mercredi 24 novembre 2010

Humana para lá de humana

O humano é responsável pelo ontem, pelo hoje e pelo amanhã. É na construção escolhida ou imposta, mas aceita, e na sequência dela, que cada um, que cada uma faz a comunidade humana. As realidades imanentes e transcendentes são vaidades e correr atrás do vento quando é descartado o papel humano de cada dia. Por isso, a teologia exorta à crítica do espírito de religiosidade e chama à liberdade do livre espírito: pensar a imposição para construir além dela.

Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras”. (Machado de Assis, A Cartomante).

Palavras. Os cristãos acreditam que o universo foi feito pela palavra, o logos joanino. Acreditam que a palavra tem poder, daí que seja o seu sim, sim, e o seu não, não. Mas Machado de Assis nos diz que se faz também por outras palavras. Dessa maneira, o criar e o fazer não são iguais porque as palavras são diferentes.

Ah! Mas são sempre os mesmos temas: o amor e o desamor, a distância e a saudade, o tino e o desatino, por exemplo. Talvez, mas a diferença é que se faz por outras palavras. E tudo muda...

Grato, não piegueiro. A dizer obrigado porque as contingências não fumegaram o pavio. Lá atrás, o garoto anda pela calçada sem saber que a vida vai além do meio fio, que há lados. E ao atravessar a Rua do Catete as ladeiras sobem em direção à graciosa Teresa. Mas sabe que de carrinho de rolimã se desce mais rápido, da Glória em direção ao edifício Lartigau, cheio de geometrias art-déco, ali, quase na taverna, embora os pneus fiquem à altura da cara.

E lá na frente o mar. O veleiro. A liberdade, aprendida com Walter, é negociar com os elementos. Ventos e marés. Diante das mareações, a marinharia aqui faz, junto do tio, o menino livre.

Apresento a teologia humana. E o faço a partir de Machado de Assis, porque fazer teologia é degustar prazeres. Não se faz às correrias, com sofreguidão. É ato delicado, caminhar por palavras, dançando com elas pelo universo em construção.

É interessante que Paulo, o apóstolo, diz que somos poiema do Eterno. Poiema, do verbo grego poieo, que deu em português poema e poesia, significa aquilo que é fabricado, produto, projeto de um artesão. Assim, na teologia, logos e poieo andam juntos.
  
Por isso, na teologia, a paixão aproxima, porque é sempre logos e poieo nos diferentes momentos. Que você possa curtir prazerosamente no humano as palavras, as outras palavras, que nos trazem diferentes construções e universos.

Agradecido porque fazer teologia virou sina. O menino lá de trás atravessou o tempo, os jeans, camisetas, cabelos arrepiados, e caiu aqui, do outro lado da vida, na Paulista, Saraiva adentro. Tempo de logos e poieo, o garoto de antes vê a plenitude, mas o homem de hoje entende que o “si” não é o importante, talvez sim as notas do Luiz Murá, os sorrisos e os parabéns que a transcendência montou.

Voltando a Machado: ele fala de palavras mal compostas, palavras decoradas, palavras sussurradas, palavras que se bebem, palavras que reboam, palavras secas, palavras afirmativas, palavras vulgares...

Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar comprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam”.

A aparente simplicidade de A Cartomante, publicado originalmente na Gazeta de Notícias, no Rio de Janeiro, em 1884, é típica de Machado. Talvez essa seja a grande lição do mestre: traduzir o humano com aparente simplicidade. É, digo aparente simplicidade, porque o simples dá trabalho e, ao contrário do que se pensa, nunca é primeiro, mas processo. E esse é o recado. Fazer teologia é descobrir o prazer da palavra curta, na construção muitas vezes trabalhosa que produz aquilo que é poieo. Ou seja, fazer teologia é desconstruir, e na imaginação construir de novo, percorrendo se for possível o caminho de todos, de cada humano. E é assim que, sem estardalhaço, a produção teológica ocupa lugar nos corações, cheia de imagens e significados.

Obrigado pelo agradável, bom e doce que expressa em letras a liberdade do marujo.

O sondar daquele menino lá atrás ajuda. O olhar deslumbrado porque a vida é a praça, os jardins do Flamengo, os repuxos brancos no entardecer, as pessoas que compõem o cenário como se tivessem sido colocadas lá pelo arquiteto. E o mar... Assim é! A humanidade coroa a Glória. Aceito o prescrito e reconheço.

Coram Deo, existimos na presença de Deus.

[Extrato do livro “Teologia humana, pra lá de humana”, de Jorge Pinheiro. Neste Natal dê um exemplar de presente a quem você ama. E pode comprar sem sair de casa, pela Saraiva on-line www.livrariasaraiva.com.br]

lundi 22 novembre 2010

Culpa e ofensa nos relacionamentos familiares

Mas o que é culpa e ofensa?
Quando é que nos tornamos culpados e ofendemos?

Tem culpa ou é culpado aquele que tem uma conduta negligente que causa dano. É culpado aquele que falta voluntariamente a uma obrigação. Por isso, culpa é sinônimo de delito e crime. E biblicamente culpa é sinônimo de transgressão da vontade de Deus. É pecado. E ofensa é injúria, afronta, desconsideração. É também postergar responsabilidade, violar mandamentos. E, por extensão, também é transgressão e pecado.

Assim, somos culpados quando mascaramos a verdade, quando manipulamos pessoas e fugimos às nossas responsabilidades.
 
1. Traição e culpa
O exemplo de Judas, o Iscariotes.

Mateus 27.3-5.
Quando Judas, o traidor, viu que Jesus havia sido condenado, sentiu remorso e foi devolver as trinta moedas de prata aos chefes dos sacerdotes e aos líderes judeus, dizendo: - Eu pequei, entregando à morte um homem inocente. Eles responderam: - O que é que nós temos com isso? O problema é seu. Então Judas jogou o dinheiro para dentro do Templo e saiu. Depois foi e se enforcou.

Traição é o crime de quem, perfidamente, entrega, denuncia ou vende alguém ou alguma coisa ao inimigo. É perfídia, deslealdade e infidelidade. Judas traiu sangue inocente. Pecou e foi se enforcar. Segundo Atos 1.18, cheio de remorso ele se enforcou, a corda rompeu-se e Judas caiu no abismo, tendo as entranhas derramadas no solo.

Culpa sem arrependimento, é remorso. Leva à morte.

2. Traição e arrependimento
O exemplo de Pedro, o pescador.

João 21.15-17.
Quando eles acabaram de comer, Jesus perguntou a Simão Pedro: - Simão, filho de João, você me ama mais do que estes outros me amam? - Sim, o senhor sabe que eu o amo, Senhor! - respondeu ele. Então Jesus lhe disse: - Tome conta das minhas ovelhas! E perguntou pela segunda vez: - Simão, filho de João, você me ama? Pedro respondeu: - Sim, o senhor sabe que eu o amo, Senhor! E Jesus lhe disse outra vez: - Tome conta das minhas ovelhas! E perguntou pela terceira vez: - Simão, filho de João, você me ama? Então Pedro ficou triste por Jesus ter perguntado três vezes: "Você me ama?" E respondeu: - O senhor sabe tudo e sabe que eu o amo, Senhor! E Jesus ordenou: - Tome conta das minhas ovelhas.

Fileo, amigo, agapao, me ama. Neste diálogo vemos o arrependimento de Pedro e o perdão de Jesus. Arrependimento é contrição, profunda insatisfação pela nossa conduta moral. Por isso, o arrependimento leva à aceitação do castigo e à disposição de não repetir o erro. 
E o perdão de Jesus é um perdão para a ação: cuida das minhas ovelhas!

3. Arrependimento e perdão 
O conselho do apóstolo João

I João 1.8-9.
Se dizemos que não temos pecados, estamos nos enganando, e não há verdade em nós. Mas, se confessarmos os nossos pecados a Deus, ele cumprirá a sua promessa e fará o que é correto: ele perdoará os nossos pecados e nos limpará de toda maldade.

Quando há arrependimento e confissão, Deus é fiel e justo para perdoar todos os nossos pecados.


dimanche 21 novembre 2010

Papo de pastor (3)

A Palavra do Rei

Uma velha história (ilustração)

O rei Knut, da Inglaterra, em 1032 deu uma lição aos seus súditos. Eles diziam:
-- Tu és grande. Ninguém ousaria desobedecer-te. Tua reino será para sempre, ó rei!
Um dia o rei ordenou:
-- Tragam para cá o trono. Agora sigam-me até a praia. Ali, mandou colocar o trono quando a maré estava baixa. Sentou-se. Em pouco tempo a maré começou a subir molhando os pés do rei e de toda a corte. O rei levantou as mãos e exclamou com autoridade:
-- Esta terra onde estou é minha e todos obedecem à minha voz. Ordeno-te, pois, ó água, que voltes para o mar e que não molhes os pés do rei.. Mal acabou de pronunciar estas palavras, uma onda quebrou, molhando o rei por inteiro, o corpo de todos, e arrastando alguns para dentro da água.
Então o rei proferiu a sentença:
-- Saibam que os reis não têm autoridade, a não ser aquela que Deus lhe dá. O poder dos reis é coisa vã. Ninguém é digno do nome de rei, a não ser aquele que criou a terra e o mar, e cuja palavra é a lei nos céus e na terra.

