samedi 10 mars 2012

O que é o capitalismo?

Uma conversa necessária [i]
Por Jorge Pinheiro [ii]
Texto publicado no site Evangélicos pela Justiça, em 12 de junho de 2010.
Mafalda e o futuro

Caros colegas, bom dia. Vamos começar essas reflexões sobre o capitalismo lembrando que ele tem defensores. Claro está que em relação ao feudalismo, modo de produção que caracterizou a Idade Média, ele significou um passo a frente. Mas, hoje, muita gente que defende o capitalismo, na verdade, não entende o que ele significa, já que é um sistema opaco e sua natureza exploradora não fica evidente.

Outros defendem o capitalismo porque são seus beneficiários e ganham dinheiro graças a ele. Há ainda os especialistas que, muitas vezes, são porta-vozes do sistema, como economistas, jornalistas, acadêmicos e representantes do pensamento único, que conhecem o sistema, mas por serem bem remunerados omitem determinadas questões em suas análises.

Por isso, antes de analisar o capitalismo propriamente dito, vamos ver alguns dados de documentos das Nações Unidas. São informações sobre a crise atual e quando analisadas por instituições como G20, FMI, OMC e BIRD, estas chegam à estranha conclusão de que a crise do capitalismo se resolve com mais capitalismo.

Mas, vamos aos números, sistematizados pelo Programa Internacional de Estudos Comparativos sobre a Pobreza, localizado na Universidade de Bergen, Noruega.

Segundo a instituição, a população mundial era de 6,8 bilhões de habitantes em 2009. Desses,
. 1,02 bilhão de pessoas sofrem subnutrição crônica (FAO,2009);
. 2 bilhões de pessoas não têm acesso a medicamentos (www.fic.nih.gov);
. 884 milhões de pessoas não têm acesso à água potável (OMS/UNICEF 2008);
. 925 milhões de pessoas não têm moradia ou residem em moradias precárias (ONU Habitat 2003);
. 1,6 bilhões de pessoas não têm acesso à energia elétrica (ONU Habitat, Urban Energy);
. 2,5 bilhões de pessoas não são beneficiadas por sistemas de saneamento, drenagens ou não têm privadas domiciliares (OMS/UNICEF 2008);
. 774 milhões de adultos são analfabetos (www.uis.unesco.org);
. 18 milhões de pessoa morrem por ano devido à pobreza, a maioria crianças menores de cinco anos de idade (OMS);
. 218 milhões de crianças e jovens, entre 5 e 17 anos de idade, trabalham em condições de escravidão, em tarefas perigosas ou humilhantes, como soldados da ativa atuando em guerras e/ou conflitos civis, na prostituição infantil, como serventes, em trabalhos insalubres na agricultura, na construção civil ou industria têxtil (OIT: “La eliminación Del trabajo infantil, un objetivo a nuestro alcance” 2006).

Entre 1988 e 2002, os 25% mais pobres da população mundial reduziram sua participação no produto interno bruto mundial (PIB mundial) de 1,16% para 0,92%; enquanto os 10% mais ricos acrescentaram fortunas em seus bens pessoais passando a dispor de 6,4% para 7,1% da riqueza mundial.

Mas, o que é o capitalismo?

O capitalismo é um sistema econômico caracterizado pela propriedade privada dos meios de produção, pela existência de mercados livres e trabalho assalariado. Na historiografia ocidental, a ascensão do capitalismo está associada ao fim do feudalismo, ocorrido na Europa no final da Idade Média. Mas, não podemos esquecer de outras condições também associadas ao capitalismo, como a existência de pessoas e empresas que investem em troca de um lucro futuro; o respeito a leis e contratos; a existência de financiamento, moeda e juro; e a ocupação para os trabalhadores a partir de um mercado de trabalho.
 Karl Marx
A palavra capital vem do latim capitalis, que vem do indo-europeu kaput, que quer dizer "cabeça", uma referência às cabeças de gado, medida de riqueza nos tempos antigos. A conexão léxica entre o comércio de gado e a economia pode ser vista em nomes de várias moedas e palavras que dizem respeito ao dinheiro. O primeiro uso da palavra capitalista foi em 1848 no Manifesto Comunista de Marx e Engels; porém, a palavra capitalismo não foi usada. O primeiro uso da palavra capitalismo foi feito pelo escritor Thackeray, em 1854, com a qual quis dizer "posse de grandes quantidades de capital", e não se referir a um sistema de produção.

Em 1867, Proudhon usou o termo capitalista para referir-se aos possuidores de capital, e Marx e Engels referiam-se à "forma de produção baseada em capital" e, n’O Capital, o capitalista é um possuidor privado de capital.

Mas nem Proudhon, Marx ou Engels usaram os termos em alusão ao significado atual da palavra capitalismo. A primeira pessoa que fez isso foi Werner Sombart em seu Capitalismo Moderno, de 1902. Max Weber, um colega de Sombart, usou o termo no seu livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de 1904.

O capitalismo moderno começou com a Revolução Industrial e as revoluções burguesas: na Inglaterra, com a independência dos EUA e com a revolução francesa. É importante entender que capitalismo não é sinônimo de propriedade privada, embora ela seja fundamental para a sua existência. A propriedade privada já existia, por exemplo, nas tribos de Israel. Os regimes teocráticos, baseadas em leis ditas entregues por Deus, seguiam um modelo próximo ao feudalismo, com as terras pertencendo ao rei e os súditos trabalhando nelas. Ou seja, a existência de propriedade privada é antiga como a própria história.

Um pouco de história

Foi com o crescimento da população, o desenvolvimento da agricultura, a criação das cidades e a multiplicação de trabalho, quando as pessoas passaram a viver em sociedades maiores, que se tornou necessária a organização da produção a partir de relações interpessoais. Assim, foram elaboradas leis para reger as relações interpessoais entre gente que não se conhecia.

Depois, com o desenvolvimento dos transportes terrestres e marítimos, e a existência de cidades com grandes populações, surgiu o comércio internacional. As nações comerciantes eram as cidades-estado, com destaque para Atenas na Grécia, que nos séculos V e IV antes de Cristo inventou o sistema bancário.

Contudo, a existência de escravos não permitiu o desenvolvimento da instituição da propriedade privada como no capitalismo moderno, pois a escravidão impossibilita o mercado livre e viola o direito de propriedade privada.

Assim, o Império Romano se caracterizou pela liberdade relativa do comércio e da produção até o final do século terceiro depois de Cristo. A partir dessa data a implantação de controles de preços pelos imperadores suprimiu a liberdade econômica do Império. A economia do Império Romano, segundo alguns historiadores, tinha instituições capitalistas quase tão avançadas quanto as da Inglaterra no início da revolução industrial. Mas com o declínio do Império Romano e as invasões dos povos que os romanos chamavam de bárbaros, a organização social voltou a tomar feições tribais.

Em seu período final, o feudalismo passou por uma crise devido à catástrofe demográfica causada pela epidemia da peste negra (peste bubônica) que dizimou 35% da população européia. Depois da crise econômica e demográfica, o comércio desenvolvido pelas cidades-estado italianas permitiu à Europa viver certo crescimento comercial e urbano, o que aumentou e aprofundou as relações de produção capitalistas. Mas, nem tudo foi tão fácil, pois no final do feudalismo e início da idade moderna, a realeza expandiu seu poderio econômico e político através do mercantilismo e do absolutismo. Ou seja, através de doutrinas e práticas anticapitalistas. Niccòlo Machiavelli foi um dos defensores dessa postura anticapitalista, ao afirmar que "a unidade política é fundamental para a grandeza de uma nação". Com o absolutismo e o mercantilismo, o Estado controlou a economia e buscou nas colônias a riqueza necessária para garantir o enriquecimento da metrópole.

