O Socialismo e
as Igrejas
Rosa Luxemburg
1905
1ª Edição: folheto publicado pelo Partido Social Democrata
Polaco, em 1905. Uma edição russa apareceu em 1920. A edição francesa foi
publicada pelo Partido Socialista Francês em 1937. A primeira edição inglesa
foi publicada pela Socialist Review, de Birmingham.
Fonte da Presente Tradução: Socialism and the churches, Luxemburg Internet
Archive (marxists.org), 2003.
Tradução de: Alexandre Linares.
HTML por José Braz para The
Marxists Internet Archive.
Direito de Reprodução: Luxemburg Internet Archive (marxists.org), 2002. A
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I
Desde o momento em que os trabalhadores do nosso país
e da Rússia começaram a lutar corajosamente contra o governo czarista e contra
os exploradores capitalistas, notamos cada vez com mais freqüência que os
padres, nos seus sermões, se lançam contra os trabalhadores que lutam. É com
extraordinário vigor que o clero combate os socialistas e tenta, por todos os
meios, minimizá-los aos olhos dos trabalhadores. Os crentes que vão à igreja,
nos domingos e dias festivos, são compelidos, cada vez com mais freqüência, a
ouvirem um violento discurso político, uma verdadeira denúncia do Socialismo,
em vez de ouvirem um sermão e nele obterem uma consolação religiosa. em vez de
confortarem as pessoas que estão cheios de preocupações, e cansadas pela vida
difícil, e que vão à igreja com fé no Cristianismo, os padres fulminam os
trabalhadores que estão em greve e os opositores do Governo; e ainda mais,
exortam-nos a suportar a pobreza e a opressão com humildade e paciência.
Transformaram a igreja e o púlpito num lugar de propaganda política.
Os trabalhadores podem convencer-se facilmente que a
luta do clero contra os sociais democratas(*) não é de modo algum provocada por estes. Os sociais
democratas propõem-se, como objetivo, unirem-se e organizarem os trabalhadores
na luta contra o capital, isto é, contra os exploradores que lhes sugam a
última gota de sangue, e na luta contra o governo czarista que impede a
libertação do povo. Mas nunca s sociais democratas conduzem os trabalhadores a
lutar contra o clero ou tentar interferir com as crenças religiosas; de modo
nenhum! Os sociais democratas, de todo o mundo e do nosso próprio país,
consideram a consciência e as opiniões pessoais como sendo sagradas.
Todo homem pode ter aquela fé e aquelas opiniões que
lhe pareçam capazes de assegurar a felicidade. Ninguém tem o direito de
perseguir ou atacar a opinião religiosa particular dos outros. Isto é o que os
socialistas pensam. E é por esta razão, entre outras, que os socialistas animam
todo o povo a lutar contra o regime czarista, que está continuamente a
violentar a consciência das pessoas, perseguindo católicos, católicos russos [1] , judeus, heréticos e livres pensadores. São
precisamente os sociais democratas que aparecem mais fortemente em defesa da
liberdade de consciência. Portanto, pareceria que o clero tinha obrigação de
dar a sua ajuda aos sociais democratas que estão a tentar aliviar o povo
oprimido. Se entendermos devidamente os ensinamentos que os socialistas trazem
à classe trabalhadora, o ódio do clero contra eles torna-se ainda menos
compreensível.
Os sociais democratas propõem-se por fim à exploração
do povo pelos ricos. Pensar-se-ia que os servidores da igreja deveriam ter sido
os primeiros a desempenhar-se desta tarefa, mais do que os sociais democratas.
Não é Jesus Cristo (de quem os padres são servidores) quem ensina que “é mais
fácil um camelo passar pelo furo de uma agulha que um rico entrar no Reino dos
Céus”? [2] Os sociais democratas tentam trazer a todos os países
regimes sociais baseado na igualdade, liberdade e fraternidade de todos os
cidadãos. Se o clero realmente deseja que o princípio “Ama o teu próximo como a
ti mesmo”seja aplicado na vida real, por que é que não recebe bem e com
entusiasmo a propaganda dos sociais democratas? Os sociais democratas tentam,
através de uma luta desesperada e da educação e organização do povo, subtraí-lo
à opressão em que se encontra e oferecer-lhe um melhor futuro para os filhos.
Todos devem admitir que, neste ponto, o clero deveria abençoar os sociais
democratas, pois não é ao clero que eles servem, e sim a Jesus Cristo, que diz
que “o que fizeres aos pobres é a mim que o fazeis”? [3]
Contudo vemos o clero, por um lado, excomungado e
perseguindo os sociais democratas e, por outro, mandando os trabalhadores
sofrer com paciência, isto é, deixando-os pacientemente ser explorados pelos
capitalistas. O clero atira-se violentamente contra os socialistas democratas,
exorta os trabalhadores a não se revoltarem contra os dominadores, mas a
submeter-se à opressão deste governo que mata o povo indefeso, que manda para a
monstruosa carnificina da guerra milhões de trabalhadores, que persegue
católicos. Católicos russos e “velhos crentes” [4] . Assim, o clero, que se torna o porta-voz dos ricos,
o defensor da exploração e opressão, põe-se a si próprio em flagrante
contradição com a doutrina cristã. Os bispos e os padres não são os
propagadores dos ensinamentos cristãos, mas os adoradores do Bezerro de Ouro [5] e do chicote que açoita os pobres e indefesos.
Além disso, todos sabem que os próprios padres tinham
proveito do trabalhador,extraem-lhe dinheiro por ocasião do batismo, casamento
e funeral. Quantas vezes têm acontecido que o padre, chamado à cabeceira da
cama de um doente para administrar os últimos sacramentos, se recusou a ir lá
antes de serem pagos os seus “honorários”? O trabalhador vai, desesperado,
vender ou hipotecar os seus últimos bens para ser capaz de dar uma consolação
ao seu parente.
É verdade que encontramos sacerdotes de outra espécie.
Existem alguns que estão cheios de bondade e misericórdia e que não procuram
lucros; estes estão sempre prontos a ajudar os pobres. Mas devemos admitir que
são, sem dúvida, raros e que podem ser olhados da mesma maneira que graúnas brancas.
A maior parte dos padres, de faces rosadas, curvam-se e saúdam cortesmente os
ricos e poderosos, perdoando-lhe silenciosamente toda depravação a e toda a
iniqüidade. Para com os trabalhadores, o clero comporta-se de maneira bem
diferente: pensa apenas em espezinha-los sem piedade; em sermões ríspidos
condenam a “cobiça” dos trabalhadores quando estes nada mais fazem do que
defender-se contra os erros do capitalismo. A espantosa contradição entre as
ações do clero e os ensinamentos do cristianismo deve levar-nos todos a
refletir. Os trabalhadores espantam-se de como na luta da sua classe pela
emancipação vão encontrar nos servidores as Igreja inimigos e não aliados. Como
é que a Igreja desempenha o papel de defesa da opressão rica e sangrenta, em
vez de ser o refúgio dos explorados? Para entender esse fenômeno estranho,
basta lançar os olhos sobre a história da igreja e examinar a evolução pela
qual ela passou ao longo dos séculos.
II
Os sociais democratas desejam pôr em execução o estado
de “Comunismo”; é principalmente isso que o clero tem contra eles. Em primeiro
lugar, é chocante notar que os padres de hoje, que combatem o comunismo,
condenam, na realidade, os primeiros apóstolos cristãos. Estes não passaram, de
fato, de ardentes comunistas.