Atualmente, na cidade de Southampton, perto do mar, uma placa diz:
“Neste local, em 1032, o rei Knut repreendeu a sua Corte”.

"A palavra do rei tem autoridade suprema". Eclesiastes 8.4

1. Quem é o rei?
Rex, régis, no latim, é rei, soberano, monarca. É um chefe de Estado investido de realeza; um príncipe soberano de um reino e, por extensão, é aquele que detém o poder absoluto ou grande parcela de poder. Mas podemos dizer também que é aquele que se destaca entre os que pertencem ao mesmo grupo, profissão, classe etc. Nesse sentido, figurado, é o maior produtor, o maior criador, um grande comerciante. Jesus foi chamado, ironicamente, pelos romanos de rei dos judeus. E no Brasil é a figura de um homem obeso, bonachão, folião que comanda os festejos carnavalescos nas grandes cidades.
Mas só Deus é soberano (no hebraico méleque) sem limites. Ele é o criador e seu domínio sobre suas criaturas é uma questão de direito natural. Tem poder infinito, com o qual executa sua vontade real.

2. Como é a palavra do rei
Parabola, ae, do latim vulgar, e foi tomada de empréstimo do grego parabolê no sentido de “comparação”. É a unidade da língua escrita, unidade mínima com som e significado que pode, sozinha, constituir um enunciado. Numa derivação de sentido, podemos dizer que é um conjunto coerente de idéias fundamentais a serem transmitidas.
Mas só a Palavra (no hebraico dabar) é criadora: a partir dela surgiram todas as coisas. É preservadora, a partir dela todas as coisas permanecem. É destruidora, ela abalará céus e terra.

3. A palavra do rei é a autoridade suprema (toquepe).
Auctorìtas, átis, do latim, é cumprimento, execução, atestação. É o direito ou poder de ordenar, de decidir, de atuar, de se fazer obedecer. É a superioridade derivada de um status que faz com que alguém ou algo, uma instituição ou uma lei, tenha esse direito ou poder.
A palavra do rei é a autoridade (no hebraico toquepe) que exige obediência imediata e plena. Seu serviço não pode ser evitado. E a desobediência exige arrependimento.

Lealdade é o que Deus exige de nós.

Lembre-se da história do rei Knut. O poder humano é coisa vã. Ninguém é digno do nome de rei, a não ser aquele que criou a terra e o mar, e cuja palavra é lei nos céus e na terra. Por isso, somos exortados à fidelidade, pois a lealdade diante da palavra do rei possibilita:
Perdão – somos declarados justos, temos nossa dívida zerada.
Uma vida nova -- oferece às pessoas a boa notícia da salvação.
Poder -- santifica a vida.

Fique quieto um pouquinho e ore. Agradeça a Deus por seu amor. Diga a Ele: -- Você é meu Rei. Coloque-se debaixo da soberania Dele e siga em frente. A vida é um desafio que vale a pena.






vendredi 19 novembre 2010

O que eles estão falando da igreja


Caros amigos e amigas, hoje sexta-feira, dia 03/12, às 20 horas, estaremos lançando na Universidade Presbiteriana Mackenzie, no auditório João Calvino, o livro O que eles estão falando da igreja. Os autores são Alessandro Rocha, Jorge Pinheiro, Paulo Brabo, Ricardo Gondim, Ricardo Quadros Gouvêa e Willian de Melo. Apareçam e participem do debate. Vai ser uma noite muito especial.  



Papo de pastor (2)


Limites flexíveis

Às vezes a idéia de limites no relacionamento não ajuda muito, assim como não ajuda a construção de barreiras em torno dos corações. Então, onde estaria uma resposta possível e saudável? Muito possivelmente no meio termo entre as duas coisas. Precisamos a aprender a criar limites flexíveis, que funcionem como um campo de força invisível, mas que não rechace o amor. Esses limites podem ser ativados e proporcionar proteção em ocasiões necessárias, e ser desativados quando não forem necessários.

E como funcionam esses limites? Vamos imaginar que você tem um relacionamento com uma pessoa que tem um gênio difícil, mas que no momento ela não esteja irritada. Você precisa desativar o campo de força e relacionar-se afetuosamente com ela. Mas quando, por que alguém pisou ou não no calo dela, e ela começou a rodar a baiana, você deve ativar o campo de força da sabedoria, da paz e não aceitar provocações.

Nesses casos, você deve dizer mesmo: “Ela está prestes a me magoar, mas não vou deixar que isso aconteça. Ela pode xingar, dizer absurdos, mas lá do outro lado da cerca. Aqui no meu coração quem mora é Jesus. Ele me ama e não vai deixar ninguém me ferir”.

Você precisa se afastar um pouco, orar, até que os ânimos acalmem. Depois, com calma e amor, explique que, por mais que você a ame, não pode permitir que ela faça de você um saco de pancadas, porque isso não é o que Deus deseja para o relacionamento de duas pessoas. E quando ela se acalmar, desative o campo de força, e abra seu coração para a pessoa de novo. Saber o momento certo de ativar e desativar o campo de força é algo que exige tempo e discernimento.

Analise um relacionamento seu que você sabe que está contaminado por vírus. Pense quando você precisa ativar e deve desativar o campo de força.
 
Como você sabe que esse é o melhor momento para ativar o campo de força para impedir que essa pessoa continue a magoar você?
 
Que atitudes e ações demonstram que você não vai deixar que outra pessoa possa contaminá-lo com o vírus interpessoal?

jeudi 18 novembre 2010

Le chemin du bonheur


Heureux ceux qui ont une âme de pauvre, car le Royaume des Cieux est à eux. Heureux les affligés, car ils seront consolés. Heureux les doux, car ils posséderont la terre. Heureux les affamés et assoiffés de la justice, car ils seront rassasiés. Heureux les miséricordieux, car ils obtiendront miséricorde. Heureux les cœurs purs, car ils verront Dieu. Heureux les artisans de paix, car ils seront appelés fils de Dieu. Heureux les persécutés pour la justice, car le Royaume des Cieux est à eux. Heureux êtes-vous quand on vous insultera, qu'on vous persécutera, et qu'on dira faussement contre vous toute sorte d'infamie à cause de moi. Soyez dans la joie et l'allégresse, car votre récompense sera grande dans les cieux : c'est bien ainsi qu'on a persécuté les prophètes, vos devanciers. Matthieu 5:3-12.
 
Introduction

Le sujet qui enrage voir est présent dans le “Sermon de la Montagne”. Tel sermon Jésus a été prononcé après avoir appelé leurs disciples pour être “pêcheurs d'hommes” ; ce que le rend encore davantage attrayant, donc à l’inverse d’enseigner d’eux “pêcher” matériellement, Jésus s’est proposé les enseigner à vivre conformément au Royaume de Dieu.

Ainsi que Moisés ce a été au Sinaï avec le peuple d’Israël pour donner Loi de Dieu, Jésus a été au Montagne enseigner aux personnes l’Éthique du Royaume, leurs fondements. L’intention de Jésus était ce dont ce qui le suivaient démontraient les valeurs du Royaume dans leur caractère et ils ainsi essayaient la joie liée à cela, montraient la différence de la qualité de Son Royaume et proclamaient avec leurs exemples arrivée du Royaume.

Le premier sujet qui saute aux yeux quand nous lisons le Sermon de la Montagne est des bonheurs. Jésus initie leur sermon par le sujet lequel sait être le tronc pour la vie humaine : le bonheur. Après tout, depuis que s’est éloigné de Dieu, à l’être contaminé par le péché, tout être humain inhale le bonheur. Il cherche quelque chose qui le satisfasse, que le complète, qu’il apporte réalisation complète. C’est intéressant de remarquer que le péché est apparu exactement parce que l’être humain, trompé par Satan a essayé de chercher “aucun plus” ; dont avait avec Dieu. A en vérité cherché être mange Dieu. Sa recherche par quelque chose plus a été infructueuse, donc c’est impossible non seulement d’être égal à Dieu, mais être plus heureux loin de Dieu. Aujourd’hui sa recherche est infructueuse pour le même raison. Donc, dans le monde, le bonheur est considéré utopique ou temporaire. Néanmoins, la Bible est pleine de citations concernant le bonheur, comment d’atteindre d’elle, comment la maintenir, comment la partager. Jésus nous a présentés à elle dans la croix. Mais avant cela Lui dans les a parlés sur elle.
 
1. Le vrai bonheur ne dépend pas de quelque chose matériel
Textes : Psaumes 4:6, 7 ; Jean 16:20 ; Galates 5:22 ; Romains 14:17.
 
À introduction le sujet de l’éthique du Royaume, Jésus a indiqué pour la réalité de la recherche que l’être humain fait du bonheur. Donc a commencé par les bonheurs. Pour démontrer que le bonheur n’est pas quelque chose qui puisse l’être cherché dans les choses matérielles dans elles a parlé sur les attitudes qui produisent du bonheur. Celui-ci est un texte de la Bible qui doit être lue et être relue le courir de nos vies. Aujourd’hui nous verrons que cet enseignement ne consiste pas seulement du Sermon de la Montagne, mais le nous trouvons dans autres passages de la Bible.

