Géza Vermès e as várias faces de Jesus
O judeu Géza Vermès, historiador
britânico, estudou o Jesus histórico. Começou suas exposições com dados sobre a
pessoa de Jesus e o apresentou como carpinteiro, curandeiro, exorcista e rabino
que atuou na Galiléia. Analisou também os títulos de messianidade de Jesus: profeta,
Senhor, Filho de Homem, Filho de Deus. E acabou por entrar no debate sobre a
pessoa do Cristo. E fez isso a partir da literatura intertestamentária e rabínica.
Para Vermes, é difícil dizer se, de fato, Jesus aceitou os títulos messiânicos
ou se essa apropriação se deu posteriormente com o surgimento da igreja cristã.
Para Vermès, Jesus poderia ser enquadrado
num espectro das personagens judaicas de seu tempo. Vermès não faz conjecturas
sobre a motivação dos cristãos de apresentarem Jesus como o Messias, mas
considera que esse seria um processo natural, já que as notícias de Jesus eram
boas, mas a obstinação dos judeus em recusá-lo como Messias, a maior de todas
as promessas divinas a Israel, foi o ponto alto de um erro, e este foi o motivo
principal para que sua mensagem fosse transferida aos não-judeus.
E quem foi o responsável por esta
transição foi Paulo, pois a partir do momento em que foi reconhecido como apóstolo
dos gentios (Rm 11.13; At 9.15), e sua missão dirigida aos não-judeus, aprovada
pela liderança da igreja em Jerusalém (At 15), a orientação original da
atividade de Jesus foi transformada. Não-judeus entraram na igreja em grande
número, e ela fez, em conformidade com o modelo de conversão existente no judaísmo
daquela época, o seu melhor para satisfazer às novas exigências. Outra transformação,
que tocava na substância do judaísmo, em conseqüência do transplante do
movimento cristão para solo gentílico, atingiu o status da Torá, que representava
para Jesus a fonte da inspiração e o critério do seu modo de viver. Apesar de
não ser esta a posição de Jesus, ela foi declarada não só facultativa, mas
abolida. A Torá, que ele compreendia com simplicidade e aprofundamento, e que
transpunha com integridade, foi definida por Paulo como um instrumento de
pecado e morte. Paulo foi o responsável por esta virada que criou o grande
abismo entre Judaísmo e Cristandade.
Assim, para Vermès, o confronto entre o cristocentrismo
de Paulo e o teocentrismo de Jesus separaria os cristãos dos judeus, mas não os
judeus de Jesus. Pois o Jesus de carne e sangue, ouvido e visto na Galiléia e em
Jerusalém, intransigente e persistente no seu amor a Deus e ao próximo, estava
convencido de que poderia contagiar os seus semelhantes pelo ensino e exemplo
com seu apaixonado relacionamento com o Pai no Céu. E com o passar do tempo o judeu
simples dos Evangelhos ocupou o segundo plano e cedeu lugar à magnífica e majestosa
figura do Cristo da igreja.
Recomendo alguns livros de Géza Vermès. Jesus
e mundo do judaísmo (São Paulo: Loyola, 1996), que apresenta estudos que levam
além das pesquisas anteriores presente no livro, Jesus, o judeu. Nas pesquisas Vermès recorre aos Manuscritos do Mar
Morto e ao Novo Testamento, mas vê a necessidade dos estudos judaicos para a interpretação
do Novo Testamento e para entender a compreensão que Jesus tinha de si mesmo.
Outro texto fundamental é As várias faces de Jesus (São Paulo,
Editora Record, 2006), onde reorienta o conhecimento comum sobre Jesus. Propõe
uma nova abordagem, conferindo o mesmo peso ao Novo Testamento e aos escritos
judaicos não-bíblicos. O objetivo é explorar os diferentes perfis do personagem
Jesus para analisar como e por que aquele palestino carismático foi elevado à
condição divina de Cristo. Nos remete aos primórdios do cristianismo,
permitindo a compreensão das condições históricas ocultas nos textos dos
evangelhos mais antigos ao privilegiar o evangelho mais recente, o de João.
O autor de As Várias Faces de Jesus
considera Cristo, a Igreja primitiva e o Novo Testamento como parte de uma
interpretação do judaísmo. Ao despir as interpretações teológicas do contexto
dos evangelhos, ele procura revelar a verdadeira identidade, a figura humana de
Jesus, e esclarece como os seus ensinamentos foram passados da versão original
à nossa civilização.
E por fim, mais um texto: O autêntico Evangelho de Jesus (São
Paulo, Editora Record, 2006), onde compara, classifica e examina diferenças
entre as afirmações atribuídas a Jesus nos Evangelhos Sinópticos (Mateus,
Marcos e Lucas) ao longo de nove capítulos. Assim, aborda temas essenciais do
cristianismo como a oração, a última ceia, os momentos próximos à morte, a
ressurreição, as maldições, o exorcismo e as bem-aventuranças preservadas em
formas distintas pelos evangelistas.
1 commentaire:
Recomendo expressamente uma leitura traquila, pausada e profundamente reflexiva na singela do texto canônico do Evangelho de João, especialmente na recém lançada Bíblia King James, mas pode ser em qualquer outra tradução também. Não há metáfora mais eloquente e exata da encarnação de Deus do que em seu Filho: Jesus. Deus que escolheu nascer em uma manjedoura na terra para salvar eternamente a sua maior criação: você! Abraços!
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