam fundo nas emoções e percepções humanas de forma aparentemente instintiva. E todos entendemos o recado, o ser humano paga um preço ao optar por construir sua liberdade. Nesse sentido, hadam e hawa representam a condição humana, são arquétipos de nossa força e fraqueza enquanto humanos, seduzidos sempre por fatores aparentemente externos, como o desejo da conquista do mundo, do poder e do sexo, que nos seduzem de forma paradoxal, tanto para a expansão de limites, o que seria um bem, como para a limitação de nossas possibilidades, o que seria um mal.
Théodore Monod disse que não somos meio termo, mas complemento. Não somos cinza, mas preto e branco. Na verdade, os escritos judaicos da Era Comum nos dizem que o Eterno construiu o ser humano e, em seguida, retirou-se para que este humano pudesse ocupar com liberdade o seu lugar. Dessa forma, o ser humano é autônomo por natureza, tem livre-arbítrio e, portanto, responsabilidade.
Os escritos judaicos, entregues no caminhar da diáspora, entendem que o Eterno aposta na perfectibilidade do ser humano. A criação, vista dessa forma, não está completa, o ser humano continua a criação. Por isso, a construção da espiritualidade é a chave para o futuro humano. É o que leva à criação perfeita. Textos, como os da Cabala, quando falam do acesso ao mundo da ruach, perguntam: Você se tornou o que você é?
O ser humano é criador de si mesmo. Sua vida é uma viagem com a finalidade do tornar-se. Ele deve saltar do conhece a ti mesmo para tornar-se quem ele é e descobrir para que serve. É a viagem que leva à perfeição, e a liberdade é uma viagem dentro de si mesmo, que deve ser realizada através do corte da pedra, símbolo do ser humano, do material em direção ao espiritual.
O caminho religioso não pode estar separado da reforma radical e permanente do espírito humano, já que o sentido do renascimento promissor e a revolução permanente do espírito são desafios universais. Ambos negam todo dogmatismo totalitário que confronta o pensamento livre.
Duas noções fundamentais, a do ser e a do devir, estão intimamente ligadas às ideias de caminho religioso e revolução permanente do espírito. Só o eterno é único. Na tradição judaica, quando falamos "ser" estamos a falar do eterno. Mas os humanos caminham no sentido de se tornarem ser. Precisam caminhar sua viagem, simbólica, do material e religioso em direção ao espiritual, a fim de integrar, interiorizar a simplicidade sublime do Ser Eterno. É nesse sentido que o caminhar deve gerar harmonia, paz que leva à coexistência de progresso e tradição.
samedi 11 avril 2020
À Zlabya, descendente
atente para isso, a descendência é responsável pelo ontem, pelo hoje e pelo amanhã. é na construção da vida, escolhida ou imposta, mas aceita, e na sequência dela, que a descendência se faz comunidade humana. as realidades da terra e do céu são vaidade e correr atrás do vento quando é descartado o papel humano de cada dia. por isso, deve fazer a crítica do clerical e chamar as pessoas à liberdade do espírito, para que pense a vida, que é construída para além das aparências das coisas da terra e do céu.
as palavras mudam de sentido, e podem dizer coisas diferentes, quando as usamos sobre uma perspectiva diferente. palavras. você já pensou na importância delas? é, sem dúvida, um dos limites da vida. os descendentes devem acreditar que o universo foi feito pela palavra eterna. acreditar que a palavra tem poder, por isso deve ter uma palavra só, cheia de sentido, ou seja, quando você disser sim, que seja sim mesmo, e quando disser não, que seja não. mas a sabedoria nos diz que a vida se faz também por outras palavras. dessa maneira, o ato de criação e o fazer humanos não são iguais porque as palavras são diferentes.
ah! embora as palavras sejam diferentes, os temas da vida são sempre os mesmos temas: o amor e o desamor, a distância e a saudade, o tino e o desatino. a diferença, porém, é que se faz, sempre, por outras palavras. e tudo muda...
