Para Jim Morrison: Morrer em Paris | |||
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Uma visita aos subterrâneos da capital francesa, que abrigam os ossos de milhões de personagens anônimos e famosos que deram a vida construindo o espírito de uma nação diferenciada.
Três de julho de 1971. Você é âncora no imaginário, lenda: rei lagarto. Ataque cardíaco, overdose, assassinato, CIA. Afinal, você, Jimi e Janis, assim como Martin, Malcolm e outros diziam coisas, faziam coisas. E Paris é um bom lugar para morrer e ser morto. Oscar Wilde também tombou aqui. Ninguém tem medo Não é fantasma quem está lá embaixo, Eu e você Somos eu e você isso que se chama morte Hipótese absurda, improvável, inconveniente, embora os libertários só são bons e palatáveis depois de deitados. Vinte e sete anos é uma idade em que não se deveria morrer. Agora, você está no cemitério Père-Lachaise, lugar de peregrinação e culto para fãs tresloucados que vêem ou ouvem você cantando roucamente pelas noites frias. Ninguém tem medo Eu mato você mata ele mata Desde pequenos Caim foi mal Esganar é natural Père-Lachaise é ponto turístico, cheio de mortos ricos e famosos, e outros nem tanto, mas quero falar de mortos-ossos empilhados aos milhões nas catacumbas de Paris. Desci. Deixei lá em cima a cidade luz, o movimento, uma cidade viva e alegre. Desci mais e mais, e depois caminhei por dois quilômetros de galerias, dos 300 que serpenteiam por baixo de Paris. Lá em cima, o verão, agradáveis 26 graus, aqui embaixo, trevas e escuridão, temperatura abaixo dos 14 graus, com algumas galerias parcialmente inundadas, e goteiras que escorrem por nosso rosto. Olhei e vi o cavalo amarelo, O cavaleiro se chama morte E o mundo dos mortos segue Não pergunto pelo morto A origem das catacumbas de Paris, que poderíamos chamar de ossuário municipal, remonta ao século XVIII. Tudo começou com o cemitério dos Inocentes, que ficava perto de Saint-Eustache, no bairro Les Halles, que foi usado por quase dez séculos e se tornou, naquela época, uma fonte de infecção para os moradores da região. Depois de inúmeras denúncias, o Conselho de Estado, em 1785, optou pela remoção e fim definitivo do cemitério dos Inocentes. Pessoas procuram, não encontram Querem, ela foge Para onde vai Depende do que escolhemos ou já foi escolhido Então, escolheram uma antiga pedreira, já cheia de galerias, para instalar aí esse tal inferno rochoso, que hoje está parcialmente sob o bairro onde moro, nesta primavera e verão de 2010, Denfert Rochereau. E a partir daqui estão depositadas milhões de ossadas dos antigos cemitérios de Paris. Desconhecido convidado a descobrir Morte pelos olhos Enterro Prelúdio imagens na câmera Mas não bastava transferir os ossos para as catacumbas, era necessário um trabalho de arquitetura que evitasse que as galerias desabassem sob o peso das construções de superfície e nem mesmo sob o peso do metrô, que corre em cima dos ossuários. E assim foram consolidadas as galerias, com obras de alvenaria, complementadas por uma escadaria, que desce a 20 metros abaixo do solo. Particularidade milhares vestidos em trajes secos Sombra luz drivers que guiam Condição humana Padres, homens, mulheres, crianças A remoção dos ossos, com pompa e consagração religiosa do local começou em 1786. Cada uma dessas transferências de milhares de ossadas era acompanhada por missa e procissão com padres liderando o cortejo, com cantos fúnebres, e clamor a Deus pela paz eterna dos defuntos. E no final do cortejo, vinham carroções carregados com os ossos e cobertos por mantos negros. E, com o passar dos anos, até 1814, todos os ossos dos cemitérios de Paris foram transferidos para as catacumbas. Eternidade agora Contemplação e oferta Singularidade, domínio do claro-escuro, Platina, selênio em papel moeda Contrastes Imagens restauram o caráter Pessoas singulares preocupante Logicamente, essas catacumbas, com ossos empilhados, num espetáculo macabro, grafitadas com inscrições sobre o mundo dos mortos, é a última morada de muita gente conhecida. De reis e nobres como Carlos X, Napoleão III e seu filho, de revolucionários como Danton e Robespierre, de combatentes não registrados, apenas lançados lá, como os milhares da Comuna e dos que morreram pela liberdade, igualdade e fraternidade. Jim, meu brother, você não está sozinho, apenas mora em outro pedaço. Doors abrem Drogas não são drogas Guerras não são guerras Matar não é matar Morrer não é morrer A morte e o mundo dos mortos entregam Ossos que servem para fundar Paris. 15/8/2010 Fonte: ViaPolítica/O autor |
dimanche 3 juin 2012
Morrer em Paris
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