A religião crista desenvolveu-se, como é bem
conhecido, na Roma antiga, no período do declínio do império, que fora, antes,
rico e poderoso, compreendendo os países que são hoje a Itália e a Espanha,
parte da França, parte da Turquia, a Palestina e outros territórios. O estado
de Roma, na época do nascimento de Jesus Cristo, parecia-se muito com o da
Rússia czarista. Por um lado, ali vivia um punhado de gente rica, gozando da
luxúria e todos os prazeres; por outro lado, uma enorme massa de pobres
apodrecia na pobreza; sobretudo um governo despótico, assentado na violência e
na corrupção, exercia uma vil opressão. Todo o império Romano foi mergulhado em
completa desordem e cercado por ameaçadores inimigos externos: a soldadesca
desenfreada, no poder, praticava as suas crueldades sobre a população
desgraçada; a província estava deserta, a terra jazia abandonada, as cidades,
especialmente Roma, a capital, estava cheia de uma pobreza chocante que erguia
os olhos carregados de ódio para os palácios dos ricos; o povo estava sem pão,
sem abrigo, sem vestuário, sem esperança e sem possibilidades de sair de sua
pobreza.
Há apenas uma diferença entre Roma na sua decadência e
o império dos czares; Roma nada sabia de capitalismo; não existia ali a
indústria pesada. Naquele tempo, a escravatura era a ordem de coisas
estabelecidas em Roma. As famílias nobres, os ricos, os financeiros satisfaziam
todas as suas necessidades pondo a trabalhar os escravos aprisionados nas
guerras. Com o andar dos tempos, estas pessoas ricas tinham deitado a mão a
quase todas as províncias da Itália, espoliando da terra os camponeses. Como se
apropriavam de cereais em todas as províncias conquistadas, como tributo sem
custo, davam-se ao luxo de abandonar, nos seus próprios estados, plantações
magníficas, vinhas, pastagens, pomares e ricos jardins, cultivados por
exércitos de escravos a trabalhar debaixo de chicote do capataz. Assim se havia
formado em Roma um exército numerosos dos que nada possuíam – o proletariado [6] -, não tendo mesmo a possibilidade de vender a força
do seu trabalho. Este proletariado, vindo do campo, não podia, ser absorvido
pelas empresas industriais como acontece hoje; tornaram-se vítimas da pobreza
desesperada e foram reduzidos à mendicidade. Esta numerosa massa popular,
morrendo de fome, sem trabalho, enchendo os subúrbios e os espaços livres e as
ruas de Roma, constituía um perigo permanente para o governo e para as classes
possuidoras. Portanto, o governo sentiu-se compelido, no seu próprio interesse,
a aliviar a pobreza. De tempos em tempo, distribuía ao proletariado o cereal e
outros gêneros alimentícios armazenados nos celeiros do Estado. Mais, para
fazer o povo esquecer as suas amarguras, oferecia-lhe espetáculos gratuitos de
circo. Ao contrário do proletariado do nosso tempo, que mantém toda a sociedade
pelos seus trabalhos, o enorme proletariado de Roma existia pela caridade.
Eram os escravos miseráveis, tratados como bestas,
quem trabalhava para a sociedade romana. Neste caos de pobreza e degradação, um
punhado de magnatas romanos passava seu tempo em orgias e devassidão. Não havia
possibilidade de sair destas monstruosas condições sociais. O proletariado
queixava-se e ameaçava, de vez em quando revoltou-se, mas uma classe de
mendigos, vivendo das migalhas caídas da mesa dos senhores, não podia
estabelecer uma nova ordem social. Além disso, os escravos que mantinham com o
seu trabalho toda a sociedade, estavam muito espezinhados, bastante dispersos,
demasiado esmagados pelo jugos, tratados como bestas e viviam bastante isolados
das outras classes para serem capazes de transformar a sociedade. Revoltaram-se
muitas vezes contra os seus patrões, tentaram libertar-se em batalhas sangrentas,
mas o exercito romano esmagou sempre estas revoltas, esmagando os escravos aos
milhares e condenando-os à morte na cruz.
Nesta sociedade a desmoronar-se, onde não existe saída
desta trágica situaçao para o povo, nem esperança alguma de uma vida melhor, os
desgraçados voltam-se para o Céu procurando nele a salvação.a religião crista
aparecia a estes infelizes seres como um cintode salvação, uma consolação e um
encorajamento e tornou-se, logo desde o princípio, a religião dos proletários
romanos. Em conformidade com a posição material dos homens pertencentes a esta
classe, os primeiro cristãos fizeram a proposta da propriedade em comum – o
comunismo. O que é que poderia ser mais natural? As pessoas careciam dos meios
de subsistência e estavam a morrer de pobreza. Uma religião que defendia o povo
pedia que os ricos partilhassem com os pobres as riquezas que devem pertencer a
todos e não a um punhado de pessoas privilegiadas; uma religião que pregava a
igualdade de todos os homens teria grande sucesso. Contudo, isto nada tem em
comum com as propostas atuais dos sociais democratas, com vista a transformação
em propriedade comum dos instrumentos de trabalho, dos meios de produção, para
que toda a humanidade possa trabalhar e viver em unidade harmoniosa.
Vimos que os proletários romanos não vivam do
trabalho, mas das esmolas que o governo distribuía. Assim, a exigência, pelos
cristãos, da coletivização da propriedade, não diz respeito aos meios de
produção, mas aos bens de consumo. Eles não pediam que a terra, as oficinas e
os instrumentos de trabalho se tornassem propriedade coletiva, mas apenas que
tudo deveria ser repartido entre eles, casas, roupas, alimentos e os produtos
acabados mais necessários à vida. Os comunistas cristãos não se preocuparam
nada em inquirir acerca da origem destas riquezas. O trabalho de produção
recaiu sempre sobre os escravos. O povo cristão desejava apenas que os que
possuíam a riqueza abraçassem a religião crista e fizessem das suas riquezas
propriedade comum, para que todos pudessem gozar destas coisas boas em
igualdade e fraternidade.
Foi, na verdade, deste modo que as primeiras
comunidades cristas se organizaram. Um contemporâneo escreveu: “Estas pessoas
não acreditam em fortunas, mas pregam a propriedade coletiva e nenhuma de entre
elas possui mais do que as outras. Quem desejar entrar na sua ordem é obrigado
a pôr a sua fortuna como propriedade comum a essas mesmas pessoas. E pro isso
que não há entre eles nem pobreza nem luxo – todos possuindo tudo em comum,
como irmãos. Não vivem numa cidade à parte, mas em cada uma têm casas para eles
próprios. Se quaisquer estrangeiros pertencentes à sua religião aparecem,
repartem a propriedade com eles e podem beneficiar dela como se fosse
propriamente sua. Essas pessoas, mesmo que desconhecidas anteriormente uma das
outras, dão as boas vindas uns aos outros e as suas relações as muito
amigáveis”.
Quando viajam não levam nada senão uma arma para se
defender dos ladrões. Em cada cidade têm o seu próprio administrador, que
distribui roupa e alimento aos viajantes. Negócio não existe entre eles.
Contudo, se um dos membros oferece algum objeto de que ele precisa, recebe
outros objetos em troca. Mas também cada um pode pedir o que precisa mesmo que
não possa dar em troca”.
