A alegria cristã e a reforma
social
A lembrar um passado presente 15/10/2002
Jorge Pinheiro
O
rei Josias foi um reformador social e sua reforma teve por base a justiça
proposta na lei deuteronômica. O que isso tem a ver com o candidato eleito,
Luís Inácio Lula da Silva? O que, nos evangélicos, queremos do futuro governo
Lula?
No
dia 15 de outubro, o então candidato à Presidência da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, garantiu em João Pessoa que, se eleito, pretendia estabelecer um
pacto social para a conquista da cidadania: (1) capaz de gerar empregos; (2)
ampliar o acesso dos jovens ao ensino público de qualidade; (3) e elevar o
padrão de qualidade de vida da população brasileira.
Falando
no parque Sólon de Lucena, em João Pessoa, Lula garantiu que fará uma reforma
agrária capaz de estabelecer a paz no campo, sem violência, sem invasões e com
diálogo.
Disse
ainda: "Vamos colocar empresários e trabalhadores na mesa de negociação"
para firmar um pacto social a serviço do desenvolvimento brasileiro.
A
Palavra de Deus nos diz: Tenham sempre alegria, unidos com o Senhor! Repito:
tenham alegria! [Filipenses 4.4-5]. Este texto, que remete a Sofonias
3.14-18, nos ensina que a alegria cristã não deve ser evasiva,
efêmera e superficial. A Palavra de Deus mostra que neste salmo de alegria
Sofonias aponta para a salvação e para o retorno dos remanescentes a Israel
[3.11-13.19-20] e, por isso, convida todos à alegria [3.14-18].
O
convite de Sofonias coincide com a esperança trazida através do rei Josias, que
se apresentou como reformador social, e também pelo declínio da Assíria, que
afrouxava sua influência opressora.
A
lei deuteronômica, encontrada no Templo durante o reinado de Josias, expressa a
vida íntima da comunidade, a necessidade de que cada pessoa tenha o mínimo para
sobreviver e que ninguém viva numa situação miserável.
Deste
modo, a lei deixa de ser uma obrigação imposta e pesada e passa a ser um dom
que Deus oferece a todo o povo. Este dom ou aliança se fundamenta no direito de
cada pessoa e família a possuírem o necessário a uma vida digna e cidadã. Ou
como diz a promessa deuteronômica: O Senhor, nosso Deus, os abençoará
ricamente na terra que lhes vai dar. Portanto, não haverá nenhum israelita
miserável, se todos derem atenção ao que o Senhor ordena e obedecerem a todos
os mandamentos que hoje eu estou dando a vocês. [Deuteronômio 15.4-5].
A
aliança, a lei, o dom deve ser interiorizado. A convivência no país que
Deus deu ao povo peregrino exige uma mudança de mentalidade que se traduz numa
organização social onde o direito divino prevalece sobre todas as instituições.
O mais importante deste direito é a justiça entre as pessoas, que deve ser
entendida como fundamento da convivência social.
Dez
dias depois, das afirmações de Lula na Paraíba, pós-graduandos da Unicamp, em
carta de apoio à candidatura de Lula, afirmaram que “a postura ética sempre
foi uma importante característica da trajetória de vida de Lula, isso associado
à sua maturidade política lhe fornece ainda mais credibilidade para liderar a
execução de um projeto nacional que tenha como metas o crescimento econômico e
a geração dos empregos de que o país tanto necessita. Consideramos, ainda, que
com esse perfil de exímio aglutinador e integrador de forças, Lula criará as
condições necessárias para o estabelecimento do diálogo com amplas camadas da
sociedade, dentre as quais os empresários, os trabalhadores e os movimentos
sociais, viabilizando a construção de um pacto social em torno de um novo
modelo de desenvolvimento que possibilitará a inclusão sócio-econômica de cerca
de 40 milhões de brasileiros”.
A
isso nós chamamos reforma social. Não queremos que Lula seja um reformador
religioso, esse papel cabe a nós, à igreja brasileira, mas que – como disseram
os pós-graduandos da Unicamp -- estabeleça o diálogo com amplas camadas da
sociedade, com os empresários, os trabalhadores e os movimentos sociais,
viabilizando a construção de uma aliança social em torno de um novo modelo de
desenvolvimento que possibilite a inclusão sócio-econômica de milhões de
brasileiros.
Essa
deve ser a oração dos evangélicos brasileiros. Para que possamos
verdadeiramente nos alegrar com as maravilhas que o Deus Eterno pode fazer
nesta terra brasileira.
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