sou grato à eternidade, mas sem pieguices. diga você também muito obrigado porque as contingências da vida não fumegaram o pavio. lá na frente, eu serei o garoto que andava pela ruas sem saber que a vida vai além do meio fio, que há fronteiras. e lá ao longe, mas para mim perto, estará o mar. o veleiro. a liberdade, aprendida com moran, será negociar com os ventos e a maré. diante das mareações, a marinharia me fará, junto do tio, um menino livre.
por isso, a zlabya, apresento a leitura humana da convicção e do posicionamento, onde se aprende a degustar prazeres. não se faz às correrias, com sofreguidão. é um ato delicado, um caminhar por palavras, dançando com elas pelo universo em construção.
nesse sentido, eu e você, todos somos poemas da eternidade. somos projetos de uma artesã, daí que a poesia e a razão andam juntas. por isso, a paixão aproxima porque é sempre poesia e razão nos diferentes momentos. quero que você, descendência, curta com prazer em cada ser humano as palavras, as outras palavras, que nos trazem diferentes construções e universos.
é, agradeço à eternidade porque fazer leitura virou destino. o menino lá da frente atravessou o tempo, os jeans, as camisetas, os cabelos arrepiados e caiu aqui, do outro lado da vida. tempo de poesia e razão, o garoto de depois olha a plenitude, mas o homem de antes entende que o dó, o ré, e o mi solitários não são importantes, mas sim as notas do meu amigo murá, compositor, e os parabéns e sorrisos que a eternidade montou para você.
e volto às palavras, afirmativas, compostas, decoradas, sussurradas, que se bebem, que reboam, secas, vulgares... a identidade não pode ser definida facilmente, mas isso não significa que essa identidade não exista. aliás, a maioria das identidades não podem ser definidas facilmente. daí que tais identidades são também comunidades imaginadas, unidas por leituras historicamente sem exatidão precisa. os uns não são diferentes dos outros, qualquer etnia e sua identidade não é facilmente definível, pois tais conceitos dependem dos descendentes.
assim, zlabya, lembre-se: a aparente simplicidade engana. eis uma lição de mestre, traduzir o humano com simplicidade, sabendo que o simples dá trabalho e, ao contrário do que se pensa, nunca é primeiro, mas processo. e esse é o recado. fazer leitura é descobrir o prazer da palavra curta, na construção muitas vezes trabalhosa que produz aquilo que é poesia. ou seja, fazer leitura é descontrair e na imaginação construir novo, percorrendo se for possível o caminho de todos, de cada humano. e é assim que, sem estardalhaço, a leitura ocupa lugar nos corações, cheia de imagens e significados.
digo à eternidade: obrigado pelo agradável, bom e doce que expressará em letras a liberdade do marujo. e se o ontem é um dia importante, é bom lembrar que o remédio para a enfermidade da segregação de gênero e raça é a construção social da cidadania e da justiça. a via para a liberdade estará numa trilha aberta aos diferentes, comprometida com os direitos humanos, mesmo quando sua identidade pessoal relacione diferenças e contradições.
o sondar daquele menino lá na frente ajuda. o olhar deslumbrado porque a vida será a praça, os jardins e os repuxos brancos no entardecer, as pessoas que comporão o cenário como se tivessem sido colocadas lá pelo arquiteto. e o mar... uai! a humanidade coroa a glória. aceite o prescrito com convicção.
yoffe ben shemtov
André Gounelle, Extra Calvinisticum
EXTRA CALVINISTICUM
L’EXPRESSION
Le terme extra calvinisticum apparaît au dix-septième siècle (vers 1620-1623) dans les controverses sacramentelles et christologiques entre luthériens et calvinistes. Calvinisticum se rapporte plus à la scolastique réformée qu’à Calvin lui-même qui esquisse mais ne développe guère la thèse ainsi dénommée (une thèse qui, au demeurant, a de nombreux précédents dans l’histoire de la théologie). Intra lutheranum qualifie, par opposition, la thèse des luthériens.