Lemos nos “Atos dos Apóstolos” (IV 34, 35) a seguinte
descrição da primeira comunidade de Jerusalém: “Entre eles não havia ninguém
necessitado, pois todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o
produto da venda e depositavam-no aos pés dos Apóstolos. E a cada um era
distribuído de acordo com a sua necessidade”.
Em 1780, o historiador alemão Vogel escreveu quase a
mesma coisa a cerca dos primeiros cristãos: “De acordo com a regra, todo
cristão tinha direito à propriedade de todos os membros da comunidade, caso quisesse,
podia pedir que os membros mais ricos dividissem a sua fortuna com ele, de
acordo com as suas necessidades. Todo o cristão podia fazer uso da propriedade
dos seus irmãos. Assim, os cristãos que não tinham casa podiam exigir do que
tinha duas ou três que os recebesse; o proprietário conservava para si próprio
apenas a sua própria casa. Mas por causa da comunidade de gozo dos bens, tinha
de dar-se habitação àquele que a não tinha”.
O dinheiro era colocado em caixa comum e um membro da
sociedade. Especialmente escolhido para esse fim, dividia a fortuna coletiva
entre todos. Mas sto não era tudo. Entre os primeiros cristãos o comunismo foi
levado tão longe que eles tomavam as suas refeições em comum. A sua vida
familiar era portanto abolida; todas as famílias cristas, numa sociedade,
viviam juntas, como uma única grande família.
Para terminar acrescentamos que certos padres atacam
os sociais democratas alegando que somos a favor da comunidade de mulheres.
Obviamente que isto é uma grande mentira,proveniente da ignorância ou da irado
clero. Os sociais democratas consideram isso como uma distorção vergonhosa e
bestial do casamento. E contudo esta prática foi usual entre os primeiros
cristãos [7] .
Deste modo, os cristãos do I e II século foram
fervorosos adeptos do comunismo. Mas este comunismo era baseado no consumo de
produtos acabados e não no trabalho, e mostrou-se incapaz de reformar a
sociedade e de pôr fim à desigualdade entre os homens e de derrubar a barreira
que separa ricos e pobres. Por isso, exatamente como antes, as riquezas criadas
pelo trabalho – para toda a sociedade – era fornecido pelos escravos. O povo,
desprovido de méis de subsistência, recebia apenas esmolas.
Enquanto uns poucos (em proporção com a massa do povo)
possuírem exclusivamente para seu próprio uso todas as terras cultiváveis,
florestas e pastagens, os animais do campo e as casa de lavoura, todas as
oficinas, ferramentas e matérias de produção, não pode haver qualquer espécie
de igualdade entre os homens. Em tais condições, a sociedade, evidentemente,
encontra-se dividida em duas classes, os ricos e os pobres, os do luxo e os da
pobreza. Suponhamos, por exemplo, que os ricos proprietários, influenciados
pela doutrina crista, oferecessem para distribuir para o povo todas as riquezas
que possuíam em forma de dinheiro, cereais, frutas, vestuário e animais. Qual
seria o resultado? A pobreza desapareceria por algumas semanas e , durante este
tempo, a população poderia alimentar-se e vestir-se. Mas os produtos acabados
são rapidamente consumidos. Após um pequeno lapso de tempo, as pessoas, tendo
consumido as riquezas distribuídas, teriam uma vez mais as mãos vazias. Os
proprietários da terra e dos instrumentos de produção podiam produzir mais,
graças ao poder laboral dos escravos, e assim nada se mudaria. Bem. Aqui está
porque os sociais democratas consideram estas coisas de um modo diferente dos
comunistas cristãos. Eles dizem: “Não queremos que os ricos repartam com os
pobres: não queremos nem caridade nem esmolas; ambas as coisas são incapazes de
impedir o retorno da desigualdade entre os homens. Não é de modo algum uma
partilha entre ricos e pobres que nós desejamos, mas a completa supressão de
ricos e pobres”. Isto é possível desde que as fontes de toda a riqueza, a
terra, em comum com todos os outros meios de produção e instrumentos de
trabalho, se tornem propriedade coletiva do povo trabalhador que irá produzir
para si próprio, de acordo com as necessidades de cada um. Os primeiros
cristãos acreditaram que podiam remediar a pobreza do proletariado por meio das
riquezas oferecidas pelos possuidores. Isso seria deitar água numa peneira! O
comunismo cristão foi não só incapaz de mudar ou melhorar a situação econômica,
como não substituiu.
Ao principio, quando os seguidores do novo Salvador
constituíam um pequeno grupo na sociedade romana, a divisão do pecúlio comum,
as refeições em comum e o viver debaixo do mesmo teto, eram praticáveis. Mas
quando o numero de cristãos se espalhou pelo território do Império, esta vida
comunitária dos seus partidários tornou-se mais difícil. Em breve desapareceu o
costume das refeições comuns e a divisão dos bens tomou um novo aspecto. Os
cristãos não mais viveram como uma família; cada um tomou cuidado da sua
própria propriedade e já não ofereciam o total dos seus bens à comunidade, mas
apenas o supérfluo. As ofertas dos mais ricos de entre eles ao organismo geral,
perdendo o seu caráter de participação numa vida comum, em breve se
transformaram em simples “esmolas”, desde que os cristãos ricos deixaram de
fazer caso da propriedade comum e passaram pôr ao serviço dos outros apenas uma
parte do que tinham, parte que podia ser maior ou menor, condoante a boa
vontade do doador. Assim, no coração do comunismo cristão, apareceu a diferença
análoga à que reinava no Império Romano e contra a qual os primeiros cristãos
tinham combatido. Em breve foram apenas os cristãos pobres – os proletários –
que tomaram parte em refeições comuns; os ricos, tendo oferecido uma parte da
sua abundancia, conservavam-se à parte. Os pobres viviam das esmolas atiradas
pelos ricos e a sociedade tornou-se outra vez naquilo que tinha sido. Os
cristãos não tinham mudado a vontade dos ricos.
Os padres da Igreja lutaram muito ainda, com palavras
escaldantes, contra esta penetração da desigualdade social na comunidade
crista, flagelando os ricos e exortando-os a voltarem ao comunismo dos
primeiros Apóstolos.
S. Basílio, no Século IV depois de Cristo, pregou
assim contra os ricos:
“Miseráveis, como vos ireis justificar diante do Juiz
do Céu? Vós dizeis-me: “Qual é a nossa falta, quando guardamos o que nos
pertence”? eu pergunto-vos: “Como é que arranjastes isso a que chamais de vossa
propriedade? Como é que os possuidores se tornam ricos, senão tomando posse das
coisas que pertence a todos? Se todos tomassem apenas o que estritamente
necessitam, deixando o resto aos outros, não haveria nem ricos nem pobres”.
Foi S. João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla,
(nascido em Antioquia em 347, falecido, no exílio, na Armênia, em 407) quem
pregou mais ardentemente aos cristãos para regressarem ao primeiro comunismo
dos Apóstolos. Este célebre pregador, na sua 11ª homilia sobre o Atos dos
Apóstolos, disse: “E havia uma grande caridade entre eles ( os Apóstolos);
ninguém era pobre entre eles. Ninguém considerava como seu o que lhe pertencia,
todas as suas riquezas estavam em comum... uma caridade existia em todos eles.