E porque a propriedade privada necessita da liberdade de contrato para juntos formarem o sistema capitalista, no século XVI surgiu na Escola de Salamanca, alguns teólogos que apresentaram as primeiras ideias de uma economia capitalista liberal. Para eles, entre os quais estava Tomás de Aquino, a propriedade privada era olhada como moralmente neutra. Em última instância, antes dos protestantes, Tomás de Aquino já deixava aberta a idéia de que não era pecado ser capitalista.

Mas como dissemos acima, foi com as revoluções burguesas no início da Idade Moderna que o capitalismo se estabeleceu como sistema econômico nos países da Europa Ocidental. Algumas dessas revoluções foram a Revolução Inglesa (1640-60), a independência dos EUA (4 de julho de 1776) e a Revolução Francesa (1789-1799), que construíram o arcabouço institucional de suporte ao desenvolvimento capitalista.

A partir da segunda metade do século XVIII iniciou-se um processo de produção em massa, geração de lucro e acúmulo de capital. As sociedades superam os critérios da aristocracia, o privilégio de nascimento, por exemplo. Surgiram as primeiras teorias econômicas modernas: a Economia Política e a ideologia que lhe corresponde, o liberalismo. Na Inglaterra, o escocês Adam Smith publica Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações.

As fases do capitalismo

A primeira fase do capitalismo foi comercial. Predominou o produtor independente, artesão, mas generalizou-se o trabalho assalariado. A maior parte do lucro concentrava-se na mão dos comerciantes, não nas mãos dos produtores. Lucrava mais quem comprava e vendia a mercadoria, não quem produzia.

Depois veio o capitalismo industrial, quando o trabalho assalariado já instalado, em prejuízo dos artesãos, separou os possuidores de meios de produção e o exército de trabalhadores.

Na sequência tivemos o capitalismo financeiro, quando o sistema bancário e corporações financeiras passaram a controlar as demais atividades.

E, atualmente, vivemos sob o capitalismo em sua fase informacional, que sem deixar de ser financeiro e industrial, toma como característica a importância do conhecimento.
Gerados e nascidos na ideologia do capital

Um pouco de teoria

Em termos teóricos, dizemos que modo de produção é a forma de organização socioeconômica associada a uma determinada etapa de desenvolvimento das forças de produção e das relações de produção. Reúne as características do trabalho, seja ele artesanal, manufaturado ou industrial. São constituídos pelo objeto sobre o qual se trabalha e por todos os meios de trabalho necessários à produção – ferramentas, instrumentos, máquinas, oficinas, fábricas.

No correr da história existiram modos de produção, o antigo ou comunismo primitivo, o asiático, o escravista, o feudal, o capitalista, e o comunista, ainda um projeto a ser construído. Assim, um sistema econômico é definido pelo modo de produção no qual se baseia. O modo de produção atual, capitalista, é aquele sobre o qual se baseia a economia da maioria dos países do mundo.

Algumas pessoas enfatizam a propriedade privada do capital como sendo a essência do capitalismo, outros enfatizam a importância de um mercado livre como mecanismo para o movimento e acumulação de capital.

Karl Marx, em O capital, é crítico do capitalismo, e o olha através da dinâmica das lutas de classes, incluindo aí a estrutura de estratificação de diferentes segmentos sociais, dando ênfase às relações entre proletariado (classe trabalhadora) e burguesia (classe dominante). Para ele, a diferença de poder econômico entre as classes é um pressuposto do sistema, ou seja, a classe dominante acumulará riquezas por meio da exploração do trabalho das classes operárias.

Os defensores do capitalismo afirmam, no entanto, que num mercado livre existe competição e concorrência constante entre todos os integrantes do sistema, e se uma pessoa recebe em troca do seu trabalho menos do que ele produz, ele poderá mudar para o concorrente, pois este lucrará com o seu trabalho.

Devido à amplitude da expressão, surgiram controvérsias quanto ao capitalismo. Uma delas é se de fato o capitalismo é um sistema real, isto é, se ele já foi implementado em economias nacionais ou se ainda não se completou. Nesse caso, a pergunta é: que grau de capitalismo existe numa dada economia nacional. Outra questão é se o capitalismo é específico a uma época ou região geográfica particular ou se é um sistema universal, que pode existir através do tempo e do espaço.

Alguns interpretam o capitalismo como um sistema puramente econômico. Marx, no entanto, considerava que é um complexo de instituições político-econômicas que determinam as relações culturais, éticas e sociais.

No final do século XIX e início do século XX, época da Revolução Industrial, a economia capitalista vivia a fase do capitalismo competitivo, onde cada ramo de atividade era ocupado por um grande número de empresas, normalmente pequenas, que concorriam intensamente entre si. O Estado quase não interferia na economia, limitando-se apenas à manutenção e funcionamento do sistema.

A partir da Primeira Guerra Mundial, o capitalismo passou por mudanças, primeiro nos Estados Unidos, com o enriquecimento alcançado com a venda de armas aos países combatentes, ocupando, então, lugar de destaque no mercado mundial. Em alguns ramos de atividade, o capitalismo deixou de ser competitivo para se tornar monopolista. Essa transformação deu-se através de dois processos:

1. Empresas foram a falência, as maiores compraram as menores e outras se unificaram -- surgiu a sociedade anônima. As grandes empresas passaram a controlar um ramo de atividade.

2. Com as crises econômicas de 1929/1933, a Grande Depressão, o Estado passou a interferir na economia, exercendo influência em algumas atividades econômicas. Em vários países, o Estado passou a controlar os créditos, os preços, as exportações e importações, mas levando em conta os interesses das corporações e dos países que ocupavam o centro do sistema.

O capitalismo do século XX passou a enfrentar crises que se repetem a intervalos cada vez mais curtos. O desemprego, as crises nos balanços de pagamentos, a inflação, a instabilidade do sistema monetário internacional e o aumento da concorrência entre os grandes competidores levaram a essas crises cíclicas do sistema capitalista.

No final do século XX, os Estados Unidos e a Inglaterra passaram a difundir a teoria neoliberal. Segundo esta teoria, para evitar futuras crises a receita seria privatizar empresas estatais que pudessem ser substituídas com vantagens pela iniciativa privada, aperto fiscal no sentido de zerar o déficit fiscal, controle da inflação, câmbio flutuante e superávits em comércio exterior. Essa política passou por dois grandes testes: a crise dos países asiáticos e a crise da Rússia, que foram controladas com o auxílio do FMI, não sem antes destruir quase a metade de seus PIB's.

Apesar dos avanços macroeconômicos, a pobreza e a desigualdade continuam altas na América Latina, onde cerca de uma em cada três pessoas (165 milhões no total) vivem com menos de dois dólares por dia. Aproximadamente um terço da população não tem acesso à eletricidade e ao saneamento básico, e estima-se que 10 milhões de crianças sofram de desnutrição. Esses problemas não são novos. A América Latina já era a região com maior desigualdade econômica do mundo na década de 1950.

