Rabi
Menachem Mendel Schneerson, em resposta a uma carta.
“Bênçãos e saudações:
…O senhor
escreve que encontra-se perplexo quanto às respostas à questões como: "Qual a finalidade da vida?" e
"Qual o significado de um judeu?"
– e que dúvidas e confusões afligem-no dolorosamente.
Como o
senhor escreve que frequentou a universidade e estudou ciências, provavelmente
está familiarizado com o tipo de equacionamento de um problema complicado. Se
queremos comprovar um determinado sistema, quanto às leis e princípios nele
prevalescentes, começamos pelas partes que se prestam mais facilmente à análise
e à verificação. Quando tivermos comprovado a maior parte do sistema, passo por
passo (ou progressivamente em complexidade), poderemos, então, depreender com
segurança que, se a maior parte deste sistema se enquadra em certas leis
específicas, o restante do mesmo, também é regido pelas mesmas leis.
O próprio
bom-senso justifica a admissão de que, se uma determinada lei é válida numa
vasta maioria de casos, isso também ocorrerá num caso particular em que não
possa ser demonstrada com segurança.
Aplicando
este método de enfoque ao Universo como um todo, estamos cada vez mais
convencidos, ano após ano, da lei e ordem que regem a Natureza, incluindo a
matéria inerte, até o átomo diminuto, e particulas ainda menores.
A Ciência
Nuclear descobriu harmonia e ordem, jamais imaginadas antes, em aproximadamente
cem elementos conhecidos até hoje. Num Universo de tamanha harmonia e
organização, obviamente o homem também deve estar submetido à ordem e
finalidade.
Indo um
passo à frente, a conclusão inevitável é que, uma vez que existem tais leis e
tal ordem no Universo, deve haver uma Autoridade Mais Elevada responsável pelas
mesmas. A analogia é bem conhecida: Quando temos em nossas mãos um livro
impresso, de centenas de páginas, contendo uma história concatenada ou uma
filosofia, não podemos sequer, por qualquer rasgo de imaginação, admitir que
uma garrafa de tinta foi derramada acidentalmente e produziu o livro. Da mesma
forma, é muito menos admissível – infinitamente menos admissível – que o nosso
universo, com o seu número infinito de átomos, moléculas e partículas, todas
distribuídas em perfeita ordem e harmonia, existem por acidente.
Obviamente
há um Criador e Arquiteto, o qual dispõe e relaciona todas as diversas partes
do Universo em perfeita união e harmonia, em conformidade com o conjunto de
leis que Ele cria e supervisiona. É claro que todo o sistema está além da nossa
compreensão, uma vez que a nossa compreensão, bem como a nossa existência como
um todo, é apenas uma parte infinitesimal de toda a ordem cósmica, e certamente
não é, de forma alguma, comparável ao do próprio Criador. Evidentemente, é
absurdo esperar poder compreender o Criador, e mais ilógico ainda, negar Sua
existência, devido à nossa incapacidade em compreendê-lo. Pode uma unidade
conter um número infinito de unidades? E aqui, pelo menos há alguma relação,
pois tanto a unidade (Um), como um número infinito de unidades (Uns) são
objetos idênticos – números, ao passo, que não há comunhão entre a criação e o
Criador.
Aplicando
a analogia da ciência, um passo adiante: na física, na química, etc., quando
uma lei é deduzida de uma série de experiências e comprovada por diferentes
pessoas, sob condições variáveis de pressão, temperatura, umidade, etc.,
eliminando desta forma a possibilidade de erro, efeitos colaterais, etc., esta
lei é aceita e torna-se válida também para o futuro.
Esta
"regra" científica é aplicável, também, a acontecimentos e fenômenos
no passado. Quando um determinado acontecimento ou fenômeno é referido,
admitido por muitos historiadores e reportado de maneira idêntica, não há
"dúvida científica" de que o fato realmente ocorreu naquelas circunstâncias.
Exemplo
de acontecimento histórico foi a Revelação no Monte Sinai relatada de maneira
idêntica por milhões de homens, mulheres e crianças; pessoas de todos os níveis
de vida e antecedentes que presenciaram-na pessoalmente e depois relataram-na
fervorosamente a seus filhos, geração após geração, sem interrupção, até os
dias de hoje.
Em tempo
algum, mesmo durante os piores pogroms e massacres de judeus não houve menos do
que milhões de judeus mantendo fervorosamente esta tradição. É bem sabido que
jamais na História Judaica houve uma interrupção na cadeia de tradição judaica
do Sinai até os dias atuais. Isto faz este acontecimento, o mais autêntico de
todos os acontecimentos históricos da História Humana.