Esta caridade, consistia em que não havia pobre entre eles, de tal modo que os
tinham bens apressavam-se a desprender-se deles. Não dividiam as suas fortunas
em duas partes, dando uma e guardando a outra; davam o que tinham. Assim não
havia desigualdade entre eles. Todos viviam em grande abundancia. Tudo se fazia
com o maior respeito. O que davam não passava da mão do doador para a mão do
que recebia; as suas dádivas eram sem ostentação; traziam os bens aos pés dos
apóstolos que se tornavam os controladores e donos deles e que os usavam, daí
para o futuro, como bens da comunidade e já não como propriedade de indivíduos.
Por este meio cortaram a possibilidade de vã glória. Ah! Por que é que se terão
perdido estas tradições? Ricos e pobres poderiam todos tirar proveito destes
costumes piedosos e uns aos outros sentiríamos o mesmo prazer em nos
conformarmos com eles. Os ricos não empobreceriam ao desprenderem-se das suas
posses, e os pobres seriam esquecidos... Mas tentemos dar uma idéia exata do
que se deveria fazer... Ora, suponhamos – e nem pobres nem ricos precisam se
alarmar, pois eu estou apenas a supor – suponhamos que vendemos tudo o que nos
pertence para pormos o produto da venda numa conta comum. Que somas de ouro se
amontoariam! Não sei dizer com exatidão quanto isso iria dar; mas se todos
entre nós, sem distinção de sexo, trouxéssemos os nossos tesouros, se
vendêssemos os campos, as propriedades, as casas – não falo de escravos, pois
não havia nenhum na comunidade cristã e os que houvesse tornavam-se livres –
talvez, se todos fizessem o mesmo, creio que conseguiríamos centenas de milhar
de libras de ouro, milhões, enormes valores.
“Bem. Quantas pessoas pensam que vivem nesta cidade?
Quantos cristãos? Concordam em que haja uns cem mil? O resto será constituído
por judeus e gentios. Quantos não conseguiríamos unir? Ora, se contássemos os
pobres, quantos seriam? Cinqüenta mil necessitados, no máximo. O que seria
necessário para os alimentar em cada dia? Julgo que a despesa não seria
excessiva, se o fornecimento e o consumo da alimentação fossem organizados em
comum. Dir-se-á ta;vez: “mas o que será de nós quando estes gêneros estiverem
consumidos?” Mas o quê? Isso poderia acontecer? A graça de deus não seria mil
vezes mais abundante? Não estaríamos nós a fazer um céu na terra? Se anteriormente
esta comunidade de bens existiu entre três a cinco mil fiéis e teve tão bons
resultados e baniu a pobreza entre eles por que não resultaria numa grande
multidão como esta? E entre os próprios pagãos, quem não se apressaria a
aumentar o tesouro em comum? E entre o tesouro comum? A riqueza que é possuída
por várias pessoas é muito mais fácil e rapidamente gasta: a difusão da
propriedade é a causa da pobreza. Tomemos como exemplo uma família composta de
marido, esposa e dez filhos, a esposa ocupando-se em fiar a lã, o marido
trazendo do seu trabalho fora de casa; digam-me em que gastaria mais esta
família, se vivendo em comum ou vivendo separadamente. Obviamente, se
estivessem separados. Dez casas, dez mesas, dez criados e dez subsídios
especiais seriam necessários para crianças se vivessem separados. O que é que
se faria se possuíssem muitos escravos? Não é verdade que para reduzir as
despesas se iria aumentá-los numa mesa comum? A divisão é uma causa de
empobrecimento; a concórdia e a unidade de vontades é uma causa de riquezas.
“Nos mosteiros, ainda se vive como na primitiva
Igreja. E quem morre de fome ali? Quem é que ali não encontra o bastante para
comer? Contudo os homens do nosso tempo temem viver dessa maneira mais do que
temem cair no mar! Por que é que não tentamos? Temê-lo-íamos. Que grande ato
seria esse! Se alguns fiéis, uns escassos oito mil, gostaram, na presença de
todo o mundo, onde não tinham senão inimigos, de fazer uma corajosa tentativa
de viver em comum, sem qualquer auxílio externo, quanto o melhor o podíamos os
fazer hoje, agora que já cristãos em todo o mundo? Permaneceria um único
gentio? Nenhum, creio eu. Nós atrai-los-íamos todos e ganhá-lo-íamos para nós” [8] .
Estes ardentes sermões de S. João Crisóstomo foram em
vão. Os homens na não mais tentaram estabelecer o Comunismo nem em
Constantinopla, nem em parte nenhuma. Ao mesmo tempo que o cristianismo se
expandia e se tornava, em Roma, depois do século IV, a religião dominante, os
fiéis distanciavam-se cada vez mais do exemplo dos primeiros Apóstolos. Mesmo
dentro da própria comunidade cristã, a desigualdade de bens entre os fiéis
cresceu.
De novo, no século VI, Gregório, O grande, disse “Não
é, de modo algum, bastante não roubar a propriedade dos outros; é errado
conservar para si próprio a riqueza que Deus criou para todos. Aquele que não
dá aos outros o que possui é um assassino; quando guarda para seu próprio uso o
que proveria os pobres, pode dizer-se que está a matar os que podiam ter vivido
da sua abundância; quando repartimos com os que estão sofrendo, nós não damos o
que nos pertence, mas o que lhes pertence. Isto não é um ato de misericórdia,
mas o pagamento de uma dívida”.
Estes apelos foram infrutíferos. Mas a culpa não foi,
de modo algum, dos cristãos desses dias, que na verdade correspondiam mais às
palavras dos Padres da Igreja do que os cristãos de hoje. Não foi a primeira
vez na história da humanidade que as condições econômicas se mostraram elas
próprias mais fortes que belos discursos.
O Comunismo, esta comunidade de consumo de bens, que
os primitivos cristãos proclamaram, não podia ser posta em prática sem o
trabalho comum de toda a população, na terra, como propriedade comum, e também
em oficinas comunais. No período dos primeiros cristãos, era impossível iniciar
o trabalho comunal (com meios comunais de produção) porque, como nós já
afirmamos., o trabalho baseava-se, não em homens livres, mas em escravos que
viviam à margem da sociedade.
A Cristandade não tentou abolir a desigualdade entre o
trabalho de diferentes homens nem entre a sua propriedade. Razão pela qual, o
seu esforço para suprimir a distribuição desigual dos bens de consumo não
vingou. As vozes dos Padres da igreja proclamando o Comunismo não encontraram
eco. Além disso, estas vozes, em breve, tornaram-se cada vez menos freqüentes
e, finalmente, caíram no silêncio completo. Os Padres da Igreja cessaram de
pregar a comunidade e a distribuição dos bens, porque o crescimento da
comunidade cristã produziu mudanças fundamentais dentro da própria Igreja.