No consenso de Washington, os Estados participantes, em uma assembléia presidida pelos Estados Unidos, escolheram o capitalismo como sistema econômico legítimo, por representar os interesses liberais das empresas. Este fato está conectado ao avanço da globalização, que é a expressão dos interesses da classe empresarial dominante representada pelas multinacionais.

Assim, no final do século XX e início do século XXI, com o advento da globalização, algumas empresas que exerciam monopólio ao nível regional, começaram a enfrentar concorrência global e pressões maiores para se tornar atores do mercado globalizado. Em razão dessa concorrência surgiram fusões, onde empresas de atuação regional se fundiram para enfrentar a concorrência global. E em reação às fusões regionais, empresas globais adquiriram empresas regionais, como forma de entrar rapidamente em mercados locais.

Frutos aparentemente positivos desse processo de globalização é que empresas passaram a oferecer benefícios a seus empregados, antecipando a ação de sindicatos e governos. Benefícios como redução da jornada de trabalho, participação nos lucros, ganhos por produtividade, salários acima da média do mercado, promoção à inovação, jornada de trabalho flexível, flexibilização de jornada para mulheres com filhos, participação societária para produtos inovadores desenvolvidos com sucesso, entre outros.

Ao contrário do princípio do capitalismo, quando se acreditava que a redução de custos com recursos humanos e sua consequente exploração, traria o maior lucro possível, passou a vigorar a tese de que é desejável atrair os melhores profissionais do mercado e mantê-los motivados já que isso tornaria a empresa mais lucrativa. No entanto, o número de funcionários que se enquadram nesse modelo é insignificante diante da massa dos trabalhadores do mundo, que operam em condições precárias e recebem baixos salários.

O tratado de Veneza (1987) que abordou o investimento do Estado enquanto empresa, foi bem recebido por países do hemisfério sul e favoreceu o surgimento de alianças econômicas entre países. Além de identificar a necessidade de desenvolvimento econômico da América Latina, defendeu o término do monopólio de algumas cadeias, como a indústria automobilística, alimentícia, de tecnologia da informação e, inclusive, da produção cafeeira. A conclusão foi expandir a relação entre Estados que pouco se conectavam, como o Brasil e seus vizinhos, e criar vínculos de comércio direto e livre. Os projetos de comércio e integração do cone sul latino-americano tem no tratado de Veneza uma de suas bases.

Mas, muitos consideram que há ainda um capitalismo verde, cuja proposta é de preservar o ambiente, ser socialmente responsável e interagir na comunidade em que a empresa está inserida, o que diferenciaria a empresa em relação a concorrência e ampliaria os lucros. Há uma tendência para adoção deste modelo em empresas ocidentais, desde que tais medidas não prejudiquem a economia global, independentemente do mal que a degradação ambiental possa causar ao planeta.

É importante ver que hoje o país capitalista em maior expansão, mantendo aí todas as críticas que se faz ao capitalismo, é a República Popular da China. Mas, ao contrário das outras economias capitalistas, principalmente as ocidentais, que utilizam o livre mercado com pouca intervenção do Estado na economia, a China desenvolve uma política de intervenção na economia, restrições ao capital estrangeiro, e tem uma economia parcialmente planificada. O que nos leva a falar da China como um capitalismo de Estado.

Depois de 500 anos, é o caso de perguntar: é isso o que o capitalismo tem a nos oferecer? Por isso, voltamos ao princípio dessas reflexões. Diante dos resultados práticos do capitalismo, pense: se houvesse a possibilidade de redistribuir o enriquecimento adicional produzido entre 1988 e 2002 dos 10% mais ricos do planeta, mesmo sem tocar nas suas fortunas, teríamos duplicada a renda de 70% da população mundial.


[i] Na elaboração desse texto utilizei análise de Atílio Borón, do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO); Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo; André Comte-sponville, O capitalismo é moral?; Jeffry A. Frieden, Capitalismo global, história econômica e política do século XX; e material próprio utilizado em sala de aula.
[ii] Jorge Pinheiro é cientista da religião para as áreas de Política e Religião.

jeudi 8 mars 2012

De loiras, mulatas e negras


Há dois anos escrevi...
Por Jorge Pinheiro, de São Paulo

A marcha das mulheres explodiu estereótipos, mitos sexuais, definiu novos comportamentos e construiu cosmovisões. Essa é a mulher deste século XXI. Dilma Rousseff faz parte dessa história.

Veja o vídeo
http://www.youtube.com/watch?v=porOx00eXLg 


Colagem de Luiz Rosemberg Filho
A eleição da presidenta Dilma Roussef me levou ao passado. Ao início da alta-modernidade, expressão que prefiro ao invés de pós-modernidade, porque apesar das revoluções vividas ainda não fomos além da modernidade. E por causa da eleição da presidenta, resolvi fazer uma viagem às três últimas décadas do século XX, tempo do movimento da contracultura feminina, definidor de comportamentos e cosmovisões. E parto daí, porque foi em 1975 que a ONU instituiu o Ano Internacional da Mulher, dando força a grupos e publicações feministas, que discutiam o papel secundário que era atribuído à mulher na sociedade.

Foi a acumulação, expressão daquilo que despontava no campo de gênero, que nos deu o novo. Foi época do fazer e pensar o movimento de mulheres, agregando a participação de diferentes setores sociais, trabalhadoras da cidade, e depois do campo, intelectuais, negras, ecologistas, portadoras de deficiência, lésbicas, lideranças comunitárias e donas de casa.

E eu lembrei das loiras, mulatas e negras, que durante a ditadura militar estavam reunidas em torno da luta pela volta da democracia, por melhores condições de vida e pela alteração da condição desigual das mulheres.

Teresinha de Jesus/ Deu a queda foi ao chão/ Acudiram três cavaleiros/ Todos três, chapéu na mão. 

Uma das maneiras de se conhecer as representações que a sociedade tem da mulher, disse Rose Marie Muraro, é a análise de seus mitos sexuais. E, se quisermos compreender os mitos sexuais brasileiros, vale a pena compará-los com os de outras sociedades, como a estadunidense. Afirmava Muraro: “Quando falamos de mitos sexuais brasileiros, dois nomes nos vêm à memória: Xuxa e Vera Fischer. Xuxa, mais do que qualquer outro símbolo sexual no Brasil é a megastar no sentido americano do termo. Construiu uma imensa fortuna em cima de um império baseado no consumo de sua imagem pelas crianças brasileiras.”

E analisava tal imagem, elaborada pela TV Globo, a da boneca loura, infantil e erótica. Uma imagem que para as meninas era o modelo de feminilidade disponível e que não deixava lugar para outra alternativa, pois ocupou por anos, o espaço matinal de entretenimento nas casas brasileiras.

E como essa imagem da Xuxa (Santa Rosa, 27/03/1963) não foi construída para agradar somente às crianças, mas para ser modelo de sexualidade feminina, o fenômeno criou vetores. Os meninos ao desejá-la procuravam parecer homens maduros, absorvendo a mensagem de que a sexualidade precoce é o caminho para a masculinidade.

Se juntarmos essa imagem à de Vera Fischer (Blumenau, 27/11/1951), também loura, mas de apelo sexual adulto, podemos ver como definições começaram a ser construídas.