Réformés et luthériens affirment, avec la tradition théologique dominante dans le christianisme, que le Fils de Dieu (ou Logos), deuxième personne de la Trinité, a revêtu ou pris la nature humaine en Jésus de Nazareth. Ils ne comprennent cependant pas de la même manière comment s’articulent en la personne de Jésus humanité et divinité.
INTRA LUTHERANUM
Luther opère ce que l'on pourrait appeler une concentration christologique; il faudrait même dire une concentration "jésulogique" en ce sens qu'il ramène tout à Jésus. Pour lui, nous ne connaissons et nous ne rencontrons Dieu que dans l'homme Jésus, et nulle part ailleurs. Nous ne pouvons entrer en relation avec Dieu autrement que par l'homme Jésus, à travers lui, par son intermédiaire. Certes, Dieu agit en dehors de l'évangile et ailleurs qu'en Jésus. Mais de cette action autre, nous ne savons rien, nous ne pouvons rien dire. Elle est pour nous comme si elle n’existait pas, car nous ne la percevons d'aucune manière. Elle se fait dans un incognito que nous ne percerons jamais; elle nous échappe nécessairement.
Dieu et Jésus sont, pour nous, intimement, inextricablement mêlés ; on ne peut pas les distinguer. J’illustre par une comparaison un peu triviale ; ce matin sur la table du petit-déjeuner, il y avait un pot de café et un pot de lait. Quand j’ai versé le café et le lait dans ma tasse, j’ai obtenu du café au lait. Une fois que j’ai fait cette opération, je ne pouvais plus revenir en arrière et disjoindre ou isoler dans ma tasse le café et le lait. Ils étaient au départ chacun de leur côté, sans relation l’un avec l’autre ; maintenant, ils vont ensemble, je ne peux pas boire l’un sans boire l’autre. De même, une fois que Dieu s’est manifesté en Jésus, on ne peut plus les dissocier. Désormais, Dieu ne se rend présent et n’agit qu’en Jésus. On n’a de relation avec Dieu qu’à travers Jésus et quand on est en relation avec Jésus on rencontre du même coup Dieu. Ce qui conduit à pratiquement les identifier. Ainsi les luthériens chantent des cantiques de Noël qui parlent des « langes » de Dieu et déclarent qu’à Golgotha, Dieu est crucifié et meurt.
On appelle cette thèse "la communication des idiomes" ; les idiomes, autrement dit, les particularités de chaque nature (l’humaine et la divine), deviennent communes et indivises en Jésus, Deus homo. Chaque nature communique à l’autre ses caractéristiques de telle sorte qu’en la personne de Jésus, elles sont désormais intimement unies et indissociables. On ne peut plus les distinguer. Ainsi Luther écrit : « quand tu affirmes que Dieu est ici, tu dois aussitôt ajouter que Jésus-Christ homme est présent lui aussi … Tu ne peux pas parler de Dieu sans parler de son humanité. La divinité et l’humanité sont inséparables en lui. » (De la Cène du Christ, 1528). On ne peut pas envisager Deus nudus (Dieu nu, existant en dehors de l’homme qu’il a revêtu) : Dieu, en tout cas pour nous, est partout et toujours conjoint avec l’homme Jésus. Le Fils de Dieu est totus intra, il n’est numquam et nusquam extra carnem (il n’est jamais ni nulle part hors de cette chair). Aucune disjonction n’est possible entre l’homme de Nazareth et le Fils Éternel de Dieu, deuxième personne de la Trinité.
Dieu n’a pas d’action ni même d’existence indépendante ou différente de celles de Jésus. Luther affirme donc : "il ne sert à rien aux juifs et aux turcs de croire à Dieu qui a créé le ciel et la terre". "Celui qui ne croit pas au Christ ne croit pas en Dieu". Ailleurs, il écrit : "Dieu est insaisissable; c'est seulement dans la chair du Christ qu'on peut le saisir". Dans son livre Luther témoin de Jésus-Christ, Marc Lienhard commente : "il n'y a plus depuis l'incarnation de relation valable avec Dieu qui ne soit pas aussi une relation avec l'homme Jésus". Dieu ne se connaît et ne se rencontre qu'en Jésus. Les religions qui ne confessent pas Jésus et ne dépendent pas de lui n'ont, par conséquent, aucune valeur, même si elles se réclament, comme le judaïsme et l'Islam, du Dieu qui a crée les cieux et la terre et qui s'est manifesté à Noé, Abraham et Moïse.