III
No princípio, quando o número de cristão era pequeno,
não existia clero no sentido próprio da palavra. Os fiéis, que formavam uma
comunidade religiosa independente, uniam-se em comum, em cada cidade. Elegiam
um membro responsável para dirigir o serviço de Deus e realizar as cerimônias
religiosas. Todo cristão podia tornar-se bispo ou prelado estas funções eram
coletivas, sujeitas a revogação, honorárias, e não comunicavam poder além do
que a comunidade lhes conferia de livre vontade. [9] À medida que o número de fiéis crescia e as
comunidades se tornavam mais numerosas e mais ricas, a gerência dos negócios da
comunidade e o desempenho das tarefas tornou-se uma ocupação que exigia muito
tempo e uma aplicação total. Como os que exerciam este ofício não podiam
executar as suas tarefas e simultaneamente os seus empregos privados, surgiu o
costume de eleger entre os membros da comunidade um eclesiástico a quem eram
exclusivamente confiadas estas funções. Portanto estes funcionários da
comunidade tinham de ser pagos pela sua devoção exclusiva às funções dela. Assim
se formou dentro da Igreja uma nova ordem de funcionários da Igreja, que se
separou do corpo principal dos fiéis, o clero. Paralelamente à desigualdade
entre ricos e pobres, aí apareceu uma outra desigualdade, entre o clero e o
povo. Os eclesiásticos, no princípio eleitos entre iguais com vistas a
exercerem uma função temporal, em breve se guindaram a uma espécie de casta que
governava o povo.
Quanto mais as comunidades cristãs se tornavam
numerosas nas cidades do grande Império Romano, tanto mais os cristãos,
perseguidos pelo Governo, sentiam a necessidade de se unirem para ganhar força.
As comunidades, espalhadas por todo o território do Império, organizaram-se
portanto numa única Igreja. Esta unificação foi já uma unificação do clero e
não do povo. Desde o séc. IV, os eclesiásticos das comunidades encontravam-se
nos concílios. O primeiro concílio realizou-se me Nicéia, em 325. desta forma
se formou o clero, numa ordem separada do povo. Os bispos das comunidades mais
ricas e poderosas tomavam a presidência dos concílios. É por isso que o bispo
de Roma em breve se colocou a si próprio à cabeça de toda a Cristandade e se
tornou o Papa. Assim um abismo separava o clero, organizado em hierarquia, do
povo.
Ao mesmo tempo, as relações econômicas entre o povo e
o clero sofreram uma gande mudança. Antes da formação desta ordem, tudo que os
membros ricos da Igreja ofereciam para propriedade comum pertencia aos pobres.
Depois, uma grande parte dos fundos era gasta em pagar ao clero e em
administrar a Igreja.
Quando, no séc. IV, o Cristianismo foi protegido pelo
governo, e foi reconhecido em Roma como sendo a religião dominante, as
perseguições dos cristãos terminaram e o culto deixou de ser exercido nas
catacumbas ou em modestos compartimentos e passou para igrejas que começaram a
ser construídas duma forma cada vez mais magnificente. Estas despesas reduziram
assim os fundos destinados aos pobres. Já no século V, os rendimentos da Igreja
eram divididos em quatro partes: a primeira para o bispo, a segunda para o
clero menor, a terceira para manutenção da Igreja e era apenas a quarta parte
que era distribuída para os necessitados. A população cristã pobre recebia
portanto uma soma igual à que o Bispo recebia só para si próprio. Com o andar
dos tempos foi-se perdendo o hábito de dar aos pobres a importância a eles
destinada previamente. Sobretudo, quando o alto clero ganhou importância, os
fiéis deixaram de ter o domínio sobre a propriedade da Igreja. Os bispos davam
aos pobres a seu bel-prazer. O povo recebia esmolas do seu próprio clero. E não
só. No princípio da cristandade, os fiéis faziam ofertas voluntárias para o
tesouro comum. Logo que a religião cristã se tornou uma religião de Estado, o
clero exigia que as ofertas fossem trazidas tanto pelos pobres como pelos ricos.
Desde o século VI o clero impôs uma taxa especial, o dízimo (a décima parte das
colheitas), que tinha de ser paga à Igreja. Esta taxa esmagava o povo como um
pesado fardo; durante a Idade Média, tornou-se um verdadeiro flagelo para os
camponeses oprimidos pela servidão. O dízimo era imposto sobre qualquer porção
de terra, sobre qualquer propriedade. Mas foi sempre o servo quem pagou com seu
trabalho. Assim os pobres não só perderam o apoio e ajuda da Igreja, mas viram
os padres aliarem-se com os seus outros exploradores: príncipes, nobres,
agiotas. Na Idade Média, enquanto a população trabalhadora se afundava em
pobreza através da escravidão, a Igreja tornava-se cada vez mais rica. Além dos
dízimos e de outras taxas, a Igreja beneficiava-se, neste período , de grandes
doações, legados feitos por ricos libertinos de ambos os sexos que desejavam
compensar, no último momento, a sua vida de pecado. Deram e voltaram a dar à
Igreja dinheiro, casas, aldeias inteiras com os seus servos e algumas vezes
rendas de terra ou direitos consuetudinários de trabalho.
Deste modo a Igreja adquiriu uma enorme riqueza. Ao
mesmo tempo o clero deixou de o ser, para passar a ser o “administrador” da
riqueza que a Igreja tinha recebido. Foi abertamente declarado, no século XII,
ao formular-se uma lei que se diz vir da Sagrada Escritura, que a riqueza da
Igreja pertence não aos fiéis, mas é propriedade individual do clero e do seu
chefe, para o Papa, sobretudo. As posições eclesiásticas, portanto, ofereciam
as melhores oportunidades para obter grandes rendimentos. Cada eclesiástico
dispunha da propriedade da Igreja como se fosse sua e largamente a doava aos
seus parentes, filhos e netos. Por este meio os bens da Igreja foram pilhados e
desapareceram nas mãos dos familiares do clero. Por esta razão, os Papas
declararam-se como proprietários soberanos das fortunas da Igreja e ordenaram o
celibato do clero para o manterem intacto e impedir que seu patrimônio fosse
disperso. O celibato foi decretado no século XIII, devido à posição do clero.
Ainda para impedir a dispersão da riqueza da Igreja, em 1927 o papa Bonifácio
VIII proibiu aos eclesiásticos de fazer oferta dos seus rendimentos aos leigos,
sem permissão do Papa. Assim a Igreja acumulou enorme riqueza especialmente em
terras lavradias e o clero de todos os países cristãos tornou-se o mais
importante proprietário de terras. Possuía algumas vezes um terço ou mais do
que um terço de todas as terras do país!
Os camponeses pagavam não só os impostos de trabalho
mais o dízimo igualmente, e não só nas terras dos príncipes e dos nobres mas
também em enormes áreas onde trabalhavam diretamente para bispos, párocos e
conventos. Entre todos os poderosos senhores dos tempos feudais, a Igreja
aparecia como maior de todos os exploradores. Na França, por exemplo, no fim do
século XVIII, antes da Grande Revolução, o clero possuía a 5ª parte de todo o
território do país com um rendimento anual de cerca de 100 milhões de francos.
Os dízimos pagos pelos proprietários subiam a 23 milhões. Esta soma ia engordar
2.800 prelados e bispos, 5.600 superiores e priores, 60.000 párocos e curas e
24.000 monges e 36.000 freiras que enchiam os conventos. Este exército de
padres estava livre de impostos e de obrigações de serviço militar. Nos tempos
de calamidade – guerra, más colheitas, epidemias – a Igreja pagava ao tesouro
de Estado uma taxa “voluntária” que nunca exercida 16 milhões de francos.
O clero, assim privilegiado, constituía, com a
nobreza, uma classe dominante vivendo à custa de sangue e do suor dos servos.