Ambas eram louras e, no Brasil, isso lembrava as atrizes do cinema estadunidense. E as consequências para a mulher brasileira passaram a ser muito ruins. Quase nenhuma brasileira da época tinha condições para se identificar com essas modelos e isso rebaixou a autoestima, diminuindo no imaginário seu valor no mercado sexual. Aliás, segundo Muraro, os símbolos sexuais são feitos para isso mesmo, para diminuir o valor das mulheres como mercadoria e manter intacta a dominação masculina.

Outro ponto importante na construção desse imaginário feminino era a obsessão pela juventude. Xuxa tinha pavor de envelhecer e Vera Fischer também. Esta última procurou formas perigosas de escape, quando acreditou que a juventude ia declinando. Aliás, depois dos quarenta as mulheres começavam a se sentir inseguras, porque o símbolo sexual é sempre um objeto descartável, sem vida e sem identidade.

O primeiro foi seu pai/ O segundo seu irmão/ O terceiro foi aquele que a/ Teresa deu a mão

Por isso, Xuxa, em entrevista a Regina Rito, disse que “nenhum fã perdoa quando um ídolo envelhece”. Ela tinha começado sua carreira na televisão em 1983, quando foi convidada por Maurício Sherman para apresentar o Clube da Criança, na Rede Manchete. Nessa época, trabalhava como modelo em Nova York e gravava o Clube nos finais de semana. Em 1986 estreou o primeiro programa diário com seu nome: O Xou da Xuxa, na Rede Globo.

É bom lembrar que as mulheres que se tornaram símbolos sexuais, pin-ups, dificilmente aceitavam retornar ao status de ser humano. Jean Harlow (Kansas City, 03/03/1911), Judy Garland (Grand Rapids, Minnesota, 10/06/1922), Marilyn Monroe (Los Angeles, 01/06/1926), por exemplo, acabaram morrendo nessa busca tresloucada de meios de escape à depressão causada pelo envelhecimento.

Assim, o culto da adolescência e da juventude teve papel relevante na manutenção do status quo, ou seja, do controle da experiência e do conhecimento acumulados pelas mulheres mais maduras.

E esse movimento contrarrevolucionário à emancipação feminina foi tão forte e racista que, nesses anos, quase não encontramos mulheres mulatas e negras que tivessem conquistado status de símbolo sexual. As mulatas das escolas de samba, ou mesmo Taís Araújo (Rio de Janeiro, 25/11/1978), a Xica da Silva, eram símbolos de menor força para o marketing padronizado pela mídia.

Diferente desse panorama era o que começava a acontecer nos Estados Unidos. Lá, Madonna (Bay City, 16/08/1958) criou a imagem de transgressora dos valores puritanos e de independência em relação aos desejos masculinos, que ela manipulou publicamente sem inibição. E num ritmo acelerado, tão famosas quanto Madonna despontaram duas jovens negras: a cantora e atriz Whitney Houston (Newark, 09/08/1963) e a modelo Naomi Campbell (Londres, 22/05/1970), que fez par com a loura Cláudia Schiffer (Rheinberg, Nordrhein-Westfalen, 25/08/1970) .

Quanta laranja madura/ Quanto limão pelo chão/ Quanto sangue derramado/ Dentro do meu coração. 

Assim, nos Estados Unidos foram sendo criadas alternativas de identificação feminina, com identidade própria, que rompiam os padrões patriarcais de beleza e moralidade. Esse fenômeno, em relação à mulher negra, era previsível, pois os negros emergiam como nova classe média, apesar de, na época, 25% dos homens negros acabarem presos ou assassinados, vítimas do racismo. Ainda assim, o povo negro começava a impor valores por meio da luta por direitos civis, mas também por sua potencialidade de consumo.

E as mulheres norte-americanas exerceram pressão sobre as estruturas. Em poucos anos abraçaram a causa da liberdade feminina, como forma de enfrentar a competição do mercado de trabalho. Nas universidades surgiram centenas de centros de estudos da mulher, que fizeram das questões de gênero categorias do debate teórico acadêmico. Ocuparam espaços políticos, foram eleitas para governadoras de Estado, prefeitas, e escolhidas como secretárias de Fazenda e, inclusive, secretária de Estado.

E no Brasil, derrubada a ditadura, a pressão por espaço político também cresceu. Surgiram os conselhos estaduais e municipais da condição feminina e, em 1985, o Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres, que elaborou ações de governo em relação às mulheres.

Nas eleições de 1986, 26 mulheres foram eleitas para a Assembléia Nacional Constituinte. E, independentes de seus partidos, encaminharam propostas vindas das mulheres de todo o país para inclusão ou alteração do texto constitucional. Dessa maneira, 85% das reivindicações apresentadas pelo movimento de mulheres entraram na Constituição de 1988, ampliando como nunca antes se vira a cidadania feminina.

E, em 1996, realizou-se no Brasil uma eleição que incluiu o princípio de quotas, a fim de neutralizar a discriminação sofrida pelas mulheres nos partidos. Dessa forma, foi definido o mínimo de 20% das vagas de cada partido para candidatas mulheres.

Essa marcha explodiu estereótipos e mitos sexuais. A mulher definiu comportamentos e construiu cosmovisões. Essa é a mulher deste século XXI. Dilma Rousseff faz parte dessa história.

Dá laranja quero um gomo/ Do limão quero um pedaço/ Da menina mais bonita/ Quero um beijo e um abraço. 


Parabéns pelo 8 de março, meninas!

13/11/2010

Fonte: ViaPolítica/O autor

Fontes

José Agripino de Paula, Lugar Público, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1965.
Sérgio Sant’Anna, A Utopia de José Agripino, Folha de S. Paulo, 23/02/1997, caderno Mais.
Terra em Transe, direção de Glauber Rocha, com Jardel Filho, Paulo Autran e José Lewgoy no elenco. O filme recebeu dois prêmios no Festival de Cannes, o da Crítica Internacional e o Buñuel.
Rose Marie Muraro, A Mulher Combate Seus Mitos, Folha de S. Paulo, 6/04/1997, caderno Mais. 

lundi 5 mars 2012

Sete anos atrás

Cinco de março... 
Há sete anos eu estava em Montpellier, onde comemorei meus 60 anos. 
Hoje, agradeço ao Eterno por estes 67 anos. 
Faça essa viagem de memórias, comigo. 
Abraços e gratidão eterna a todos amigos e amigas que estão juntos na caminhada. 
E mais que nada, aqui cabe uma declaração protestante fundante: A Deus toda a glória!

Sessenta anos em branco

Vocês sairão alegres da Babilônia, serão guiados em paz para a sua terra. As montanhas e os morros cantarão de alegria; todas as árvores baterão palmas. Onde agora só há espinheiros crescerão pinheiros, murtas aparecerão onde agora só cresce o mato. Isso será para vocês uma testemunha daquilo que eu fiz, será um sinal eterno, que nunca desaparecerá.” (Isaías 55. 12-12).

O carro era um Renault Modus, 2005, placa 420AMW60, e o patrocinador o Toninho, nosso padrinho de casamento, meu e da Naira, pelo meu aniversário de 60 anos, completados no sábado dia 5 de março. Obrigadão, padrinho!

Partimos de Montpellier, no litoral do Mediterrâneo francês em direção ao Parque Nacional de Cèvennes, às 8 da manhã de sábado, chegamos em Anduze, cidade que dá entrada à região de Cèvennes, por volta das 10 da manhã. Depois de dois cafezinhos para nós e um chá para a Paloma, para esquentar o frio, começamos a atravessar o parque, zigzagueando o vale e margeando o rio Gard.

