Ruach
Duas ou três coisas a dizer dela
Pr. Jorge
Pinheiro
Ruach é Pessoa da trindade de Deus. É Pessoa que dá vida nova (Is 63.11-14) e consola
os que sofrem (Jo 14.16; 16.7). Ruach / pneuma adota (Rm 8.16) e enche de amor (2Tm
1.7). Transmite conhecimento, sabedoria e justiça (Is 11.2-5). Derrama
arrependimento e graça (Zc 12.10; 13.1), dá poder e torna as pessoas prudentes
(2Tm 1.7). Ele vive em nós (Jo 14.17; 16.13; 1Jo 4.6): pertencemos a Ele (Ef
1.13).
“Mas foi a nós que Deus, por meio do
Espírito, revelou o seu segredo. O Espírito Santo examina tudo, até mesmo os
planos mais profundos e escondidos de Deus. Quanto ao ser humano, somente o
espírito que está nele é que conhece tudo a respeito dele. E, quanto a Deus,
somente o seu próprio Espírito conhece tudo a respeito dele. Não foi o espírito
deste universo que nós recebemos, mas o Espírito mandado por Deus, para que
possamos entender tudo o que Deus nos tem dado. Portanto, quando falamos, nós
usamos palavras ensinadas pelo Espírito de Deus e não palavras ensinadas pela
sabedoria humana. Assim explicamos as verdades espirituais aos que são
espirituais. Mas quem não tem o Espírito de Deus não pode receber os dons que
vêm do Espírito e, de fato, nem mesmo pode entendê-los. Essas verdades são
loucuras para essa pessoa porque o sentido delas só pode ser entendido de modo
espiritual”. 1Coríntios 2.10-14.
Como viver
isso em nossas comunidades de fé? Qual é a importância desse Espírito? Será que
vida no Espírito não significa experiência religiosa?
Será que
Tertuliano não tinha razão quando disse que toda pessoa deveria prestar
satisfação a Deus na mesma questão em que o ofendeu? Tertuliano estava
preocupado com o efeito prático da realidade de Deus na vida das pessoas. E
creio que tinha razão. Tanto que mais tarde, também os reformados entenderam
que a obra do Espírito Santo não é garantia de que a ofensa tenha sido
superada, mas que imputação da justiça do Cristo, através do Espírito, é
prometida aos que expressam arrependimento. Dessa maneira, através do Espírito
somos levados à batalha do arrependimento, experiência viva na vida da pessoa.
E
vemos essa ação e voz do Espírito na vida dos profetas, que se tornavam
porta-vozes de Deus, quando o Espírito descia sobre eles. Isaías profetizou sobre
a vinda do Cristo e disse que o Espírito do Senhor estaria sobre Jesus (Is
61.1). Ezequiel revelou que o Espírito o levou a lugares distantes, numa visão
dada pelo próprio Espírito de Deus (Ez 11).
E
mesmo pessoas que não tinham o título de profeta, proferiram mensagens por meio
do Espírito Santo. O rei Davi pronunciou seu último testemunho poético antes de
morrer e disse: "O Espírito do Senhor fala por meio de mim, e a sua
mensagem está nos meus lábios" (2Sm 23.2). José interpretou os sonhos de
Faraó, e o próprio rei exclamou que o Espírito de Deus estava sobre o filho de
Jacó (Gn 41.38,39).
Depois que Samuel ungiu a Saul rei de Israel, o Espírito do
Senhor desceu sobre ele e profetizou. Deus o transformou numa pessoa diferente,
de maneira que os israelitas perguntaram: “Será que Saul também virou
profeta?”. (1Sm 10.5-13). Essa pergunta foi repetida quando o Espírito do
Senhor desceu novamente sobre Saul, quando perseguia Davi. O rei tirou sua
túnica e profetizou (1Sm 19.23,24).
No acampamento de Israel, durante o Êxodo, Deus multiplicou o
Espírito que estava sobre Moisés e o colocou sobre setenta anciãos: eles então
profetizaram, bem como Eldade e Medade. Quando ouviu sobre isso, Moisés disse
que seu desejo era que o Senhor colocasse o seu Espírito sobre todo o povo,
para que todos profetizassem (Nm 11.25-29).