Os altos postos na Igreja e os que pagavam melhor eram distribuídos somente aos
nobres e permaneciam nas mãos da nobreza. Conseqüentemente no período de
escravidão, o clero foi aliado da nobreza dando-lhe apoio e ajuda para oprimir
o povo a quem nada oferecia senão sermões, de acordo com os quais o povo devia
permanecer humilde e resignar-se com a sua sorte. Quando o proletariado do
campo e da cidade se levantava contra a opressão e escravatura, encontrava no
clero um opositor feroz. É também verdade que mesmo dentro da Igreja havia duas
cl;asses: o alto clero que absorvia toda a riqueza, e a grande massa dos curas
rurais cujos modestos recursos não iam além de 500 a 2.000 francos anuais.
Portanto esta classe revoltava-se contra o clero superior e, em 1789, durante a
Grande Revolução, juntou-se ao povo para combater contra o poder da nobreza
eclesiástica e laica. Assim foram as relações entre a Igreja e o povo
modificadas com o andar dos tempos. A Cristandade começou como uma mensagem de
consolação aos deserdados e pobres. Trazia uma doutrina que combatia a
desigualdade social e o antagonismo entre ricos e pobres; ensinou a comunidade
de riquezas. Em breve este templo de igualdade e fraternidade tornou-se uma
nova fonte de antagonismos sociais. Tendo abandonado a luta contra a
propriedade individual que tinha sido feita pelos primeiros apóstolos, o clero
juntou ele próprio riquezas, aliou-se coma classe dominante que vivia a
explorara o trabalho da classe trabalhadora. Nos tempos feudais a Igreja
pertencia à nobreza, à classe dominante, e defendia ferozmente o poder desta
contra a revolução. No fim do século XVIII e princípios do século XIX, o povo
da Europa Central varreu a escravatura e os privilégios da nobreza. Nesta
altura, a Igreja aliou-se outra vez às classes dominantes – à burguesia
industrial e comercial. Hoje, a situação mudou e o clero já não possui grandes
estados, mas possui capital que tenta tornar produtivo pela exploração do povo
através do comércio e indústria, como fazem os capitalistas.
A Igreja Católica na Áustria possuía, de acordo com as
suas próprias estatísticas, um capital de mais de 813 milhões de coroas (10),
das quais 300 milhões eram em terras lavradias e em propriedades, 387 milhões
em obrigações e além disso emprestou a juros total de 70 milhões aos donos de
fábricas e aos homens de negócios. Eis como a Igreja, adaptando-se aos tempos
modernos, se mudou para uma forma capitalista industrial e comercial a partir
de um domínio feudal. Como outrora, ela continua a colaborar com a classe que
se enriquece à custa do proletariado rural.
Esta mudança é ainda mais espantosa na organização dos
conventos. Em certos países, tais como a Alemanha e a Rússia, os mosteiros
foram suprimidos há muito tempo. Mas onde ainda existem, na França, Itália e
Espanha, tudo evidencia o papel enorme desempenhado pela Igreja no regime
capitalista.
Na Idade Média, os conventos eram o refúgio do povo.
Era aí que procuravam refugiar-se para se livrar da severidade dos senhores e
príncipes. Era aí que encontravam alimento e proteção em caso de pobreza
extrema. Os conventos não recusavam pão e sustento aos esfomeados. Não
esqueçamos, especialmente, que a Idade Média nada sabia de comércio como é
normal nos nossos dias. Toda propriedade, todo o convento produzia em abundância
para si próprio, graças ao trabalho dos servos e dos artífices. Muitas vezes as
provisões em reserva não tinha saída. Quando produziam mais cereal, mais
legumes, mais madeira do que era necessário para o consumo dos monges, o
excedente não tinha valor. Não havia comprador para ele e nem todos os
produtores se podiam preservar. Nestas condições, os conventos cuidavam
gratuitamente dos seus pobres, em todo o caso oferecendo-lhe apenas uma pequena
parte do que tinha sido extraído aos seus servos. (Este era o costume normal
neste período e quase todas as propriedades pertencente à nobreza procediam do
mesmo modo). De fato, os conventos beneficiavam consideravelmente desta
benevolência; tendo fama de abrir as suas portas aos pobres, recebiam grandes
dádivas e legados dos ricos e poderosos. Com o aparecimento do capitalismo e da
produção para troca, todos os objetos adquiriram um preço e tornaram-se
negociáveis. Nesta altura, os conventos, as casas dos senhores e dos
eclesiásticos cessaram os seus benefícios. O povo não encontrou aí mais
refúgio. Eis uma razão, entre outras, porque no princípio do capitalismo, no
século XVIII, quando os trabalhadores não estavam ainda organizados para
defender os seus interesses, apareceu uma pobreza não aterrorizadora que parecia
que a humanidade tinha regressado aos dias da decadência do Império Romano. Mas
enquanto a Igreja Católica, nos primeiros tempos, se esforçou por auxiliar o
proletariado romano pregando o comunismo, a igualdade e a fraternidade, no
período capitalista agiu de um modo completamente diferente. Procurou sobretudo
beneficiar com a pobreza do povo: pôs a mão-de-obra barata a trabalhar. Os
conventos tornaram-se literalmente infernos de exploração capitalista, tanto
piores quanto tinham ao seu serviço mulheres e crianças. A causa judicial
contra o convento Bom Pastora, em França, em 1903, foi um exemplo retumbante
destes abusos. Rapariguinhas de 12, 10 e 9 anos eram compelidas a trabalhar em
condições abomináveis, sem descanso, arruinando os olhos e a saúde e eram mal
alimentadas e sujeitas à disciplina de prisão.
Nesta altura, os conventos estão quase abolidos na
França e a Igreja perde a oportunidade de exploração capitalista direta. O
dízimo, o açoite dos servos, tinha sido igualmente abolidos há muito tempo.
Isto não impede o clero de extorquir dinheiro à classe trabalhadora por outros
métodos, e especialmente através de missas, casamentos, funerais e batismos. E
os governos que sustentam o clero obrigam o povo a pagar o seu tributo. Mais,
em todos os países exxeto nos USA e na Suíça, onde a religião é um assunto
pessoal, a Igreja recebe do Estado enormes somas que obviamente provêm do duro
trabalho do povo. Por exemplo. Na França os gastos com o clero sobem 40 milhões
de francos por ano.
Para resumir, é o trabalho de milhões de explorados
que assegura a existência da Igreja, do governo e da classe capitalista. As
estatísticas relativas ao rendimento da Igreja na Áustria dão a idéia da
considerável riqueza da Igreja, que foi outrora refúgio dos pobres. Há cinco
anos (isto é, 19000) as suas receitas anuais ascendiam 35 milhões. Assim, no
decurso de um só ano, “punha de lado” 25 milhões à custa do suor e sangue
derramados pelos trabalhadores. Aqui estão alguns detalhes desse orçamento:
O Arcebispo de Viena, com rendimento anual de 300.000
coroas, e com despesas não superiores a metade dessa quantia, fazia 150.000
coroas de “economias” por ano; o capital fixo do Arcebispado era de cerca de 7
milhões de coroas. O Arcebispo de Praga goza de um rendimento superior a meio
milhão e tem cerca de 300.000 de despesas; o seu capital atinge quase 11
milhões de coroas. O Arcebispado do Olomouce (Olmutz) tem mais meio milhão de
rendimentos e cerca de 400.000 de despesa; a sua fortuna excede 14 milhões. O
clero subordinado, que muitas vezes alega pobreza, não explora menos a
população. Os rendimentos anuais dos párocos da Áustria atingem 35 milhões de
coroas, as despesas apenas 21 milhões, com o que as “economias” dos párocos
atingem anualmente 14 milhões. Finalmente, os conventos de há cinco anos
possuíam, deduzidas todas as despesas, uma receita líquida de 5 milhões por
ano. Estas riquezas cresciam todos os anos, enquanto a pobreza dos
trabalhadores explorados pelo capitalismo e pelo estado crescia de ano para
ano.