Cenário do campo da região de Languedoc, com seus castelos, não muitos, suas fazendas e vinhas.

Arquitetura medieval em pedra, cidades que se cruza em minutos. Estradas secundárias, mas em ótimas condições. Uma delas com um aviso, «chaussées deformées», para dizer que a pista não era muito boa. Fiquei esperando buracos e desvíneis, mas nada... Apenas não era lisa como as anteriores.

Quando o vale ficou para trás e iniciamos a subida da montanha numa estrada sinuosa com precipícios à direita, Paloma teve sua primeira grande experiência deste inverno, nevava levemente. Mas, conforme subíamos, maior umidade e neve mais forte. Não houve como resistir, descemos do carro e fizemos nossa primeira guerra na neve. Foi a glória. Naira e Paloma pareciam duas crianças. A maior farra. Preocupado com a possibilidade das meninas se resfriarem, fiz as duas voltarem ao carro. Estávamos na maior alegria.




Seguimos viagem debaixo de neve e da beleza das estradas emolduradas... E logicamente os pinheiros verdes, cobertos... Como nos cartões postais de Natal. Chegamos a Florac, já lá em cima, no meio de uma nevada que caía quase forte. Entramos num restaurante muito simpático, cheio de hippies, o que parecia estranho e fora de época, afinal estamos em 2005. Tomamos chocolate quente e voltamos para o carro. Estacionei numa pequena praça e dentro do carro almoçamos. Naira tinha preparado coxa de peru assado com batatas, suco de maça e pão, que aqui é sempre um capítulo à parte. Amamos «les baguettes».

Depois do almoço, ainda em Florac, fomos visitar um castelo que no século XVII fez parte da resistência protestante. Atenção, toda a região de Cèvennes no século XVII foi um pólo das lutas pela liberdade religiosa, de pensamento e de expressão, com a presença dos primeiros huguenotes.

Nevava forte e a história cedeu lugar a uma nova e aguerrida batalha na neve, agora sem mediação ou armistício. Naira, a mãe, foi atacada sem dó nem piedade. E em nenhum momento reclamou das boladas recebidas. Reagiu à altura, sem complacência. Por fim, voltamos ao carro e seguimos viagem para Barre de Cèvennes, outra região histórica, onde o protestantismo nascente produziu «camisards» e profetas.




Mas aí tivemos o prazer de entrar na cidade debaixo de uma nevada muito forte. Em poucos minutos a neve cobriu o carro. Descemos e fomos visitar uma igreja protestante do século XVII. Eu estava emocionado pelo momento sublime do encontro com o passado heróico da fé protestante, mas também, como Naira e Paloma, inebriado pela beleza da nevasca, soprada por ventos fortes.

Assim como a neve...

A cidade inteira estava branca. Tudo branco. Guerra de neve era pouco, o momento exigia algo mais grandioso. Lembrei-me de Isaías 55, quando Deus diz que assim como desce a neve dos céus e para lá não volta, mas rega a terra, a faz produzir, brotar, dar semente ao semeador e pão ao que come, assim é a palavra Dele, que não volta, mas faz o que Ele quer e prospera no objetivo para a qual foi enviada. Agradeci a Deus pela vida, por meu ministério e pela eternidade com meu Senhor e Deus.

Um grupo de rapazes passou por nós, no meio da rua, cantando, gritando, alucinados pelo momento. Foi difícil deixar Barre de Cèvennes. Mas tivemos que fazê-lo. Eu não queria dirigir nas montanhas, à noite, debaixo de neve.

No caminho, Naira viu um mirante, grande, que se debruçava sobre o vale. Paramos mais uma vez.


Desta vez, Paloma fez o anjo. Para quem não sabe, consiste em se jogar de costas na neve de braços abertos e deitada fazer movimentos com os braços para marcar a neve. Depois, de pé, olhar e ver no branco, em branco, um anjo com suas asas abertas. E fez outro anjo... e por fim num gesto solidário, juntos, fizemos nosso primeiro boneco de neve. Na verdade, boneca, porque vestiu o gorro e o cachecol rosa da Paloma. Não era uma boneca enorme, mas muito simpática.



E lá seguimos nós, parando mais uma vez num pequeno hotel e depois fazendo o caminho de volta. Retornamos ao vale, passamos de novo por Anduze, e seguimos para Nîmes, cidade construída pelos romanos, que tem no centro uma arena, um coliseu, onde ainda se realizam corridas de touro. Quando chegamos estava acontecendo uma. Mas levei as meninas a Nîmes só para uma rápida olhada. Voltamos, já à noite para Montpellier.

Chegamos às 20h30. E como li a placa do Renault que aluguei, ao bater os olhos nela, como «60 Attends à Merveilleux Week-end 60», agradeci a Deus pelo gostoso sábado branco de meus sessenta anos, que, tocado pelo anjo nevado da Paloma, Toninho nos proporcionou. E a Deus toda a glória, pois diz: quem espera nele renova a sua força, sobe com asas como águias, corre  e não se cansa, caminha e não se fatiga

jeudi 1 mars 2012

Embaixador do Brasil no Irã pede pela vida do Pr. Youcef

Brasil intercede por pastor
A ministra-chefe da Casa Civil do governo federal Gleisi Hoffmann, informou que o embaixador do Brasil no Irã Antonio Salgado tem efetuado contatos com assessores próximos ao líder supremo do Irã, o Aiatolá Ali Khamenei, reivindicando a libertação do pastor Youcef Nadarkhani, preso e condenado à execução pelo crime de apostasia.
Mas as autoridades iranianas permanecem reticentes sobre o assunto e postergando as decisões, alegando que a questão da prisão do pastor é um problema de natureza estritamente interna ao país.
A informação foi dada pelo deputado Marco Feliciano (PSC/SP), que vem conversando com autoridades brasileiras para que elas intercedam junto ao governo iraniano em favor da libertação de Nadharkani. O Brasil tem sido apontado com uma das nações que podem intervir junto ao país do Oriente Médio por gozar de boas relações diplomáticas.
O deputado da bancada evangélica vem realizando um trabalho de mobilização desde outubro de 2010 com o governo em favor do líder religioso que sofre intensa perseguição em seu país de origem.
O sistema jurídico iraniano acrescentou à acusação de apostasia atribuída inicialmente a Nadarkhani, outros crimes de natureza sexual e consumo de álcool, o que fornece agravantes à sua situação.
Segundo a comunicação da Casa Civil, é difícil a avaliação quanto ao tempo para o desfecho do processo do líder religioso, pois os crimes atribuídos a ele são naquele país punidos com sentença de morte.
A exemplo de Sakineh Ashtiani, que em 2006 foi condenada à morte por apedrejamento pelo crime de adultério, “casos como este, que despertam repercussão internacional, costumam ter seu desenvolvimento protelado pelas autoridades judiciárias do país”, diz o comunicado eletrônico da Casa Civil.
Não é a primeira vez que o Irã adia decisões sobre execução de presos que conseguem, por meio de repercussão e pressão internacionais, ter sua pena postergada.
Sakineh Ashtiani, a iraniana condenada à morte por apedrejamento por adultério pelas autoridades iranianas foi um dos casos que provocaram indignação internacional. Sakineh permanece presa e sua sentença poderá ser mudada para enforcamento.
Na época, o então presidente Luis Inácio Lula da Silva ofereceu asilo à iraniana. O Irã decidiu suavizar o tom em relação à condenada e anunciou que poderia suspender a pena devido a “reservas humanitárias”, sem, no entanto, afastar a hipótese de execução.
A intervenção brasileira vem se somar a outras manifestações de organismos internacionais como a Casa Branca, o Departamento de Estado do EUA, a União Europeia e o secretário de Relações exteriores britânico, William Hague, que da mesma forma vem apelando pela libertação do líder religioso.
Na segunda-feira (27) foi divulgada uma declaração do porta-voz da Alta Representante da União Européia para Relações Exteriores, Catherine Ashton, pedindo a imediata libertação do pastor Nadharkani e pela suspensão de sua execução.
Veja a íntegra da declaração:
A Alta Representante expressou, em diversas ocasiões, sua séria preocupação em relação às execuções no Irã e instou o Irã a libertar o pastor iraniano Youcef Nadarkhani e outros iranianos condenados à morte por crimes que, de acordo com padrões internacionais, não deveriam resultar na pena capital. A Alta Representante está, por conseguinte, extremamente preocupada em relação a notícias de que a execução do pastor iraniano Youcef Nadarkhani, em Rasht, província de Gilan, poderia ser iminente. A execução do pastor Nadarkhani por acusação de apostasia seria outro exemplo da deterioração da situação das minorias religiosas na República Islâmica do Irã. Portanto, a Alta Representante insta a República Islâmica do Irã a respeitar seus compromissos internacionais de direitos humanos. Ela insta firmemente o Irã a não executar o pastor Nadarkhani. Ele deveria ser libertado imediatamente.”
Fonte: Christian Post