Moisés é o protótipo do Messias, pois foi considerado profeta
e revelou o Espírito do Senhor. Ele predisse o advento do Cristo, quando falou
ao povo que Deus levantaria um profeta como ele próprio, do meio deles (Dt
18.15,18). Além disso, ele repetidamente introduziu a revelação do Senhor com
as palavras "disse o Senhor a Moisés" (Nm 8.1,5, 23).
São essas
experiências do Antigo Testamento que levaram Tertuliano a falar de prestar
satisfação a Deus. Não há vida humana sem experiência. Vive-se na experiência
da vida. Por que então negar a experiência religiosa no Espírito? Por que esta
tentativa de pasteurizar o Espírito?
O Espírito é Santo nos leva à afirmação da justificação pela graça, através da fé. Essa expressão “através da fé” não é somente posicional, mas existencial. É, nesse sentido, que falamos do Cristo na vida da comunidade: de tal maneira que a justificação se transforma em vida aberta.
Nas línguas
utilizadas no Antigo e no Novo Testamento (hebraico e grego), os termos usados
para o Espírito Santo enfatizam sua santidade, embora no AT, o adjetivo santo
antes do substantivo espírito aparece poucas vezes (Sl 51.11; Is 63.10,11). No
Novo Testamento a palavra santo antes do substantivo Espírito está presente na
maioria dos livros, especialmente no livro de Atos. Isso não significa que a
ênfase ao Espírito seja menor no Antigo do que no Novo Testamento. As
expressões mais frequentes no Antigo Testamento são “o Espírito de Deus” ou “o
Espírito do Senhor”.
Mas, é
importante entender que a idéia da santidade do Espírito está intimamente
ligada à sua eternidade. E, a partir daí, santo é este Espírito que não pode
ser violado, cuja ação sobre nós e para nós é benéfica, segura e eficaz.
Ora,
o Espírito é criador, mas o que significa isso? Bem, poderíamos falar da
criação do cosmo: "Por meio da sua palavra, o SENHOR fez os céus; pela sua
ordem, ele criou o sol, a lua e as estrelas". (Salmo 33.6). E, "Tu
lhes deste o teu bom Espírito para lhes ensinar o que deviam fazer"
(Neemias 9.20).
Lembrar que a
primeira vez que a palavra espírito aparece na Bíblia é no relato da criação,
em Gênesis, onde o Espírito de Deus pairava sobre as águas como poder criador
que traz ordem ao caos (Gn 1.2). E que o salmista faz eco a esse conceito,
quando disse: "Por meio da sua palavra, o SENHOR fez os céus; pela sua
ordem, ele criou o sol, a lua e as estrelas". (Sl 33.6).
Ou ainda, que
por meio do sopro de Deus, o boneco de barro tornou-se uma alma vivente (Gn 2.7).
Jó afirma que o Espírito do Senhor o criou e que recebeu vida por meio do sopro
do Todo-poderoso (Jó 27.3; 32.8; 33.4; 34.14,15). Sabemos, também, que quando
Deus retira seu sopro dos seres humanos e dos animais, eles morrem e retornam
ao pó (Sl 104.29; Ec 3.19,20; 12.7).
É verdade, o
Espírito é Pessoa. Se partirmos da ênfase sobre o monoteísmo, dada pelos
escritores do Antigo Testamento, vamos encontrar uma distinção entre Deus e o
Espírito do Senhor. Mas essa distinção, em nenhum momento define o Espírito
como emanação de Deus. Tome-se, por exemplo, as referências em Gênesis 1.1-2.
Deus criou o céu e a terra, mas o Espírito do Senhor pairava sobre as águas. Ou
quando Deus disse que seu Espírito não contenderia para sempre com o ser humano
(Gn 6.3).