EXTRA CALVINISTICUM
Pour sa part, Calvin distingue, plus que ne le fait Luther, l'homme Jésus d'avec la seconde personne de la Trinité ou le Fils éternel de Dieu ou encore le logos. Il n'identifie pas purement et simplement la divinité et l'humanité du Christ. Il s'agit de deux natures distinctes et il faut soigneusement éviter toute confusion entre elles. Certes, elles se joignent, se rejoignent et se conjoignent dans la personne de Jésus. Toutefois, elles ne s'amalgament pas, ni ne se compénètrent, ni ne fusionnent.
Pour Luther, nous venons de le dire, les deux natures se mélangent, comme le café et le lait dans le café au lait. Selon Calvin, elles s'accolent l'une à l'autre, tout en restant distinctes. On peut les comparer aux deux wagons d’un T.G.V. ; ils sont tellement articulés l’un à l’autre qu’on ne peut pas les décrocher, à la différence des wagons classiques ; on est pourtant dans la voiture 6 ou dans la voiture 7, pas dans les deux à la fois, et ce qui se passe dans la 6 (par exemple le bruit que font les voyageurs ou la fumée des cigarettes) ne touche pas forcément la 7. Dans cette perspective, on refuse d’identifier Dieu avec le Christ, c’est-à-dire avec l‘homme dans lequel il se manifeste et par lequel il agit. Marie fait téter, lange et berce un bébé humain. À Golgotha est crucifié un homme, mais pas Dieu lui-même. Significativement, Calvin ne prie jamais Jésus, mais Dieu au nom de Jésus. L’adoration s’adresse seulement à Dieu, ce qu’exprime très bien le poète anglais, proche des puritains, John Milton, qui écrit : « l’objet ultime de la foi n’est pas le Christ médiateur, mais Dieu le Père ».
La deuxième personne de la Trinité est, certes, pleinement présente dans la personne humaine de Jésus de Nazareth. Toutefois, elle ne s'enferme pas, ne s'enclot pas, ne se cloître pas ni ne se confine dans cette personne, comme a tendance à le penser Luther. Le Logos agit et se fait connaître, il se manifeste également en dehors de la personne humaine de Jésus (etiam extra hanc carnem). La création, la révélation générale sont l'œuvre du Logos, une œuvre qui se fait en dehors de Jésus, même si le Logos s'incarne totalement en Jésus de Nazareth. Jésus est totaliter Christus, sed non totus Christus (ou totum Christi); il est totalement Christ, sans être tout le Christ (ou le tout du Christ). L’union des deux natures n’est pas une « fusion », écrit Calvin ; la divinité n’a pas « quitté le ciel pour s’enclore en la chair comme en une loge. » (Institution de la Religion Chrétienne, édition de 1560, IV, 17, 38). De même, le Catéchisme de Heidelberg (1563, question 48) déclare: « Puisque la divinité est infinie et partout présente, il s’ensuit nécessairement qu’elle est bien hors de l’humanité qu’elle a assumée, et pourtant elle n’en est pas moins aussi dans celle-ci et elle lui reste personnellement unie. » L’extra calvinisticum se rattache au principe finitum non capax infiniti, souvent attribué à Zwingli. Ce principe ne refuse pas la présence de l’infini dans le fini (ce qui rendrait l’incarnation impensable et impossible), mais il affirme que cette présence déborde toujours les limites du fini qui la porte ou la rend sensible. Dieu est à la fois au-dedans et au-delà (ensarkos et asarkos, en et hors la chair) de la personne qui l’incarne.