L’enseignement que ce monde et sa culture influencée par le péché dans les donnent est de que c’est nécessaire d’avoir quelques choses pour que se sentent heureux. Tel enseignement aujourd’hui est maximisé dans la société de consommation dans laquelle nous vivons. Nous voulons avoir toujours plus et y a toujours quelque chose nouveau que nous avons besoin d’acquérir. Nous vivons de forme consommable en croyant que par l’obtention de quelque chose nous serons plus près du bonheur. Il a, de même, chaînes évangéliques qui enseignent que les bénédictions de Dieu sont démontrées dans les biens que nous acquérons. Ceci n’est aussi pas nouveau. À l’époque de David quelques-uns priaient ainsi : “Plusieurs disent: Qui nous fera voir le bonheur? Fais lever sur nous la lumière de ta face, ô Éternel! Tu mets dans mon coeur plus de joie qu`ils n`en ont Quand abondent leur froment et leur moût.” (Psaumes 4:6, 7). Dans le texte original David parle non seulement dans nourriture mais aussi dans boisson et donne une idée de fête à cause d’une récolte abondante.

Le monde dans eux donne une idée fausse de bonheur et rejette le vrai bonheur que seulement Jésus peut donner. Quand nous exprimons notre bonheur entre les épreuves et les privations qui se produisent dans nos vies, nous sommes considérés des fous. Le monde préfère le faux bonheur proportionné par le péché.

Nous vivons dans une société qui dans ne les comprend pas et laquelle juge le bonheur de ont été différents de nôtre. Jésus dans les a avertis sur ceci à dire : ”En vérité, en vérité, je vous le dis, vous pleurerez et vous vous lamenterez, et le monde se réjouira: vous serez dans la tristesse, mais votre tristesse se changera en joie.” (Jean 16:20).

Jésus maintenant fait de la référence à la tristesse des disciples, qui déplorent la perspective de Leur départ. Sera enlevée Sa présence physique, néanmoins Sa présence chant religieux serait réalisée dans les oeuvres de l'Esprit, commençant avec Pentecôte et en continuant pendant toute la vie de l'Église. Les disciples pensent que la référence l'"un peu" contredit Sa déclaration concernente Son allée pour le Père. Jésus perçoit cette confusion de pensée, sans dechercher corrigiz la. Il répond dans des termes positifs qui élucident Leur propre pensée. La tristesse aux onzex se convertira dans joie. Il compare si cette tristesse aux douleurs d'accouchement qui sont temporaires. Après née l'enfant la crainte est oubliée en étant substituée par la joie. La joie des disciples né de sa souffrance chant religieux Jésus tournera après Son décès et personne jamais pourrait les voler cette joie.

Le bonheur n’est pas produit de l’action humaine. C’est en résultant de la performance de l’Esprit qui produit dans nous Son fruit qui contient la vraie joie (Galates 5:22). Cette joie est fondement de la vie dans le Royaume comme dans leur dit l’apôtre Paul : “Car le royaume de Dieu, ce n`est pas le manger et le boire, mais la justice, la paix et la joie, par le Saint Esprit.”. (Romains 14:17).
 
2. Le vrais bonheur dépendent d'une approche à Dieu
Textes : Psaumes 65:4 ; 16:11 ; 65:4 ; Sophonie 3:17 ; Matthieu 6:33.
 
La recherche du bonheur mondain est infructueuse parce que ne touche pas dans la nécessité suprême de l’être humain : le renouvellement de ses relations avec Dieu. Depuis qu’a été expulsé de l’Éden l’être humain se sent vide et cherche à se remplir de quelque chose. Ceci seulement est possible avec le renouvellement de ses relations avec Dieu. Comme c’était impossible à l’homme de le rattacher, Dieu a pris l’initiative et à travers Jésus Cristo s’est approché de nous et a donné nous l’occasion de eux de rapporter avec Lui.

La Bible indique dans beaucoup de textes cette nécessité de l’être humain de se trouver avec Dieu pour être heureuse. David a dit :

Heureux celui que tu choisis et que tu admets en ta présence, Pour qu`il habite dans tes parvis! Nous nous rassasierons du bonheur de ta maison, De la sainteté de ton temple”. (Psaumes 65:4). La présence de Dieu est transformatrice. Cette transformation se donne à travers la manifestation de son amour, de leurs bénédictions. Comme faux dieux inspirent terreur à la laquelle ils les adorent notre Dieu provoque du bonheur dans leurs adorateurs.  Cela que l’être humain a besoin est trouvé en présence de Dieu, dans les relations avec Lui. Donc notre priorité doit être chercher toujours améliorer notre adoration et accomplir ce que Jésus dans les a enseignés : ” Cherchez premièrement le royaume et la justice de Dieu; et toutes ces choses vous seront données par-dessus.” (Matthieu 6:33).

Cherchez premièrement le royaume et la justice de Dieu... Voici une des phrases fondamentales de cette Évangile. Chercher le royaume de Dieu veut dire d'entrer dans lui personnellement et, alors, d'inviter autres. La justice de Dieu est la parfaite justice de Christ que Il impute la tout croyante. Toutes ces choses vous seront ajouté. Ces choses se rapportent principalement aux nécessités de la vie, mentionnées dans les versets 25 et 31, que facilement ils se rendent plus la plus grande préoccupation de l'être humain. Dieu garantit l'entretien matériel de leurs fils et, beaucoup de fois, pourvoir encore davantage. Donc, le Chrétien ne pas vivre dans stress combien à l'avenir.

Tant que beaucoup de plaisirs du monde rendent possible seulement un de faux et temporaires bonheurs la présence de Dieu provoque du bonheur éternel : “Tu me feras connaître le sentier de la vie; Il y a d`abondantes joies devant ta face, Des délices éternelles à ta droite.” (Psaumes 16:11).

3.  Le vrai bonheur consiste à vivre conformément à la volonté de Dieu
Textes Psaumes 1:1 ; 112:1 ; 128:1, 2 ; Proverbes 28:14 ; 29:18
 
Le bonheur de l’être humain est faire la volonté de Dieu, donc pour cela nous sommes créés. « Je vous exhorte donc, frères, par les compassions de Dieu, à offrir vos corps comme un sacrifice vivant, saint, agréable à Dieu, ce qui sera de votre part un culte raisonnable.” (Romains 12:1).

Dieu demande un culte rationnel, ceci est cultivé chant religieux, ou offrande, en contraste avec le sacrifice d'animaux, d'une livraison morale à Dieu, et non cérémonial. Cette consécration implique corps et esprit.

Paul insiste avec les Chrétiens romains pour présenter leurs corps par la raison d'exister une tendance pour sous-estimer le corps et voir notre temple terrestre comme essentiellement mauvais. Le concept que le Chrétien fait du corps, comme sacré et je mange employé de l'âme, est seul entre les religions du monde. Une vie Saint est agréable à Dieu. Ce sacrifice vivant inclut aussi l'esprit qui doit être renouvelé pour être offert. C'est un miracle de transformation, un rajustement les réalités séculières et éternelles. Les idées qui ces termes présentent, de não-conformidade et de transformation, sont impressionnantes. Première a la racine schema, impliquant apparence externe; à autre dérive de morphe, signifiant similitude essentielle et radicale. La conséquence est la reconnaissance de la volonté de Dieu mange joute, appropriée et idéale.

La Bible dans les dit que le bonheur est vif par que ils ne font pas la volonté de ce monde, mais la volonté de Dieu (Psaume 1). Tel bonheur est démontré dans la vie de cette personne. Nous pouvons comprendre si quelqu’un est de costume heureux ou nous ne nous observons pas si la volonté de Dieu est par elle accomplie de forme réjouit. Les fruits de l’accomplissement de la volonté de Dieu sain fruits qui se produisent dans le temps exact en ne causant pas de préjudices, mais le bénéfice attendu. Le livre de Psaumes travaille suffisamment cette thématique. Le Psaume 112 développe encore davantage clairement la prospérité dont place son plaisir dans les commandements de Dieu : il bénit sa descendance ; c’est réussi ; c’est gentil, miséricordieux, honnête et généreux.
 
Considérations finales

La caractéristique dont le plus marquant sert Dieu est que son bonheur jamais n’est pas ébranlé parce que sa foi est forte. Donc nous pouvons dire : Bonheur commence avec foi !

Frères et sœurs ne s’oublie pas : le vrai bonheur ne dépend pas de quelque chose matériel, dépend d’être près de Dieu, de vivre conformément à la volonté de Dieu.

Tu devez vivre ainsi pour être heureux !

mercredi 17 novembre 2010

Papo de pastor

Uma vida sem limites

Quem não estabelece limites para sua convivência com outras pessoas acaba por ficar vulnerável a vírus de relacionamentos. Quando convivemos com alguém de personalidade forte e, por vezes, autoritárias, corremos o risco de sermos manipulados. Outras vezes, nos vemos diante de pessoas necessitadas, pedindo socorro, e não temos forças para dizer não. Quando agimos assim somos o alvo predileto de quem gosta de lançar a culpa de seus problemas sobre os outros. Pode ser um parente esbanjador, que aparece pedindo ajuda e, então, desarmados psicologicamente, entregamos o que não temos.

Quando vivemos uma vida sem limites interpessoais definhamos por dentro, pois temos dificuldades para identificar sentimentos e preferências. Cumprimos um papel de médico de pronto socorro para pessoas contaminadas pelos vírus interpessoais. Caso continuemos a viver assim corremos o risco de anularmos nossa personalidade.