Isso
significa que os escritores bíblicos viam ações e personalidades divinas
distintas. Entendiam que o Espírito era Deus, o qual exercia funções que os
escritores bíblicos expressaram em termos humanos. Isso fica claro em algumas
passagens. Os levitas oraram: "Tu lhes deste o teu bom Espírito para lhes
ensinar o que deviam fazer" (Ne 9.20). Davi perguntou: "Aonde posso
ir a fim de escapar do teu Espírito?" (Sl 139.7) e Isaías escreveu que o
povo entristeceu o seu Espírito Santo e Deus (o Pai) tornou-se inimigo deles
(Is 63.10-12; veja também 48.16).
Mas a
pessoalidade do Espírito pode melhor ser compreendida na comunidade de fé, pois
cada comunidade de fé possui um só Espírito. E todas as comunidades de fé têm
Deus. Inversamente, o espírito de uma comunidade é ou o Espírito de Deus ou um
dinamismo ameaçador, quem sabe demoníaco. Assim todas as comunidades se
confrontam com a transcendência, e o Espírito aparecerá ou como a defesa da
comunidade contra o espírito que ameaça, ou como a própria desorientação. As
comunidades de fé reivindicam seu estabelecimento como cumprimento da
pessoalidade do Espírito prometido. Assim a identidade de Deus e do Espírito é
clara para as comunidades de fé. E essa pessoalidade do Espírito se dá como
Trindade. No chão das comunidades de fé, na carne e osso da Igreja, o Espírito
procede do Pai e do Cristo; o Cristo foi gerado pelo Pai e pelo Espírito; e o
Pai é fruto do amor de Jesus e do Espírito. Assim, podemos dizer que na Igreja,
de forma existencial para cada um de nós, o Espírito é Pessoa.
Ruach e espiritualidade
A
pessoalidade do Espírito nos leva à questão da espiritualidade. Quando dizemos
espiritualidade queremos dizer uma vida no Espírito, um intenso convívio com o
Espírito: esse é o sentido cristão da palavra. Dessa maneira, a idéia de uma
vida forte, a idéia da vitalidade de uma vida criativa a partir de Deus nos
leva à espiritualidade, ou seja, a uma vida espiritualizada por Deus.
Por isso,
podemos dizer: as pessoas procuram a Deus porque o Espírito as atrai para si.
Estas são as primeiras experiências do Espírito no ser humano. E o Espírito as
atrai como um imã atrai as limalhas de ferro. O íntimo e suave atrativo do
Espírito é experimentado pela pessoa em sua fome de viver e em sua busca de
felicidade, que nada no universo pode satisfazer ou saciar.
A
espiritualidade da vida se opõe à mística da morte. Quanto mais sensíveis as
pessoas se tornam para a felicidade da vida, mais sentem a dor pelos fracassos
da vida. Vida no Espírito é vida contra a morte. Não é vida contra o corpo, mas
a favor de sua libertação e sua glorificação. Dizer sim à vida significa dizer
não à fome e suas devastações. Dizer sim à vida significa dizer não à miséria e
suas humilhações. Não existe uma afirmação verdadeira da vida sem luta contra
tudo que nega a vida.
A recepção
universal de tal espiritualidade foi anunciada séculos antes do derramamento do
Espírito no dia de Pentecostes (At 2.17-21). Deus falou por meio do profeta
Joel: "E depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e os vossos
filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os
vossos jovens terão visões. Até sobre os servos e sobre as servas naqueles dias
derramarei o meu Espírito" (Jl 2.28,29). Joel não estava sozinho na
predição da espiritualização futura do planeta.
Isaías também
fez uma ilustração do Senhor derramando correntes de água sobre terras secas e
seu Espírito sobre os descendentes de Jacó (Is 44.3). Por meio de Ezequiel,
Deus disse aos judeus do exílio que o Senhor os tomaria de todas as nações e os
reconduziria à sua própria terra. Colocaria seu Espírito sobre eles e os
motivaria a obedecer à sua Lei (Ez 36.24-28; 39.29). Deus revelou que o
Messias, quando viesse, seria cheio do Espírito (Is 11.2), que também seria
derramado sobre o povo da aliança (Is 32.15; 59.21; Ez 37.14). E esse Espírito
permaneceria com os filhos de Deus (Ag 2.5).
