lundi 15 juillet 2013

III Congresso de Eclesioogia

No princípio, criou Deus os céus e a terra.” Gn 1.1 

DOCUMENTO DO 
III CONGRESSO DE ECLESIOLOGIA 


A proposta do congresso foi oferecer a igreja subsídios para compreender os desafios enfrentados nos dias atuais, respondendo a eles de forma bíblica e teologicamente fundamentada e de modo que reflita o jeito Batista de ser: de livre consciência, respeitando as diferenças, inquiridor, não dogmático, reflexivo e cooperativo. 

As questões apresentadas pelos oradores foram de grande pertinência, pois refletem muitas das preocupações das igrejas em relação às tendências atuais e que afetam profundamente o seu modo de ser e agir. Dentre elas foram destacadas: Batismo de pessoas não casadas civilmente, batismo oficiado por membros da igreja (não pastores), prática da unção com óleo, governo da igreja por representação, presença de bispos e apóstolos, membros da igreja com orientação sexual homoafetiva, o fim do monopólio do ensino e a multipertença, casamento, divorcio e novo casamento. 

1. Reafirmamos que a Bíblia é a nossa regra de fé e prática, sempre partindo de uma hermenêutica saudável, reconhecendo os benefício e também as limitações das abordagens "Taborista" e "Ultraquista", posto que ambas se apresentam como bíblicas (e o são dentro de sua lógica), tendo porém, chaves hermenêuticas distintas. Por esta razão não haverá absoluto consenso devendo prevalecer uma postura respeitável evitando liberalismos e fundamentalismos. 

2. Destacamos o chamamento divino para que cada geração sirva à sua própria geração como base para que a igreja seja firme na Palavra e sensível ao contexto histórico e cultural (alerta para seus perigos e aberta para as oportunidades) no qual está inserida e deste modo exerça sua função evangelística, profética e também pastoral. 

3. Não somos igreja para ontem e por esta razão não podemos fechar as portas para nossa própria ação e presença no mundo de hoje. Neste sentido é preciso reforçar que, muito mais que uma instituição (necessidades legítimas para organização e reconhecimento civil) a igreja na Bíblia é sempre definida por metáforas em razão do seu caráter de organismo espiritual. 

4. Em razão do pecado e das limitações humanas as relações conflitivas sempre serão realidade presente nesta era. Cabe às igrejas exercerem o ministério de reconciliação, não entre luz e trevas, mas entre pessoas e tendências de cada momento histórico. A igreja representa o lócus onde a vontade de Deus é feita (embora ainda não plenamente, mas substancialmente) de modo que o corpo de Cristo é o meio através do qual Deus tem contato com mundo. 

5. Quanto às questões de ordem da prática eclesiástica, as posições do congresso se firmaram de modo bíblico e sensível à realidade: 

a. Batismo de pessoas não casadas civilmente - O batismo é uma ordenança bíblica que a igreja deve cumprir e todos aqueles que decidem se tornar discípulos de Cristo devem ser batizados (como ordenança não cumpri-la é pecado). O casamento é instituição divina antes do estabelecimento das culturas, da igreja e do Estado. Cada cultura e período da história (embora com suas próprias variações) demonstraram reconhecimento social do casamento formal, como compromisso de companheirismo para toda a vida. A igreja deve reafirmar o casamento e a família como instituição divina e como ideal divino para o bem estar da pessoa e da sociedade. Deve também ministrar o batismo para todo aquele que professa sua fé em Cristo e apresenta sinais de novo nascimento através de um novo modo de pensar e agir em conformidade com a vontade de Deus. Não deve, entretanto, descumprir esta ordenança, deixando de batizar aqueles que, não estando casados civilmente também estejam impossibilitados de resolver sua situação (como nos casos em que o cônjuge não crente resiste à formalização do compromisso). Neste sentido, cada caso deve ser avaliado com cuidado pela igreja. 

b. Unção com óleo - A unção com óleo tinha, nos tempos bíblicos o valor simbólico de separar (consagrar) uma pessoa ou objeto para serviço divino, entretanto o elemento material (óleo) não era decisivo no ato de consagrar e nem mesmo é utilizado em todas as consagrações não estando sempre acompanhado da palavra 'unção'. Assim, nem sempre que a Bíblia fala de unção há óleo, mas sim o ato de consagrar. Além disso, a unção com óleo sabidamente possuía um fim medicinal. Por esta razão, casos como o apresentado em Tiago 5 em que a prática é explicada no próprio contexto, utiliza-se o óleo com fins terapêuticos, não atribuindo valor espiritual à unção com óleo, mas sim à oração; além do mais deve ser levado em conta que as funções dos presbíteros abrangiam o cuidado dos enfermos. O que se requer é que haja consciência da importância de uma ação integral no cuidado do enfermo: remédio e oração. 