Uma segunda conseqüência de uma vida sem limites interpessoais é tornar-se uma pessoa amarga e rancorosa. Conservamos uma aparente cortesia e preocupação com as pessoas, mas nos sentimos ressentidos por ser usados. Nenhuma dessas opções é saudável.

Que problemas você enfrentou por viver uma vida sem limites interpessoais? Se as conseqüências são dolorosas, por que pessoas continuam a manter relacionamentos sem limites interpessoais?

Barreiras doentias

Depois de sofrer, as pessoas dizem: Cansei de viver sem limites nos meus relacionamentos. Chega! Agora vou fazer exatamente o contrário. Vou fazer tudo para que nunca mais seja usado nem maltratado por ninguém.

E assim começam a erguer barreiras de proteção, tijolo por tijolo. Prometem jamais se deixar magoar de novo. E acreditam que essa barreira de distanciamento irá protegê-las.

Mesmo quando alguém irritado se aproximar e começar a cuspir veneno, não nos importaremos, pois estamos protegidos em nossa redoma de vidro. As palavras e atitudes rudes não nos atingem. Olhares frios e condenatórios já não afetam o nosso coração, pois ele também ficou duro e impermeável aos sentimentos das pessoas.

E aí, quando aquela pessoa bate à porta, dizemos quantas e boas e fechamos a porta na cara dela. Quando atuamos assim, é bem possível que os problemas de relacionamento diminuam, mas, também, nunca mais teremos relacionamentos intensos e significativos. No esforço para evitar a mágoa, eliminamos qualquer possibilidade de relacionamentos enriquecedores.

Você já tentou se aproximar de uma pessoa que construiu uma redoma em torno do coração? Você acha que hoje há uma barreira em seu coração? O que obrigou você a construí-la? Que medidas você poderia tomar para derrubá-la?

mardi 16 novembre 2010

Você pode ser sábio

Para ser sábio é preciso primeiro temer a Deus, o Senhor. Se você conhece o Deus santo, então você tem compreensão das coisas. Provérbios 9.10.

 

Míshlê Shelomoh (Paroimiai na Septuaginta e Provérbios em português) é uma coletânea de vários autores, três dois quais são citados pelos seus nomes: Salomão, Agur e Lemuel. O rei Salomão ordenou a coleta do material de sabedoria da época e é seu autor principal (Provérbios 25.1). Segundo a Escola Bíblica de Jerusalém, centro de pesquisa bíblica e arqueológica na Palestina, fundada em 1890 pelo padre Marie-Joseph Lagrange (1855-1938), Míshlê Shelomoh se formou em torno de duas coleções "Provérbio de Salomão" (10.1-22.16), com 375 sentenças, e Provérbios de Salomão transcritos pelos escribas de Ezequias (cps. 25 a 29), com 128 sentenças. Estas duas coleções são precedidas por uma introdução (cps. 1 a 9). Duas outras coleções (22.17-24.22 e 24.23-24) foram agregadas como apêndices da coleção principal, e  outras três pequenas coleções, palavras de Agur (30.1-14), provérbios numéricos (30.15-33), as palavras de Lemuel (31.1-9) e um poema alfabético que louva a mulher sábia (31.10-31) foram acrescidas como apêndices da segunda coleção principal.


O livro fala sobre diversos assuntos, mas três devem ser realçados: Deus e o homem, a sabedoria e a vida; a morte.

1. Como a Revelação se expressava no Tanakh: Lei, sabedoria e profecia.
Jeremias 18.18 > “Pois sempre haverá sacerdotes para nos ensinar (a lei), sábios para nos dar conselhos e profetas para anunciara a mensagem de Deus”.

2. A relação entre Deus, conhecimento e prosperidade.
Oséias 4.6 > “O meu povo não quer saber de mim, por isto está sendo destruído...

3. O lema do livro relaciona sabedoria e temor a Deus.
Provérbios 1.7 > “Para ser sábio é preciso temer ao Deus, o Senhor”.

O que é Hokmah, a sabedoria?

Tem cinco facetas:

1. É musar, instrução ou treinamento.
E essa idéia pode ser traduzida também por correção e disciplina. É para os discípulos.

2. É binah, entendimento ou  discernimento.
Vem de leb, do coração, mas dirige nossos movimentos, nossas ações. É capacidade de escolha.

3. É maskil, bom senso ou sabedoria prática.
Nos leva ao sucesso, procedimentos de justiça, juízo e eqüidade.

4. É ormah, prudência ou discrição.
A capacidade de planejar, traduz a idéia de habilidade, de conhecer seu comércio ou negócio.

5. É leqah, conhecimento ou aprendizagem.
Aqui nos fala de buscar a verdade e ao próprio Deus e que essa revelação é algo assimilado, recebido de Deus.

E como se consegue?

 

1. Através da revelação.
É dom de Deus, que dá a todos que a desejam. Efésios 1. 17 > “E peço ao Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai glorioso, que dê a vocês o seu Espírito, o Espírito que os tornará sábios e revelará Deus a vocês, para que assim vocês o conheçam como devem conhecer”.

2.  Exige conversão.
Desviar-se do mal e voltar-se para a luz. Tiago 3.17 > “A sabedoria que vem do céu é antes de tudo pura: e é também pacífica, bondosa e amigável. Ela é cheia de misericórdia, produz uma colheita de boas ações, não trata os outros pela sua aparência e é livre de fingimento”.

3. Exige devoção.
Provérbios 9.10 diz que o começo da sabedoria é temer a Deus. Ora, temer não significa ter medo de Deus, mas obedecer, respeitar e honrá-lo por tudo o que Ele é, faz e pode fazer. Temer a Deus significa confiar nele e ter a certeza de que Ele ajuda você a tomar decisões e resolver problemas. Sabedoria é um presente de Deus. Ele dá sabedoria pela confiança que você coloca nele. É você busca a sabedoria porque sabe que precisa dela. É uma busca apaixonada. É a caminhada do discípulo.

jeudi 11 novembre 2010

Lembranças


O de camisa quadriculada, à direita, sou eu.
Redator da Folha S. Paulo, nos anos 70.

mercredi 10 novembre 2010

Você pode ser feliz

Feliz é a pessoa que acha a sabedoria e que consegue compreender as coisas.
Provérbios 3.13

Por que? O que você faz traduz o que você pensa. Andando com pessoas infelizes, vivendo como elas, construímos padrões idênticos, que farão de nós pessoas semelhantes, assim como elas.

1. Mude sua maneira de pensar
Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança de suas mentes. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, que é boa, perfeita e agradável a ele. Romanos 12.2

Dar valor ao tempo. Ele é matéria-prima para a construção da felicidade. Buscar a felicidade na maior parte do nosso tempo, porque não é fácil, embora possível, ser feliz o tempo todo. Por isso, a felicidade tem que ser aprendida, cultivada e valorizada.
Dar valor às adversidades. Se aprendemos com elas, superamos limitações. Pessoas que estiveram entre a vida e a morte, que passaram por tragédias, que perderam pessoas queridas, mudaram sua maneira de pensar: aprendem agora, procuram amigos agora, viajam agora. Não deixam para depois.

2. Um diário de vitórias
Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios. Salmo 90.12

Se você não escrever, você vai esquecer. Por isso, faça uma lista, diária, de tudo de bom que aconteceu com você. A frase bonita que ouviu de sua filha, o encontro com uma pessoa que você ama, a benção que recebeu de Deus.

3. Não se aborreça por pouco
O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca. Lucas 6.45

Como você quer ser lembrado por seus filhos e netos? Será que um lençol que não está bem esticado vale toda aquela briga? Perdeu o ônibus? Não adianta arrancar os cabelos, ele já se foi mesmo. Converse com seu alguém no ponto do ônibus, folheie uma revista enquanto espera o próximo.

4. Não adie as tarefas
Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma. Eclesiastes 9.10

Resolva logo as questões desagradáveis e difíceis. Deixar para amanhã nos deixa tensos e sobrecarrega a mente. Se você está preocupado com algo, resolva logo.

5. Mude a rotina
Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. Mateus 6.34.

O mal maior de cada dia é não entender que ele é novo. Se você repete todos os dias a mesma coisa, você está deixando criar novos interesses, viver novas atividades. Você dorme tarde todas as noites. Inverta. Acorde cedo e vá tomar café no parque. E você sempre dorme cedo. Inverta. Convide amigos para casa e faça uma vigília familiar, com bom papo, um lanche gostoso, música e oração.

E um recado especial para este momento mundial.
Quem teme o SENHOR terá uma vida longa, feliz e tranqüila. Provérbios 19.23

6. Esqueça a competição
Nem sempre são os corredores mais velozes que ganham corridas, nem sempre são os soldados mais valentes que ganham as batalhas. Eclesiastes 9.11

Seu amigo foi promovido e você não? Seu vizinho está ganhando muito dinheiro, mas trabalha todos os dias da semana, não vê a família e não tem tempo para os amigos. Por que entrar nesta competição?

7. Fique mais leve, livre-se do excesso
Não ajuntem riquezas neste mundo, onde as traças e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam. Mateus 6.19

Temos a mania de juntar coisas. Acumular, mesmo quando não necessitamos. Roupas que pouco ou nunca foram usadas, aparelhos de jantar que estão guardados há 25 anos, jogos, brinquedos, mobília. Fique mais leve, ajude outras pessoas, muitas podem estar precisando exatamente do teu excesso.