O Espírito é
a fonte de vida (Jo 6.63) e ela é comparada às fontes de águas correntes que,
espiritualmente falando, fluem do interior da pessoa (Jo 7.38,39). O discurso
de despedida de Jesus, proferido no cenáculo, enfatizou a chegada do Espírito.
Ensinou que Ele seria dado pelo Pai e permaneceria para sempre com os fiéis.
Seria outro
Consolador, uma Pessoa que personificaria a verdade (Jo 14.16,17). O Consolador
sairia do Pai, seria enviado pelo Filho e testificaria sobre Jesus (Jo 15.26).
O Consolador também convenceria o universo de seus erros, da justiça e do juízo
(Jo 16.7-11). O Espírito guiaria as pessoas em toda a verdade, proporcionaria a
revelação futura e glorificaria a Jesus Cristo (Jo 16.13-15).
E,
antecipando o Pentecostes, Jesus soprou o Espírito sobre os discípulos, para
auxiliá-los na tarefa que receberam de pregar o Evangelho (Jo 20.22). As
referências ao Espírito na primeira carta de João não diferem muito de seu
evangelho. O Espírito dado às pessoas cria uma consciência de que o Pai vive em
nós através do Filho (1Jo 3.24; 4.13). E como somos capazes de reconhecer o
Espírito de Deus? Nós O conhecemos pelo reconhecimento de que Jesus Cristo veio
de Deus em forma humana: ouvimos a Deus (1Jo 4.2, 6).
Podemos
dizer, sobre a espiritualidade, que onde há comunidade, há vida e comunicação.
E que a comunicação é, ela própria, Espírito ou então resistência ao Espírito.
Da mesma maneira, inversamente, ou o Espírito é comunicação, ou então subverte
a comunicação. A comunicação é a realidade da relação de uns com os outros e
com o futuro. É pela comunicação que temos um mundo e nos encontremos nele.
Assim, a missão das comunidades de fé é permanente comunicação no Espírito.
É
interessante ver que o Espírito esteve presente no ministério de Jesus desde o
início. Ou como diz Mateus, "o céu se abriu, e Jesus viu o Espírito de
Deus descer como uma pomba e pousar sobre ele". (3.16). É, o batismo de
Jesus foi um evento trinitário: o Pai revelou o Filho, de quem se agrada, e o
Espírito Santo desceu sobre ele na forma de uma pomba (Mt 3.16,17; Mc 1.10; Lc
3.22). E tal presença chegou a cada um de nós. O Novo Testamento enfatiza o
derramamento do Espírito, seus dons, sua obra, inspiração, comunhão e habitação
nos corações dos cristãos.
A
fórmula batismal trinitária, mostrada na conclusão do evangelho de Mateus,
enfatiza essa mesma idéia (Mt 28.19). Nas cartas, Paulo e Pedro ensinaram o
princípio trinitário, tanto no início como na conclusão de suas cartas (2Co
13.13; Ef 1.2-11; 1Pe 1.1-3).
Além
dos relatos do nascimento, batismo e tentação de Jesus, há poucas alusões ao
Espírito nos evangelhos de Mateus e Marcos. Comparativamente, o de Lucas está
repleto de passagens que falam sobre o Espírito. Mateus e Lucas relatam a
concepção de Jesus como obra do Espírito Santo (Mt 1.18, 20; Lc 1.35). João
Batista disse ao povo que ele batizaria com água, mas Jesus os batizaria com o
Espírito Santo (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16). Antes do Cristo iniciar seu
ministério, o Espírito o levou ao deserto para ser tentado pelo diabo (Mt 4.1;
Mc 1.12; Lc 4.1).
O ministério
de Jesus é paradigmático da vida cristã. Entramos para a comunidade de fé pelo
Espírito e pelo batismo. Assim, em cada vida, Espírito e batismo são eventos
históricos, que marcam e demarcam a caminhada cristã, que é a liberdade em
Cristo. O que as pessoas vão fazer com essa liberdade construirá a história de
suas vidas e de suas comunidades de fé. E é assim que o Espírito se faz
presente, como liberdade do Cristo que vive em comunidades historicamente
efetivas.