c. Governo da igreja por representação - Os batistas devem reafirmar o governo congregacional como bíblico e estabelecido por Deus, e como prática de bom senso e transparência. Ainda que os tempos sejam de pouco envolvimento e disposição comunitária para com o governo congregacional, devemos manter a liberdade e oportunidade de todos quanto ao direito de participar. Claramente o governo da igreja neotestamentária era congregacional e demonstraram, em relação ao judaísmo, o rompimento das centralizações étnico, administrativo e geográfico se tornando igreja para todos os povos. 

d. Presença de Apóstolos e Bispos no meio batista - Importante compreender que nas Escrituras Sagradas os títulos não representam status, mas ofício de trabalho. Mesmo no caso dos apóstolos, a Bíblia aponta outros além dos 12 aplicando ao termo apóstolo o sentido de missionário, enviado. Todavia, é clara e explícita a condição exclusiva dos 12, para os quais houve o chamamento por meio de revelação especial, pessoal e pós-ressurreição da parte de Jesus Cristo e, neste sentido, não há outros. Outro ponto a ser considerado é que não havia no NT uma hierarquização entre apóstolos, bispos e presbíteros, mas sim, uma referência a funções exercidas na igreja de Cristo. Do mesmo modo, não há, portanto, legitimidade em fazê-lo agora. 

e. Membros com orientação homoafetiva - A Bíblia afirma amplamente que a prática homossexual é pecaminosa e é o que a igreja de Cristo deve reafirmar. Entretanto, não estabelece hierarquização entre pecados. Mesmo nas chamadas 3 listas de pecados abomináveis (I Co 3; Gl 5; Ap 22) a prática homossexual aparece ao lado (e não acima) de outros pecados que devem ser abandonados. Lembrando ainda que Deus ama o pecador e sempre quer tratar o pecado na Cruz de Jesus Cristo para perdão e restabelecimento do homem por completo. 

f. Pós-denominacionalismo - Reafirmemos o princípio batista de cooperação, de modo a não considerarmos saudável o conceito de que cada igreja é uma denominação à parte. 

g. Fim do monopólio do ensino e a multipertença - É importante reforçarmos o nosso foco no que tange a Palavra de Deus como fundamento e base da fé e a vida comunitária, e como relação de compromisso do tipo dar-receber. O espírito de clientela não condiz com o espírito corporativo da igreja nem coopera com sua missão, do mesmo modo, não existe uma só pessoa que seja desnecessária para o corpo de Cristo, o indivíduo é importante. Comunhão não é só relação cordial, mas, conforme o modelo da igreja primitiva é partir o pão, é contato pessoal, é presença, é regularidade. 

h. Casamento, divórcio e novo casamento - Deus instituiu o casamento e este é o seu ideal desde a criação, de modo que Deus odeia o divórcio, no sentido de que sempre é o pecado que leva ao divórcio e também no que diz respeito às consequências que ele causa. No entanto, embora o divórcio seja uma inovação humana fruto da dureza do coração, Deus o regulamentou sobre certas circunstâncias, de modo que, esta regulamentação dentro das mesmas circunstâncias deva ser respeitada. É preciso, portanto, reforçar o ideal de Deus sem demonizar a regulamentação que Ele mesmo estabeleceu. 

Levando em consideração a amplitude e complexidade dos assuntos abordados, consideramos que o congresso cumpriu seu propósito na medida em que ofereceu princípios que nortearão o dialogo e a ação a partir de fundamentos bíblicos e teológicos e ao mesmo de uma leitura sensível dos tempos, não ficando aquém ou além da Escritura e nem se tornando irrelevante para esta geração a qual fomos chamados a servir. 

Por esta razão, como congressistas e membros desta comissão, valorizamos a iniciativa da CBESP e propomos que eventos desta natureza continuem a ser realizados, afim de que, a unidade e identidade dos batistas sejam cada vez mais fortalecidas. 

Comissão do III Congresso de Eclesiologia. São Paulo, 25 de Junho de 2013. 

Pr. Marcos Antonio Peres - relator 
Pr. Pérsio Luiz de Moraes Santos 
Pr. Neilson Xavier de Brito
Pr. Jair Joaquim Salgueiro 

“Servir as Igrejas viabilizando a cooperação entre elas no cumprimento integral da sua missão”.

O ensino da política e da cidadania entre os Batistas brasileiros


Centro de Altos Estudos 
de Política e Cidadania

O ciclo de estudos tem por objetivo imediato apreciar temas relevantes, relacionados com filosofia, ciência, praticas políticas, fundamentados nos princípios bíblicos, de modo a formar e informar pessoas para a ação política e o exercício de uma cidadania consciente e responsável.


Temas Abordados:
Elementos Básicos de Filosofia e Ciência Política Aspectos importantes da práxis política
Ética e Política
Realidade Brasileira
A Bíblia e a Política



Aula Inaugural: 27/08 às 19:00 Início das aulas:03/09
Dia: 3a feiras das 19:30 às 22:30 
Três Módulos de 60 horas cada


Local: Colégio Batista Brasileiro 
Endereço: Rua Dr Homem de Melo,537 Informações: Secretaria do Colégio Telefone: 11 3874-6363

samedi 13 juillet 2013

A arte do namoro -- o amor é forte como a morte

"O amor é forte como a morte, e duro como a sepultura, o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, são veementes labaredas. As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios, afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo desprezado". Cântico dos Cânticos, 8.6-7.