8. Ame seu parceiro pelo que ele é
Maridos, amem as suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e deu a sua vida por ela. Efésios 5.25

Será que você só ama uma parte dela? Será que você amou aquele rapaz de 20 anos atrás e não o teu marido, hoje. Depois de anos de funcionamento todas as coisas precisam de ajustes e manutenção, mas seu parceiro, apesar de ter ficado careca, um pouco mais gordo, é o teu homem. Ame-o pelo aquilo que ele é.

9. Intimidade sim, desrespeito não
Amem uns aos outros com carinho de irmãos em Cristo e em tudo dêem preferência uns aos outros. Romanos 12.10

O parceiro e a família merecem no mínimo a mesma consideração que os amigos. E você merece o mesmo deles.

10. Diga “eu te amo”
A boca fala do que o coração está cheio. O homem bom tira o bem do seu depósito de coisas boas e o homem mau tira o mal do seu depósito de coisas más. Mateus 12. 34- 35

Diga eu te amo para seu parceiro, para sua família, para seus amigos. Felicite-os pelo sucesso e pelas coisas bem feitas. Elogio não é pecado. Dê reconhecimento a quem merece reconhecimento. Transforme seu amor em palavras.

E por fim um recado de felicidade para este momento brasileiro.
Felizes os que têm misericórdia dos outros, pois Deus terá misericórdia deles também. Mateus 5.7

lundi 8 novembre 2010

In Memoriam

Nosso querido amigo, irmão e mestre, Dr. Werner Kaschel faleceu. Ele e dona Dirce foram importantes na minha vida e na vida da minha família. Nós três – eu, Naira e Paloma -- temos motivos especiais para expressar a gratidão que nutrimos por essa família. Mas, em nós, algo comum mobilizava nossos corações em relação ao pastor Werner, o amor.

Quando terminava meus sermões, ele sempre se aproximava, pedia um tempinho e começava a corrigir meus erros. E isso acontecia sempre. E eu ficava deliciado com a preocupação, com o carinho e as sugestões. E assim ele se transformou no meu professor permanente de homilética.

Ele faleceu. Está com o Mestre. Ao pensar na vida abençoadora de Werner Kaschel, me lembrei de uma poesia de Mário Quintana chamada Inscrição para um portão de cemitério. Diz assim:

Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!
(Mário Quintana).

Agradeço a Deus, porque o meu amigo colocou a Cruz no princípio e viveu sob ela. Agora a luz de Cristo, com todo o seu fulgor, continuará brilhando sobre ele.
Em Cristo,
Pr. Jorge Pinheiro

mardi 2 novembre 2010

Alienação, princípio que possibilita a vida consciente

Uma leitura -- a partir de Hegel e Tillich -- da simbólica expulsão do jardim das delícias

“Poi Dio il SIGNORE disse: «Ecco, l’uomo è diventato come uno di noi, quanto alla conoscenza del bene e del male. Guardiamo che egli non stenda la mano e prenda anche del frutto dell’albero della vita, ne mangi e viva per sempre». Perciò Dio il SIGNORE mandò via l’uomo dal giardino d’Eden”. Genesi 3.22-23.

A teologia estabelece uma proposição fundante, princípio sem tempo e sem espaço, sobre o qual especular é impossível, pois transcende a capacidade da imaginação e seria diminuído pela expressão. Está além da razão, por isso, é impronunciável. O postulado é: há um absoluto que antecede a existência manifesta. Esta causa é a raiz sem raiz do que foi, é e virá. Desnudo de atributos não tem relação com o finito. É o que é e está além do pensamento.

O que é está simbolizado por dois aspectos, o anti-espaço absoluto que representa a subjetividade, aquilo que nenhuma mente pode excluir ou conceber por si mesma. E o anti-repouso absoluto. A consciência é inconcebível se a separamos da mudança, e o movimento simboliza a mudança, sendo esta sua característica. Este aspecto da realidade una tem um símbolo gráfico, o primeiro sopro. Este axioma da teologia, o que é, remete àquilo que a inteligência finita simboliza como trindade.

A natureza da primeira causa, causa sem causalidade, aflora dentro do finito como consciência, realidade que permeia a natureza, enquanto noumeno. Esta realidade é o campo da consciência absoluta, essência que transcende toda relação com a existência condicionada e da qual a existência consciente é um símbolo. Mas, ao atravessar pela negação a dualidade, sobrevém o espírito/consciência e a matéria/sujeito e objeto.

O espírito/consciência e a matéria/sujeito e objeto devem ser considerados não como realidades independentes, mas como correlações do absoluto, que constituem a base do ser condicionado subjetivo/objetivo. Considerada esta tríade da teologia como a raiz da qual procedem toda manifestação, o sopro assume o caráter de ideação pré-natureza. Ele é a fons et origo da força de toda consciência individual e fornece à inteligência guia no esquema da natureza. Tal raiz pré-natureza é aquele aspecto do absoluto que é a base dos planos objetivos do cosmos. Tal ideação pré-natureza é também a raiz da consciência individual, já que a substância pré-natureza é o substrato da matéria nos graus de sua diferenciação.

A correlação desses dois aspectos do absoluto é essencial para a existência do universo manifesto. A ideação da natureza, separada de sua substância, não pode ainda se manifestar como consciência individual, uma vez que é somente através de um veículo, a alienação da ideação, que a consciência aflora como eu sou eu, como alienado que necessitou de base física para focar-se enquanto estágio da complexidade. Da mesma forma, a substância da natureza, separada da ideação da natureza, permaneceria como uma abstração vazia da qual a consciência não poderia emergir. O universo manifesto, portanto, é permeado pela correlação que é, pela própria essência de sua existência como manifestação.

As correlações sujeito/objeto, espírito/matéria são símbolos da realidade una, mas no universo manifesto se dá a correlação que possibilita sujeito e objeto, espírito e matéria. Essa correlação é a alienação existencial, ponte através da qual as idéias são impressas enquanto substância da natureza na forma de leis da natureza. A alienação é a dinâmica da ideação da natureza, é meio inteligente que guia a manifestação. Assim, da ideação da natureza procede a consciência. E da substância da natureza procedem os meios que possibilitam à consciência individualizar-se, levando à consciência reflexiva. A alienação, em suas manifestações, é o elo entre a mente e matéria, princípio que possibilita a vida consciente.

lundi 18 octobre 2010

Amazônidas


Por Jorge Pinheiro, do rio Negro, no Amazonas

Eles próprios se dizem Sateré, lagarta de fogo, e Mawé, papagaio inteligente. Os Saterê-Mawê habitavam o território entre os rios Madeira e Tapajós, ao norte das ilhas Tupinambaranas, no rio Amazonas, e ao sul das cabeceiras do Tapajós.

Visita o site ViaPolitica
http://www.viapolitica.com.br/noticia_view.php?id_noticia=389

dimanche 17 octobre 2010

Para pensar João, o batizador, e os essênios

Por Jorge Pinheiro

Os essênios (...) atribuem e entregam todas as coisas, sem exceção, à providência de Deus. Crêem que as almas são imortais, acham que se deve fazer todo o possível para praticar a justiça e se contentam em enviar suas ofertas ao templo, sem ir lá fazer os sacrifícios, porque eles o fazem em particular, com cerimônias ainda maiores. Seus costumes são irrepreensíveis e sua única ocupação é cultivar a terra. Sua virtude é tão admirável que supera de muito a de todos os gregos e os de outras nações, porque eles fazem disso tudo o seu empenho e preocupação, e a ela se aplicam continuamente. (...) Possuem todos os bens em comum, sem que os ricos tenham maior parte do que os pobres: seu número é de mais de quatro mil. Não têm mulheres, nem criados, porque estão convencidos de que as mulheres não contribuem para o descanso da vida. Quanto aos criados, é ofender à natureza, que fez todos os homens iguais, querer sujeitá-los. Assim, eles se servem uns aos outros e escolhem homens de bem da ordem dos sacrificadores [de linha sacerdotal], que recebem tudo o que eles recolhem do seu trabalho e têm o cuidado de dar alimento a todos”. (1)

João, o batizador
Naqueles dias apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia, e dizia: ‘Arrependam-se dos seus pecados, porque é chegado o reino dos céus’. A respeito de João escreveu o profeta Isaías: ‘Alguém está gritando no deserto: Preparem o caminho para o Senhor passar! Abram estradas retas para ele’.” Mt 3. 1-3.

“Eu batizei vocês com água, mas ele os batizará com o Espírito Santo”(Mc 1.8).

É interessante comparar a pregação de João, o batizador, com uma das regras da comunidade de Qumran, que diz: “E quando essas coisas sucederem aos membros da comunidade de Israel, no tempo designado, separar-se-ão da habitação dos homens perversos e irão para o deserto preparar o caminho do Senhor, como está escrito: No deserto preparai o caminho do Senhor, endireitai no deserto a estrada para nosso Deus” (1QS 8.12-14).