Isto
significa que a Torá que temos e veneramos é dada por D’us e contém, não apenas
a nossa maneira de viver, mas também a chave para a nossa existência em todos
os tempos, uma vez que é eterna como o seu Doador. Não é um livro de teoria,
filosofia ou especulação, e sim um guia prático para nossa vida diária, válida
em todos os lugares e em qualquer época, incluindo a América do século XX.
Aqui, na Torá, a Lei Escrita e Verbal, a finalidade da vida humana nesta terra
está claramente indicada.
Resumindo-a:
É viver de acordo com a Torá, cumprindo seus preceitos (Mitsvot – Farás) e abstendo-se de suas proibições (Mitsvot – Não farás). A Torá também preveniu-se contra a natureza fraca do homem para as tentações e dilemas que ele, criatura de carne e osso, enfrenta na vida. É difícil, quase impossível para o homem, jamais falhar; e a Torá indicou que, caso isso aconteça, não há necessidade de se desesperar. Há sempre a possibilidade da Teshuvá – o retorno a D’us – e ao bom caminho; e o próprio fracasso pode se transformar em um trampolim para um salto à frente, e um avanço cada vez maior.
Pode-se
perguntar: se tudo o que foi escrito acima é tão simples e lógico, como
explicar o número comparativamente pequeno daqueles que observam a Torá e as
mitsvot, enquanto que os transgressores são tão numerosos?
A
resposta a esta pergunta também é bastante simples. Eu sinto-a na minha própria
carne: quando alguém medita sobre sua própria conduta e suas realizações,
particularmente em sua vida cotidiana [não em períodos de elevação espiritual
especial, como nos dias de Yom Tov, etc.], não é difícil ver que um número
muito grande dessas ações são motivadas por desejos e inclinações, e não pelo
intelecto. Isto é particularmente verdadeiro quando o conflito não impõe a
ameaça imediata de "represárias". Quanto mais remoto o perigo das
sanções, mais fraca se torna a motivação intelectual e a conduta torna-se mais
fortemente influenciada por desejo e emoção; e mais ainda, quando as sanções
são de natureza "abstrata". Pois o medo das sanções físicas (multas,
confinamentos, etc.) é mais eficaz do que a advertência por argumentação em
nome da moral, justiça, humanismo, etc.
Há também
um fator adicional da natureza humana. Quando o homem sucumbe à tentação e
comete um "pecado", ele pode experimentar uma de duas espécies de
reação: Se ele é honesto e corajoso ele reconhecerá seu ato pelo que
representa, – um fracasso –, bem como uma quebra de sua própria vontade sincera
e consciência. Reconhecendo o seu fracasso como um sinal de fraqueza, ele
procurará suplantá-lo e agirá melhor na próxima vez; D’us terá compaixão e o
perdoará se admitir seu erro e resolver corrigi-lo.
Aquele,
porém, que teme enfrentar a verdade e suas consequências no caso de uma falha,
começa a encontrar desculpas para si próprio e para justificar sua ação
negativa. Mais ainda: como "uma transgressão acarreta outra em
sequência", o complexo de culpa, a necessidade de auto-justificativa,
tornar-se-ão cada vez mais persistentes e prementes, não só para acalmar sua
própria consciência atormentada, como para se defender aos olhos dos outros.
O amor
mascara todas as ofensas, principalmente o amor próprio, e o suborno cega os
olhos, mesmo dos sábios. Ele se tornará, assim, parcial em seu próprio favor e
em seu pensamento confuso. "Criará" uma filosofia pessoal, ou mesmo
uma "weltanschauung" para adaptar-se à sua conduta, que não somente a
justificará, como ainda transformará o vício em virtude.
Desnecessário dizer que é difícil alongar-se
nesses assuntos numa carta. Acredito, porém, que os pontos mencionados servirão
como pontos de partida para que o senhor medite e compreenda que o mundo não é
confusão, e que tudo e todos têm o seu lugar e a sua finalidade.
Se o
senhor puder se considerar objetivamente liberto de preconceitos, influências
ambientais, bem como outras coisas, o senhor descobrirá o seu próprio lugar, e
a finalidade da vida, à luz do que foi dito acima…
Com bênção,”
(assinatura
do Rebe).
Fonte
Beit Chabad, a sua
referência judaica na internet
http://www.chabad.org.br/