Mas além de
ser a liberdade, o Espírito é defensor. Aquele que convence os errados de suas
culpas, defende os acusados e julga com misericórdia. A vida humana pode ser
negada e, por isso, para ser realmente vivida tem de ser afirmada. Vida negada
e recusada é morte. Vida aceita e afirmada é felicidade. É o Espírito da
verdade quem convence o universo de seu pecado, que corrige o universo injusto
e que transforma as pessoas, de escravos e vítimas do erro em servos
alforriados pela graça de Deus.
Com efeito, se olharmos a prodigiosa
atividade do Espírito em Atos dos Apóstolos, será fácil entender o Espírito defensor
dos fiéis e da comunidade neotestamentária, que se por um lado produzia
unidade, por outro trabalhava a diferença e diversidade das pessoas.
Nesse sentido, a autoridade defensora do
Espírito interveio nos momentos difíceis quando a vida de pessoas estava sob
risco, quando a perseguição crescia ou quando se fazia necessário proclamar o
Verbo da vida. Foi esse Espírito defensor que revelou às igrejas apostólicas o
mistério da encarnação do Filho de Deus, em conformidade com o ensino dos
profetas e do evangelho.
Mas, quando se fez necessário morrer pela
proclamação do Verbo da vida, o Espírito Defensor se fez Consolador preenchendo
a fraqueza humana de coragem e fidelidade.
É este Espírito Defensor que possibilita o
encontro das diferentes experiências de vida, assim como a comunhão da
diversidade que Ele próprio cria e administra em cada um de nós. E é Ele quem
nos encoraja à esperança. O Espírito da unidade e da diversidade não cessa de
atuar entre os cristãos, mesmo quando distantes e aparentemente separados.
Se ele
defende, também possui. Ou como disse Paulo: “Certamente vocês sabem que são o
templo de Deus e que o Espírito Santo vive em vocês”. 1Coríntios 3.16. Possui
quem: nós! Por isso, falar sobre o Espírito Santo é falar sobre nós, pois só
Ele pode mostrar quem de fato somos. Assim, o que somos é compreendido quando o
Espírito atua em nossas vidas.
A criação, a providência e a salvação são obras de Deus. Mas, existe também uma obra subjetiva de Deus, que é a aplicação de sua salvação na vida das pessoas. E é aqui que entra o Espírito, pois esta obra é feita de dentro para fora no ser humano.
“Mas foi a
nós que Deus, por meio do Espírito, revelou o seu segredo. O Espírito Santo
examina tudo, até mesmo os planos mais profundos e escondidos de Deus. Quanto
ao ser humano, somente o espírito que está nele é que conhece tudo a respeito
dele. E, quanto a Deus, somente o seu Espírito conhece tudo a respeito dele”.
1Co 2.10-11.
Num exercício
teológico, podemos dizer que o Pai, para nós, aparece nas obras da criação e da
providência, o Filho aparece na obra de redenção da humanidade e o Espírito
aplica essa obra redentora às pessoas, tornando real a salvação. Na realidade,
o Espírito é a Pessoa da Trindade que se torna pessoal para aquele que crê. O
Espírito é a pessoa específica da Trindade por meio de quem a Trindade atua em
nós.
Quando
falamos que o Espírito é a espontaneidade da realidade, estamos dizendo que o
Espírito é paradoxal. Exemplo disso foi o derramamento do Espírito no dia de
Pentecostes, que se apresentou como fim e princípio. Foi o fim da aliança
anterior e o surgimento de uma nova. É o fim de uma era e o início de uma nova.
O que era escrito nas pedras da lei agora seria, pelo Espírito, escrito nos
corações. As comunidades de fé deixavam de estar restritas a uma raça.
No
Pentecostes, ao citar o profeta Joel, Pedro deixa claro: o fim começou. A
compreensão de que o Pentecostes marca o tempo do fim traz para nós duas
lições: a primeira, é que somos chamados à vigilância, pois o fim se abrevia. A
segunda, é que devemos fazer a crítica daqueles que pensam poder apresentar os
tempos e as épocas que Deus reservou para si.