Por que o amor é forte como a morte? É uma expressão estranha. Mas esta frase nos fala da durabilidade do amor. A morte não abandona aquele que agarrou. Mas a ideia é estranha, pois para nós o amor é para a vida. Salomão era um poeta e falou sobre a natureza da morte. O amor é forte como a morte, porque não abandona, não muda de opinião.

Tudo depende da nossa definição de amor. Muitos olham o amor como uma questão de sorte. Não é uma questão de sorte, mas antes da graça de Deus. O amor não é uma coisa, é uma atitude. O amor não morre, nós o matamos. O amor necessita de pequenas ações diárias, como por exemplo dizer "eu te amo."


Salomão fala dos prazeres do sexo dentro do casamento e o apóstolo Paulo usa a união sexual de homem e mulher como a imagem da união de Cristo e sua igreja. Seja ciumento do nome de Cristo, tenham zelo de sua privacidade.

Mas fazer amor não significa, necessariamente, renovar seus votos nupciais, pois o amor vai muito além do relacionamento sexual. Há outras formas de amar. Não se precisa esperar pelo aniversário de casamento para renovar votos. Fazer amor é renovar a cada dia a aliança que fizemos. É dizer: Eu dou-me inteiramente, eu sou seu e apenas seu. Sejamos inspirados pela paixão deste Cântico dos Cânticos. Ele vai nos ajudar a viver a exclusividade do amor forte como a morte, do ciúme como o fogo do Senhor e essa experiência será como o amor de Cristo pela Igreja.

Salomão diz que as muitas águas não podem afogar o amor. O amor será testado. Ninguém sabe os testes que teremos pela frente! Sabemos que somos limitados – e que esses testes acontecem devido às nossas imperfeições.

Não vamos cair na armadilha de exigir coisas antes do amor. Não caiamos na armadilha de pensar que podemos comprar o amor com bens materiais. Quem faz isso corre o risco de ser desprezado, porque não entendeu o que é o amor. O valor do amor excede tudo, porque é o valor do outro, que não tem preço. O Senhor deu-nos um presente infinitamente precioso -- marido, esposa.

O amor é forte como a morte, como o fogo do Senhor, e esse é o amor que devemos viver. Amar com este amor, forte, com ciúmes de quem reconhece a exclusividade da aliança que fizemos. O Deus trino, Pai, Filho e Espírito Santo, abençoa e guarda. E este amor é para toda a vida. E este relacionamento deve abençoar a muitos. Esta é a aliança do amor forte como a morte. Vamos nos lembrar disso para viver a arte diária do namoro!!

samedi 6 juillet 2013

Política e protestantismo ocupam as ruas


Reflexões sobre as mobilizações populares de junho de 2013
Jorge Pinheiro

Link resumo
https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/ER/article/view/4194

link artigo pdf
https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/ER/article/view/4194/3633

Mensagem do Presidente aos Batistas Brasileiros

lundi 1 juillet 2013

Os batistas brasileiros e as manifestações de junho de 2013

Gritos em todo o Brasil!

Arina Paiva
Editora de O Jornal Batista

Começa na cabeça de uma pessoa, compartilha com um grupo de amigos, convoca sua cidade pelas redes sociais, outras cidades ficam sabendo e compram a ideia, outros estados ficam cientes e compram a briga por sentirem as mesmas dores. Os jornais impresso, de telejornalismo, e rádio e internet noticiam, e a nação inteira adere o ato. A reivindicação inicial é soluciona, mas o povo tem uma lista enorme de outros motivos para protestar: saúde, educação, moradia, salário, respeito, políticas públicas. Como um rastro de pólvora, tudo o que estava engasgado se explode com pés, mãos, cabeça, vozes na rua. São cartazes, camisas brancas, gritos de protesto. A juventude que nasceu no final ou depois da ditadura e nunca viveu um movimento como este sai às ruas, e juntos levam todas as outras gerações que tem experiência em usar a voz e a força do povo.

A juventude batista que só comemorava os feitos que originaram sua veia protestante agora vivem o protestantismo. É uma geração aprendendo na prática o que já sabia na teoria, que é direito do cidadão protestar, e é dever do cristão lutar. É a juventude que vivia longe do mundo da política entendendo o dever de estar dentro do cenário político. “Aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva” (Isaías 1:17). Diante dos acontecimentos também é necessário aprender a lutar com sabedoria, com palavras coerentes, com justiça divina, respeitando a opinião do outro, assim como seu direito. Quem quer paz, primeiro tem que dar paz; quem quer justiça, primeiro tem que oferecer justiça. E isso não se refere apenas do governo para com a população, mas como do cristão para com as pessoas que o cercam. Partindo da ideia de que agressão não é só física, mas moral também.