L’extra calvinisticum est un etiam extra (un « également au dehors »). Le Fils se connaît et se rencontre essentiellement dans l’homme Jésus ; il se connaît et se rencontre parfois, accessoirement et secondairement, ailleurs. Comme l’écrit Willis : « Quand Calvin dit que les hommes connaissent Dieu seulement à travers le Christ, il entend par là principalement mais non exclusivement à travers l’homme Jésus. Calvin ne dit pas qu’il n’y a pas de connaissance de Dieu extra hanc carnem ; il dit que nous n’avons pas de connaissance de Dieu extra Christum. Christus peut se référer dans un sens secondaire au Fils Éternel de Dieu extra carnem aussi bien qu’en un sens premier au Dieu manifesté dans la chair. »
Le Christ déborde l'homme qu'il a été. Il y a donc une certaine présence de Dieu, voire du Christ, même là où Jésus n'est pas nommé ou manifesté. Pour Calvin, le Logos se trouve donc présent et agit en dehors du christianisme, là même où on ne connaît pas l’homme de Nazareth et où on ne se réfère pas explicitement à lui.
J’illustre la différence entre intra lutheranum et extra calvinisticum par ce schéma suivant :
ENJEUX
Cette différence christologique, toute subtile et spéculative qu'elle apparaisse au premier abord, a des conséquences importantes, en particulier pour l’appréciation des religions non chrétiennes. Luther pense que pour nous (pas en soi), Dieu ne déborde pas Jésus-Christ, et que Jésus-Christ ne déborde par le christianisme. Pour Calvin, Dieu tout en s'incarnant pleinement dans la personne de Jésus la débordent et déborde donc le christianisme. L’extra calvinisticum permet de donner aux religions une valeur positive en y discernant des manifestations du Christ en dehors de Jésus sans tomber dans le relativisme, puisque la manifestation totale et parfaite du Christ a lieu en Jésus
Pour les uns, l’extra calvinisticum, en compromettant l’union des deux natures et l’unité de la personne de Jésus-Christ, met gravement en danger le principe même de l’incarnation. Pour les autres, l’intra lutheranum, favorise l’assimilation superstitieuse et idolâtre entre Dieu et ce qui le manifeste.
BIBLIOGRAPHIE
- BARTH Karl, Dogmatique, Labor et fides, v. 3, p. 156-158 ; v. 17, p. 189-190
- BOSC Jean, L’office royal du Seigneur Jésus-Christ, Labor et fides, 1957, p. 72.
- BRAATEN Carl, La théologie luthérienne. Ses grands principes. Cerf, 1996, p. 120.
- GISEL Pierre, Le Christ de Calvin, Desclée, Paris, 1990, p. 90-103.
- MULLER Richard A., Christ and the Decree, The Labyrinth Press, 1986, p. 19-20.
- RORDORF Bernard, « Etiam extra ecclesiam. L’action de l’Esprit Saint selon Calvin », Études théologiques et religieuses, 2009/3, p.348-357 ?
- STAUFFER, Richard, Dieu, la création et la Providence dans la prédication de Calvin, Peter Lang, 1978, p. 112.
- VIAL Marc, Jean Calvin. Introduction à sa pensée théologique, Labor et fides, 2008, p. 102.
- WENDEL François, Calvin, Sources et évolution de sa pensée religieuse, P.U.F., 1950, p. 167-168.
- WILLIS E. David, Calvin’s Catholic Christology. The Function of the so-called Extra Calvinisticum in Calvin’s Theology, Leiden, Brill, 1966.
André Gounelle
(extrait de cours)
ANDRÉ GOUNELLE
Voici quelques éléments d'information sur André Gounelle et son œuvre :
- Brève présentation d'André Gounelle
- Bibliographie : liste de la 20aine de livres et environ 800 articles écrits par André Gounelle...