O deserto (harabah, em hebraico) de que falava o profeta Isaías, segundo a maioria dos especialistas, ficava na região onde se localizava a comunidade de Qumran e onde João, o batizador, iniciou seu ministério. Segundo Burrows (2), este local onde João batizava, fica na região que cerca o Jordão, um pouco antes da embocadura do mar Morto, a 16 quilômetros do povoado de Qumran, ou a quatro horas de caminhada até lá. Tanto o texto de Qumran, como João citam Isaías a respeito do deserto como lugar de preparação para o caminho do Senhor, isto porque o deserto passou a ser visto como lugar de renovação, símbolo da separação da multidão perdida e prova da conversão realizada. A expressão conversão é uma das mais usadas em 1QS (Regra da Comunidade, caverna 1), CD (Escrito de Damasco), 1QH (Rolo de Hinos, caverna 1) e 1QM (Rolo de Guerra, caverna 1).

Outra afirmação da Regra da Comunidade é: “Ele purificará a carne de todas as obras ímpias pelo Espírito Santo e aspergirá sobre ela o Espírito de Verdade como água de purificação”. (IQS 4.21).

É interessante notar, conforme Lc 1.5, que os pais de João eram de linhagem sacerdotal. Zacarias era sacerdote, e Isabel era uma das filhas de Arão. Dessa maneira, João era de linhagem sacerdotal, como os essênios. Era solteiro, também como os essênios monásticos. No cântico de Zacarias diz-se que “o menino crescia e se fortalecia em espírito. E viveu nos desertos até o dia em que havia de manifestar-se a Israel” (Lc 1.80). E em Lc 3.2 está escrito que “sendo sumo-sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra a João, filho de Zacarias, no deserto”.

Para muitos pesquisadores há duas hipóteses:
(1) Zacarias entregou o filho para ser educado pelos essênios (3), que eram conhecidos por sua dedicação e honestidade religiosa. Além disso, esperavam a chegada do Messias e do reino de Deus.
(2) Por serem idosos e de linhagem sacerdotal, o menino foi adotado após a morte dos pais. O historiador judeu Flávio Josefo conta que os essênios “não fazem caso do matrimônio, mas adotam crianças, quando estas são flexíveis e aptas à aprendizagem. Consideram-nas como parte de sua família e as criam segundo suas próprias maneiras” (4).

Apesar de semelhanças no modo de vida -- João “se alimentava de gafanhotos e de mel silvestre” (Mc 1.6) e o Documento de Damasco prescrevia até mesmo como se devia prepará-los [“Os gafanhotos, em suas várias espécies, precisam ser colocados no fogo ou em água enquanto vivos” (DD 12.14] – devemos ser cautelosos em afirmar que João, o batizador, era membro da comunidade de Qumran.

Fontes
(1) Flávio Josefo, História dos Hebreus, livro 12, capítulo 2, RJ, CPAD, 1992, p. 415.
(2) Burrows, M., More Ligth on the Dead Sea Scrolls, Londres, Secker & Warburg, 1958, p.60.
(3) Burrows, op. cit., pp. 61 e 62.
(4) Burrows, op. cit., pp. 62 e seguintes.

mercredi 15 septembre 2010

O fator Deus

[José Saramago era ateu. O texto abaixo é dele. E está postado aqui para fazer pensar e, logicamente, gerar discussões. Como este blog está dirigido, principalmente, aos meus alunos, a sua finalidade é fazer com que se discuta em sala de aula temas que geralmente são deixados de lado. Desejo para você uma boa leitura e uma salutar dor de cabeça. Jorge Pinheiro].

"Por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o mais horrendo e cruel".

José Saramago

Algures na Índia. Uma fila de peças de artilharia em posição. Atado à boca de cada uma delas há um homem. No primeiro plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a mais obtusa das imaginações poderá "ver" cabeças e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados. Os homens eram rebeldes. Algures em Angola. Dois soldados portugueses levantam pelos braços um negro que talvez não esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, desta vez há uma segunda fotografia, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro. Algures em Israel. Enquanto alguns soldados israelitas imobilizam um palestino, outro militar parte-lhe à martelada os ossos da mão direita. O palestino tinha atirado pedras. Estados Unidos da América do Norte, cidade de Nova York. Dois aviões comerciais norte-americanos, sequestrados por terroristas relacionados com o integrismo islâmico, lançam-se contra as torres do World Trade Center e deitam-nas abaixo. Pelo mesmo processo um terceiro avião causa danos enormes no edifício do Pentágono, sede do poder bélico dos States. Os mortos, soterrados nos escombros, reduzidos a migalhas, volatilizados, contam-se por milhares.

As fotografias da Índia, de Angola e de Israel atiram-nos com o horror à cara, as vítimas são-nos mostradas no próprio instante da tortura, da agônica expectativa, da morte ignóbil. Em Nova York tudo pareceu irreal ao princípio, episódio repetido e sem novidade de mais uma catástrofe cinematográfica, realmente empolgante pelo grau de ilusão conseguido pelo engenheiro de efeitos especiais, mas limpo de estertores, de jorros de sangue, de carnes esmagadas, de ossos triturados, de merda. O horror, agachado como um animal imundo, esperou que saíssemos da estupefação para nos saltar à garganta. O horror disse pela primeira vez "aqui estou" quando aquelas pessoas saltaram para o vazio como se tivessem acabado de escolher uma morte que fosse sua. Agora o horror aparecerá a cada instante ao remover-se uma pedra, um pedaço de parede, uma chapa de alumínio retorcida, e será uma cabeça irreconhecível, um braço, uma perna, um abdômen desfeito, um tórax espalmado. Mas até mesmo isto é repetitivo e monótono, de certo modo já conhecido pelas imagens que nos chegaram daquele Ruanda-de-um-milhão-de-mortos, daquele Vietnã cozido a napalme, daquelas execuções em estádios cheios de gente, daqueles linchamentos e espancamentos daqueles soldados iraquianos sepultados vivos debaixo de toneladas de areia, daquelas bombas atômicas que arrasaram e calcinaram Hiroshima e Nagasaki, daqueles crematórios nazistas a vomitar cinzas, daqueles caminhões a despejar cadáveres como se de lixo se tratasse. De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus. Já foi dito que as religiões, todas elas, sem exceção, nunca serviram para aproximar e congraçar os homens, que, pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais que constituem um dos mais tenebrosos capítulos da miserável história humana. Ao menos em sinal de respeito pela vida, deveríamos ter a coragem de proclamar em todas as circunstâncias esta verdade evidente e demonstrável, mas a maioria dos crentes de qualquer religião não só fingem ignorá-lo, como se levantam iracundos e intolerantes contra aqueles para quem Deus não é mais que um nome, nada mais que um nome, o nome que, por medo de morrer, lhe pusemos um dia e que viria a travar-nos o passo para uma humanização real. Em troca prometeram-nos paraísos e ameaçaram-nos com infernos, tão falsos uns como outros, insultos descarados a uma inteligência e a um sentido comum que tanto trabalho nos deram a criar. Disse Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não existisse, e eu respondo que precisamente por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o pior, principalmente o mais horrendo e cruel. Durante séculos a Inquisição foi, ela também, como hoje os talebanes, uma organização terrorista que se dedicou a interpretar perversamente textos sagrados que deveriam merecer o respeito de quem neles dizia crer, um monstruoso conúbio pactuado entre a religião e o Estado contra a liberdade de consciência e contra o mais humano dos direitos: o direito a dizer não, o direito à heresia, o direito a escolher outra coisa, que isso só a palavra heresia significa.

E, contudo, Deus está inocente. Inocente como algo que não existe, que não existiu nem existirá nunca, inocente de haver criado um universo inteiro para colocar nele seres capazes de cometer os maiores crimes para logo virem justificar-se dizendo que são celebrações do seu poder e da sua glória, enquanto os mortos se vão acumulando, estes das torres gêmeas de Nova York, e todos os outros que, em nome de um Deus tornado assassino pela vontade e pela ação dos homens, cobriram e teimam em cobrir de terror e sangue as páginas da história. Os deuses, acho eu, só existem no cérebro humano, prosperam ou definham dentro do mesmo universo que os inventou, mas o "fator Deus", esse, está presente na vida como se efetivamente fosse o dono e o senhor dela. Não é um deus, mas o "fator Deus" o que se exibe nas notas de dólar e se mostra nos cartazes que pedem para a América (a dos Estados Unidos, não a outra...) a bênção divina. E foi o "fator Deus" em que o deus islâmico se transformou, que atirou contra as torres do World Trade Center os aviões da revolta contra os desprezos e da vingança contra as humilhações. Dir-se-á que um deus andou a semear ventos e que outro deus responde agora com tempestades. É possível, é mesmo certo. Mas não foram eles, pobres deuses sem culpa, foi o "fator Deus", esse que é terrivelmente igual em todos os seres humanos onde quer que estejam e seja qual for a religião que professem, esse que tem intoxicado o pensamento e aberto as portas às intolerâncias mais sórdidas, esse que não respeita senão aquilo em que manda crer, esse que depois de presumir ter feito da besta um homem acabou por fazer do homem uma besta.

Ao leitor crente (de qualquer crença...) que tenha conseguido suportar a repugnância que estas palavras provavelmente lhe inspiraram, não peço que se passe ao ateísmo de quem as escreveu. Simplesmente lhe rogo que compreenda, pelo sentimento de não poder ser pela razão, que, se há Deus, há só um Deus, e que, na sua relação com ele, o que menos importa é o nome que lhe ensinaram a dar. E que desconfie do "fator Deus". Não faltam ao espírito humano inimigos, mas esse é um dos mais pertinazes e corrosivos. Como ficou demonstrado e desgraçadamente continuará a demonstrar-se

Fonte
Folha de S. Paulo, 16.09.01
Revista Espaço Acadêmico Ano I, No. 5, Out. 2001.

samedi 11 septembre 2010

Os irmãos do livre Espírito

Kenneth Rexroth, Communalism, "Eckhart, Irmãos do Espírito Livre".