A internet, em especial as redes sociais, estão sendo o palco das manifestações. Depois da rua é claro! É onde frases soltas são jogadas, frases que humilham o evangelho, e o que é pior, frases feitas por evangélicos. As agressões estão indo além do físico, estão invadindo a moral. A Bíblia é deixada de lado para aqueles que querem falar sem pensar. O povo cristão precisa protestar, mas também precisa orar como em Salmos 120.2: “Senhor, livra-me dos lábios mentirosos e da língua traiçoeira!” Protesto sem sabedoria é agressão física ou moral.

Que Deus abençoe os batistas brasileiros com coragem de lutar por justiça e sabedoria para lutar.

A Mudança da Águia

A águia nos ensina uma importante lição sobre mudança. Num determinado momento de sua vida ela precisa sair de cena para passar por um processo muito doloroso de mudança. Ela começa a arrancar suas penas lentamente até ficar totalmente sem. Depois, ela começa a bater seu bico nas pedras até quebrá-lo por inteiro. Ai você pode perguntar-se, qual a relação disso tudo?

Pois bem, todo esse processo de dor termina com o crescimento de novas penas e de um novo bico, pois dessa forma ela poderá alçar voos bem mais altos e também, caçar e se defender com mais precisão. Ou seja, todo processo de mudança exige um sacrifício. Não é fácil mudar, mas é necessário.

E ai, está disposto a arrancar as penas e quebrar o bico?

Danilo Barbosa
Membro da Igreja Batista Betel – Santana

Administrativo CBESP

Brasil 3 x 0 Espanha, melhores momentos - Copa das Confederações

samedi 29 juin 2013

Bom é o que dá prazer

Uma pequena provocação filosófica

Baruch Spinoza, ou para nós Bento de Espinosa, defendia que a teologia representava o pensamento primitivo dos nossos antepassados pré-científicos. A procura das "causas finais" não levou a nada na compreensão da Natureza. Apenas quando a humanidade desistiu da maneira antropomórfica de pensar a geologia, física, etc., em termos de propósitos divinos, pode progredir no conhecimento da Natureza. Penso que a história provou que Spinoza tinha razão. Teorias teológicas como o supernaturalismo são cientificamente supérfluas. Por outro lado, o ataque de Spinoza era completo: não acreditava que o comportamento humano fosse explicado de modo diferente a outros na natureza. Não há liberdade nem responsabilidade no comportamento humano, pensou. O comportamento humano deve ser descrito em termos de causas mecanicistas, como os restantes fenômenos naturais. Para um naturalista determinístico tais como Spinoza bom é apenas uma palavra para descrever coisas que nos dão prazer e mal coisas que nos causam dor. 

Ligado ao que foi dito antes, esta nova experiência é marcada pelo prazer. O prazer de viver. Parece que esta tendência tenta superar a acentuação de uma teologia do pecado, com a consequente culpa infindável, que perpassa a tradição cristã. Aliás, de um certo ponto de vista a tradição cristã sempre terá este tropeço, uma vez que no seu mito de origem pesa sobre ela a sombra de um instrumento de tortura - a cruz - do qual pende o seu fundador. Mesmo sem negar o pecado e a culpa, uma nova tendência recupera o prazer de viver e saborear todas as frutas que a vida oferece - cajus, mangas, goiabas... sem medo de ter prazer! 


Fontes:
Naturalismo / brazil.skepdic.com/naturalismo.htm
Philosophical Materialism por Richard C. Vitzthum
Science and Religion: Some Historical Perspectives, John Hedley Brooke, The Cambridge History of Science Series (Cambridge University Press, 1991).


"Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz. Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será. Mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita."   ("O que é o que é" de Gonzaguinha).

jeudi 27 juin 2013

Como posso fazer Teologia?

Fonte: Jorge Pinheiro, Teologia bíblica e sistemática, o ultimato da práxis protestante, São Paulo, Fonte Editorial, 2012, pp. 15-20.

A pergunta acima nos remete a outra: o que é teologia sistemática? Antes de tudo, podemos dizer que traduziu através dos séculos a tentativa de organizar de forma ordenada as doutrinas da igreja cristã. Ou seja, entender o que faz do cristianismo uma fé diferente das outras religiões. Essas doutrinas, expressões da fé cristã, foram entendidas como afirmações das Escrituras sagradas, reveladas pelo Eterno a profetas e apóstolos. Essa busca de formatar um sistema coerente do que as Escrituras sagradas dizem da fé cristã, apesar de ser uma busca antiga, só foi, de fato, realizada pela primeira vez no século VIII, quando João Damasceno escreveu a sua Exposição da Fé Ortodoxa, onde apresentou os textos clássicos dos pais orientais.

A igreja latina fez algo pelo estilo, quando, no século XII, Pedro Lombardo coletou citações dos pais no livro Sentenças. Esse texto – Sentenças de Pedro Lombardo -- tornou-se então a base dos estudos sistemáticos na igreja medieval até Tomás de Aquino publicar a sua Suma Teológica. Com a Reforma protestante, no século XVI, surgiu com Felipe Melanchton (Loci Communes) e João Calvino (As Institutas da Religião Cristã) um repensar da teologia cristã, que ficaria conhecida como ortodoxia protestante. Essa ortodoxia marcou a história e a produção da teologia sistemática nos séculos seguintes, que só foram rompidas e questionadas – essa história e produção – no século XIX, quando se afirmou que a teologia está baseada em algumas doutrinas fundamentais.