Um crime de fé

Pastor é condenado a pena de morte no Irã
Youssef Nadarkhani foi condenado por converter-se ao cristianismo

Um pastor que se converteu do islamismo para o cristianismo foi condenado à pena de morte no Irã por recusar voltar à sua antiga religião. As informações são do jornal britânico "Daily Mail".

Youssef Nadarkhani, de 34 anos, se recusou a cumprir uma ordem judicial que o obrigava a se converter novamente ao islamismo. A sentença foi proferida por uma corte na província de Gilan, na cidade de Rasht.

O pastor foi detido em outubro de 2009 quando tentava registrar sua igreja na cidade. Youssef começou a questionar a supremacia dos muçulmanos para doutrinar as crianças, e acabou acusado de tentar "evangelizar" muçulmanos e de abandonar o islamismo, o que pode levar à pena de morte no país.

Sua primeira condenação aconteceu em 2010, mas a Suprema Corte do Irã interveio e conseguiu adiar a sentença. Ao ser revisto, o processo resultou na mesma condenação ao fim do sexto dia de audiência.

No tribunal, o pastor disse que não tinha intenção de voltar ao islamismo, chamando sua crença anterior de "blasfêmia".

Agora, a defesa de Youssef tentará novamente recorre à Suprema Corte, pedindo a anulação da pena. O advogado de Youssef, Mohammed Ali Dadkhah acredita que tem 95% de chance de anular a sentença.  No entanto, alguns apoiadores temem que a Suprema Corte demore para analisar o pedido e o pastor seja executado nos próximos dias.

O ministro de Relações Exteriores britânico, William Hague, comentou o caso e pediu que o Irã cancele a sentença. "Eu repudio o fato de que Youssef Nadarkhani, um líder cristão, possa ser executado por se recusar a cumprir a ordem da Suprema Corte para que ele se convertesse ao islamismo. Isso demonstra que o regime iraniano continua não respeitando o direito à liberdade religiosa".

O último cristão executado por questões religiosas no Irã foi o pastor da Assembleia de Deus, Hossein Soodmand, em 1990. No entanto, dezenas de iranianos que se converteram ao cristianismo foram misteriosamente assassinados nos últimos anos.

É possível um Irã nuclear, pacífico?


Irã, um perigo para a Europa?
.
Por Jorge Pinheiro, de Paris



Enquanto o mundo discute a legitimidade e a eficácia das sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU, cresce a pergunta: é possível crer num Irã nuclear para fins meramente pacíficos? Aqui ninguém acredita nisso.

Hoje, podemos ver que a comunidade europeia, apesar de algumas abstenções naturais frente às pressões norte-americanas, procura um caminho próprio nas relações com o Irã. E, acompanhando a mídia, deduz-se que a comunidade levanta uma pergunta simples e objetiva: o que devemos pensar da atitude do governo iraniano, que tem a audácia de desafiar a comunidade internacional? E, por outro lado, a comunidade europeia tem o direito de intervir na política interna do Irã?

Essa é uma questão presente na imprensa francesa, que questiona seus leitores: devemos intervir militarmente no Irã? Será que a atual situação não torna a intervenção militar muito arriscada? E, em caso de intervenção militar, não nos arriscamos a um novo choque do petróleo?

Está claro que a intervenção militar no Irã está na pauta das conversações dos governos europeus. Mas, estes têm bem presente que as operações militares no Iraque não foram exatamente um sucesso, assim como no Afeganistão não levaram à captura de Bin Laden. O resultado dessas operações trouxe o terrorismo para dentro das fronteiras da comunidade e, se é que isso é uma vitória, permitiu aos Estados Unidos estabelecer um governo títere no Iraque. Mas, de forma nenhuma a Europa se viu favorecida.



Por isso, a imprensa europeia se questiona se não seria melhor, para resolver os problemas da guerra civil no Iraque e da própria questão palestina, ajudar a proporcionar uma capital digna desse nome para o povo palestino.

Da mesma maneira, perguntam até que ponto a intervenção no Iraque serviu para levar o Irã a buscar o caminho nuclear. Afinal, assistiu seu inimigo e ex-aliado dos Estados Unidos ser abandonado, execrado e invadido. Caso pensemos na relação de confronto entre o Irã e o Iraque é de notar que antes da guerra, e mesmo durante ela, nenhum dos dois países teve condições de acesso a armas nucleares. E, agora, destruído militarmente, o Iraque não se coloca como perigo para o Irã. Na verdade, após a saída das tropas norte-americanas do Iraque, a questão militar Irã-Iraque se resolverá no campo religioso: a maioria xiita ocupará o governo central e, mais ainda, os governos locais. Ou seja, o que as armas não conseguiram, os xiitas farão: dar-se-á uma aproximação ao governo iraniano.

Donde a pergunta: então, para que o governo iraniano deseja fazer o caminho nuclear? Por sua relação com o mundo muçulmano não é, pois já é líder aceito e temido. O certo é que a comunidade europeia não se recorda com alegria dos mísseis Scud usados por Sadam Hussein contra Israel. Nesse sentido, os pronunciamentos contra Israel e por sua destruição, presentes em discursos e na propaganda iraniana, dificulta profundamente toda e qualquer negociação. Afinal, ameaçar com armas nucleares soa como escalada terrorista, ainda que seja apenas propaganda ou discurso eleitoral. Mas quem garante? Ou como disse o deputado socialista Pierre Schapira: “Como não fazer ligação entre as declarações do presidente Ahmadinejad, que falou em varrer Israel do mapa e a decisão do Irã de retomar as atividades de conversão de urânio? Esta coincidência pode ser acidental? Eu acho que não''. 