Quelques liens vers des sites internet :
- Institut Protestant de Théologie (IPT) : facultés de théologie protestante de Montpellier et Paris
- Église Réformée de France (ERF)
- Évangile et liberté : un mouvement et un mensuel de théologie pour le grand public
- International Association for Religious Freedom (IARF)
- Site avec des textes d'Olivier Abel, professeur de philosophie à la Faculté de Théologie Protestante
jeudi 9 avril 2020
A existência e a justiça
A existência e a justiça
Yoffe ben Shemtov
Moshe Pinheiro, rabino italiano, que viveu em Livorno, no século XVII, foi um dos discípulos mais influentes de Shabtai Zevi, com quem estudou literatura talmúdica e cabalística (1640-1650). Este querido ancestral não apoiou as reivindicações messiânicas de Shabtai Zevi, em 1648, embora fosse seu amigo. Por volta de 1650, deixou Izmir e se estabeleceu em Livorno, onde se tornou um mestre respeitado.
Aqui seguimos reflexões dos ancestrais que nos remetem à relação entre existência e justiça. Quando recorremos ao Sefer ha Neshamá, um tratado sobre a alma humana, vemos que a palavra hebraica para vida é חַיִּים. E se lê raiim, escrita no plural, porque somos pluralidade. Ou seja, uma unidade complexa, que acontece enquanto construção, mas também porque a vida não pode ser solitária, mas solidária, comunitária. Assim, tal complexidade precisa de equilíbrio e só pode ser plenamente construída associada à justiça, que é a qualidade de ser justo, mas também preciso.
Há outra simbologia, muito interessante, que parte da compreensão do Sefer Yetzirah, o livro da criação, um dos mais velhos tratados de cosmogonia judaica, que os primeiros ancestrais atribuíram a Abraham, mas que a partir da Idade Média passou a ser visto como obra do rabino Akiva. Nessa imagem, a primeira letra da palavra em hebraico חַיִּים, lê-se da direita para a esquerda, corresponde a uma mulher sentada num trono, com uma espada na mão direita e uma balança na esquerda. Ela tem os olhos bem abertos. Seu olhar encontra o nosso como espelho. A espada voltada para cima é a espada do espírito, a palavra de Adonai, porque não temos que lutar apenas na materialidade, mas também contra as hostes espirituais da maldade. A balança representa o equilíbrio necessário entre polos opostos, e está ligeiramente desequilibrada, porque a perfeição não existe no mundo manifesto, no qual tudo oscila em maior ou menor grau. A justiça, ou seja, o equilíbrio, não é permanecer estático, mas evitar a queda para um dos lados. A mão com a qual ela segura a balança destaca quatro dedos, a diversidade de nossa humanidade: espiritual, mental, física e emocional, que se encontram com o polegar. Tal simbologia traduz uma mensagem de diversidade na unidade.
Assim, se no corpo existissem apenas fenômenos sucessivos, sem laço que ligasse passado e presente, como explicar a associação de idéias, o hábito e a memória? Ora, é necessário admitir que existe em nós uma realidade que vai além do cérebro, mental, e se liga aos atos que praticamos. Esta realidade é a própria identidade que expressa a existência de cada um de nós. E se existe a existência, tenho que perguntar o que ela é.
Tomando como modelo a complexidade do mundo, e partindo da piedade e da sabedoria de Moshe Pinheiro, ancestral amado, prefiro dizer que devemos trabalhar algumas hipóteses -- a primeira é: só existe o corpo e o resto é extensão dele; e a segunda hipótese é: a existência vai além do corpo. E fica a questão: como combinar o arrependimento com uma indigestão?
Seguindo os ancestrais desse povo da estrela, digo que somos substância extensa, diversa, mas una, seguimos e vamos além da materialidade. A existência é essa extensão e cada pessoa tem identidade na existência. Não é uma unidade numérica, mas una apesar de complexa. Quando envelhecemos, o corpo muda, mas a identidade em expansão permanente, permanece. Nos tornamos um ao longo do espaço e do tempo e tal construção na existência me confere identidade. Mas continue a ler ... vamos ver isso melhor no correr destas reflexões.