Surgiu então uma nova interpretação, ou seja, uma nova hermenêutica da fé cristã, que teve como fundador o pastor Friedrich Schleiermacher. Este teólogo luterano, nos anos de 1820, disse que o centro da fé é a presença universal do Cristo, às vezes explícita, às vezes oculta, na humanidade. Tal presença dá a fé cristã uma consciência de total dependência. E, por isso, todas as nossas doutrinas deveriam ser entendidas como traduções desse sentimento de dependência. E foi assim, nessas construções através dos séculos, que chegamos aos temas principais da teologia sistemática: Escrituras sagradas; revelação; Trindade – Pai, Filho, Espírito --, o que desemboca na Cristologia e Pneumatologia; anjos e demônios; criação, ser humano; alienação e pecado; salvação; igreja; e as últimas coisas. Logicamente, o ser humano nos leva à antropologia bíblica; e as últimas coisas, à escatologia e apocalíptica. 

Esse é o nosso caminho, porém, entendemos que sem uma teologia que parta das Escrituras sagradas como Palavra do Eterno, que procure caminhar colada às formulações bíblicas, dentro da herança protestante ortodoxa, corremos o risco de fazer uma teologia sistemática excessivamente filosófica. E essa não é nossa intenção. Por isso, apresentamos três métodos de interpretação presentes na tradição protestante contemporânea, o método histórico-gramatical, o método histórico-crítico, e o método latino-americano da missão integral.

O método histórico-gramatical trabalha com quatro princípios: contextual, gramatical-literário, histórico e teológico. Reconhece a progressiva revelação do Eterno aos seres humanos, e vê os textos do Antigo e Novo testamentos como fundadores da teologia protestante ortodoxa.

O método histórico crítico nasceu a partir da concepção dialética de Hegel, passando pelos teólogos do século XIX, em especial Schleiermacher, tendo hoje fortes afinidades com a sociologia histórico-cultural. A pesquisa bíblica é aqui entendida como ato de reconstruir, direta e intencionalmente, a história do texto, que é vista como revelação, mas também humana e, por isso, histórica ao traduzir a experiência de fé de comunidades do Antigo e do Novo testamentos. Podemos sintetizar o método em cinco abordagens críticas: a redacional, que procura pesquisar o trabalho que os autores bíblicos, como redatores e editores, fizeram com os materiais que tinham à disposição. A narrativa, que estuda a ênfase que os leitores na comunidade de fé dão a uma narrativa em particular. Procura, assim, determinar o significado do texto, de acordo com a reação que a pessoa de fé, dentro da comunidade, tem quando lê. A canônica, que examina como os textos considerados inspirados foram utilizados pelas comunidades cristãs. A literária, que analisa os recursos literários utilizados pelos autores do Antigo e do Novo testamentos. A da forma, que consiste no estudo da história bíblica, mediante a análise das formas estruturais originais presentes em determinado texto. 

No método histórico-crítico a interpretação é entendida como mediação no seio da prática comunitária. A prática comunitária pode ser olhada, então, como ponto de partida e ponto de chegada da pesquisa bíblica. Daí decorre um método de interpretação que parte da prática comunitária onde o teólogo, feito profeta, se encontra inserido em realidades onde é desafiado a julgar e transformar, condição que deve levar a uma relação da compreensão do texto bíblico com o encaminhamento da solução dos problemas colocados pela vida na comunidade. Assim, a partir do método histórico-crítico cabe ao teólogo utilizar a revelação para viabilizar transformações na vida de pessoas e comunidades.

O método da Missão Integral partiu da hermenêutica histórico-crítica, mas teve uma preocupação fundante: compreender, julgar e transformar a realidade latino-americana. Ao se debruçar sobre os problemas da América Latina, como injustiça social e miséria, promoveu uma reflexão teológica contextual. Estrategicamente, propõe uma ação missionária que parta do ser humano real, latino-americano. Para isso, dialoga com as ciências humanas, entendidas como instrumento de análise e compreensão da vida latino-americana, e também com teologia da libertação. Embora faça a crítica do capitalismo neoliberal, assim como da teoria desenvolvimentista, e defenda a construção de sociedades solidárias, tem uma preocupação marcada: a preservação do evangelho bíblico. Nos últimos anos, tornou-se uma referência acadêmica nos seminários e faculdades de teologia brasileiros, por trazer a realidade latino-americana para as reflexões sobre a teologia bíblica e sistemática. Dessa maneira, o método da Missão integral tem marcado presença nos estudos da Bíblia, na reflexão missiológica e, por extensão, na própria educação teológica. 