Por isso, a comunidade europeia se encontra numa situação difícil: fará tudo para evitar uma intervenção militar, mas não deseja ver um Irã nuclear na região. Daí ter descartado as propostas turco-brasileiras e aderido de forma algo tímida às sanções norte-americanas. No fundo, a comunidade pensa em isolar o Irã, o que evitaria a intervenção militar. Depois de neutralizado o governo do presidente Ahmadinejad – será que isso é possível? –, seria o momento de concentrar esforços sobre a questão palestina. Ou seja, ajudar os palestinos, econômica e politicamente – e aí entra a dívida política de Israel à Europa –, a construir “uma capital digna desse nome”. Mas sabemos que a realidade não necessariamente segue projetos geopolíticos e estratégicos, ainda que elaborados por ótimas cabeças pensantes.

Cabe então o questionamento: é possível crer num Irã nuclear para fins meramente pacíficos? Aqui ninguém acredita nisso.

16/6/2010

Fonte: ViaPolítica/O autor

Jorge Pinheiro nasceu no Rio de Janeiro em 1945, foi dirigente estudantil secundarista e universitário. Ligou-se ao Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), de inspiração brizolista. Exilou-se no Chile, onde foi preso após a queda do governo de Salvador Allende. Ligou-se às correntes trotskistas internacionais, viveu em Portugal e, clandestinamente, no Brasil, sob a ditadura. Foi processado pelo regime militar e, em 1979, beneficiado pela Lei da Anistia. Exerceu o jornalismo na revistaManchete e no jornal Folha de S. Paulo, e foi um dos editores do jornal alternativo Versus, em sua última etapa, em São Paulo. É cientista da religião e teólogo. É doutor e mestre pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Metodista de São Paulo. 

mardi 28 février 2012

Sócrates, o filósofo grego

Com direção do mestre italiano Roberto Rossellini, 
esta superprodução européia é a cinebiografia de Sócrates, 
um dos maiores filósofos da humanidade.

lundi 27 février 2012

Crescimento evangélico na França

la croix huguenote*
Convergence pour l´appui et le développement des églises françaises et brésiliennes
Convergência para o apoio e o desenvolvimento de igrejas francesas e brasileiras

Os missionários da Cruz Huguenote não estão trabalhando em vão.
Leiam a reportagem e, se puderem, colaborem!

Igrejas evangélicas ganham terreno na França em tempos de crise econômica. A cada dez dias uma nova igreja evangélica abre as portas no país europeu.

Reportagem de Luiza Duarte/Opera Mundi.


Ao som de bateria e teclado, quatro cantores dão o tom do culto na igreja, enquanto são acompanhados fervorosamente por fiéis que, com os braços erguidos, dançam e repetem as letras mostradas em um telão. Logo acima, os escritos “Dieu est Amour”. A cena, comum para a maioria dos brasileiros, é novidade na França, que viu a fé neopentecostal crescer nos últimos anos, impulsionada pela crise econômica.

Na França, a cada dez dias uma nova igreja evangélica abre as portas, de acordo com dados do CNEF (Conselho Nacional dos Evangélicos da França). Essa é a corrente religiosa que mais se expande no país e a com o maior número de praticantes.

“A primeira razão é simplesmente a necessidade de esperança”, opina Sébastien Fath, sociólogo das religiões especializado no protestantismo e autor de Do gueto à rede – O protestantismo evangélico na França e do recém lançado Nova França Protestante – Desenvolvimento e crescimento no século XXI.

André Filipe de Farias Sass
CIC: 291347488-81
Banco Bradesco
Ag: 0031
Conta Poupança: 1006423-6 

“O contexto de crise, que atinge a sociedade francesa, tem por consequência um certo número de patologias sociais, como a solidão. O Estado não pode fazer tudo, as prestações sociais e capacidades de intervenção são em geral fragilizadas, pois há menos dinheiro público. A igreja evangélica responde às necessidade que o Estado não se encarrega mais”, avalia o sociólogo, que enfatiza o caráter otimista do discurso evangélico, em um país onde o pessimismo é grande.

Embora o sociólogo defenda que haja fiéis também nas classes mais favorecidas, ele admite que a religião vem atraindo proporcionalmente mais jovens e imigrantes, principalmente chineses, coreanos e originários das antigas colônias francesas na África. Em dezembro, 24,2 % dos jovens estavam desempregados.

“Muitos franceses estão desencorajados diante da crise e da globalização. Há uma certa depressão e uma necessidade de perspectiva,” diz Fath. Já para Étienne L’Hermenault, batista e presidente do CNEF, órgão criado há menos de dois anos, o sucesso das igrejas evangélicas é reflexo de uma sede por religiosidade. “A crise não é simplesmente financeira, mas também moral. Há um cansaço, de uma sociedade que perdeu muitas referências e que busca valores”, argumenta.

Fath defende que o retorno da religiosidade está ligado à crise do discurso político. “Os franceses estão decepcionados com a política. O país que, durante muito tempo exportou pensamento político, se desencantou com as soluções políticas, há 15 ou 20 anos atrás”, avalia.

Culto na Église Réformée de Belleville, em Paris.
A cada vez mais franceses abraçam a fé protestante

Conversão
Longe do anonimato das ruas, nas manhãs de domingo na entrada da Église Réformée de Belleville a recepção é calorosa e personalizada. “É a proximidade entre nós, os pastores, e nossos fiéis que faz a força do movimento evangélico”, afirma Amos Ngoua Mouri, pastor da Communauté Évangélique la Bonne Nouvelle, no norte de Paris.

Mais da metade dos evangélicos franceses tinha outra religião. “Essas igrejas se apresentam de uma maneira adaptada às formas de comunicação contemporânea, enquanto as tradicionais utilizam ainda modelos históricos e ultrapassados. As evangélicas recrutam”, explica Frédéric Rognon, professor de filosofia das religiões na Faculdade de Teologia Protestante de Estrasburgo, na França.

Reportagem de Luiza Duarte/Opera Mundi

L’Hermenault, também presidente da Faculdade Livre de Teologia Evangélica de Vaux sur Seine, principal instituição para a formação de novos pastores franceses, anuncia que o objetivo é alcançar a meta de uma igreja para cada 10 mil habitantes, ao invés dos atuais uma para cada 30mil.

Ao todo, são 2308 igrejas em território francês, que abrigam o ainda discreto número de 600 mil evangélicos. Desde 1950, eles são nove vezes mais numerosos, em um país onde apenas 5% da população se declara praticante de alguma religião.

Fé pública, questão privada

Na igreja evangélica Paris Bastille é possível ver os vídeos do último culto no iPhone e acompanhar o blog do pastor. Outros atrativos são as visitas em casa, os grupos de estudo e as atividades de inserção específicas para jovens, crianças, mães, casais ou idosos. À vontade com a revolução digital, para Fath, esse estilo litúrgico é mais adaptado à cultura dos jovens que a tradicional missa católica.

“O lado da expressão pública da fé dos evangélicos, quase publicitário, choca numa cultura francesa que relega a religião ao domínio privado”, afirma, garantindo que as coisas estão mudando no país da laicidade. O pastor camaronês Mouri confirma que o movimento evangélico é mais reconhecido no espaço público, embora ainda seja uma minoria.