No século XII, Joaquim de Fiore (1132-1202), um abade de Cistercia, apresentou uma criativa interpretação da literatura apocalíptica. Segundo ele, a história humana deveria ser dividida em três períodos: a era do Pai, no Antigo Testamento, a era do Filho, com o Evangelho e a Igreja, e a era do Espírito Santo, quando toda lei seria abolida, porque os seres humanos, imersos no Espírito, agiriam de acordo com a vontade de Deus. Teria, então, início o Evangelho perpétuo do Sabbath eterno. Este teologia foi desenvolvida mais tarde por escritores espiritualistas e parte dela atribuída a Fiori.

A combinação de práticas e teologias, que tomavam como ponto de partida as vidas de Jesus e Francisco de Assis e a esperança escatológica de Fiori, foi explosiva. Embora Jesus fosse, na Idade Média, uma imagem passadista do homem que deu origem ao Natal e à Cruz da Páscoa, o espiritualismo franciscano foi evangélico, soube aproveitar-se da crescente alfabetização, e fomentou a leitura do Novo Testamento e da literatura devocional. A pobreza se tornou tema central na luta contra a ordem estabelecida. Para os espiritualistas franciscanos a pobreza esteve presente na vida de Jesus, dos apóstolos, mas também na alegria de Francisco de Assis e tais fatos eram um anúncio da felicidade do reino que viria em breve.

Francisco de Assis e depois Pierre Jean Olivi, franciscano que apresentou uma interpretação do livro do Apocalipse segundo o espiritualismo franciscano, tornaram-se figuras marcantes. Francisco era visto como “o anjo do sexto selo”, e Olivi “o anjo cujo rosto era como o sol”. O fundamento dos princípios franciscanos era a pobreza, mas essa não era a visão da hierarquia, que condenou a visão de que Jesus e os apóstolos viveram na pobreza. Diante de tal afirmação, para os espiritualistas, o papa passou a representar o anticristo.

Os espiritualistas, os beguines de Provença e os fraticelos não acreditavam que Jesus e os apóstolos tivessem bens em comum, mas que não possuíam bem algum. Esses franciscanos eram partidários da pobreza absoluta e da severidade de costumes, liberta da tradição de Roma.

O uso da riqueza de Roma por parte de legatários e de ordens escolhidas pelo papa significava que ele dispunha de crédito através da imensa riqueza de um fundo de reserva. Em seu exílio em Avignon, o papado pedia dinheiro emprestado. No ápice da controvérsia sobre a questão da riqueza, João XXII promulgou a doutrina da sacralização da propriedade, alinhando a Igreja, explicitamente, aos grandes proprietários. No curso do debate com João XXII, o filósofo William de Occam, e o ex-líder da ordem, Michael de Cesena, levantaram questões fundamentais: se o uso, a fidúcia, e não a posse da propriedade era permitido, como ficava a questão do dinheiro? Discutiram-se as implicações do significado do dinheiro e da propriedade. Se a propriedade é ruim, quem detém a propriedade e permite a fidúcia, logicamente, não é cristão. Os fiduciários e legatários são parasitários e culpados de cumplicidade. Então, uma sociedade cristã deveria abolir a propriedade.

A Igreja estava em franca oposição à criação de ordens religiosas devotadas à pobreza total e ao auto-sacrifício. Mas, a vida leiga dedicada à caridade, o evangelismo e a crescente popularidade do espiritualismo colocaram a Igreja diante de um impasse. De todas as maneiras, optou naquele momento por proibir a formação de novas ordens religiosas. Tal decisão da hierarquia romana fomentou o surgimento de comunidades leigas livres do controle e do conhecimento eclesiástico. Tais agrupamentos tornaram-se secretos e suas convicções deixaram de ser públicas. As comunidades beguines se espalharam pela Europa, especialmente na Renânia e no norte da França, onde esses cristãos eram conhecidos como “entusiastas apaixonados”: eram pessoas que desejavam viver juntas, dedicar suas vidas à oração, contemplação e ao trabalho comum. Permeando algumas delas, surgindo como fenômeno de uma nova esperança, estavam os Irmãos do Livre Espírito.

As doutrinas dos Irmãos do Livre Espírito remetem ao pensamento divergente do primeiro século do cristianismo. Ensinavam que pela contemplação a pessoa une-se a Deus e é deificado. Eleva-se acima das leis, da Igreja e dos ritos. Então pode fazer o que deseja. A união com Deus torna o pecado impossível à pessoa espiritual. Então, a oração e os sacramentos tornam-se inúteis e ela caminha em direção ao que almeja.

Os Irmãos do Livre Espírito tomavam como base para sua teologia a afirmação do apóstolo Paulo de que "onde o espírito de Deus está, há liberdade" (2Coríntios 2.17), mas também Agostinho e Mestre Eckhart, entre outros. Não formaram um movimento organizado: atuaram em comunidades, que mais tarde vieram a ser conhecidas como anabatistas. Deixaram poucos registros, exceto quando eram capturados por seus inimigos, ou em testemunho extraído sob tortura quando julgados. Foram acusados de hereges e de prática de orgias de sexualidade. Testemunhos nem sempre confiáveis falam de cultos onde o erotismo sexual se fazia presente.

Papas, bispos e inquisidores caçaram e condenaram os Irmãos do Livre Espírito. Mas sobreviveram porque nas cidades da Renânia e nos Países Baixos era fácil uma comunidade ocupar uma casa e apresentar-se como associação de leigos devotada à oração, leitura bíblica e trabalho.

O século XV testemunhou um crescimento das associações religiosas e comunidades livres. E a Igreja tinha que tolerar suas existências para evitar levantes e revoltas. Como a vida e a pregação de Francisco de Assis produziram uma alteração de percepção, essas novas comunidades trouxeram outras leituras do cristianismo, que marcaram a literatura renana da época. E o doutor do novo espiritualismo foi o Mestre Eckhart.

Paralelamente ao crescimento da filosofia escolástica, a Igreja desenvolveu uma teologia espiritualista, mística. A começar por Bernardo de Clairvaux (1090-1153), oponente de Abelardo, e continuando com Hugues de Saint-Victor (1096-1141), Richard de Saint-Victor (†1173) e os franciscanos de São Boaventura (1221-1274), os doutores místicos da Igreja resistiram à aristotelenização dos escolásticos. Suas raízes estavam no neoplatonismo de Agostinho, nos escritos do areopagita Dionísio, discípulo do apóstolo Paulo, e em João Scotus Erígena.

Todo esforço foi concentrado para solucionar o dilema representado pela experiência mística. Tal experiência trouxe consigo a convicção de uma realidade inquestionável. O místico em sua concepção de Deus esbarra no poder imbatível do fato empírico. A doutrina cristã diz que Deus criou o mundo a partir do nada. O ser humano é totalmente contingente. Deus é totalmente onipotente e auto-suficiente. Como ultrapassar esse limite pela experiência? De uma forma ou de outra todos os grandes místicos ortodoxos dispensaram esse último problema do conhecimento alegando que a alma detém um conhecimento primário de Deus. O conhecimento da realidade de Deus deriva dela. Conforme a descrição de São Boaventura a alma chega até Deus pelo amor através da escada das criaturas até que finalmente a alma descobre que o último degrau foi o primeiro, a scintilla animae, a centelha de Deus na alma não é apenas uma faculdade do conhecimento místico, ela participa diretamente do Ser divino. Este processo é delineado em um tom mais emocional e intensamente devocional pela retórica apaixonada de São Boaventura. Esse processo é básico e explícito na epistemologia de Richard de São Victor e mais ou menos implícito em São Bernardo. Naturalmente, esse assunto remonta ao próprio Platão em seu diálogo com Phaedo. É o conhecimento de Deus que proporciona o conhecimento das idéias. Esta tradição central da teologia mística nunca teve sua ortodoxia questionada porque ela sempre pareceu operar dentro do contexto do desenvolvimento escolástico. Mas a verdadeira situação foi bem outra. Seus expositores pertenciam a uma tradição puramente cristã, pelo menos essa foi a opinião geral, considerando que os partidários das idéias de Aristóteles tinham que defender sua versão pagã e sua filosofia secular árabe. Dessa forma São Tomas de Aquino e Duns Scotus ficaram na defensiva.

Mestre Eckhart e seus descendentes trouxeram outra tradição peculiar para a Renânia. Começando por Santa Hildegard de Bingen no princípio do século XII, Elizabete de Schönau, Elizabete da Hungria, Condessa da Turíngia no século XIII e Mechthild de Magdeburg, essa tradição foi continuada por mulheres, e foi caracterizada por experiências visionárias, emocionais, cheias de imagens eróticas, e uma crítica dos abusos da Igreja e da corrupção do papado. A maioria deles eram escritores e constam entre os mais importantes fundadores da literatura alemã. Uma análise destas visões colocadas na tela na forma de pintura, revela que Santa Hildegaard sofria de enxaqueca, e os intensos padrões claros que ela via são sintomas daquela doença. Como suas descendentes, todas aquelas mulheres tinham uma proeminência especial ao misticismo luminoso semelhante ao de São Boaventura, e de Philo, o judeu neoplatônico do primeiro século, caracterizado por visões constantes e recorrentes, plenas de luz -- a aura da própria experiência mística. O Raiar da Luz Divina de Santa Mechthild é uma das mais belas obras do idioma alemão. Saturadas de luzes místicas e simbolismo erótico, seus poemas, com apenas algumas leves alterações, poderiam ser transformados em canções de um extremo amor romântico.