Ao invés de opor um método ao outro, creio que os três se correlacionam e possibilitam novas reflexões nos estudos da Bíblia, mas também responder aos desafios da vida real de nossas comunidades. E, dessa forma, o imbricamento entre teologia sistemática e teologia bíblica permite ao leitor um olhar dialético, porque se a teologia sistemática está relacionada à filosofia e faz um caminho dedutivo, indo do geral ao particular; a teologia bíblica é indutiva, caminha do particular em direção ao geral. Ao analisarmos uma doutrina temos sempre uma universalidade de leitura, mas também uma especificidade de leitura, o que nos possibilita pensar a teologia como balizamento para o viver diário. 

Dentro da herança cristã temos várias teologias bíblicas e mesmo sistemáticas, que traduziram maneiras confessionais de entender a fé cristã. Tomamos como ponto de partida a teologia da ortodoxia protestante, que parte dos pais reformadores, sem esquecer as leituras apresentadas pelos reformadores radicais do século XVI e, depois, no século XX, pelos teólogos dialéticos. 

E voltamos à pergunta do título do capítulo: como podemos fazer teologia? Quais princípios metodológicos norteiam nossa pesquisa teológica? Essas duas perguntas, que podem parecer difíceis, a partir do que vimos, podem ser respondidas assim:

Tomamos como princípio arquitetônico, fundante da teologia, a doutrina da revelação, ou seja, as Escrituras sagradas como base e eixo da fé cristã. E tomamos como princípio hermenêutico, os métodos acima descritos, entendendo, porém que as hermenêuticas são produtos da razão, que se expressam enquanto universalidade do senso comum; enquanto ordenação e sistematização do pensamento; e enquanto analise dos fenômenos da realidade que nos cerca.

Essas opções metodológicas norteiam nossas pesquisas teológicas, embora estejamos conscientes de que no correr da história da teologia foram construídas diferentes compreensões do fato teológico. E por que? Porque dependemos sempre do que colocamos como base da estruturação geral da revelação. Por exemplo, será a aliança, a justiça ou amor? E porque entendemos que partimos sempre de uma ou de múltiplas visões filosóficas que podem ser utilizadas como instrumentos de interpretação da essencialização da vida . É por isso que se diz: a ideologia define a hermenêutica. Aqui reside a dificuldade -- toda teologia é transitória, pois reflete um momento de compreensão da substância católica e da essencialização da vida. 

No Manual de Teologia Bíblica e Sistemática utilizamos o Cristo lido a partir dos Evangelhos como referencial hermenêutico para pensar o Deus da fé cristã, tendo consciência de que assim fazendo não teremos todas as respostas, mas aquelas centrais para a vida. E recorremos ao Cristo também para compreender o ser humano. E fazemos assim, porque Cristo está no centro da fé cristã. Ele é divino e humano, ele revela o Eterno e o ser humano. E se Cristo é esta palavra sobre o Eterno, que fala às pessoas, é a comunicação de um Deus que se fez humano porque ama a humanidade.




A igreja brasileira e os desafios contemporâneos

Como fazer a diferença no Brasil neste século 21

Vou sintetizar o que quero dizer e depois a gente desenvolve essas idéias. Diria que em relação ao passado devemos ser conservadores; em relação ao presente devemos ser criticamente contextuais, contemporâneos e conterrâneos; e em relação ao futuro, revolucionários.



Esses desafios de vida evangélica para a igreja brasileira nascem da própria experiência profética. Os profetas clássicos do Antigo Testamento eram ao mesmo tempo revolucionários voltados para o passado e conservadores impulsionados pela paixão do futuro. Nada faziam sem invocar a tradição. No entanto, suas mensagens apontavam para os tempos futuros. Os profetas sabiam servir-se do passado para a crítica do presente. Todos tinham uma coisa em comum: uma atitude realista. E ao contrário dos profetas falsos interessavam-se pelo concreto do presente: eram contextuais, contemporâneos e conterrâneos. Não viviam envoltos em véus de ilusões e, por isso, condenavam o palavreado inútil e a eloqüência abstrata. Mas, a pregação do futuro não constituía o essencial de seus ministérios, eram antes fruto e resultado do conhecimento do mundo, de suas contradições e possibilidades. 

Se partirmos dessa compreensão, podemos dizer que nosso compromisso com o passado é a manutenção de nossas heranças, da qual a Palavra de Deus é a principal delas. Guardamos, estudamos, refletimos sobre o que diz e transmitimos àqueles que não conhecem o rico passado que nos deu origem. Não negamos nossas origens, sabemos de onde viemos e devemos ser maduros para entender o que fizemos de certo e de errado na história. Ao compreender assim o passado, dizemos que no correr dos séculos existiram homens e mulheres que interpretaram a situação espiritual de suas épocas. Eis aqui o ponto de intersecção entre a manutenção do passado e o tempo presente: a inquietude e o descontentamento em relação aos acontecimentos sociais e religiosos concretos.