A presença dos mulçumanos teria sido a primeira abertura para a naturalização da expressão religiosa em lugares públicos. “Há um retorno da visibilidade da fé mesmo entre os católicos.  A procissão do 15 de agosto em Paris pela 'Ascenção da Virgem' é um dos exemplos disso. Algo que não poderíamos imaginar, há 20 anos atrás”, cita.

Missionários latinos

Pastores brasileiros têm cruzado o oceano para conquistar essa nova terra. “Nós sabemos que hoje a rede evangélica é transnacional. Há uma presença brasileira de protestantes na França. A Igreja Universal do Reino de Deus foi fundada em Paris já há alguns anos e também outras igrejas neopentecostais”, afirma mesmo sem poder contabilizar esse fluxo.

“Não é comparável com a ligação que existe com a América do Norte, mas isso deve se desenvolver”, dizem. Para eles, missionários latinos têm boa reputação entre os franceses, além de brasileiros, pastores espanhóis e portugueses também são populares, como Nuno Pedro, português que faz cultos para oito mil pessoas todos os domingos na megachurch Charisma, em Saint-Denis, periferia de Paris.

 PABLO SACILOTTO
CIC: 226.112.758-82
BANCO DO BRASIL
AG: 3008-2
C/C: 14.336-7



*A cruz huguenote foi criada em 1688 por um ourives da cidade de Nîmes. Passou a ser referência da fé reformada durante as perseguições dos séculos XVII e XVIII. Hoje é um símbolo do protestantismo francês. Os elementos presentes na cruz têm um claro significado espiritual, onde a pomba representa o Espírito Santo, expressão da relação do cristão com o Deus Eterno.

samedi 25 février 2012

Da morte e da consciência


Miss Météores
Ou da morte e
da consciência
.
Por Jorge Pinheiro, de Paris


Olivia Ruiz
Foto de Marcela Duarte
Estou no Buffalo Grill ouvindo country, comendo burguer e lendo Bernard Reymond, À decouverte de Schleiermacher. É, em Paris, nem sempre faço como os franceses. Mas não dá para esquecer que estou aqui, e eu nem quero.

Caí por essas bandas da Gare du Nord porque daqui a pouco parto para Bruxelas, para a casa de Marcela, minha filha. E para assistir ao show Miss Météores, de Olivia Ruiz, a nova Piaf, no Ancienne Belgique, Anspachlaan, 110. É a casa de show mais badalada de Bruxelas. Gosto de cebola roxa e esta está simplesmente deliciosa. As cebolas roxas são como as outras, só que mais suaves. Boas para comer cruas. Não, não estou tomando Coca-Cola. Nem vinho. Parei no suco de laranja.

Não sei por onde começar,
Eu devo viver a lua ou minha bela estrela
Até que a vida acabe por passar,
Ou provocar o destino fatal

Paris desvenda meu amor,
Perdida entre toda essa gente,
Paris entrega meu amor
Eu estarei sobre a ponte dos amantes

(Olivia Ruiz, Paris)

Acho que devo dar sequência à última crônica. E começarei dizendo que a fé parte da experiência e da compreensão teológica de que não existe acaso ou coincidências. A existência é sempre permeada pela atualidade e pela contingência através das quais se faz presente o incondicionado.

Por isso, a expressão “faça sem culpa” não procede: em primeiro lugar, porque para além do mal fazer ou do não fazer bem está a consciência ontológica da morte, que se traduz existencialmente como ausência e separação. E foi esse estar diante da morte que fez o hominídeo dar o salto existencial/ antropológico: passar de homo sapiens a homo sapiens sapiens. Conhece a morte, sabe que vai morrer e passa a temer a ausência e a separação definitivas.

Tanta gente e tão poucos olhares,
Tanta gente e tão poucos sorrisos
Nunca têm tempo de se oferecer ao acaso,
Tão pouco tempo que a gente gostaria de acabar

Paris desvenda meu amor,
Perdida entre toda essa gente,
Paris entrega meu amor
Eu estarei sobre a ponte dos amantes


Em sua carta aos Romanos (5.12), o apóstolo Paulo explicita esse processo de construção do humano ao afirmar que a hamartia entrou na vida humana por um primeiro, e com a hamartia, a consciência da morte. Ora, hamartia era uma expressão militar dos gregos que se referia ao ato do arqueiro errar o alvo, quer no treinamento, quer na batalha. Paulo utiliza a expressão no sentido de que vivemos sempre sob a possibilidade de errar os alvos existenciais. Por isso, a compreensão de hamartia é ausência, separação, alienação, já que implica em distanciamento do objetivo existencial. Para um vôo antropológico sugiro o livro de Philippe Ariès, já traduzido para o português, O Homem diante da Morte.

Errar o alvo, ou seja, ausência, separação, alienação, enquanto estado da existência, leva à compreensão da origem do humano enquanto tal. E Paulo fala, então, da consciência da morte. Para o apóstolo, o estado de ausência, separação e alienação na existência produz uma consciência matricial, a consciência da morte.

A partir da consciência da morte temos a consciência do divino, a consciência da diversidade, já que não somos bichos e, por extensão, não somos apenas natureza, a consciência de que podemos escolher, e a consciência de que coisas e ações podem ser boas ou não. Dessa maneira, hamartia implica em conseqüências: necessidades diante da lei, daquilo que é ou está frente à existência, e possibilidades diante da liberdade, daquilo que não existe, mas pode ser criado.

Um pouco cansada
Ela avança em meio à multidão
em sentido contrário
Um barco embriagado sobre a onda

Bela Paris, seja generosa
para com a minha pobre alma triste
Eu direi por toda parte que és maravilhosa,
Se você me encontrar um único eu te amo


Assim, diante da ausência, do distanciamento, e da alienação presentes e futuras estão necessidade/e/lei e possibilidades/e/liberdade, que não se excluem: estão correlacionadas na existência humana, fazem parte do estado da existência.

Quando proferimos o “fazer sem culpa” rebaixamos a consciência ante os desafios da existência e negamos possibilidades: perdemos esperança e liberdade. E assim a vida é corroída pelas bordas.

Em se falando de tristeza, vejam Olivia Ruiz interpretando Piaf. Mas, não se esqueçam que Olivia é boom entre os roqueiros na Europa. E, sem dúvida, como sempre acontece, é bem melhor ver e ouvir ao vivo:



Lá fora a primavera está nublada, garoenta, nos 15 graus. Toda gente meio que esperando um pouco mais de frio, encasacados, à exceção de uma moça de mini-saia. De onde ela veio? Mistérios da urbanidade global.

Gosto de estar brasileiro. Não, não sou um cidadão do mundo. Percebo o mundo a partir de minha brasilidade, de meu gênero, de minha idade. E, por que não, das letras que me fazem delirar. Afinal, como canta Olivia Ruiz: Paris encontra meu amor,/ Perdida entre toda essa gente,/ Paris entrega meu amor/ Eu estarei sobre a ponte dos amantes. Daqui a pouco, de TGV, estarei em Bruxelas. Chez Marcela.

31/5/2009

Fonte: ViaPolítica/O autor

O teólogo e jornalista Jorge Pinheiro viajou à Paris para participar de um encontro internacional de estudos sobre a obra de Paul Tillich, o XVIIIe Colloque de l’Association Paul Tillich d’expression française. Sua primeira crônica de viagem está emhttp://www.viapolitica.com.br/anima_view.php?id_anima=118