A mais antiga teologia mística cresceu nos monastérios entre homens instruídos e contemplativos. O misticismo renano floresceu em Béguinages e outras comunidades semi-monásticas de mulheres devotas associadas à pobreza, à oração, à meditação e ao trabalho. Seus mestres estavam apenas um degrau acima da ortodoxia em relação aos dissidentes Irmãos do Espírito Livre. O testemunho de frequentes espancamentos e torturas praticados pela Inquisição sobre supostos entusiastas insanos e infelizes místicos renanos é suspeito. Até mesmo nos registros de queixas temos apenas um caso, onde uma casa de Béguines é acusada de prática de orgias sexuais, a casa das denominadas Irmãs de Schweydnitz. Provavelmente foi verdade, embora se assemelhasse mais a uma sessão de leitura erótica moderna. Frequentemente os inquisidores pareciam estar engajados em uma guerra contra as mulheres. Uma das béguines foi reiteradas vezes acusada de "crimes" pela performance de ritos da Igreja em suas capelas e pela prática de confissão mútua, práticas proibidas às mulheres.

Há apenas um documento questionável na totalidade do movimento do misticismo béguine, provavelmente influenciado pelos Irmãos do Espírito Livre. Margarete de Parete foi julgada e queimada em Paris no ano de 1311, acusada de ensinar que quando a alma é consumida pelo amor de Deus ela participa de Deus, podendo fazer qualquer coisa que o corpo sensual desejasse. Recentemente foi descoberto o manuscrito de seu livro, O Espelho das Almas Simples, que foi impresso. Como foi constatado por Mestre Eckhart e seus sucessores a interpretação por parte da Inquisição foi baseado em um equívoco. Ela ensinava que no sétimo estágio da iluminação, o ápice do processo dos sete estágios que remonta aos primórdios da literatura mística e é descrito de uma forma perfeitamente ortodoxa, a alma une-se a Deus. Pela graça ela livra-se do pecado. Ela absorve toda a Trindade e perde sua própria identidade, tornando-se incapaz de pecar. Dali para a frente vive inteiramente no amor de Deus como um serafim. Não precisa de nenhuma Igreja, sacerdócio, ou livro. Seu conhecimento é diretamente compartilhado no conhecimento de Deus. Não pode pecar porque sua vontade é a vontade de Deus; pobreza, oração, sacramentos, ascetismo, penitências, jejuns, tornam-se coisas destituídas de qualquer importância para a alma, mergulhada em Deus, onde privações e símbolos inexistem. A alma usa estas coisas apenas para pagar um indiferente tributo à natureza, ao mundo e à comunidade religiosa.

É fácil verificar que a mais leve troca de ênfase pode transformar este ensino em uma justificação da imoralidade atribuída aos Irmãos do Espírito Livre, ou à histeria que mais tarde tornou-se responsável pelo esmagamento da comuna revolucionária anabatista de Münster. Mas para Margarete de Parete a ênfase estava em outro ponto, uma vez que temos em mãos uma documentação confiável criada de boa fé pelos próprios místicos perseguidos. Naturalmente do ponto de vista da Igreja Católica ela foi uma herege.

Margarete de Parete foi queimada na fogueira e esquecida. Mas a influência de Mestre Eckhart é forte ainda hoje. Eckhart conheceu o problema da contingência e da onipotência, criador-e-criatura-do-nada tornando Deus a única realidade e a presença ou impressão de Deus prevalecendo sobre o nada, a fonte da realidade na criatura. Realidade, em outras palavras, é a participação da criatura no criador estruturada hierarquicamente. Do ponto de vista da criatura este processo poderia ser reverso. Se a criatura é real, Deus torna-se o Divino Nada. Deus é nada, como diz o escolasticismo, o objeto final de todos os vaticínios. Isso é impredicável. A existência da criatura, na medida em que existe, é a existência de Deus, e a experiência da criatura de Deus é no final das contas igualmente impredicável. Não pode nem mesmo ser descrito; pode apenas ser apontado. Nós podemos apenas apontar para a realidade, a nossa realidade ou a realidade de Deus. A alma vislumbra Deus pelo conhecimento, não pelo amor como concebe o primitivo misticismo cristão. Amor é um artigo do vestuário do conhecimento. A alma primeiramente treina a si mesma, sistemática e inconscientemente, até que finalmente se confronta com a única realidade, o próprio conhecimento, Deus se torna manifesto em si mesmo. A alma não pode dizer nada sobre esta experiência no sentido de defini-la. Apenas pode revelá-la a outros.

Este é o modo neoplatônico de negação ensinado por Agostinho. Mas as deidades neoplatônicas mentem sobre realidade, não há como dizer que ela existe nesse sentido. Eckhart, frequentemente acusado de dualismo, na verdade foi um monista extremado, contudo há uma diferença entre sua teoria do ser e o panteísmo de pensadores como Spinoza. Para Eckhart, a realidade é densa, não existe nenhuma porta de ligação entre o processo interno de Deus, a Trindade, e o mundo de sua criação. Deus (Godhead) gera o Filho e cria o mundo ao mesmo tempo ou no mesmo momento da eternidade. Não é necessário muita pesquisa para concluir que o ensino de Eckhart pode ser qualificado como ortodoxo. Todavia, quanto à co-eternidade do Filho e do mundo, seus críticos rapidamente o acusaram de herético.

"Antes de existir qualquer coisa, a Palavra já existia", disse São João, "Ele criou tudo o que há — não existe nada que ele não tenha feito". O procriar da Palavra é um processo dual — interno e externo — o conhecimento de Deus se revela pela sua criação, e a criação se revela pelo conhecimento, pelo Logos, do mundo. A criação é a roupagem do vazio.

Embora Eckhart se comporte como um intelectual rigoroso em seus tratados latinos — a alma se eleva a Deus pelo conhecimento, ou melhor, percebe Deus nos recantos mais íntimos do ego, do ser, absoluto e contingente, é revelado pelo saber — em seus conhecidos sermões pela Alemanha, pregado principalmente às freiras dominicanas e às congregações beguines, ele adota a extensa linguagem familiar da teologia do coração. "A alma", diz ele, "torna-se noiva de Deus, torna-se feminina em todos os aspectos, torna-se uma esposa virgem, torna-se liberta de qualquer outro compromisso, Jesus é concebido na alma gerando frutos".

A união amorosa é total e auto-suficiente. O amor não é vontade de satisfazer um desejo; mas a plenitude do ser compartilhando a alma em Deus. Oração, boas ações, esmolas, são inúteis a menos que tais coisas fluam de uma vontade consumida pelo amor de Deus e submissa à sua vontade. Onde Eckhart julgava adequado à sua audiência, apresentava sua teologia em termos de vontade mais do que em termos de conhecimento, e fazia isso de propósito. Foi por inspiração de seus sermões populares que muitos apaixonados místicos posteriores acabaram contraindo núpcias espirituais com Ruysbroeck.

Segundo Eckhart, qual é o principal dado que nos permite tomar conhecimento da existência? O principal dado é a imprevisível, indescritível experiência religiosa em si mesma. Em suma, a alma pode ser definida como a fonte, a primavera da qual floresce toda realidade e que pode ser alcançada pela contemplação. Nesse ponto começa a doutrina da luz interior que caracterizou as comunidades místicas daquele tempo, e que é central na teologia quaker. O aspecto prático também descende de Eckhart — o quietismo. A experiência religiosa revela-se por uma crescente quietude. "Não se turbe o vosso coração".

O misticismo de Eckhart aparenta ser algo bem solitário — alguém poderia pensar que tal misticismo dissolveria não apenas a Igreja e seu culto, como também toda experiência religiosa comunal. Pelo contrário, ele funciona como uma locomotiva ajudando no desenvolvimento da vida comunitária. Os Amigos de Deus, a Fraternidade da Vida Comum, e grupos semelhantes tanto de pregadores como de leigos espalharam-se rapidamente por toda Renânia, pelos Países Baixos, Alemanha Ocidental, e Boêmia. Foi como se a Igreja desenvolvesse anticorpos tão ortodoxos quanto profiláticos para combater a infecção dos Irmãos do Espírito Livre. É evidente que o ensino de Eckhart não era nada ortodoxo. Ele apenas o ajustou à ortodoxia na medida do possível.

No final de sua vida, o arcebispo de Colônia posicionou-se contra ele. Ele apelou ao Papa João XXII e em 1329, dois anos após sua morte, vinte e oito das suas proposições foram condenadas. Mais uma vez vemos João XXII efetuando representações contra as demandas das comunidades cristãs mais devotas, negando-lhes uma vida espiritual mais rica diante do decadente establishment medieval.

Fonte
Kenneth Rexroth, Communalism, Seabury Press, 1974, capítulo 4 "Eckhart, Irmãos do Espírito Livre", pp. 43-60.