Nesse sentido, deveria existir busca semelhante de respostas àquelas dos antigos profetas e a ação consciente dos líderes evangélicos e da igreja. Como os profetas deveríamos concretamente representar nossas comunidades, nossa terra brasileira, nosso mundo. Mas, ao lado das organicidades contextual, contemporânea e conterrânea, precisamos exercer autonomia em relação às pressões sociais, já que é dessa postura que nasce a força crítica e a compreensão de que diante da realidade há alternativas diferentes daquelas expressas pelo presente.

E se compreendemos que não basta o exame da situação espiritual do presente como totalidade e permanência para fazermos diferença e transformarmos o mundo, é necessário entender as exigências lançadas adiante e, nesse sentido, ir além do próprio presente.

Ora, se o presente não pode ser apreendido apenas a partir do passado e de sua conservação, porque se procuramos a transformação do mundo, se estamos envolvidos com a construção do Reino de Deus, esse fazer não pode repousar exclusivamente na experiência da conservação. Porém, ser contextual, contemporâneo e conterrâneo não significa negar a existência de alternativas diferentes daquelas expressas pelo presente. Quando analisamos a ação dos profetas em relação ao presente, vamos constatar que eles não testemunhavam em benefício do presente. Eles diziam não ao presente. Mas esse não era um não abstrato, era um não concreto, que partia da militância contextual, contemporânea e conterrânea deles. Isto porque só através dessa condenação concreta e real do presente podemos, de fato, denunciar os símbolos das forças demoníacas no presente, que no caso do Brasil são as exclusões: social, racial, de gênero, entre outras.


E é a partir dessa compreensão do que significa estar envolvido com o presente para ir além dele, que podemos falar do futuro, não de um futuro vazio, mas de um futuro construído a partir de novos conteúdos.

Esse futuro deve ser momento concluído, tempo e lugar onde a própria eternidade se faz agora e aqui. Repare, o futuro construído pela manutenção do passado, pela crítica contextual, contemporânea e conterrânea do presente não é um futuro qualquer, mas momento novo e pleno: é um futuro onde se completa aquilo que é significativo.

Esses desafios, em especial o da relação da conterraneidade com o Reino de Deus, repousam sobre o principio protestante. Este princípio central do protestantismo é a doutrina da justificação pela graça apenas, significando que nenhuma pessoa ou comunidade humana pode reivindicar para si a dignidade divina em conseqüência de conquistas morais, de poder sacramental, de sua santidade ou de sua doutrina. Conseqüentemente, a liberdade profética precisa sempre criticar, condenar e transformar o status quo ou os sistemas morais, políticos e sociais que se consideram sagrados. Cada evangélico, e aqui prefiro usar a expressão protestante, tem que decidir por si próprio se determinada conjuntura, doutrina ou sistema social é verdadeiro ou falso, se os líderes existentes em seu meio são verdadeiros ou falsos e se o poder estabelecido é divino ou demoníaco. Para os protestantes tal decisão será sempre pessoal.

Esses são os desafios protestantes, entendidos como expressão crítica e livre, para a igreja brasileira e seus líderes. Nesse sentido, é bom lembrar que onde se proclama o poder do Cristo e onde se denuncia as situações-limite que ameacem o sentido da vida, aí está o protestantismo no seu sentido mais profundo e abrangente.

Do amigo e colega,
Jorge Pinheiro

Estudos Interreligiosos


vendredi 21 juin 2013

A ordem reina em Berlim!?

Alerta cidadãos!

As manifestações da nova classe média e setores populares brasileiros se organizam como espera. Mas por serem tão jovens e estarem afastadas da tradição proletária de lutas históricas, não sabem que as lutas sociais não podem contar com milagres que transformem a realidade histórica. É interessante ver como essa perspectiva está presente no pensamento de Rosa Luxemburgo em seu último escrito, datado de 14 de janeiro de 1919, e que diz a respeito à derrota do levante operário em Berlim:

“(...) mas, inevitáveis derrotas são a melhor garantia da nossa vitória final... Claro que isso tudo entranha uma condição! E é a de sabermos em que circunstâncias teve lugar cada derrota, quer dizer, se esta foi o resultado de massas imaturas que se lançam à luta ou de uma ação revolucionária paralisada no seu interior pela indecisão, a mornidão e a falta de radicalismo. (...) As massas cumprirão a sua missão, porque fizeram desta nova “derrota” o elo que nos une legitimamente à cadeia histórica de “derrotas” que constituem o orgulho e a força do socialismo internacional. Podemos ter a certeza de que desta “derrota” também há de florescer a vitória definitiva. A ordem reina em Berlim!... Ah! Estúpidos e insensatos carrascos! Não repararam que a sua “ordem” está alicerçada sobre a areia. A revolução se levantará amanha vitoriosa e o terror se estampará em seus rostos ao ouvir anunciar sob trombetas: era, sou e serei”.