É
interessante observar que Lucas (Atos 1.4) diz que os discípulos deveriam
esperar o tempo da promessa em Jerusalém. Depois (Atos 2.2) fala que de repente
o Espírito se fez presente. Eles esperavam, mas não sabiam quando. Eles tinham
certeza, mas não sabiam a hora. O Espírito é a espontaneidade da realidade. Ele
vem quando e da forma que não esperamos. Quem anda com o Espírito aprende a
estar preparado para surpresas. É certo que Ele não falha nas promessas, mas
não faz como e quando esperamos.
Quando o Espírito vem Ele controla a todos. Aquela hora do Pentecostes ninguém escolheu. Mas ninguém estava sem controle, porque o Espírito controlava a todos. Era conforme o Espírito queria. Ser cheio do Espírito não é ser avião sem piloto. Ser cheio do Espírito é ser conduzido por sua soberania. Eis o paradoxo de Espírito.
“Mas quem não
tem o Espírito de Deus não pode receber os dons que vêm do Espírito e, de fato,
nem mesmo pode entendê-los. Essas verdades são loucura para essa pessoa porque
o sentido delas só pode ser entendido de modo espiritual”. 1Coríntios 2.14.
O Espírito é
cósmico, ou seja, é missionário. Vejam as palavras de Lucas: “Essas notícias
chegaram à igreja de Jerusalém, que resolveu mandar Barnabé para Antioquia.
(...) Barnabé era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé. E muitos se
converteram ao Senhor”. Atos 11.22 e 24.
Atos dos Apóstolos
é um livro sobre a prática de missões sob o comando do Espírito Santo. Por
isso, o livro de Atos é único em seu estilo no Novo Testamento, porque revela o
Espírito como missionário. E se o Espírito é missionário, o que lemos em Atos é
a consequência natural da história de uma comunidade que é formada como igreja
missionária. A relação Espírito/ comunidade é a chave do sucesso em Atos.
Lucas deixa
claro que o Espírito é quem comanda a igreja em sua missão. O Espírito é Deus
soberano. Ele conduziu em triunfo a jovem comunidade cristã em sua missão de
comunicar. E o mesmo Espírito quer hoje conduzir nossas comunidades na tarefa
missionária. Afinal, é o Espírito quem vocaciona, capacita e dirige os chamados
para a missão.
“Naquele
tempo alguns profetas foram de Jerusalém para Antioquia. Um deles, chamado
Ágabo, levantou-se e, pelo poder do Espírito Santo, anunciou: Haverá uma grande
falta de alimentos no universo inteiro. Isso aconteceu quando Cláudio era o
Imperador romano”. Atos 11.27-28.
Mas qual a relação
entre Espírito cósmico e missão? Seguindo Irineu, podemos dizer que Deus pela
Palavra deu existência ao universo, mas foi pelo Espírito que Ele transforma o
existente em cosmo, todo ordenado, com sentido, com ordem de adequação e
adaptação.
Esse Espírito
cósmico é a consciência do universo, Espírito vivo. Ou seja, assim como o
Espírito deu sentido ao universo, Ele tem como propósito dar sentido à vida
humana, por isso é Ele quem vai adiante: abre as portas e prepara o caminho
para o sucesso da comunicação. E o mesmo Espírito, além de preparar as regiões,
e o Brasil é um exemplo disso, é quem transforma este mesmo base para a
expansão da comunicação. A visão da expansão da comunicação é uma dádiva do
Espírito para as comunidades de fé do Senhor Jesus. Praticar esta visão, como o
fez as comunidades de Atos, é entender o propósito para o qual a própria
comunidade de Jesus existe.
Comunicar é semear. Por isso, Jesus disse: “Eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Auxiliador, o Espírito da verdade, para ficar com vocês para sempre. O universo não pode receber esse Espírito porque não o pode ver, nem conhecer. Mas vocês o conhecem porque ele está com vocês e viverá em vocês”. João 14.16-17.
Para a
comunidade de fé, a unidade só é válida na variedade: nunca na uniformidade. A
aceitação das pessoas com suas diferenças e particularidades é uma condição
indispensável para a saúde da comunidade cristã.
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