No nosso país, e em toda a parte, o estado de coisas,
é exatamente como na Áustria.
IV
Depois de termos revistos resumidamente a história da
Igreja não podemos surpreender-nos que o clero apóie o governo czarista e os
capitalistas contra os trabalhadores revolucionários que lutam por um futuro
melhor. Os trabalhadores com consciência de classe, organizados no Partido
Social Democrata, lutam por dar realidade à idéia da igualdade social e da
fraternidade entre homens, objetivo que fora anteriormente o da Igreja Cristã.
Não é possível empreender a igualdade quer numa
sociedade baseada na escravatura quer numa sociedade baseada na servidão:
torna-se possível entende-la no nosso tempo, isto é, no regime do capitalismo
industrial. O que os apóstolos cristãos não puderam conseguir com os seus
ardentes discursos contra o egoísmo dos ricos, os proletários modernos,
trabalhadores conscientes da sua posição de classe, podem principiar a realizar
no futuro próximo, pela conquista do poder político em todos os países,
apoderando-se das fábricas, da terra e de todos os meios de produção dos
capitalistas para os tornar propriedade comum dos trabalhadores. O comunismo
que os sociais democratas têm em vista não consiste na distribuição entre
pobres, ricos e preguiçosos da riqueza produzida por escravos e servos, mas no
trabalho comum honesto e unido e no gozo honesto dos frutos comuns desse
trabalho. O socialismo não consiste em dádivas generosas feitas pelos ricos aos
pobres, mas na abolição total de toda a diferença entre ricos e pobres,
obrigando todos igualmente a trabalhar de acordo com a sua capacidade para se
suprimir a exploração do homem pelo homem.
Com o propósito de estabelecer a ordem socialista, os
trabalhadores organizaram-se no Partido Social Democrata dos Trabalhadores que
se propõe a este fim. Eis porque a Social Democracia e o movimento dos
trabalhadores enfrentam o ódio feroz das classes proprietárias que vivem à
custa dos trabalhadores.
As enormes riquezas acumuladas pela Igreja, sem
qualquer esforço da sua parte, vêm da exploração e da pobreza do povo
trabalhador. A riqueza dos arcebispos e bispos, dos conventos e paróquias, a
riqueza dos donos das fábricas, e dos comerciantes e dos proprietários de
terras, é comprada ao preço de esforços desumanos dos trabalhadores da cidade e
do campo. Qual é a única origem das dádivas e dos legados que os ricos senhores
fazem à Igreja? Obviamente que não é o trabalho das suas mãos e o suor dos seus
rostos, mas a exploração dos trabalhadores que trabalham sem descanso para
eles; servos ontem, assalariados hoje. Além disso, os subsídios que os governos
hoje dão ao clero vêm do Tesouro Público, constituído na maior parte por
impostos tirados às massas populares. o clero, não menos do que a classe
capitalista, vive do povo, beneficia da degradação, da ignorância e da opressão
das pessoas. O clero e os capitalistas parasitas odeiam a classe trabalhadora
organizada, consciente dos seus direitos, que luta pela conquista das suas
liberdades. Pois a abolição da desordem capitalista e o estabelecimento da
igualdade entre os homens desferiram um golpe mortal, especialmente no clero
que existe só graças à exploração e à pobreza. Mas sobretudo, o socialismo
ajuda a assegurar à humanidade uma felicidade honesta e sólida cá em baixo, a
dar ao povo a maior educação possível e o primeiro lugar na sociedade. É
precisamente esta felicidade aqui na terra que os servidores da Igreja temem
como uma praga.
Os capitalistas moldaram a golpes de martelo os corpos
do povo, em cadeias de pobreza e escravatura. Paralelamente a isto, o clero,
ajudando os capitalistas e servindo os seus próprios interesses, aprisiona o
espírito do povo, mantém-o em ignorância crassa, pois compreende bem que essa
educação poria fim ao seu poder. O clero, falsificando o primitivo ensinamento
do Cristianismo que tinha por objetivo a felicidade terrena dos humildes, tenta
hoje persuadir trabalhadores de que o sofrimento e a degradação que suportam
não provêm duma estrutura social defeituosa, mas sim do céu, da vontade da
“Providência”. Assim a Igreja mata nos trabalhadores a força, a esperança e o
desejo dum futuro melhor, mata a fé em si próprios e o respeito por si mesmos.
Os padres de hoje, com seus ensinamentos falsos e venenosos, mantêm
continuamente a ignorância e a degradação do povo. Eis algumas provas
irrefutáveis.
Nos países onde o clero católico goza de grande poder
sobre a mentalidade do povo, na Espanha e na Itália por exemplo, as pessoas são
mantidas em completa ignorância. A embriaguez e o crime florescem aí. Por
exemplo, comparemos as duas províncias da Alemanha, Baviera e Saxônia. A
Baviera é um estado agrícola onde a população vive predominantemente sob
influência do clero católico. A Saxônia é um estado industrializado onde os
sociais democratas exercem um grande papel na vida dos trabalhadores. Vencem as
eleições parlamentares em quase todas as circunscrições, razão pela qual a
burguesia mostra o seu ódio contra esta Província social democrata “vermelha”.
E o que é que se vê? As estatísticas oficiais mostram que o número de crimes
econômicos cometidos na ultracatólica Baviera é relativamente muito mais
elevado do que na “Vermelha Saxônia”. Vemos que em 1898, em cada 100.000
habitantes havia:
|
NA BAVIERA
|
NA SAXÔNIA
|
Roubo com violência
|
204
|
185
|
Assaltos e ataques
|
296
|
72
|
Perjúrio
|
4
|
1
|
Encontramos uma situação completamente similar ao
comparar o recorde de crimes em Possen dominada pelos padres como o de Berlim
onde a influência da Social Democrata é maior. no curso do ano vemos 100.000
habitantes em Possen, 232 casos de ataques e ferimentos e em Berlim 172 apenas.
Na cidade papal, Roma, durante um único mês do ano de
1869 (o penúltimo ano do poder temporal dos papas), foram condenadas: 279
pessoas por assassínio, 728 por assaltos, 297 por roubo e 21 por fogo posto.
Estes são os resultados do domínio clerial sobre o povo assoberbado pela
pobreza .
Isto não quer dizer que o clero incite diretamente o
povo ao crime. Bem ao contrário, nos seus sermões os padres condenam com
freqüência o roubo, os assaltos e a embriagues mas os homens não roubam, não
assaltam nem se embebedam porque gostem de o fazer ou de perseverar nesses
hábitos. É a pobreza e a ignorância que são causas disso. Portanto aquele que
mantém viva a ignorância e a pobreza do povo, aquele que mata sua energia e a
sua vontade de sair desta situação, aquele que põe toda a espécie de obstáculos
no caminho dos que tentam educar o proletariado, esse é responsável por estes
crimes exatamente como se fosse um cúmplice.