Para o romanticismo político, as mobilizações, assim como as ações dos manifestantes são o caos ou a barbárie que quebram a harmonia do princípio burguês. Mas para o socialismo são momentos que fundamentam a espera, da mesma maneira que a profecia clássica não renunciou ao clamor apesar de decepções cruéis. Da mesma forma que a profecia literária vétero-testamentária não predizia eventos imediatos, ou dizia que uma predição prova ser verdadeira pelo fato de realizar-se a curto prazo, o socialismo enquanto atitude de clamor e práxis supõe uma coisa: a cada momento a história se move para o novo, para o que é prometido. Mas como vemos nas palavras de Rosa Luxemburgo, a espera não é uma atitude subjetiva. Acha-se fundada no mesmo impulso de tornar-se. é esse impulso que objetiva transformar a utopia em era de abundância. A realização não é um conceito meramente empírico.

Quando reduzido a algo empírico gera a utopia e, com ela, a decepção por ter a espera como fim objetivo. A espera é passagem. É bem mais que o mito da origem ou que um esperado fim objetivo. Ao contrario, a espera não é coisa objetiva, mas a revolução do novo no velho. O socialismo tem um caráter profético porque vive tal atitude, mas como a profecia todas as vezes que ameaça chegar ao objetivo, derrapa na resignação ou na utopia. Orientado para o novo, a espera inclui dois momentos: o que é esperado é o que virá, porém o que virá não depende apenas da ação humana imediata. Mas o que é esperado é o que tem que vir, o que é requerido, porém o que não é requerido pode ser alcançado pela ação humana. É a tensão destes dois elementos aparentemente contraditórios que faz a profundidade do princípio socialista. Esta tensão faz extremamente difícil a construção da teoria socialista e confere à prática alta importância. O que caracteriza o caráter profético do socialismo é que o profeta requer e promete.

"O que faz vir súbita destruição sobre o forte, de sorte que vem a ruína sobre a fortaleza. Eles odeiam ao que na porta os repreende, e abominam ao que fala a verdade. Portanto, visto que pisais o pobre, e dele exigis tributo de trigo, embora tenhais edificado casas de pedras lavradas, não habitareis nelas; e embora tenhais plantado vinhas desejáveis, não bebereis do seu vinho. Pois sei que são muitas as vossas transgressões, e graves os vossos pecados; afligis o justo, aceitais peitas, e na porta negais o direito aos necessitados. Portanto, o que for prudente guardará silêncio naquele tempo, porque o tempo será mau. Buscai o bem, e não o mal, para que vivais; e assim o Senhor, o Deus dos exércitos, estará convosco, como dizeis". (Profeta Amós).

O profeta -- e este é um dos papéis fundantes da partido comprometido com proletários e excluídos de bens e possibilidades -- relaciona a situação imediata a uma situação sem igual que nunca se apresentará sob essa forma, cujas exigências não se repetirão e cuja realização só acontecerá uma vez. O que é planejado, requer. A realidade orienta nesse sentido, um evento particular puxa para lá, uma constelação de fatos aponta nessa direção: pode ser alcançado, mas também não ser alcançado. Esta conjunção da exigência, assim como a promessa caracterizam a espera como profética. Isso determina a espera socialista, ela se caracteriza claramente como profética. Como a espera está esperando o que é requerido, ela é diferente da espera passiva, que de fato não está esperando. Até mesmo etimologicamente, há na espera mais que um olhar passivo. A espera inclui a ação. Sem a ação, a espera seria uma teoria fútil.


A consciência inspirada pelo mito original da democracia burguesa requer e também age. Entretanto a exigência não é atitude profética socialista. No campo do mito original, a exigência aponta para a manutenção da origem, enquanto a ação procura alcançar aquilo que está nos limites do ciclo que, partindo da origem, não deve voltar à origem.

A exigência não se move no sentido do novo, para o que está além da origem, mas confirma os poderes democráticos e republicanos da origem. A exigência profética socialista, pelo contrário, submete à crítica todos os poderes, democráticos e republicanos. Por ultrapassar a origem não depende de qualquer poder estabelecido. Tal é o sentido de igualdade, da exigência de solidariedade na profecia e no socialismo.

A exigência incondicional, que fala a cada um, faz todos semelhantes. Por isso, o poder perde toda a significação diante da exigência do sentido de igualdade. Isto porque no limite da existência o ser humano é desafiado à realização de seu destino à justiça. é isso que explica a valorização do excluído de bens e possibilidades na profecia e no socialismo. Pelas mesmas razões, daí parte a exigência de se tratar todo ser humano conforme sua destinação, de lhe permitir alcançar a abundância que lhe está proposta e sem a qual a humanidade como um todo caminha para a estagnação.

O ideal do ser é a realização, mas isso não exclui a possibilidade do enfraquecimento extremo do ser, pelo contrário, abundância e fraqueza sempre se fazem presentes. é por isso que a profecia luta contra a opressão do pobre pelo poderoso e para que a injustiça não arraste pessoas ao abismo. E é pelo mesmo motivo que se levanta contra a reificação do ser humano e a favor de um real humanismo.


É por isso que o socialismo considera a situação proletária como crise da sociedade burguesa e como confrontação do romanticismo político. Esta luta contra a opressão não exclui, em muitos casos, o sacrifício das vidas daqueles que combatem, mas exclui todas as ideologias de dominação que procuram justificar a situação de excluídos e proletários.