A situação nas áreas mineiras da católica Bélgica era
semelhante até há pouco tempo. Os sociais democratas foram lá. O seu apelo
vigoroso aos infelizes e degradados trabalhadores ecoou através do país:
“Trabalhador levanta-te a ti mesmo! Não roubes, não te embebedes, não baixes a
cabeça em desespero! Lê, ensina-te a ti mesmo! Junta-te aos teus irmãos de
classe na organização, luta contra os exploradores que te maltratam! Emergirás
da pobreza, tornar-te-ás um homem!”
Assim, os Sociais Democratas elevam o povo e
fortalecem os que perdem a esperança, reúne os fracos numa poderosa
organização. Abrem os olhos dos ignorantes e mostram o caminho da igualdade, da
liberdade, e do amor aos nossos vizinhos.
Por outro, os servos da Igreja trazem ao povo apenas
palavras de humilhação e desencorajamento. E, se Cristo aparecesse hoje na
terra, atacaria com certeza os padres, os bispos e arcebispos que defendem os
ricos e vivem explorando os desafortunados, como outrora atacou os comerciantes
que expulsou do templo para que a presença ignóbil deles não maculasse a Casa
de Deus.
Eis porque rebentou uma luta desesperada entre o
clero, suporte da opressão, e os sociais democratas anunciadores da libertação.
Nesta luta não há comparação com a da noite escura e a do sol nascente? Porque
os padres não são capazes de combater o socialismo com a inteligência e a
verdade, têm de recorrer à violência e à maldade. As suas falas de Judas
caluniam os que levantam a consciência de classe. Por meio de mentiras e
calúnias tentam manchar todos os que oferecem as suas vidas pela causa dos
trabalhadores. Estes servidores e adoradores do Bezerro de Ouro suportam a
aplaudem os crimes do governo czarista e defendem o trono do último déspota que
oprime o povo como o Nero.
Mas é em vão que os indignais, que desesperais que
degenerais de servidores da Cristandade e vos tornais servidores de Nero. É em
vão que ajudais os nossos assassinos, em vão protegeis os exploradores do
proletariado sob o sinal da cruz. As vossas crueldades e calúnias nos tempos
antigos não puderam impedir a vitória da idéia cristã, a idéia que sacrificaste
ao Bezerro de Ouro; hoje os vossos esforços não levantarão nenhum obstáculo à
vinda do Socialismo. Hoje sois vós, com as vossas mentiras e ensinamentos, que
sois pagãos, e somos nós quem traz aos pobres, aos explorados, as novas da
fraternidade e da igualdade. somos nós quem está a marchar para a conquista do
mundo como fez aquele que outrora proclamou que é mais fácil a um camelo passar
pelo fundo de uma agulha do que a um rico entrar no reino do céu.
V
Algumas palavras finais
O clero tem ao seu dispor dois meios para combater a
Social Democracia. Onde o movimento da classe trabalhadora começa a ser
reconhecido, como é o caso do nosso país (Polônia), onde as classes dominantes
ainda têm esperança de a esmagar, o clero combate os socialistas com sermões
ameaçadores, caluniando-os e condenando a “cobiça” dos trabalhadores. Mas nos
países onde as liberdades políticas estão estabelecidas e onde o partido dos
trabalhadores é poderoso, como por exemplo na Alemanha, França e Holanda, aí o
clero procura outros meios. Esconde o seu fim real e já não encara os
trabalhadores como um inimigo declarado, mas como um falso amigo. Deste modo
vereis os padres a organizar os trabalhadores e a fundar Federações Industriais
Cristãs. Desta maneira tentam apanhar peixe na sua rede, atrair os
trabalhadores a esta ratoeira de falsas federações onde ensinam a humildade, ao
contrário das organizações da Social Democracia que têm em vista lutar e
defender-se contra a opressão.
Quando o governo czarista finalmente cair sob os
golpes do proletariado revolucionário na Polônia e da Rússia, e quando a
liberdade política existir no nosso país então veremos o mesmo Arcebispo Popiel
e os mesmos eclesiásticos que hoje trovejam contra os militantes, começarem
repentinamente a organizar os trabalhadores em associações “Cristãs” e
“Nacionais” para conduzi-los. Já estamos no princípio desta atividade
subterrânea da “Democracia Nacional” que assegura a colaboração futura com os
padres e hoje os ajuda a difamar os sociais democratas. Os trabalhadores devem,
portanto, ser avisados do perigo para que não se deixe apanhar na vitória
próxima da revolução, pelas palavras doces dos que hoje, do alto dos seus
púlpitos, ousam defender o governo czarista, que mata os trabalhadores, e o
aparelho repressivo do capital, que é a causa principal da pobreza do
proletariado. Para os defender contra o antagonismo do clero no tempo presente,
durante a revolução e contra a sua falsa amizade de amanhã, depois da
revolução, é necessário aos trabalhadores organizarem-se no Partido Social
Democrata.
E aqui está a resposta a todos os ataques do clero: A
Social Democracia de modo algum combate os sentimentos religiosos. Ao
contrário, procura completa liberdade de consciência para todo o indivíduo e a
mais ampla tolerância possível para qualquer fé e qualquer opinião. Mas desde o
momento que os padres usam púlpito como um meio de luta contra as classes
trabalhadoras, os trabalhadores devem lutar contra os inimigos dos seus
direitos e da sua libertação. Porque o que defende os exploradores e o que
ajuda a prolongar este regime presente de miséria, esse é que é o inimigo
mortal do proletariado, quer esteja de batina ou de uniforme de polícia.
Notas:
[4] Também conhecidos por “Roskilniki”, uma seita
religiosa russa que tinha como contrário à verdadeira fé a revisão dos textos
da Bíblia e a reforma litúrgica pelo Patriarca Nikon, em 1654. (retornar ao texto)
[6] “Proles é o termo latino que significa filhos. Os
proletários, portanto, constituíam a classe de cidadãos que nada tinham a não
ser os braços de seu corpo e os filhos dos seus ombros”. Communist Journarl, nº
1, Setembro de 1847 (Londres).
Ö proletariado romano viveu à custa da sociedade, enquanto que a sociade
moderna vive à custa do proletariado”. Sismondi citado por Karl Marx in The Eighteemth
Brumaire. Ver também:
Engels, Principles of Communism (questão 2). (retornar ao texto)
[7] Mas ver Tertuliano (c. 160-230): “somos irmãos na
nossa propriedade familiar com a qual a maior parte das vezes se dissolve a
irmandade. Nós, portanto, que estamos unidos de alma e espírito, não temos
dúvidas em ter bens em comum. Entre nós todas as coisas são distribuídas
promiscuamente, exceto as esposas. Somente nisto nós dividimos a amizade, aí
onde outros (pagãos gregos e romanos) somente a exercem”. (retornar ao texto)
[9] Certamente, contudo, os ministros locais, tal como
aparecem nas epístolas de S. Paulo e nos Atos, parecem estar sob autoridade. No
entanto eram eleitos, e muitas vezes provavelmente pela nomeação dos profetas
locais; Apóstolos foram nomeados por Paulo e Barnabé. Perante a evidência de
Atos 6 e das epístolas pastorais penso, com Harnock, que não podemos duvidar
razoavelmente de que a nomeação era feita pela oração com imposição de mãos, e
“sacramental”. E quando eram durante a vida de S. Paulo eram certamente controlados
de cima”. Gore, Dr.
Streeter and the Primitive Church, pp 12 e 13. (retornar ao texto)